Esta não é uma história de amor escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 17
Capítulo 16 - Efeito dominó




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Há certas coisas que acontecem, que eu jamais entenderei. Como por exemplo o fato de Willian, um empresário rico, novo, e bonito ter me agarrado. E porque as pessoas nunca percebem quando alguém está fazendo algo contra a própria vontade? Eu tenho certeza, que era nítido o fato de que eu estava sendo agarrada. Pois eu estava me debatendo, tentando fugir do aperto de Willian. Porque James não conseguiu enxergar isso? E por mais que de certa forma eu esteja arrasada por James ter me flagrado em tal situação, e por ele não atender em hipótese alguma o celular, eu não derramei uma lágrima sequer. Ainda não. Pois o que sinto, sobrepõe, qualquer outro sentimento.... Estou fervilhando de raiva. De Willian. Decidi voltar ao escritório, já que minha hora de almoço estava se esgotando, e pedir algum sábio conselho a Sidney. Ela é a única pessoa, que deve saber o que eu devo fazer.

– Eu não acredito – Ela diz, com os olhos arregalados.

– Nem eu, Si.... Estava tudo indo tão bem, e isso acontece – eu digo, enquanto tento mais uma vez, ligar para James.

– Você tem que fazer Willian contar para ele que te agarrou, Eve.

– Mas como? James não vai me atender...

– Não vai atender você, mas vai atender Luna – ela diz, e pisca para mim. – Vai atrás de Willian, convença ele a falar com James, e depois fale com Luna para ela atrair James até algum lugar, e bingo!

– Si, você é um gênio... Mas um gênio muito cafona por usar essa expressão. Bingo? Essa palavra ainda existe? – Digo e dou risada, mesmo que minha raiva tenha começado a se dissipar, dando vasão a minha tristeza.

– Deixe meu vocabulário em paz. E não comece a se descabelar, antes de ter tentado tudo para desfazer esse terrível mal-entendido – ela retruca, percebendo minha mudança de comportamento.

E com uma dose extra de raiva, assim que meu horário de expediente se encerra, vou para o escritório de Willian. Ao chegar lá, pergunto a secretária dele, que fica alerta ao me ver, se ele está. Quando ela assente, caminho decidida até sua sala, antes que ela possa comunicar a minha chegada. Escancaro a porta, e pela expressão que ele me lança, o peguei de surpresa.

– Eu não quero nem saber porque diabos você fez aquilo mais cedo. Eu só quero que você fale para o meu namorado, que me agarrou a força. Só isso – Eu digo, sem pestanejar.

Sua expressão de surpresa, muda, para de divertimento.

– E porque eu faria isso? – Ele diz, e se levanta de sua mesa, com um sorriso no canto dos lábios.

– Você vai fazer isso, e ponto final. Eu não estou pedindo, estou mandando. Você não tem o direito de estragar tudo – eu grito e me ponho em sua frente.

Ele dá risada.

– Eu gosto cada vez mais de você, mocinha. Mas pense bem... para que ficar com aquele fracassado? Você pode ter coisa melhor.

– E a coisa melhor seria você? – Eu pergunto, com minha voz carregada de desdém.

– E você tem alguma dúvida? Eu vejo em você, um diamante bruto. Basta uma lapidada, e você se transformaria em uma joia fascinante. Não desperdice seu tempo com alguém que não tem nada a lhe oferecer.

Ouvir ele falando assim de James, sem sequer o conhecer, me irrita profundamente.

– Você se acha o cara mesmo. Eu posso estar enganada, pois eu nem o conheço, mas para mim, você não passa de um babaca riquinho. James é a melhor pessoa que eu já tive o prazer de conhecer. E eu sou uma sortuda por namorar com ele. Você não vai estragar tudo. Não mesmo.

Willian suspira. Eu decido mudar minha tática visto que ele parece decidido a continuar sendo um babaca.

– Por favor. Não dificulte as coisas. Está cheio de garotas interessantes por aí, você consegue a que quiser. Eu sou apenas uma garota comum. Você não imagina as dificuldades que James e eu passamos para chegar até aqui. Me ajude a consertar as coisas. Por favor? – Eu suplico.

Ele parece titubear diante do meu olhar suplicante. Ele segura uma mecha do meu cabelo em suas mãos, e me olha por vários segundos. Eu não recuo, apenas sustento seu olhar.

– Está certo – ele diz por fim. – Você gosta mesmo desse cara, não é?

– Gostar? Não... eu o amo. Obrigado por não bancar o idiota. De novo.

Ele solta meu cabelo, e sorri.

– Tenho a intuição de que ainda vamos nos esbarrar, em outras circunstancias. Mas dessa vez, eu ajudarei você a voltar para o seu namoradinho.

Porque ele insiste em diminuir James? Que babaca. Decido não ser rude, visto que agora ele topou cooperar.

– Eu te ligo assim que eu determinar onde você deve ir para contar a verdade a James – digo, e quase corro de sua sala, com medo de ele tentar me beijar de novo, o que parecia ser bem propício ele fazer.

Assim que saio de seu escritório, ligo para Luna, conto toda a merda que aconteceu, e ela promete arrastar James para algum lugar afim de Willian encontra-lo. Já são mais de sete da noite, quando consigo arquitetar tudo, e estou na casa de Si, esperando a hora passar, e torcendo para que a confissão de Willian seja suficiente para James ficar numa boa comigo.

– Quer tomar alguma coisa? Para relaxar? – Si pergunta, e eu lhe lanço uma careta.

– Eu tenho 16 anos, Si, não posso ficar enchendo a cara – eu digo.

– Ah, só pode ficar usando os lugares públicos para atividades sexuais – ela diz, e me dá um cutucão, enquanto beberica uma taça de vinho.

– Hey, são lugares isolados, não públicos – eu me defendo, o que faz nós duas cair na risada, aliviando um pouco minha tensão.

– Vai dar tudo certo, não se preocupe – ela me tranquiliza, quando consegue parar de rir.

– Como você pode ter tanta certeza? – Eu pergunto, sentindo pela primeira vez no dia, lágrimas aflorando em meus olhos. Não posso perder James de novo.

– Duas pessoas que se amam, não tem outra alternativa a não ser ficarem juntas. Essa é a lei da gravidade.

Tenho vontade de corrigi-la, e falar que na verdade essa não é a lei da gravidade, mas apenas assinto, e sorrio para ela.

– É melhor eu ir. Te ligo quando tudo terminar, espero que com boas notícias.

Si me beija demoradamente na bochecha, e me observa da porta de sua casa, enquanto encaro a noite rumo a praça central.

Ao chegar, a primeira coisa que vejo, é um carro lindo de morrer, destoando da simplicidade do local. Alcanço o carro, já sabendo quem deve ser. Me sinto um pouco mais esperançosa, sabendo que Willian realmente veio. Ele sai do carro, em seu terno imaculado, e sorri. Mesmo ainda estando furiosa com ele, eu sorrio de volta.

– Vamos, James deve estar na parte de baixo. Por favor, não fale nenhuma asneira, só a verdade – eu digo, enquanto me encaminho para as escadas. Logo avisto a cabeleira alaranjada de Luna, e ao seu lado, vejo James, de cabeça baixa. Ando, empertigada, consciente da presença de Willian atrás de mim, como uma sombra. Luna é quem me vê primeiro, e quando James levanta a cabeça, encontra meu olhar. Ficamos perdidos um no olhar do outro, e quando seus olhos vagam para algo além de mim, ele se levanta num pulo, com a mágoa invadindo seu semblante.

– O que você está fazendo aqui? – Ele cospe as palavras, e olha de mim para Willian.

– Escute o que eles têm para falar – Luna intercede, mas se cala, quando James lhe lança um olhar cortante.

– Não posso confiar mais em ninguém mesmo – ele diz, e faz menção em sair de perto de nós, mas eu agarro seu braço, com uma força que eu nem sabia existir em mim.

– Você vai ouvir. Eu mereço ao menos o direito de me explicar. Willian, por favor – eu digo, ainda segurando firmemente o braço de James. Ele não tenta se soltar. O que eu começo a considerar um bom sinal.

– Bom, aquela cena que você presenciou hoje.... Me desculpe. Eve não teve culpa.

Olho para Willian, num pedido silencioso para ele não ser tão vago.

Ele pigarreia, e suspira, visivelmente desconfortável.

– É, na verdade, eu a agarrei. Nós nunca tivemos nada, e eu não havia demonstrado meu interesse por ela até hoje. Ela não me correspondeu, pelo contrário, se debateu até que…bem, até que você chegou e entendeu tudo errado – Willian diz, e tamborila os dedos sobre o relógio em seu pulso. Ele deve ter algum tique. - Satisfeita? Já disse toda a verdade.

James não parece satisfeito.

– Suponhamos que essa parte seja verdade. O que você estava fazendo lá? – James pergunta, olhando diretamente para mim.

– Eu?... É....

– Diga logo Eve, um pouco de orgulho ferido não mata ninguém – Willian diz, e dá uma risadinha. Babaca!

– Eu fui pedir a Willian, para não contar que eu pedi o emprego para você. E que ele ia te contratar de qualquer forma, e que a entrevista era mera formalidade – digo tudo de uma vez, atropelando as palavras. – Era isso. Eu sabia que você ia ficar bravo se soubesse que eu tinha feito isso. Então eu estava lá pedindo para ele guardar esse segredo, para você ficar feliz achando que tinha conseguido um emprego, para eu ficar feliz por saber que eu havia te ajudado... Todo mundo ia ficar feliz, se não fosse ter acontecido aquilo.

Termino de falar, ofegante. Começo a desejar desesperadamente uma taça de vinho daquela que Si estava tomando. Ninguém diz uma palavra. James puxou seu braço do meu aperto. Não consigo decifrar sua expressão.

– Foi legal a conversa e tudo mais, mas eu já vou indo – Willian diz, quebrando o silencio.

– Acho que eu também vou – Luna sussurra.

Os dois saem, nos olhando apreensivos. James se senta no banco, e fecha os olhos, enquanto digere tudo o que acabou de ouvir. Eu me sento ao seu lado e o olho ansiosamente.

– Essa é mesmo a verdade, Eve? Você não está tendo um caso com esse cara? – James diz, parecendo cansado.

– Claro que não – eu digo rapidamente. – Eu jamais faria isso.

– Nem mesmo se o cara for bonitão e aparentemente rico como esse tal de Willian? – Ele pergunta, sério. Mas em seus olhos, posso ver o costumeiro brilho. No final das contas, acho que vai dar tudo certo mesmo.

– Ele não é você. Não importa o que ele seja ou tenha – eu digo, e me aproximo um pouco mais dele. Ele não recua.

– E você estava errada. Eu não teria ficado bravo se soubesse do emprego. Eu teria ficado até feliz. Você devia ter me dito desde o começo. Pouparia muita coisa.

– Me desculpe. Eu só queria ver você bem. E também não queria arriscar, vai que você se chateasse. Você é tão imprevisível – eu murmuro.

Seguro firme o coração que pende da pulseira que James me deu. Ele também olha para a pulseira, e eu penso que talvez ele a peça de volta. Afinal, eu não estou sendo uma das melhores namoradas, sendo agarrada por aí. Mas ele tem que entender que a culpa não foi minha.

– Sabe... – James começa. – Me desculpe por ter dito aquilo. Sobre você ser pior que Stella. Foi da boca pra fora.

– Tudo bem – eu respondo, mesmo que aquelas palavras tenham me magoado profundamente. – Mas e então... Ainda somos namorados?

Seus lábios estão formando uma resposta, quando seu celular começa a tocar.

Efeito dominó sugere a ideia de um efeito direta ou indiretamente acabar gerando uma série de acontecimentos na vida de um indivíduo. Eu não sei qual foi o evento que desencadeou esse efeito dominó na vida de James. Primeiro a morte do bebê. E agora, quando a cor some do rosto dele enquanto ele fala ao celular, sei que mais alguma coisa terrível aconteceu.

– James, o que aconteceu? – Sussurro, enquanto segura o celular, e suas mãos tremem.

Ele me fita, o olhar vazio, sua respiração acelerada.

– James? – Pergunto, e toco levemente seu ombro.

– Minha mãe... – ele começa a falar, no mesmo momento em que lágrimas afloram em seus olhos esverdeados.

Sinto um nó em minha garganta. Não, por favor, não seja o que estou pensando.

– O que aconteceu com sua mãe? – Pergunto, e minha voz falha, quando a expressão de James muda, tamanha sua dor.

– Ela morreu – ele sussurra, parecendo não querer acreditar nas próprias palavras. – Eve... minha mãe, morreu.

Não consigo encontrar palavras para tentar confortá-lo. Não há nada que possa ser dito para uma fatalidade como essa. Percebo que ainda seguro firme o pingente de coração da pulseira que um dia foi dessa mulher, dessa esposa, dessa mãe, que agora se foi. Só percebo que estou chorando, quando uma lágrima pinga sob minha mão. James começa a sair lentamente de seu estupor. Ele não vai suportar mais um golpe desses. Isso não é justo. Então eu o abraço, enquanto ele chora sem nenhum pudor. Eu o embalo em meus braços, vasculhando em minha mente algo que eu possa dizer, para amenizar ao menos um pouco seu iminente sofrimento. E de repente, as palavras certas vem a minha mente.

– Onde quer que ela esteja – sussurro, olhando para a pulseira em meu pulso – você tem que saber, que ela sempre estará com você. E eu também.

– Você tem razão – ele diz, e se levanta, enxugando suas lágrimas, e olhando ao redor, desorientado. – Mas... eu preciso ir... dizer adeus.

Também enxugo minhas lágrimas, e seguro sua mão.

– Então vamos – eu digo.

Ele me olha, surpreso.

– Na alegria e na tristeza – eu digo, e sem conseguir me conter, o abraço mais uma vez.

– Eu preciso ser forte – ele murmura, mas suas pernas já ameaçam fraquejar.

– Você vai conseguir – eu digo, e o apoio até chegarmos em sua moto. Mas dessa vez, eu já conseguia saber, que iria ser muito difícil James conseguir se reerguer. E que talvez isso jamais fosse acontecer. Infelizmente, eu estava certa. E por mais que perder a mãe, possa ser a pior dor do mundo, considerado inferior apenas a perder um filho, o que também aconteceu com ele, o efeito dominó de acontecimentos ruins na vida de James, estava longe de acabar.


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