Esta não é uma história de amor escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 9
Capítulo 8 - Encrencados




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Sempre existe aquele momento na vida, onde por mais que se procure uma solução, a única coisa que vem à mente é: O que eu faço? Então, é exatamente assim que me sinto nesse momento. Começo vestir alguma roupa o mais rápido possível, enquanto os gritos do policial se tornam mais altos e agressivos.

– Temos que sair logo daqui – eu sussurro. – Ou esse policial vai, sei lá, atirar em nós.

James apenas assente. Ele está apenas de camisa e cueca, e olhando ao redor, não vejo sua calça. Olho para mim, e percebo que vesti minha camiseta do avesso, e não há tempo de fazer mais nada. Sequer calçar meu tênis.

–Vamos – eu digo, tentando aparentar alguma coragem.

Quando alcançamos a rua, um feixe bem forte de luz é posto em nossos rostos. Seguro a mão de James e percebo que ela treme tanto quanto a minha.

– Mãos para cima. Agora! – O policial grita.

Erguemos as mãos, enquanto a luz passa de nossos rostos para nossos corpos.

– Mas que diabos vocês estavam fazendo? – O policial pergunta, provavelmente percebendo o estado de nossas roupas, e no caso de James, a ausência delas.

– Senhor – James pigarreia, sua voz tremula. – Nós estávamos apenas... namorando um pouco.

– Atrás do velório? – o homem pergunta, parecendo achar graça. Ele baixa a lanterna para o chão, e assim eu consigo enxerga-lo. Ele é um homem baixo, e parece ainda mais atarracado devido ao volume da farda policial.

– Nós podemos apenas pegar nossas coisas? – pergunto, num tom de voz contido, tentando demonstrar respeito.

– Rápido! E terminem de se vestir também – o policial grita. Em sua farda está bordado Sargento Marshal. Rapidamente James e eu juntamos nossas mochilas, achamos a calça dele, e calçamos nossos tênis. De volta a companhia nada agradável do sargento Marshal, somos conduzidos até a viatura policial, que nos olha com desconfiança.

– Então, agora me digam, o que vocês realmente estavam fazendo aqui, uma hora dessas? Estavam furtando? Usando drogas? O que? – O Sargento pergunta, enquanto revista James, e nossas mochilas.

James está pálido, até suas bochechas sempre rosadas perderam um pouco a cor. Me vejo obrigada a tomar frente na situação.

– Sargento, como meu... – devo falar namorado? Ah, que se dane. – namorado já disse, estávamos apenas, namorando um pouco... Se é que o senhor entende.

Ao despejar minha mochila várias apostilas da escola caem, e o sargento me encara, e no mesmo instante eu entendo que ele desconfia que eu deveria estar na escola.

– Você estuda? – Marshal pergunta.

– Sim, senhor – eu respondo, sem outra alternativa a não ser mentir. – Na parte da manhã.

– E porque você decidiu trazer todo o seu material escolar até esse lugar tão peculiar, que você e seu namorado escolheram para... namorar?

Olho para James, pedindo ajuda.

– Senhor... – James começa, me olhando de uma forma desesperadoramente linda. – Acredito que isso seja irrelevante. Não estávamos fazendo nada errado, a não ser...

– Isso é relevante sim – o sargento o interrompe. – Se a mocinha aqui estuda, seja no período diurno, ou noturno, significa que ela tem quantos anos?

– Dezoito – murmuro.

– Hum.... Maior de idade, e cursando... – O sargento pega uma das apostilas, onde está escrito bem grande, PRIMEIRO ANO – ENSINO MÉDIO, e mostra para nós dois. – Repetiu de ano muitas vezes então.

Dou de ombros.

– Não sou tão inteligente – respondo.

– Não mesmo, por mentir descaradamente para um sargento da polícia – ele diz, e saca um telefone do bolso. – Quero os documentos dos dois... E o da moto também.

– Eu é... Não estou com meu documento aqui – minto, enquanto olho para minha carteira, em meio as apostilas no chão. Ele não pode abrir minha carteira, pode? James entrega sua habilitação e o documento da moto, que graças ao bom Deus, parecem estar em ordem.

– Ao menos lembra o número? – Marshal pergunta para mim, irônico. Ele sabe minha resposta.

– Não – sussurro, e baixo a cabeça. Isso não vai acabar bem.

– Bem... – Marshal começa, andando de um lado para o outro, com uma expressão pensativa no rosto. – O rapaz aqui, James Cornelly, tem dezenove anos. Já a senhorita, alega ter dezoito, o que eu duvido muito. Suponhamos que você tenha, digamos, dezesseis anos, nosso querido James poderia ser preso, já que ele, maior de idade, está aparentemente saindo e tendo relações com alguém menor de idade.

– Mas nós namoramos, com total consentimento dos meus responsáveis – argumento desesperada, ao ver a cor fugindo ainda mais do rosto de James.

– Então, passe o telefone da sua mãe, para eu informar onde te achei com seu namorado – ele diz, num tom triunfante.

Penso o mais rápido que posso, numa saída. Nada convincente vem em mente.

– Não temos telefone em casa.

– Ah, duvido que seu pai ou sua mãe não tenham ao menos um celular – o sargento retruca, parecendo se divertir com minhas tentativas de sair dessa situação.

– Minha mãe não tem celular, e meu pai faleceu há pouco tempo.

Mentir que meu pai está morto, me causa uma angustia enorme, pois só de pensar nessa possibilidade sinto meus olhos encherem de lágrimas. O que torna a mentira mais real. O sargento parece titubear.

– Oh, eu sinto muito – ele diz, e eu estremeço, pois meu pai além de bem vivo, trabalha no departamento pessoal da polícia. Talvez ele até conheça o sargento.

Paira um silencio entre nós, o sargento suspira fundo, parecendo de repente muito cansado.

– Sabe, vocês podiam fazer essas coisas num local que não fosse público. Isso é crime, sabiam?

James e eu assentimos, e eu começo a sentir um pouco de afeição pelo sargento atarracado. Ele parece realmente muito cansado.

– E, além de fazerem isso, vocês deixam a moto estacionada do lado de fora, atraindo a atenção de qualquer um que passar por aqui. Isso não foi nada inteligente – ele diz, e eu vejo um meio sorriso em seus lábios. – Eu deveria levar você, James para a delegacia, e você mocinha, para o abrigo de menores, até sua mãe te buscar, mas eu não vou fazer isso.

– Não? – James pergunta, saindo de seu estupor.

– Não. Apenas vão embora, e não façam essa estupidez de novo. Se eu pegar os dois, namorando em lugares públicos mais uma vez, não serei tão bonzinho.

Eu deveria pegar minhas coisas e correr dali com James, mas não consigo. Pois a repentina mudança de atitude do sargento, me deixa curiosa. Assustada.

– Porque você decidiu ser legal com nós dois agora? – pergunto, e sinto a mão de James puxando meu braço. Me solto de seu aperto, e olho nos olhos do sargento.

– Bom... É que eu tive... um dia pesado – ele diz, e fita as mãos, desviando o olhar do meu. – Eu peguei pesado com vocês, afinal vocês estavam só namorando um pouco, coisa da juventude. Mas o que eu disse é sério, vocês poderiam se encrencar de verdade por isso.

James termina de juntar minhas coisas, e me arrasta até a moto. Num impulso, eu corro de volta até o sargento, eu preciso lhe agradecer.

– Sargento Marshal, obrigado – digo, e sorrio.

Ele sorri de volta, e me da um empurrãozinho.

– Suma daqui, logo, antes que eu mude de ideia e cumpra com meus deveres.

Corro de volta até James, e subo na moto. Percebo que James ainda treme ligeiramente, mas ele dá a partida sem hesitar, e avançamos para longe da viatura. Após rodar por alguns minutos, James estaciona próximo à praça central, e eu desço da moto com uma vontade incontrolável de rir. Quando James retira o capacete, percebo que ele está sorrindo.

– Que sufoco foi esse? – Ele diz, e começa a rir. Logo estamos rindo histericamente pela situação em que nos metemos, pelo medo e constrangimento que passamos, e por termos conseguido sair dessa sem nenhuma ficha policial, ou alguma surra da minha mãe. Mas então, minha risada começa a morrer, quando eu me lembro o que James havia me dito, momentos antes de sermos descobertos pelo policial. Sinto minhas forças abandonando meu corpo, enquanto junto coragem para tocar no assunto. Eu poderia esquecer, poderia fingir que aquelas palavras nunca haviam saído da boca de James, mas eu simplesmente não posso. Céus... Ele tem namorada. Como ele pode agir assim, todo esse tempo? Ao perceber minha expressão, James para de rir também, e aposto que ele sabe no que estou pensando.

– Escute, Eve.. – ele começa, me envolvendo em seus braços. Tenho que juntar a pouca força que me resta, para me desvencilhar do seu calor.

– Escute você, James. Comece a me contar. Tudo. Chega de segredos.

Ele me olha, profundamente. A ruptura entre nós é palpável. O adeus, é iminente. Eu deveria apenas ir embora, e passar o resto da minha vida tentando esquecê-lo. Mas eu sinto que preciso ao menos dar a chance de ele se explicar. Por mais que querer usar alguém, não tenha explicação. Ele tem uma namorada, provavelmente a ama, caso contrário não estaria namorando com ela. E nessa história eu entro como a virgem boba e inocente. Uma distração, talvez? Transar com a mesma garota, sempre, é enjoativo? Me enojo com minhas próprias suposições. O que estou pensando, James não é esse tipo de pessoa.

– Eve, eu prometo que vou te contar tudo, mas não será uma história agradável para você.

– Pode apostar que não – eu digo, entredentes, forçando minhas lágrimas a voltarem.

– E também não é uma história agradável para mim. Pois independentemente do rumo que essa história tome daqui pra frente, o final não será feliz para ninguém – James diz, e morde o lábio inferior.

E ao dizer essas palavras, a dor em sua voz chega a ser palpável.

– Por favor, James – sussurro. – Acabe logo com isso... Me conte o que você esconde, para eu poder sumir da sua vida.

– Mas eu não quero isso, Eve! – ele grita. – Eu não quero que você suma da minha vida. Eu não quero te perder.

– Mas você não pode simplesmente me ter, a hora que você quiser, e depois voltar para os braços da sua namorada! – eu explodo.

– Eve... – ele suplica.

– Você já me perdeu, James. – eu sussurro, incapaz de acreditar que essas palavras saíram de minha boca. Mas tendo que aceitar, que eram verdade.


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