BR 116

Março de 2010. Via Dutra, caminho de São Paulo para o Rio de Janeiro, Brasil. 21h48 - horário de Brasília.

A noite estava chuvosa e o carro deslizava na pista. A Dutra já era um caminho perigoso de dia, com o sol no topo do céu, quanto mais à noite, com tudo escuro e o asfalto molhado. Felipe dirigia com cuidado, mas era complicado manter o controle do carro em suas mãos. Ao seu lado, a esposa, Regina, tentava fazer contato com a filha que estava sozinha em casa, no Rio de Janeiro. Os dois voltavam de uma visita à mãe de Felipe, no estado de São Paulo, na cidade de mesmo nome. A esposa estava preocupada com o caminho que estavam tomando. A estrada poderia ser muito traiçoeira em momentos como aquele.

- Lipe, vai com cuidado! - Gritou ela quando o carro derrapou um pouco.

- Eu estou indo! Estamos andando a 80 km/h numa estrada que poderíamos estar a 100!

O homem não tirava os olhos do caminho e muito menos as mãos do volante. A mulher se calou. Andaram mais alguns quilômetros e Felipe acabou descendo um pouco a velocidade, com medo de que ela os matasse. Regina continuava tentando ligar para casa, mas tudo o que recebia em resposta era o "tu-tu-tu" do telefone. Preocupação e tensão eram coisas que não faltavam no ambiente daquele carro.

- A Beth não atende. - Contou Regina, apreensiva.

- Calma, amor. Ela deve estar na casa do Giovanni. Eles voltariam da escola juntos hoje, não era? - Olhou para a esposa de relance e pôde vê-la consentir. - Então, ela deve ter ficado por lá. A Clarissa vai cuidar bem dela. Sempre cuida quando não estamos.

Ele mencionara a mãe de Giovanni, melhor amigo da filha. Clarissa realmente tomava conta da filha do casal quando eles estavam trabalhando ou quando precisavam viajar, como na noite anterior, quando foram a São Paulo. Sim, ela estaria na casa da vizinha. Estaria a salvo da tempestade. Felipe tirou uma das mãos do volante e acariciou os cabelos da esposa, que segurou sua mão e beijou a palma, retribuindo o carinho. Ele tentava passar tranquilidade a ela, mas era quase impossível quando ele mesmo não estava calmo. Estavam próximos da divisa com o Rio de Janeiro. O caminho estava praticamente vazio e eles sentiam uma leve segurança devido a esse fator. Contudo, um barulho ao longe chegou aos ouvidos de Regina, que sempre fora muito esperta e atenta, fazendo com que seus músculos se tencionassem. O barulho foi ficando menos baixo aos poucos e ela passou a ficar cada vez mais amedrontada.

- Lipe... - Ela cutucou o marido.

- Fala, Re.

- Lipe... - Ela não conseguiu falar novamente.

O barulho foi identificado por sua audição como sendo de motor de carro. Um motor muito potente. Um motor com alto poder de destruição. Algo ruim crescia mais e mais dentro do coração de Regina e ela estava prestes a entrar em pânico. Felipe continuava sem entender o que sua esposa queria lhe dizer.

- Re, o que está acontecendo?

- Cuidado! - Gritou, mas era tarde demais.

O carro que Regina ouvira há algum tempo chegara em altíssima velocidade, colidindo estrondosamente com o carro do casal, causando força e pressão fortes o suficiente para fazer Felipe perder completamente o controle do veículo e este capotar na estrada. O casal não sobreviveu.