Tentava me convencer de que eu estava errada.

Não havia como Sebastian, o aluno novo, ser o mesmo Sebastian que enchiam as páginas do meu diário. Mas mesmo assim os dois tinham a mesma característica física e o mesmo nome e ambos eram britânicos.

Sebastian Lewis era um nome comum na Inglaterra. Talvez fosse só uma irônica coincidência do destino.

– Ei! – Charlie estralou os dedos em frente ao meu rosto e me assustei. – Aconteceu alguma coisa? Você está fora do ar desde o primeiro período.

Estávamos na cantina e Charlie mastigava seu terceiro sanduiche de peito de peru enquanto minha maçã estava intocada em cima do meu diário.

– Só pensando. – Murmurei suspirando e ele apareceu no meu campo de visão.

Podia se perceber as lideres de torcida enrolando seus cabelos nos dedos e ajeitando os decotes quando ele passou por elas caminhando relaxado com uma bandeja de comida em mãos, mas Sebastian nem olhou para nenhuma das siliconadas. Ele estava de fones e seu cabelo preto extremamente bagunçado caia um pouco em seus olhos o deixando mais charmoso ainda.

Ele se sentou em uma mesa um tanto afastada, sozinho, e comeu seu hambúrguer às vezes mexendo em seu celular. O garoto pareceu notar que eu o olhava e levantou o olhar de sua comida me encarando de volta e antes que eu desviasse o olhar, sorriu de lado, dando um aceno com a cabeça.

– Você está corada. Por que está corada? – Charlie perguntou sorrindo maliciosa.

Revirei os olhos e joguei minha caneta nela, que desviou.

– Só estou pensando em como passei vergonha com meu seminário. Odeio apresentar trabalhos.

Charlie deu risada limpando as mãos em seu jeans depois de terminar seu sanduiche. Pegou meu diário e começou a folhear o mesmo. Como sempre fazia quando queria se distrair.

– Você não me engana, Karma. É uma péssima mentirosa. – Franzi a testa. – Está pensando sobre o garoto novo que por algum motivo é pelo jeito o mesmo do seu diário. Admito que nunca imaginei que seu príncipe imaginário poderia ser tão sexy.

– Sebastian é um nome comum na Inglaterra. Assim como o sobrenome Lewis. Não enche.

– Mas e quanto ao – ela começou a ler meu diário – “... e os olhos. Orbes cinza que mudavam de cor dependendo do momento. Poderiam te deixar em meio a uma grande tempestade ou apenas envolta de uma agradável névoa protetora...” Ou “... seu cabelo era escuro como a noite. Seboso ao tato e simplesmente irresistível – assim como o próprio Sebastian – o jeito que ele o penteava para trás com os dedos enquanto conversávamos e então sorria de lado mostrando sua covinha na bochecha esquerda me deixava louca e com vontade de tomar sua boca na minha e...

– Okay! Chega!

Tomei o caderno de suas mãos e Charlie deu risada enquanto eu fazia beicinho.

– Repito: Coloque algumas cenas picantes nesse seu diário, mude alguns nomes e outras coisas e você tem um Best seller, Queen. Você poderia ganhar muito dinheiro e caras atrás de você.

– Você sabe a minha opinião sobre namoros. – Murmurei passando a mão pelo meu cabelo cor de cenoura. Charlie revirou os olhos.

– Eu sei que as coisas não deram muito certo com o Spencer, mas nem todos os caras são completos idiotas. Bem... a maioria é, mas nem todos e alguns podem ser melhorados. Esse seu voto sobre caras só na faculdade vai te deixar louca em algum momento.

– Estamos no último ano. Não é tanto tempo. E na verdade eu disse que só irei cogitar a ideia de arranjar um namorado quando estiver terminando a faculdade.

Charlie revirou mais uma vez os olhos enquanto a mesma tomava o meu suco de uva.

...

Pegava minhas coisas em meu armário para poder ir embora quando Spencer apareceu ao meu lado com seu melhor sorriso. Ele tentava parecer relaxado com as mãos dentro dos bolsos da sua jaqueta do time de futebol americano.

– Não estou afim. – Exclamei fazendo um gesto para que ele fosse embora com minha mão sem tirar os olhos do meu armário.

– Karmy, por favor, conversa comigo. Eu sei que fui um idiota, mas não vou fazer de novo.

Revirei os olhos.

– Não use esse apelido ridículo. Você sabe que eu o odeio. – Fechei meu armário e sorri sarcástica. – E que você é idiota, eu sei muito bem. Agora se me da licença a Charlie está me esperando no estacionamento e você sabe que ela odeia quando eu demoro. Pode voltar a correr atrás de uma das garotas do time de vôlei.

Sai andando com minha mochila e o maldito veio atrás de mim. Qual é? Já faziam quase três meses. Ele tinha que desistir.

– Mas eu te amo, gata!

– Foda-se! – Respondi andando apressada até onde o carro de Charlie e ela, estavam. – Me deixa em paz, Spencer. Antes que eu peça um mandato para te deixar longe de mim.

Passei pelo garoto novo e seu carro que era um Charger preto vintage e ao me ver, me deu o mesmo sorriso de lado do refeitório e um aceno de cabeça. Pude ver uma covinha em sua bochecha esquerda antes dele sair de meu campo de visão.

– Deixa a Karma, Spencer. Antes que eu tenha que te bater com minha mochila! – Gritou Charlie apontando sua lixa de unha ameaçadoramente para Spencer que revirou os olhos.

– Eu só quero conversar com a minha namorada!

– Ex! Ex-namorada, Spencer. Ninguém mandou você comer a Kim e deixar que eu descobrisse. – Entrei no carro de Charlie e fiz sinal com a cabeça para ela ir embora.

Ela obedeceu e arrancou com o carro deixando Spencer para trás.

– Ele está começando realmente a me irritar. – Resmunguei.

– Pelo menos ele não vai mais a sua casa. – Charlie sorriu colocando seus óculos de sol no estilo aviador. – Logo ele vai desistir. Ou posso chamar alguns caras do clube de luta.

– Oh! Eu ia gostar disso. – Disse sorrindo de lado e prendendo meu cabelo em rabo de cavalo.

Charlie parou em um sinal vermelho e me olhou maliciosa.

– E quanto ao assunto Sebastian Lewis? Mais alguma prova de que ele é seu príncipe saído do diário?

– Meu Deus. Você sabe que isso é impossível. São apenas coincidências. Nada de mais. Fim da história.

– Nossa. – Charlie murmurou. – Que mau humor, Queen.

Suspirei.

– Só estou irritada com Spencer, desculpa.

Fomos o resto do caminho sem conversar, apenas com o rádio tocando de fundo enquanto eu ignorava as mensagens e ligações de Spencer.

– Você vai vir aqui mais tarde? – Perguntei para Charlie enquanto descia de seu carro.

A garota franziu a festa, pensando, e deu de ombros falando que mandaria uma mensagem caso fosse aparecer e assim fui andando pelo pequeno jardim enquanto procurava pelas minhas chaves para abrir a porta.

O caminhão de mudança de mais cedo havia ido embora e enquanto eu procurava pelas minhas chaves dentro da bagunça que era a minha mochila um Charger preto parou na garagem da casa que ficava a esquerda da minha. Do carro saiu o garoto novo que assoviava com sua mochila azul marinho perdurava apenas por uma alça.

– Primeiro eu trombo com você no corredor, ai você é da minha classe, depois te vejo na cantina, então no estacionamento você passa por mim brigando com seu namorado e agora descubro que é minha vizinha. Isso é perseguição? – Ele disse e dei risada.

– Que eu saiba o garoto novo é você. Ou seja, você que é o perseguidor, não eu. – Comentei achando finalmente minhas chaves e entrando em casa antes que o garoto pudesse continuar a conversa.