Guerra de Gemas e Rosas escrita por Autor Misterioso


Capítulo 2
Lágrimas de Rosa




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/638917/chapter/2

As últimas naves desceram sobre a campina cinzenta. Os ventos sopravam as cinzas sobre as árvores e animais mortos. Algumas chamas ainda resistiam às brisas da noite, iluminando os cadáveres com uma luz dourada. As recém-chegadas reuniram-se sobre as ordens de Jasper em uma das colinas destruídas pelo fogo. Seus rostos eram sérios e impassíveis diante do inferno de calamidades que erguia-se até o horizonte.

A luz prateada da Lua caiu sobre a fenda escura criada pelos lasers de perfuração das naves. O restante do prado erguia-se até um precipício natural cuja face rochosa olhava sobre um bosque intacto. Algumas rochas mantinham-se fixas no ar, suspensas pela radiação gravitacional dos feixes de perfuração. Raízes sem vida pendiam no ar vazio. Em uma delas, observando a paisagem do estranho planeta, Rose ainda segurava sua espada.

Suas mãos tremiam sobre a guarda. Pequenas gotas banhavam a lâmina e as vinhas gravadas na arma. O odor da morte se espalhava pelo ar. Da escuridão, um som indeciso de saltos indicou a presença de alguém.

— Pérola? – perguntou ela.

O luar clareou a pele branca de Pérola. A confusão misturava-se à tristeza em seus olhos. Sua respiração suplicava por amparo. Rose estendeu sua arma no ar. Sua pedra iluminou o metal e frio, fazendo-o desaparecer em um feixe pálido de luz. Apesar das lágrimas, ela ergueu uma expressão firme para a amiga. Pérola não suportou a pressão e disse:

— Rose... Eu sinto muito. Eu não sabia que...

Rose pousou os dedos nos lábios de Pérola. Um sorriso vacilante entremeava entre as gotas de dor.

— Não precisa pedir desculpas. Ordens são ordens. – respondeu.

— Mesmo assim... Eu agora entendo o que quis dizer. Estamos destruindo vidas pela cobiça. Esses seres têm tanto direito à vida quanto nós.

— Por isso, ficarei aqui e lutarei por este planeta. – disse Rose.

— Não importa para mim. – respondeu Pérola. – Se é o que você acredita então é o certo a se fazer. Eu seguirei você não importa o que aconteça.

Rose acariciou o rosto de Pérola. Lágrimas brotaram em seus olhos e ela ajoelhou-se.

— Não posso permitir que se envolva.

— Não estou pedindo permissão, Rose.

— Por favor, entenda. Se nós perdermos, seremos mortas e se vencermos não poderemos voltar para casa.

— Por que eu vou querer voltar para casa se você ficará aqui? – perguntou Pérola.

Rose sorriu e estendeu-lhe a mão.

— Minha Pérola...

A Gem segurou o amparo.

— Você é maravilhosa.

***

Quando as primeiras luzes da aurora infiltraram-se no abismo, suas paredes lúgubres tingiram-se de uma cor pálida e doentia. As Gems desceram até o fundo seco, verificando as rochas que resistiram ao corte na noite anterior. Suas faces escuras esperavam o castigo do vento e da poeira que se espalhava pelo deserto solitário criado pelo incêndio.

Em seguida, instalaram os injetores nas laterais da cratera. Ao serem ativadas, as máquinas começaram a perfurar o solo arruinado. Em cada abertura, inseriam uma cápsula contendo o DNA coletado durante a travessia. No centro da abertura, Peridot coordenava os serviços realizados no interior do Jardim. Os primeiros resultados eram enviados para os computadores na Nave Imperial. O sistema de comunicações informava que o veículo estava pousado em uma pequena ilha no oceano.

Em uma das laterais, duas Gems conversavam sobre a instalação dos equipamentos. Uma, trajada em roupas escuras com a pele vermelha, suspendia a máquina com uma das mãos, mantendo a broca no sentido horizontal. A outra, com um longo cabelo de cor azul pálido, inseria os comandos de ativação. Sua expressão era austera.

— Rubi... O que estamos fazendo?

— Instalando injetores. Isso é óbvio. – respondeu ela.

— Eu pergunto o que estamos fazendo com este planeta. Isso realmente é certo?

— Claro que é. Se não fosse, não estaríamos fazendo. Agora termine logo com isso, Safira.

Safira suspirou com a resposta. Uma sensação estranha a atormentava desde o pouso na campina. Ela se recusara a participar do massacre promovido pelas companheiras e, por isso, foi encarregada da instalação dos injetores. Era sua primeira invasão e uma dor terrível assustava seu coração. Algo com que ela sempre imaginara era agora seu pesadelo. Em contrapartida, Rubi mantinha-se calma. Preocupava-se com a amiga, porém, sem compreender os motivos de sua angústia. Sentia-se impotente.

No início da tarde, as máquinas encontravam-se em pleno funcionamento. As Gems atuavam na supervisão dos setores de produção sem notar a ausência de duas tripulantes.

Nos bosques marginais ao precipício, Rose e Pérola elaboravam seus planos. O processo de fabricação deveria ser interrompido antes que as cápsulas irrompessem na superfície. Usando uma Pedra dos Gritos, enviaram mensagens para o interior das Naves, conclamando algumas companheiras a unirem-se ao conflito. Poucas responderam ao chamado. Em respeito à Rose, prometeram colaborar com seus planos, infiltrando-se nas principais matrizes do Jardim.

A claridade avermelhada do crepúsculo dançou nos céus acima da campina. Uma pequena nave pousou próxima às demais. Suas passageiras descarregaram uma base de cristal azulado sobre o solo seco. O aparelho foi instalado em uma rocha depositada no interior da fenda. As Gems concluíram seu serviço e despareceram em um pilar de luz projetado pela máquina. Sua nave permaneceu ali, abandonada à beira da fenda escura.

Quando a noite desceu sobre o local, um silêncio mortal desceu sobre a campina. Somente os ruídos gerados pelos injetores contaminavam o ar. Algo aconteceria em breve.

***

O oceano golpeava as falésias e praias da pequena ilha. As estrelas iluminavam a Nave Imperial, penetrando-lhe com sua luz pálida e mortiça. Os Diamantes estavam em conferência. A cada segundo, notificações eram recebidas no painel de comunicação. Os injetores trazidos em cada nave estavam, no momento, ativos, inserindo inúmeras cápsulas genéticas na superfície rochosa do planeta, sugando sua energia.

Enquanto analisavam os dados recebidos, sorrisos de escárnio percorriam suas faces. Em breve, retornariam às cidades de Homeworld. As imagens de um mundo seco e estéril fixas em sua mente.

Perdidas em seus pensamentos sombrios, não perceberam o alarme emitido pelos computadores. A máquina acusava algo que, no futuro, arruinaria seus planos de conquista.

***

As luas cobriam as ruas silenciosas de Homeworld. Em meio aos enormes edifícios da cidade, uma torre erguia-se frente às montanhas que cercavam o local. Alta, parecia perfurar o manto da noite, observando o lago frente ao mármore cinzento.

Uma figura dourada pendia sobre a escadaria de entrada. Refletindo a luz das estrelas, um diamante amarelo iluminava seu rosto e seu cabelo em formato de lua. Seus olhos negros fitavam o céu. Contrapondo-se à satisfação sentida por suas irmãs, um pressentimento terrível transformava seu rosto em um desafio violento. A dúvida era clara em seus lábios.

O amanhecer se aproximava. Mas sua luz não lhe revelaria o que aconteceria além das trevas do espaço.

***

Peridot retornou à central de comando da nave. Desfazendo seu painel tecnológico, acessou os computadores e conectou o sistema aos sensores no interior dos injetores. Quando a conexão foi concluída, um alarme ensurdecedor foi emitido pelos comunicadores nos salões das naves. Os aparelhos no interior do Jardim estavam sendo destruídos.

A Gem desceu e caminhou em direção aos limites da cratera. A imagem que estendia-se até os limites do local era terrível. Os tripulantes lutavam entre si. Enquanto alguns tentavam defender os últimos injetores, outros destruíam as máquinas, espalhando fragmentos fumegantes com suas armas. Entre os rebeldes, erguia-se uma líder. Seus cabelos de cor rosa moviam-se no campo de batalha. Um escudo fendido com espinhos de rosa defendia-lhe o braço esquerdo. A mão direita empunhava uma longa espada. Os dedos oscilando acima do botão de rosa.

Ágil, Pérola saltava sobre os adversários. Uma lança em espiral estava em suas mãos. Movendo-se com rapidez, golpeava os defensores do Jardim, enterrando a arma em seus corpos. Em pequenos clarões, suas pedras caíam, intactas, sobre o solo seco. Gritos enchiam o ar com sensações de desespero, dor e fúria.

Jasper lutava com ferocidade. Usando seu capacete esmagava as pedras de suas adversárias para impedi-las de ser regenerar. As pedras que resistiam aos golpes, eram esmagadas por seus pés.

Usando suas pequenas manoplas, Rubi afastava os atacantes de sua companheira. Safira, porém, caminhava com tranquilidade. Parecia prever cada movimento ao seu redor. Quando um adversário se aproximava em sua direção, erguia suas mãos e, em poucos segundos, envolvia seu corpo em uma grossa camada de gelo. Os injetores danificados caíam das paredes, causando pequenas explosões com o impacto.

Apesar de manter-se firme, Rose sentia suas forças falharem pela tristeza. Suas aliadas caíam frente aos ataques assassinos de Jasper e suas adversárias, eram, em sua maioria, Gems com quem compartilhara inúmeros momentos.

Peridot retornou ao painel de comando e enviou uma mensagem de alerta às demais naves, solicitando reforços. Em poucos segundos, um esquadrão formado por cinco veículos, comandados pelas Nave Imperial chegaria ao local. Em seu interior, alguns rebeldes esperavam o momento certo para iniciar o ataque.

Em um número cada vez menor, Rose e suas últimas tropas ficaram presas frente aos paredões de rocha do Jardim. Cinco delas, erguendo uma bandeira com o símbolo de sua líder, apresentaram-se para defendê-la. Entre elas, uma Gem mais baixa erguia uma espada de lâmina branca.

— Rose. – disse ela. – Você precisa sair daqui. Agora.

— Mas, Pérola... – respondeu Rose.

— Agora! – ordenou ela.

Jasper saltou sobre ela. A espada golpeou com fúria o capacete de metal. As demais avançaram para proteger sua líder, encontrando as armas hasteadas dos rebeldes. A luta foi intensa e furiosa. Pedras foram esmagadas.

Pérola golpeava a pele exposta de Jasper, abrindo talhos terríveis em sua superfície. Possuída pela dor, Jasper aumentava a frequência de ataques. Em breve sua fraca adversária cederia. Sua pedra branca se romperia com um único golpe.

Concentrada no confronto, Rose não percebeu a aproximação de um conjunto de veículos. As naves pousaram nas laterais do Jardim e apontaram as armas em sua direção. Suas últimas aliadas seguraram seus braços e lançaram em direção ao transportador. Rose tentou retornar, porém, elas gritaram:

— Fuja, Rose! Você é a única esperança deste mundo!

Nesse momento, Jasper derrubou Pérola e golpeou com força sua pedra, rachando-a no processo. O som atravessou os ouvidos de Rose e as lágrimas banharam seu rosto. Jasper ergueu o corpo da inimiga caída e o arremessou em direção à Rose. Ela correu em sua direção e a segurou em seus braços. Quase inconsciente, Pérola segurou firme as mãos de Rose.

Enquanto Rubi segurava o avanço das Gems, Safira caminhou em direção a Rose.

— O disparo das naves será em dois minutos. Precisamos tirá-la daqui.

Rose olhou suas últimas aliadas lutarem para salvá-la. Rubi segurou as mãos de Safira e gritou para Rose.

— Para o transportador! Agora!

Entre as lágrimas, Rose conduziu o grupo em direção à máquina. Elas se posicionaram sobre a base. Os cristais brilharam na escuridão infernal. Rose segurou firme o corpo de Pérola e observou suas companheiras. Ao verem que sua líder estava a salvo, elas largaram as armas e sorriram para Rose. Segundos depois, lâminas atravessaram seus corpos.

— Preparem-se. – comentou Safira.

Em seguida, uma coluna de luz as envolveu e os feixes de laser atravessaram o ar, explodindo as rochas acima do transportador, esmagando-o.

Em sua nave, os Diamantes murmuraram um som de profundo ódio.

Sobre uma rocha depositada nos limites da fenda, uma Gem fitava as máquinas destruídas. Sua pedra, fixada em suas costas, brilhava como se a luz do sol nascente estivesse engastada em uma única gota, como um espelho marinho nas profundezas. A imagem da destruição combatia suas lembranças dos campos silenciosos de Homeworld. Ela hasteou suas asas como fitas suspensas de água e ascendeu, sem rumo, ao estranho céu que cobria aquele mundo.

***

Ao abrir os olhos, Rose deparou-se com um local estranho. Um conjunto de pilares cercava uma enorme base de mármore às margens de um imenso mar. Em seu interior, alguns transportadores organizados no interior de círculos desenhados na superfície, observavam o céu noturno com seus cristais azulados.

Rubi e Safira acomodaram o corpo fraturado de Pérola sobre a base do transportador. Rose fechou levemente seus olhos. A dor percorreu seu corpo e as lágrimas surgiram em sua face. As gotas caíram, suaves, sobre a pedra danificada. Em segundos, a rachadura desapareceu e os membros defeituosos voltaram ao normal. Pérola abriu os olhos e fitou o rosto triste de Rose.

— As outras...

Um som de lamento caiu sobre a Galáxia Warp. A guerra, porém, estava apenas começando. Muitas vidas seriam perdidas. E muitas lágrimas ainda seriam derramadas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É o começo da Guerra Gem. Espero comentários.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Guerra de Gemas e Rosas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.