Everything is Falling Apart escrita por Irmã do Silêncio


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Hey shadows! Bom, eu nunca escrevi uma One, e não sei bem como funciona, mas eu espero que tenha ficado boa.
Boa leitura.



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Kaya olhou para o seu reflexo no espelho, o rosto ainda estava úmido após ela mesma ter jogado água sobre ele. Sempre que ela se sentia ansiosa ficava com um calor inexplicável. Naquela noite seu corpo parecia em chamas.

Ao menos estou bonita, pensou a morena. As sardas em seu rosto sempre a haviam incomodado, mas fora isso, ela era bonita. Ao menos era o que Matthew sempre lhe disse, e havia algo nele, que fazia com que ela lhe confiasse cegamente a própria vida.

Faziam-se 7 meses quando ele havia sido enviado para o instituto da Rússia, deixando-a sozinha com os pais na Inglaterra. Claro que não havia nada que pudessem fazer, os pais dele haviam morrido e a Clave decidiu que ele seria mais útil longe dela.

Olhou uma última vez para o espelho se certificando de que o vestido preto de veludo, o cabelo ondulado que caia em seus ombros e os lábios pintados de vermelho, estivessem perfeitos.

Ela saiu do banheiro e seguiu pelo corredor de pedras, a casa de sua família em Idris era antiga, com móveis de um toque da época vitoriana misturado com o moderno. Ela gostaria de morar ali, onde podia exibir suas cicatrizes com orgulho, onde ninguém a olharia de forma diferente, onde ela sentia que era de fato, seu lugar.

Seus pais haviam saído já se faziam horas, estavam no Gard. Mas ao contrário do que faria em outros dias, ela não estava preocupada com eles, e sim em como seria quando olhasse para os olhos cor de mel de Matt, estava preocupada se a ligação que haviam construídos aos poucos, ainda estava ali ou se o tempo já a tinha consumido.

Foi quando pensava em tudo que poderia dar errado, em como seria o reencontro, que ouviu a campainha ser tocada. Ela invejava a campainha de algumas casas mundanas, pois o de sua casa eram como sinos enferrujados batendo dentro de sua cabeça, e era impossível não ser despertado por aquele som, pensou em Kile - seu irmão mais novo - dormindo no quarto de cima e sendo acordado de repente. Ele ficaria transtornado.

Com o coração martelando em seu peito, ela abriu a porta. Matt era o mesmo, não havia nada naquele rosto - exceto uma nova e pequena cicatriz perto da têmpora - que ela não reconhecia. Ela esperava vê-lo sorrindo, ela se imaginou pulando nos braços dele e sendo segurada pelos mesmos, sentindo os músculos proeminentes contra seu corpo, mas tudo que viu foi seu mundo ruir.

Matt estava com as mãos um pouco abaixo do peito, sangue vazava pelos vãos dos dedos esguios, que adoravam desenhá-la. Kaya nunca havia sido o tipo de garota que ficava histérica, que chorava, ou que ficava sem reação, mas ao ver o garoto com quem havia crescido correndo pelos corredores do Instituto à sua frente sangrando e com um olhar suplicante, ela ficou paralisada.

– Não vai me ajudar? - perguntou ele, sorrindo com esforço, enquanto se escorava no batente da porta. Mal conseguindo continuar em pé.

Kaya lutou contra as lágrimas que queriam descer, e passou o braço sobre as costas dele dando apoio a Matt. Ela precisava salvar ele. Não havia esperado 7 meses, não havia se arrumado, não havia depositado sua confiança nele, não havia deixado ele roubar seu primeiro beijo, não havia construído seu relacionamento para vê-lo morrer em sua frente.

Ela colocou-o sobre o sofá com o máximo de cuidado possível, mas o ruido com a garganta indicou que não havia sido cuidadosa o suficiente, ela nunca fora, ele deveria saber.

A morena, com as mãos tremendo - logo Kaya que nunca tremia - retirou a estela que estava presa dentro de sua bota e puxou a camiseta dele para cima, haviam cinco buracos fundos que vazavam sangue - que provavelmente sujaria o sofá azul da sala. Antes que ela pudesse encostar o objeto contra a pele branca do garoto e traçar um iratze, sentiu a mão dele contra a sua, mal fazia pressão, mas ela sabia que ele queria que ela se afastasse. Levantou os olhos azuis como garrafa de vidro para encará-lo.

– Me deixe tentar - pediu ela, e praguejou a si mesma por ter aberto a boca, as lágrimas inundaram seus olhos instantaneamente.

Ela observou o rosto dele se contorcer antes de começar a fala, com a voz baixa.

– Foram demônios, as marcas não vão funcionar - disse ele. - Alicante está infestada de demônios, sweetheart.

– Alicante está sendo invadida? - perguntou ela, com incredulidade. - É impossível.

Ele esboçou um sorriso para ela.

– Eu também acharia isso, se não fosse pelos buracos em minha barriga.

Eles se encararam durantes longos segundos. Kaya observava o peito dele descer e subir lentamente, a dificuldade que tinha em continuar respirando.

– Posso lhe pedir uma coisa? - perguntou ele, de forma hesitante.

Ela olhou ele. As pupilas dele estavam dilatadas, seus olhos continham uma espécie de admiração que nunca os deixavam quando se pairavam sobre ela. Então ela balançou a cabeça.

– Me prometa que não irá lá para fora, prometa que irá... - ele parou por um segundo e tossiu, Kaya sentiu seu coração parar brevemente.

– Prometo - respondeu sem hesitar.

Ele fechou os olhos por alguns instantes e novamente os abriu.

– Você nunca soube mentir para mim - disse ele. - Do mesmo jeito que nunca se permitiu ficar de fora de uma luta.

As lágrimas escorreram dos olhos dela, enquanto se inclinava para tocar os lábios dele.

...

O aperto em sua mão afrouxou, o peito deixou de se movimentar, e os olhos dele se fecharam. Ela nunca mais veria os olhos cor de mel novamente. Foi como se algo dentro dela tivesse se quebrado, como se um pedaço de seu coração tivesse sido arrancado, e de certa forma, havia. Matt ocupava grande parte dela, de seus pensamentos, de seus afazeres e de suas lembranças. Nada disso importava.

Matthew Nightshade estava morto.

Após uma crise de gritos, vasos de flores jogados contra a parede, e lágrimas escorridas, ela sentiu pequenas mãos em seus braços. Ela se virou para Kile, que tinha os mesmo olhos azuis que ela, e cabelos castanhos.

– Kaya pare - disse ele suavemente. Para um garoto de 12 anos, ela o achava inteligente demais.

– Ele se foi, Kile. Matt morreu - disse ela, mal reconhecendo a própria voz.

Kile era pequeno, mas compreendia melhor do que ninguém seu amor por Matt. O pequeno garoto sabia que Matt havia salvo sua vida dezenas de vezes de ser morta por sua imprudência, e Kile de certa forma, gostava de Matt por isso.

– Alicante está sendo atacada, não está? - questionou o menino. Ela balançou a cabeça para cima e para baixo lentamente. - Talvez devêssemos subir e esperar isso acabar - sugeriu ele.

Kaya não deu ouvidos. Se livrou das pequenas mãos do garoto e rumou por um corredor para uma pequena sala com variadas armas presas a parede. Pegou duas Lâminas Serafins. Colocou adagas em seu cinto e botas, depois se voltou para Kile, que a observava sem dizer nada.

– Quero que suba para seu quarto, e não saia de lá por nada - ela disse. - Entendeu?

– E o que você vai fazer?

Ela suspirou.

– Eu irei matar cada desgraçado que cruzar meu caminho, e torcer para que um deles seja o assassino de Matt.

...

Ela mal suportou passar pela sala sem conter as lágrimas, mas não podia continuar a chorar, Caçadores de Sombras eram preparados para aquele momento. Viam seus familiares saírem todos os dias com a chance de nunca voltarem, não haviam motivos para continuar a ser tão fraca.

Kaya abriu a porta de sua casa para encontrar uma Alicante que havia se transformado em um pandemônio. Pessoas corriam de um lado para o outro chamando por nomes de outras, ela não demorou para visualizar demônios e lojas queimando. Era a imagem mais aterrorizante e confusa que já havia visto.

Kaya mal conseguia acreditar que Alicante das torres demoníacas estava sendo invadida, logo a sua cidade, da qual sempre ouvia historias. Primeiro seu sonho de que passaria o resto da sua vida com Matt, depois Alicante, era como ver tudo no qual acreditava caindo aos pedaços.

– Samandriel! - gritou, a primeira Lâmina Serafim se acendeu em sua mão, logo após ela disse o nome de outro anjo fazendo com que a segunda lâmina também brilhasse.

Ela se sentia um tanto cansada, não havia marcado seu corpo para a batalha, mas ela queria sentir todas as emoções naquele momento. Queria esquecer a imagem de Matt que insistia em vir a sua cabeça. Suas botas bateram contra o chão de pedra e ela avançou pela rua procurando alguma coisa. Enquanto várias pessoas fugiam como covardes, como se não tivessem sido criados para aquilo, ela era uma das únicas que ia em direção ao perigo.

Um demônio Behemoth se arrastava lentamente por uma rua, Kaya odiava mais do que qualquer coisa aquela espécie de demônio, fazia com que seu estômago revirasse e o bile subisse a gargante. Automaticamente a imagem de Matt lutando ao lado dela contra um deles veio a sua mente, e a raiva a preencheu enquanto ela avançava contra a coisa.

Kaya sabia melhor do que ninguém que Lâminas Serafins não eram palhas para aquele demônio, e se praguejou internamente quando a lâmina começou a se desfazer e precisou jogá-la para lado.

Os demônios Bahemoth se parecem lesmas cegas com duas fileiras de dentes expostas, se curam, porém perdem energia quando são atacados e demoram cada vez para se recompor, repassou Kaya, mentalmente, tentando se lembrar como acabar com ele.

Retirou uma adaga de seu cinto pronta para arremessá-la no demônio quando uma figura de dois metros e com pelos cinzentos se jogou sobre o demônio, e começou a arrancar pedaços dele com a boca. Kaya não abaixou a adaga.

Seres do submundo, ela nunca havia confiado neles, mesmo que Matt, amigos e familiares fossem mais flexíveis a eles, ela não era. Admitia que tinha uma espécie de preconceito por terem origem demoníaca. Ela pesou se deveria matá-lo, mas ao mesmo tempo pensou em como estaria sendo idiota por isso, um ser do submundo havia acabado de ajudá-la. Matt agradeceria.

Só percebeu que o demônio havia desaparecido quando o lobo se transformou novamente, em um homem de aparentemente 25 anos, com barba a fazer, cabelos louros e olhos azuis.

– Aceito um pedido de obrigado, Caçadora de Sombras - disse ele, cuspindo em forma de xingamento as últimas palavras.

Kaya o encarou, com raiva.

– Não pedi sua ajuda, lobinho.

Ele deu uma espécie de rosnado para ela.

– Mesmo quando precisam de ajuda, vocês não conseguem ser menos arrogantes, não é?

Kaya não teve tempo para responder, um segundo mais tarde ele havia explodido em um lobo cinzento novamente. Rosnou para ela, mas Kaya não se deixou intimidar, não havia nada no mundo naquele momento que a fizesse temer ser atacada por um lobo.

...

Era uma noite tão cheia de dor e sofrimento para todos. E ainda sim, as estrelas brilhavam exuberantes no céu, Kaya só conseguia pensar em como aquilo era possível, ela havia perdido Matt, haviam tantos Caçadores de Sombras caídos, mortos, pelas ruas de Alicante. Não era justo que as estrelas continuassem a brilhar de tal forma.

Seu braço doía onde um Ravener havia a atacado, a frente de seu vestido havia sido destruída e mostrava cortes por seus seios e barriga, uma parte de seu ombro também doía onde um outro demônio havia jogado veneno, e ela tentou pensar em como ainda conseguia se manter em pé. É claro, ela era uma Caçadora de Sombras, mundanos provavelmente já teriam sucumbido as dores.

Ela apertou a Lâmina Serafim em sua mão e pulou sobre um demônio de 8 braços, que ia em direção a um idoso ajoelhado ao lado de uma criança que deveria ter a idade de seu irmão. Ela sentiu sem coração se contrair ao pensar em Kile. O que estou fazendo?, pensou ela, era como se quisesse morrer, mas ainda haviam pessoas que se importavam com ela, como ela havia se importado com Matt.

Os braços do demônio terminavam em pinças e suas presas se projetavam de seus olhos soltando veneno. Kaya pulou para o lado quando um liquido venenoso voou em sua direção, ela odiava demônios Spider. Com a Lâmina Serafim firme em sua mão, ela atacou novamente.

Era uma ótima caçadora e com um golpe certeiro, cortou para fora um dos braços do demônio que chiou de dor. Apesar de ser boa no que fazia, ela não estava em suas melhores condições ou em seu melhores dias, seu corpo estava cansado, seus sentidos não estavam tão bons quanto estariam em dias normais, e desprevenida, ela foi lançada pelo ar por outro braço da coisa.

Seu corpo atingiu o chão, com força. Ela sentiu seu braço direito doer e soube no exato momento que o havia quebrado. Kaya se levantou, às vezes se sentia sortuda por ser canhota, na maioria das vezes ela machucava seu braço direito. O demônio vinha com certa lentidão para cima dela, Kaya retirou a última faca em seu cinto e mirou para o lugar onde devia estar o coração da coisa, e arremessou.

O demônio parou, seu corpo entrou em espasmos um pouco antes de desaparecer. O velho que ela havia salvo, estava de pé, e ela percebeu que iria ajudá-la. Sorriu em direção a ele para demonstrar que ela não precisava de ajuda.

O senhor gritou alguma coisa, mas Kaya tinha a mania de se sentir eufórica demais quando livrava o mundo de tais abominações, e por isso não deu ouvidos a ele. Foi quando sentiu uma dor intensa em suas costas.

Era como se uma lâmina estivesse a penetrando e rasgando sua pele, ela caiu no chão. Kaya não gritou. Não iria morrer gritando, não era uma covarde ao contrário dos outros.

Sua visão já começava a desfocar quando ela viu o velho correr em direção ao demônio. Ela gostaria de saber o que acontecia, mas se sentia completamente sem forças até mesmo para mexer sua cabeça e ver o que eram os barulhos causados pela luta.

Kaya voltou os olhos azulados para o céu, Matt sempre havia dito que não haviam olhos mais lindos que o dela. As estrelas no céu eram pequenos pontos prateados longe dela, e ela as imaginou caindo como uma chuva de meteoros prateada.

Quando for a sua hora irei vir te buscar, e te apresentarei ao outro lado. As palavras de Matt vieram a sua cabeça. Kaya particularmente, nunca havia acreditado que existia o outro lado, sempre havia achado que era apenas uma desculpa que as pessoas davam por não quererem aceitar a morte e o fato que a única coisa que sobraria delas, eram seus ossos. Mas naquele momento ela desejou que existisse um segundo mundo, uma outra vida, o outro lado, e torcia para que encontrasse Matt nele.

A dor em seu peito parecia diminuir a cada minuto, ou talvez fosse porque ela mal conseguisse sentir o próprio corpo, pensou em Kile, em sua mãe, seu pai, até mesmo no insuportável Josh Whitelaw, que se achava o melhor Caçadores de Sombras mesmo depois de ter levado uma surra dela. Ela sorriu.

– Você veio me buscar mais cedo do que imaginei - disse para si própria, e como tinta preta sendo jogada sobre um quadro, tudo ficou preto e silencioso, aquele era seu fim.

...

O senhor de 74 anos se ajoelhou a frente de Kaya. Ela havia aparecido como uma guerreira e lutado bravamente contra um demônio que vinha para cima dele. Quando ela caiu no chão, ele se levantou para lhe ajudar, mas logo a caçadora estava de pé, o que não durou muito, outro demônio a atacou, e aquilo fez com que ele tivesse forças para lutar.

Ele lutou, e venceu. Mas não era vitorioso de fato, não salvou seu neto, e não salvou a guerreira que havia tentado ajudá-lo. Era uma garota de pele branca, sardas espalhadas sobre a face, cabelos castanhos, quase pretos, e seus olhos, ele nunca saberia. Então ele colocou os braços dela sobre o peito e olhou para céu, antes de dizer em voz baixa:

– Ave Atque Vale.

...

Um sorriso ainda pairava sobre o rosto da caçadora de 16 anos, que havia aceitado a morte esperando que do outro lado da vida encontrasse as pessoas que amava, e que já havia perdido.

Kaya Bellefleur estava morta. Assim como Matthew Nightshade. Assim como Max Lightwood e a Hodge Starkweather, e como outras dezenas de Nephilim que haviam morrido no primeiro ataque a Idris. Todas aquelas vidas haviam sido tiradas por Valentim Morgenstern. Mas o Karma é algo que não se pode lutar contra, e Valentim não teve um destino diferente dos mortos.


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Notas finais do capítulo

Gente, qualquer erro me avisem.
Karma ou Carma para quem não sabe é basicamente a lei da causa e efeito. Tudo que vai, vem.
Comentem o que acharam, eu ficarei bem feliz 💘



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