Esta não é uma história de amor escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 33
Capítulo 32 - Perseguido pelo passado




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WILLIAN

Eu nem sempre fui um completo babaca. Houve um tempo, em que eu era um garoto simples, ingênuo e apaixonado. Mas isso já faz tanto tempo, que eu mal consigo me lembrar. Ou melhor, eu tento não lembrar, porque ás vezes esquecer é melhor. Só que Diana é inesquecível, e justo quando eu achei que tinha conseguido colocar uma barreira entre minhas lembranças de uma adolescência feliz que envolviam a tão terrível e bela Diana, Eve entrou em minha vida, colocando tudo num completo caos.

Eu conheci Diana no ensino fundamental. Éramos apenas crianças, e mesmo sem ter nenhuma lógica isso acontecer, eu me apaixonei por ela. Eu sempre fui rico, então, é claro que eu estudava numa escola particular. Diana era o oposto de mim, pois sua família era extremamente pobre e o fato de ela estudar na mesma escola conceituada que eu, deveu-se ao milagre das bolsas escolares. E não parava por aí. Eu costumava ser bondoso, e Diana era uma criança má. Ela era teimosa, orgulhosa, esnobe... Enfim, ela era terrível, mesmo sendo uma criança. Mas eu conseguia enxergar o que ela era por debaixo da sua casca dura. E sua beleza era tão diferente... Foi impossível eu não me apaixonar. A partir daí foram meses correndo atrás dela. Irônico, o garoto mais rico e popular rastejando pela garota pobre bolsista. Até que ela se rendeu aos meus encantos. Então, mal tínhamos entrado na adolescência e já estávamos namorando. O amor existente entre nós, mudou um pouco seu gênio forte, e logo ela passou de detestável para suportável. Na verdade, anos mais tarde ela confessou que ela se fingia de maldosa e tantas outras coisas ruins na tentativa de se defender das demais pessoas que podiam pisar nela por ela ser pobre e ter a pele mais escura que a maioria dos alunos do colégio. Naquele dia eu não entendi realmente porque ela agia assim, mas infelizmente logo eu a entenderia. Defeitos a parte, foi com ela que eu comecei a viver a vida pra valer. E não digo isso só porque perdi minha virgindade com ela. Digo isso, porque ela fazia com que eu me sentisse vivo. Ela me fez entender que dinheiro nenhum podia trazer aquela coisa que faz o coração ficar apertado no peito por causa de tanta felicidade. Bom, em certos casos o dinheiro ajuda, mas o que faz acontecer mesmo, é o amor. E isso nós tínhamos de sobra um pelo outro. E mesmo ela sendo uma chata, e nada sendo perfeito, nós éramos felizes. O fato é que a família dela não gostava de mim, por achar que eu, por ser rico, estava apenas me aproveitando da inocente Diana. E digamos, que de inocente ela não tinha nada. Já a minha família a odiava completamente, por motivos que eu nem preciso ficar citando. O maldito preconceito. E não era só em nossas famílias que isso acontecia, a sociedade parecia não aceitar nosso relacionamento. Então, nos contentávamos em fugir da realidade em lugares pouco habitados e nos perder em nós mesmos. A última vez que eu a vi, estávamos voltando de um desses nossos passeios. Tínhamos acampado no alto de uma montanha. Ficamos lá por dois dias, com o vento no rosto e transando loucamente ao ar livre. No caminho de volta, começamos a discutir como sempre fazíamos por algum motivo idiota. Eu achei que logo ela ia esquecer que estava brava comigo por algo que eu nem havia feito. Achei, que ao chegarmos na minha casa íamos direto para o meu quarto e que ela ia tomar um banho de banheira, coisa que sempre a deixava fascinada, e que eu entraria na banheira e tomaria seu corpo para mim. Só que dessa vez, tudo foi muito diferente. Porque enquanto eu descia a montanha por uma trilha estreita acelerando meu jipe, eu estava concentrado demais na expressão de brava em seu rosto que a deixava ainda mais linda. E por causa disso, eu não vi a enorme pedra que estava no meio da trilha. Não tive tempo de desviar. E enquanto eu absorvia os impactos do jipe capotando ribanceira abaixo, percebi que Diana estava sem o cinto. É claro que eu percebi isso quando seu corpo foi arremessado para fora do carro, e foi caindo, caindo, se estraçalhando, até que eu o perdi de vista.

Quando eu acordei no hospital, não me dei ao trabalho de perguntar por ela. Eu sabia que ela estava morta. E ao contrário do que todos esperavam, eu não me desesperei. Não tinha forças nem para fazer um escândalo. Eu apenas desisti de viver. Chorei por três dias. Os médicos, viviam me dizendo como eu tinha sorte por não ter sofrido nenhum arranhão sequer. Sorte? Que merda de sorte é essa? Eu preferiria ter ficado todo estraçalhado se ao menos Diana ainda estivesse viva. E dia após dia, com isso repercutindo em minha mente, essa minha sorte de o meu belo rosto ter permanecido intacto, eu comecei a entrar no meu personagem. E quando eu saí do hospital, já era uma nova pessoa. Inalcançável no quesito sentimentos. Usando minha beleza para atrair o maior número de mulheres possíveis para depois usar seus corpos, sem sequer perguntar seus nomes. Tudo isso na tentativa desesperada de esquecer Diana. E foi assim que eu compreendi o que ela havia dito anos antes sobre fingir ser outra pessoa para se proteger. Eu estava fingindo ser outra pessoa, um babaca, um canalha, para fugir da constante lembrança do fantasma de Diana. Eu me sentia responsável por sua morte, o que tornava tudo mais difícil.

O tempo passou, e eu estava me saindo bem na minha tarefa de ser o cara mais desprezível possível. Até que Eve apareceu. No instante em que eu a vi, eu soube que ela tinha algo especial. Sua fisionomia era tão parecida com a de Diana, que era quase insuportável vê-la. Mas ao mesmo tempo, eu precisava ficar perto dela. Demorou até eu conseguir que ela se entregasse para mim. Demorou muito mais do que com Diana pois dessa vez, tinha esse tal de James na história. Mas eu tinha certeza de que Eve ficaria comigo no final, pois para mim, ela era como Diana, que havia voltado para mim. Até seu jeito era muito parecido com o dela. Eu poderia ser feliz novamente. Pois Eve tinha aquela coisa da qual falei que o dinheiro não pode comprar.

Eu achei que tudo ia ser perfeito dessa vez. Eu não ia de jeito nenhum permitir que Eve sofresse, se machucasse ou qualquer outra coisa por minha culpa. Eu a protegeria de tudo e de todos, pois perder Eve seria como perder Diana pela segunda vez. Mas James não facilitou em nada as coisas para mim. Sempre aparecendo na vida de Eve, que por sua vez, nem conseguia esconder o tamanho do amor que sentia por ele. E eu sendo rico e bonito podendo ter a mulher que eu quisesse, me submeti a isso. A ser uma segunda opção. A amar uma mulher que por motivos desconhecidos, parecia amar outro numa intensidade mil vezes maior que a mim. Fui traído. Abandonado. Mas quando soube do seu acidente, achei que fosse enlouquecer vendo o filme se repetir, temendo que a vida me tirasse Eve também. Então eu corri de volta para ela, quase implorando por seu amor. Assumi um filho que não era meu e me deixei amá-lo como se fosse. Me humilhei ao extremo. Tudo isso por acreditar que Eve poderia me amar como Diana me amou. Poderia me dar o sentimento único que ela me proporcionou. E secretamente por achar, que Eve de alguma forma era mesmo Diana.

– Não é ela – eu murmuro e sinto uma lágrima quente e nada familiar. A última vez que eu chorei, foi quando achei ter perdido Eve. Antes disso eu só me lembro de ter chorado quando perdi Diana.

– O que você disse? – James, que deveria ser meu rival, pergunta, ainda parado ao meu lado, totalmente acabado. Olho para ele, e não consigo o ver como um inimigo. Apenas vejo um cara, que ama a garota que deveria ser minha. Mas que nunca foi. A minha garota está morta. É hora de aceitar isso.

– Eu disse que Eve não é ela – eu digo, sem esperar que ele me entenda. Mesmo sendo cético quanto á todas essas coisas sobre reencarnação, o fato de Eve ser tão semelhante a Diana em tudo, me ludibriou. Mas é claro que Eve não é ela. Como poderia, amando James dessa maneira? No que eu estava pensando? De repente me sinto enjoado. Me sinto o cara que atrapalha uma bela história de amor. Me sinto a morte, que tirou Diana de mim. Eu tirei Eve de James. Mas não precisa ser para sempre. Começo a andar.

– Aonde você vai? – James grita, já se pondo atrás de mim. O coitado está totalmente desnorteado.

– Eu vou fazer a coisa certa. Pelo menos uma vez na vida – eu respondo, e coloco a mão em seu ombro. – Não venha atrás de mim.

Percorro poucos metros, até que escuto o barulho dos saltos de Eve no ladrilho. Sigo esse som. Quando esse barulho cessa, é só seguir o barulho de seus soluços e logo me deparo com ela sentada num banco de cimento, a maquiagem totalmente borrada e os olhos vermelhos.

– Eu sinto muito – ela diz, ao me ver. - Eu só não posso...

– Shhhhh – eu digo, e levo meu dedo aos seus lábios.

Ficamos os dois em silencio, fitando um ao outro. A verdade é que mesmo por fim entendendo que nunca foi a coisa certa eu ter ficado com Eve, não diminui o que sinto por ela. Eu a amo. Mais do que já imaginei amar alguém depois da perda irreparável de Diana. E é muito difícil engolir esse amor, o meu orgulho, e dizer o que eu devo. Mas eu preciso. Diana tem que se sentir orgulhosa de mim, onde quer que ela esteja.

– Só não me proíba de ver Anthony. Por favor. Eu amo aquele menino como se ele realmente fosse meu filho – é tudo o que eu digo, ao invés do enorme discurso que estava se formando em minha mente. Mas é melhor assim. Ela arregala seus belos olhos castanhos, e parece descrente no que acaba de ouvir.

– Willian... Anthony é seu filho. De certa forma. Pai não é só quem faz, ou cuida... É quem ama, acima de tudo – ela diz, sua voz completamente embargada.

– Obrigado – eu digo, e torço para que ela corra logo para os braços de James, e não veja minhas lágrimas. Mas ela permanece ali, sentada ao meu lado.

– Agora você pode voltar para James. E ser realmente feliz – eu digo, e percebo que não estou sendo irônico ou amargo. Estou sendo simplesmente sincero.

E ao invés de sair correndo para ele, como eu imaginei que ela faria, ela se inclina para mim, e me abraça forte e demoradamente. Nesse abraço, eu consigo sentir seu amor por mim como eu nunca havia sentido antes. E isso faz com que seja impossível segurar minhas lágrimas. E faz com que eu comece a me questionar. Esse abraço simboliza sua escolha ao ficar do meu lado, ou simboliza o nosso fim?


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