A menina demoníaca desaparece logo depois e Sora corre pra me libertar das correntes. Tusso um pouco de sangue aspirando o ar com as únicas forças que me restam, meus pulmões ardem, mas logo estarei bem novamente.

–Você está bem? – pergunta Sora me ajudando a levantar.

Faço que sim com a cabeça, agarro seu braço pra não cair, estou tonta e extremamente fraca. Mas vai passar.

–Quem era aquela menina? – indaga ele – Não deveriam existir outras pessoas além de Kami aqui.

–O... que houve...c-com Kami? – questiono ignorando sua pergunta, afinal não faço ideia da resposta.

–Gekkou o deixou bastante ocupado, eu não poderia deixar você se aventurar pelo palácio sozinha, é perigoso – Sora olha para os lados e vê o corpo morto de Youmu atirado no chão como lixo – O que isso faz aqui?

–A menina – minhas palavras parecem mais um sussurro – Ela trouxe.

–Como ela pôde fazer isso? Como ela sabia... Estou com um mau pressentimento – comenta ele.

–O quê? – fico confusa, não sinto nada de estranho.

–Vamos sair daqui – ele me puxa pela mão indo em direção a porta.

No entanto, ela se fecha antes de passarmos para o outro lado. Tudo escurece num breu tenebroso.

Sora me segura firmemente enquanto ouvimos os risos assustadores da menina, ele grita para o nada pedindo para que nos tire daqui, mas ela obviamente não deixará.

Escuto barulhos diferentes das risadas dela, então ocorre o primeiro ataque.

Ainda não consigo respirar direito, mas algo pontiagudo atravessa meu quadril cruelmente e só posso gemer.

–Aika? – Sora percebe – Aika, o que houve? Maldição!

Algo que não consigo ver acontece com Sora, ele provavelmente está sendo atacado. Mas que ruídos estranhos são esses?!

Tento golpear o que quer que esteja ferindo Sora, minha mão acerta algo metálico e estranho que gira fazendo em mim uma dor horrível e me afasto imediatamente com a mão ferida pela coisa. O barulho, o metal... É algo mecânico?

Outros ruídos são ouvidos e lâminas atravessam minha pele fazendo-me gritar de dor. Algo gigante e também cortante passa por minhas pernas e caio sentada no chão.

Sora murmura meu nome abafadamente em algum lugar, a menina maldita diz coisas estranhas parecendo estar em todos os cantos.

–Eu poderia acabar com a vida dos dois agora mesmo, mas para a história se completar vocês todos têm de estar juntos. Corações vazios são muito fáceis de controlar...

Um zumbido passa por meu ouvido rapidamente e o ardor em meu rosto me diz que aquilo me feriu. Outros passam fazendo pequenos, mas dolorosos, cortes em meu corpo. Tento me desvencilhar das coisas voadoras e cortantes, mas uma corda fina me deixa deitada imóvel tentando me libertar da porcaria.

–É uma pena, não é? – fala a menina – Seu amado, não está em meus planos.

Me pergunto do que ela está falando. Sora? Ele não está dizendo mais nada agora. O que houve?

–Sora! – pronuncio seu nome com receio.

Uma respiração ofegante é ouvida ao longe.

–Não diga nada – ordena a voz da menina.

Cerro os dentes com ódio. O que está acontecendo?

Cochichos indecifráveis, é só o que ouço. Fora as lâminas ferindo minha pele como retaliação por ser tão impertinente.

Até que um gemido murmura:

–Por favor, uma última vez.

A voz é de Sora.

–Uma última vez – concorda a garota.

Me sinto insultada por não saber o que houve aqui. Porém, logo as luzes se acendem e Sora aparece sangrando e ofegando. Os olhos espantados por algum motivo que não sei.

Liberto-me das linhas que me prendem e pergunto:

–O que aconteceu antes com você? Do que estava falando pra garotinha?

–Não importa – ele me beija, não sei o que pensar desse beijo, há amor claro. Mas há desespero, como se ele estivesse com medo.

Seus lábios, sua língua, estão desesperados por algum motivo desconhecido.

Seus braços me envolvem e meu coração está a mil. O que ele quer? Tenho medo de descobrir, mas um medo bom. O que eu quero? Talvez eu queira ir além disso, é bom demais, quero sentir mais.

O torpor é tão grande que só o largo quando estamos no chão e Sora coloca a mão por debaixo de minha camisa ameaçando tirá-la. No que ele está pensando?! Estamos no meio de uma batalha!

–Pare – peço nervosamente.

–Desculpe – ele me fita com uma expressão tristonha. Ele está chorando?! Por quê?!

–O que houve? – quero saber.

–Nada – Sora vira o rosto, está mentindo, deve ser algo grave, muito grave pra ele estar assim – Eu só... Só quero que saiba que eu te amo, muito. E não importa o que aconteça, continue tendo esperança, nunca odeie as coisas. Ódio destrói a alma e deixa a pessoa doente. Continue amando, a mim, ao mundo. Sorria e aproveite cada momento bom que tem na vida.

–Sora, do que está falando? – me preocupo – Está estranho, parece até que...vai me deixar. O que está querendo dizer?! Não, não eu não te permito me deixar! Preciso de você, Sora! Senão eu...eu...

Ele me silencia colocando um dedo sobre meus lábios e me beija mais uma vez.

Suas palavras não param de rondar minha cabeça, milhões de perguntas desesperadoras me atormentam.

Seja lá o que for que aquela menina do inferno disse pra ele, deve ter sido algo grave, ela o ameaçou e foi algo terrível. E ele acreditou. Considerando tudo o que ela disse e fez poderia muito bem nos matar, ou melhor, matar Sora já que eu não posso morrer.

Eu não suportaria, eu detestaria, meu coração quebraria mais e aquele desejo sádico e podre dentro de mim se libertaria. Fora que minhas emoções se perderiam novamente. Sangue, vermelho, matar, destruir... Seria apenas isso, tudo isso. Ódio seria minha vida e qualquer coisa que estivesse em meu caminho seria destruída.

“E não importa o que aconteça, continue tendo esperança, nunca odeie as coisas. Ódio destrói a alma e deixa a pessoa doente. Continue amando, a mim, ao mundo. Sorria e aproveite cada momento bom que tem na vida”

Isso não será possível Sora, jamais se eu perder você.

Essas coisas não existem em um mundo sem o seu céu.