Quanto mais eu conversava e convivia com Sebastian via o quão diferente ele era do meu Sebastian.
O meu Sebastian poderia ser considerado – principalmente por Charlie – um bom moço e até mesmo um mauricinho enquanto o outro Sebastian vivia batendo na cabeça de Charlie e na minha, contando piadas sujas, falando palavrões e tirando uma com a minha cara sempre que podia. O meu Sebastian estava sempre bem arrumado e penteado em minha imaginação enquanto Sebastian tinha seu cabelo sempre despenteado e precisando de um corte, com calças jeans surradas e às vezes rasgadas, blusas de bandas e sua inseparável jaqueta de couro.
Mas mesmo com todas essas coisas Sebastian era um cara que ficava conversando comigo sobre coisas banais pela janela de seu quarto e que me ajudava com Calculo quando eu não entendia um exercício. Ele não era o Sebastian do meu diário, mas ainda era um cara legal e muito... interessante.
– Ele é um gostoso!
Censurei Charlie com o olhar. Ela encarava pela minha janela Sebastian fazendo seus exercícios diários. Podia escutar heavy metal tocando mesmo com a janela dele fechada.
– Pare de ficar olhando. Achei que você estivesse com o tal de Dylan. – Falei e a loira revirou os olhos.
– Olhar não tira pedaço, Queen. E Dylan e eu estamos apenas nos conhecendo ainda. – Ela mordeu o lábio inferior e começou a alisar freneticamente uma mecha de seu cabelo longo e dourado. – Você acha que eu deveria chama - ló para sentar com a gente no almoço? Ele disse que quer conhecer você.
Sorri maliciosa fechando o livro que eu lia naquela semana.
– Eu realmente tenho que o ameaçar...
Charlie deu um grito e me bateu com meu travesseiro me fazendo começar a gargalhar enquanto ela só me batia mais.
– Você... tem... que... ser... uma... melhor... amiga... legal... – A cada palavra eu levava um novo golpe. – Ser... legal... com... ele...
– Séria muito errado eu gravar isso? Por que é estranhamente, ou talvez não tanto assim, sexy.
Viramos as duas em direção à voz e vimos Sebastian sorrindo malicioso encostado em sua janela. E sem camisa. E suado. Inconscientemente mordi o lábio inferior ao ver seus músculos.
Charlie saiu de cima de mim e ajeitei minha roupa mandando meu melhor olhar de desprezo para Sebastian que nem se abalou.
– Você é doente. – Charlie resmungou. – Mas sabe que horas são?
Ele olhou para dentro de seu quarto por um instante e depois voltou a nos olhar.
– Dez pras sete. Alguém está atrasada para o jantar...
Charlie arregalou os olhos enquanto colocava os tênis.
– Merda! Minha mãe vai me matar. Tchau, Queen.
E saiu correndo e fechando a porta da frente com força ao sair.
– Tchau pra você também. – Murmurou Sebastian revirando os olhos. Seu olhar se focou em mim e ele sorriu de lado. – Queen.
– Sebastian. – Retruquei começando a arrumar a bagunça que Charlie havia feito no meu quarto.
– Eu estava pensando e...
– Uau. Você pensa.
–... e já que agora o campeonato de atletismo está perto e Charlie vai viver ocupada que você podia pegar carona comigo pra ir e voltar para a escola. - Olhei para Sebastian arqueando uma sobrancelha. – O que?
– Você sendo legal. Estranho. – Sebastian revirou os olhos. – Mas eu aceito.
– Legal.
Continuei arrumando o quarto e Sebastian sumiu por algum tempo e quando voltou havia tomado banho e vestia uma camisa.
– Afim de pizza? – Perguntou e dei de ombros. – Qual é? Eu pago.
Acabei concordando e ele pulou a janela entrando no meu quarto e descemos para a cozinha, onde ligamos para a pizzaria que eu e Charlie sempre ligávamos e que o entregador sempre dava em cima de Charlie.
– Seus pais não estão em casa?
Sebastian fez um gesto de desdém com a mão.
– São advogados. Quase nunca ficam em casa. Mas e os seus?
– Minha mãe é médica e fica fora quase o dia inteiro. Meu pai é empresário e mora no Canadá desde que os dois se separaram quando eu tinha nove anos. E como meu irmão gêmeo mora com meu pai costumo ficar sozinha.
Sebastian se ajeitou no sofá parecendo interessado. Seu cabelo ainda estava úmido do banho e parecia ainda mais escuro e mesmo estando um tanto afastada podia sentir seu perfume amadeirado.
– Você tem um irmão gêmeo?
Dei de ombros.
– Aaron e eu nunca fomos muitos unidos, pelo menos não depois de sairmos do útero, e ele foi com papai depois da separação já que sempre se deu melhor com ele enquanto eu sempre me dei melhor com nossa mãe. – Sorri de lado tomando um gole da minha lata de Coca. – E você? Não tem irmãos?
– Uma irmã mais velha. Katherine ficou na Inglaterra. Ela estuda em Oxford. – Ele deu um sorriso irônico. – Mais uma advogada para a família.
Quase suspirei aliviada. A família de Sebastian era diferente da família do meu Sebastian.
– Algo me diz que você não vai fazer faculdade de advocacia. – Sebastian deu de ombros dando um gole em seu refrigerante.
– Não nasci para ficar em um escritório. Quero ser desenhista. Pretendo fazer faculdade de desenho e quem sabe viajar pela Europa como mochileiro. – Ele sorriu sonhador e não pude deixar de sorrir também. – O que você quer fazer?
– Literatura. Talvez no verão eu faça um curso de escrita em uma faculdade em New York e se eu for bem nele e minhas notas continuarem acima da média posso até ganhar uma bolsa.
A campainha tocou e levantei para atender a porta.
– Oi, Karma. – O integrador exclamou, animado, ao me ver. – Charlie está ai?
Dei risada negando com a cabeça e Sebastian apareceu atrás de mim tirando o dinheiro de sua carteira.
– Foi mal, Chad. Ela não está aqui hoje. – Respondi.
O garoto olhou para Sebastian e depois para mim e arqueou as sobrancelhas enquanto recebia o pagamento e me entregava à caixa com pizza.
– Deve ser chato ficar de vela. – Chad sorriu malicioso e franzi a testa. – Esse parece ser mais legal que seu último namorado.
– Não somos namorados. – Esclareci, mas o entregador já havia ido embora.
Sebastian sorria de lado, feliz da vida, e lhe olhei cética.
– O que? Acabaram de pensar que uma ruiva gostosa e inteligente é minha namorada. Isso é bem legal.
Revirei os olhos lhe entregando a caixa com pizza com certa brutalidade e voltando para a sala.