Chasing a Starlight escrita por ladywriterx


Capítulo 6
Nove Reinos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/638437/chapter/6

 

Ótimo. Minha vó ficou a tarde inteira me expulsando da cozinha porque “eu tenho a sensação que hoje o jantar tem que ser especial”. Os dois riram. — Só mais uma coisa, eles me chamam de Sigyn aqui.

Estou incluso nesse pacote? — Perguntou, esperançoso. Cerrou os olhos. Demorou um pouco até ela respirar fundo, deixar os ombros caírem.

Só enquanto eu estiver na Islândia. O sorriso travesso que ela conhecia surgiu em seu rosto. Não abusa.

Você que manda, Sigyn.

Eu disse. Não. Abusa. — Disse, rindo enquanto recebia alguns selinhos, talvez como desculpas. Acho que precisamos voltar. Eles devem estar morrendo de curiosidade. Não literalmente, claro. Helena precisava aproveitar o bom humor que tinha reaparecido apesar da notícia que tinha dado. Enquanto voltavam, percebeu quando ele passou delicadamente o braço por seu ombro, puxando-a para perto. Adorava quando ele fazia isso. Sorriu e abraçou-o pela cintura. Ele depositou um beijo delicado em seu ombro. Respirou fundo. Tinha sido melhor do que esperava. Não tinha brigado. Ele não tinha saído correndo querendo matar Odin na primeira oportunidade. Era um bom começo. Bem, minha vó se chama Lif e meu vô Magnus Aronson. Pararam no batente da porta. Ela respirou fundo e virou-se para ele. Você não precisa fazer isso se não quiser, Loki. Não faz nem um mês que a gente se conhece.

Em Asgard, a primeira coisa que a gente faz, na verdade, é conhecer a família. É até melhor que eu não esteja no castelo agora. Ergueu as sobrancelhas.

Helena sabia bem o porquê ele não podia estar no castelo. Ele não conseguiria se segurar. Já conhecia Loki bem o suficiente para saber que, assim que ele ficasse sozinho, ele se permitiria sentir tudo o que não estava transparecendo na sua frente. Assentiu antes de virar a maçaneta, para encontrar seu avô jogado na poltrona, fingindo que estava daquele jeito há algum tempo. Riu, negando com a cabeça. Sua avó colocou a cabeça para fora da cozinha para encontrar os dois entrando, tirando os casacos cheios de neve no hall antes de continuar pela casa.

Bem, quando vocês dois saírem do transe que estão, esse é Loki, Loki, meus avôs. Riu enquanto via os dois mais velhos se mexerem para cumprimentarem Loki. Negou com a cabeça enquanto tirava o cachecol e as luvas. Percebeu todo o formalismo dos dois quando se aproximaram de Loki.

Nunca tinha pensado nele com um príncipe. Ele era só Loki para ela. Afinal, nunca tinha vivido em Asgard e tinha conhecido ele de um jeito tão estranho que era difícil imaginá-lo rodeado de toda aquela fantasia de realeza, mas, pelo jeito, seus avôs não tinham perdido o costume. Observou com atenção o jeito como seu avô estendeu o braço e apertou a mão dele, inclinando-se numa leve reverência. Franziu o cenho, achando tudo isso novo e diferente. Tirou o gorro, pendurou-o junto com todos os outros acessórios que tinha tirado. Sua avó fez uma leve reverência. Só esperava do fundo do coração que não começassem a chamá-lo de príncipe Loki. Ficaria muito desconfortável.

Não precisam de tanto formalismo. Loki riu e Helena ficou aliviada, ela não precisaria falar isso. Estamos fora de Asgard. Aqui eu sou só...

O namorado da nossa neta.

É... A moça tomou a frente, vermelha. Vou mostrar a casa para ele, ok? Não comecem, por favor. Suplicou. E, por favor, finjam que somos uma família gigante e deixem que eu conte pros meus pais que isso aconteceu, certo? Certo. Ok. Vamos? Sorriu para Loki, que olhava divertido para ela e a interação entre família.

Magnus, me ajude a colocar a mesa. Lif sorriu para a neta e fez sinal para que ela continuasse o que queria fazer. Seu avô protestou um pouco, encarou Loki por mais alguns segundos antes de abaixar os ombros e seguir sua esposa.

Vem. Fez um sinal com a cabeça para que Loki a seguisse.

Ele estava paralisado assistindo à cena, com um pouco de inveja. Quando Helena tinha falado que viajaria para visitar os avôs que não via há um tempo, não percebia o problema em ficar sem ver parentes por tanto tempo. Com a dinâmica dos três na sala, o jeito como os dois olhavam para Sigyn como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo – e parecia ser para eles – fez com que ele ficasse um pouco com inveja. Sua família era uma bagunça. Sabia que seus pais se amavam, sabia que sua mãe o amava, e amava Thor igualmente, mas nunca sentia nada vindo do pai. Mas Helena cresceu cercada de tudo isso.

Ta tudo bem, Loki? Helena parou no meio da escada quando percebeu que Loki não respondeu o que ela tinha perguntado.

Perdido em pensamentos.

Percebi. Quer conversar?

Não é nada. O que estava falando?

Que na verdade não tem muito o que mostrar a não ser a biblioteca e o meu quarto, perguntei o que queria ver primeiro.

O que tem de interessante nas opções? Continuaram a subir. Helena riu.

Bem, meu quarto tem... Meu quarto. Já a biblioteca tem uns livros bem antigos, que eu achava que meus avôs mataram para conseguir, mas agora eu sei de onde vem. Vários livros. Bem legais, aliás. Cheiro mofo porque são velhos, mas... Deu de ombros. Acho que meu vô ia gostar de mostrar para você, ele passa maior parte do tempo aqui em cima.

Então vamos para o seu quarto, vamos ter tempo depois do jantar.

Era a segunda porta depois da escada. Ainda manchada com uma tinta roxa de uma vez que pintara as pontas do cabelo – e tinha corrido do banheiro até o quarto com as mãos todas sujas. Seus avós acharam bonito o contraste que a marca da mão roxa tinha dado a porta branca e deixaram como recordação do verão do oitavo ano de Sigyn.

Tinha quatorze anos. Bateu na marca da porta. Achei que vovó ia arrancar minha cabeça fora, mas ela acabou gostando. Está ai até hoje.  Explicou para Loki enquanto empurrava a porta.

Adorável. Loki rodou os olhos.

Eu era mesmo, tinha cabelos roxos na época, tá? A garota mais legal do ensino médio. Acenou a cabeça como se o desafiasse e ele apenas deu de ombros, como se aquilo não fosse nada. Helena riu e entrou no quarto. Acendeu a luz e sentiu-se um pouco insegura.

Não mudava quase nada naquele quarto enquanto crescia. Tudo ia meio que acumulando. Desde a pintura branca e rosa das paredes, até as estrelas de mais de quinze anos, as luzes penduradas na cabeceira de quando fez dezesseis anos. As fotos mais importantes coladas em todas as paredes, espalhadas, tornando o quarto um verdadeiro mural. Tinha mais cara de um quarto de adolescente que de uma mulher adulta. A cômoda era branca e tinha desde ursinhos de pelúcia que tinha desde bebê até livros de medicina que trouxera para estudar. Seu quarto na casa dos seus avôs era o que definia como seu baú. Tudo o que ela sentia que era importante, estava ali. A colcha da cama, dessa vez um rosa claro com algumas flores brancas, pareciam muito convidativas com várias almofadas, também brancas e rosas.

Loki foi direto para a parede que as fotos eram mais acessíveis. Fazia algum tempo que Helena não via quais eram as fotos que estavam ali. Talvez algumas com sua família, seus amigos do ensino médio.Tinha certeza que na última vez que tinha vindo, trouxera uma de Hannah e John. Agora tinha que lembrar onde tinha pendurado. Seu avô sempre valorizou que ela guardasse todas as suas recordações ali, e agora podia entedê-los perfeitamente. O quarto era uma definição perfeita de sua personalidade ao longo de toda a sua vida. Uma parte de Helena para sempre ali. Sorriu.

Nunca entendi porque meus avôs sempre fizeram questão de eu ter meu quarto aqui na casa deles se venho só passar as férias de vez em quando aqui. Loki virou-se para Helena, agora prestando atenção nela. Agora entendi. Uma hora, eles vão ficar e eu vou. Pelo menos vão ter um pedacinho aqui. Sorriu e olhou para Loki também.

Deve ser estranho.

O que? Saber que todo mundo a minha volta é imortal e tem alguns milhares de anos? Levantou a sobrancelha, rindo. — Nah, completamente normal.

Idiota. Ele riu também. Helena pegou a almofada que tinha jogado em seu avô mais cedo do chão e jogou em Loki. Ele pegou antes que o atingisse e a jogou de volta, acertando Helena na barriga. A moça gargalhou. E você está tudo bem com isso?

Tem como não estar, Loki? É minha família. Sempre foram assim, eu que nunca soube. Sentou-se na beirada da cama, seguindo o deus com os olhos, observando a curiosidade dele. Achava graça e deixou que ele explorasse o quarto. E, o caminho já estava meio aberto, já estando com você e tudo mais.

Loki não fazia barulho nenhum ao andar pelo quarto analisando tudo o que estava a mostra. Helena suspirou e se jogou na cama, os cabelos espalhados pela cama. Encarou as estrelas do teto, ainda pensando em tudo o que tinha acontecido aquele dia, tudo o que tinha descoberto. Ainda parecia tudo meio surreal, como se a qualquer momento seu despertador fosse tocar e ela fosse acordar do sonho mais estranho que já teve na vida, de volta na Inglaterra. Apesar disso, não queria que fosse sonho. Não queria perder Loki, que agora olhava com curiosidade o livro de mitologia na cabeceira da cama.

Leu inteiro? A moça negou com a cabeça e voltou a sentar.

Li algumas partes. Com a faculdade não tive tempo, mas quero ver se nessas férias eu termino. Ele assentiu, pegou o livro e sentou-se ao seu lado. Helena colocou o cabelo atrás da orelha e encarou o perfil de Loki, tentando decorá-lo.

Não confie em tudo que está aqui.

Você já me disse isso. Com medo que eu mude de ideia e te dê um pé na bunda? O olhar gelado que Loki direcionou seria intimidante, se fosse em outra situação. Helena enlaçou os braços no dele, colocando a cabeça no seu ombro, rindo. Como adoro fazer isso.

Não vejo graça.

Por favor, Loki, eu estou brincando. Você precisa aprender a relaxar um pouco. O deus soltou uma risada pelo nariz, balançou a cabeça negativamente, sentindo Helena se arrumar melhor em seu ombro. Fechou os olhos por alguns segundos, assimilando tudo o que estava acontecendo. Abriu quando sentiu que ela entrelaçava seus dedos. Abaixou o rosto para as mãos juntas.

Duas semanas. Se conheciam e estavam juntos há duas semanas e já estavam daquele jeito. Parecia surreal demais para ser verdade, mas ali estava Helena. Sentia a respiração tranquila dela ao seu lado, o calor da pele dela. Tão real. Saiu do transe, tentando não demonstrar que ficou tempo demais perdido em pensamentos e, com a mão livre, começou a folhear o livro, olhando de relance os conteúdos das páginas. Quando estava no meio do livro, ouviu Helena puxar o ar, espantada. Era a pintura da Yggdrasil. Tinha visto aquele mesmo desenho dezenas de vezes em vários livros, mas parecia a primeira vez que ela estava vendo. Ocupando as duas páginas, a árvore era feita em dourado e verde, enquanto cada planeta que a orbitava era colorido de modo a ilustrar sua principal característica. A Terra, azul e verde, Asgard, dourado e prata. Virou o livro, o desenho agora em pé, facilitando a visualização.

Não tinha visto ainda?

Não. É... lindo.

Esse livro vem de Asgard, temos esse mesmo desenho em vários livros lá. Helena mordeu o interior da bochecha e se inclinou para analisá-lo melhor. Como não tinha o visto ainda? Era a vez de Loki a encarar, encantado com a admiração dela por algo tão simples quanto um desenho.

Quantos anos esse livro tem? Virou-se para ele e corou ao perceber que ele a olhava. Loki deu de ombros, com um sorriso de lado.

Não sei. Muitos. Talvez da época que seus pais foram... Bem. A moça entendeu e assentiu com a cabeça. Helena, eu queria tanto poder fazer algo sobre isso.

Loki, por favor. Vamos pensar em uma coisa de cada vez. Tudo bem? Ouviu-o suspirar. Ele ainda estava com aquela história corroendo seus pensamentos, deixando-o cada vez mais irritado com seu pai. Queria chegar naquele castelo e exigir explicações, mas não sabia quais seriam as consequências para Helena e sua família. Naquele sentido, ele não podia se deixar ser egoísta. Não percebeu por quanto tempo ficou desligado da realidade, só voltando quando sentiu o toque macio dos lábios de Helena nos seus. Não vamos ficar pensando nisso. Sussurrou, os lábios próximos aos dele. Agora você pode me mostrar os nove reinos.

Claro, milady. Vamos só... Tornar um pouco mais interessante.

Separou-se da loira com um aceno de cabeça como se pedisse desculpas e colocou o livro no chão, a página com o desenho ainda aberta. Com um gesto, e antes que ela pudesse perceber, seu quarto estava tomado por uma projeção do desenho, os planetas brilhando, orbitando, como se estivessem dançando uma música que só eles estavam ouvindo. Sentiu seu queixo cair um pouco em admiração e ouviu uma risada de Loki. As cores pareciam tão vivas, contrastando com o rosa do quarto, o dourado brilhava de uma forma que ela nunca tinha visto. Tinha medo que, se piscasse, perderia algum detalhe. Precisava lembrar de tudo. Loki levantou e estendeu a mão para que ela também levantasse. Ainda meio em transe, Helena estendeu a mão.

Loki, isso é... Não achou palavras para expressar o que estava vendo na sua frente.

Só tirei do papel. Vem, vou mostrar. Vou pular Midgard por motivos óbvios. Yggdrasil é a árvore que deu início ao cosmos e dá suporte aos reinos, galáxias, constelações. Asgard é a morada dos deuses. Ele estendeu o braço, puxou o planeta que simbolizava Asgard e abriu a mão, deixando-o flutuando ali. Hoje, sob domínio de Odin, o reino do eterno. Dourado, imponente. Observou Asgard voltar ao lugar de origem. - Jotunheim. O reino dos gigantes de gelo. Nada mais existe lá, foram dizimados na última guerra com Asgard. As terras eram inférteis, os gigantes eram bárbaros, sedentos por sangue. Não é mais um problema. Sentiu um frio na espinha ao ouvi-lo falar daquele jeito. Vanaheim. A terra da agricultura. Vivem em paz e mantém uma aliança muito poderosa com Asgard desde os primórdios. Alguns deuses descendem dos Vanir. E, se a mitologia não estiver errada, sua família também vem daqui.

Sério? Assentiu.

Pergunte a seus avós, eles vão saber confirmar se essa informação é verdade. Encarou com curiosidade o planeta que ainda estava na mão de Loki. Mordeu o lábio inferior. Álfheim, morada dos Elfos Brancos. Eles não fazem muito a não ser praticar arco e flecha. Negou com a cabeça, soltando um riso pelo nariz. Mas a paisagem é maravilhosa, as florestas são tão exuberantes que o fôlego até falta a primeira vez que você vê. Musphelheim. O planeta de fogo e lar dos Gigantes de Fogo, não é o lugar mais agradável para se tirar férias. Os rios são feitos de lava, o céu é vermelho e é bem quente. Definitivamente, não. Helena mordeu o lábio inferior, tentando absorver toda aquela informação. Svartalfheim. Lar dos elfos negros. Foram extintos na primeira grande guerra de Asgard, conduzida pelo meu avô, antes mesmo da humanidade ser considerada humanidade. Hoje em dia, o planeta é apenas um grande deserto de céu escuro e areias negras. Nidavellir, campos escuros, morada dos anões e abrigo de suas forjas. Foram eles que forjaram todas as armas mais poderosas de Asgard, incluindo o martelo que Thor cuidadosamente carrega para todo canto.

Hm, consigo imaginar esse cuidadosamente. Loki deu de ombros, rindo.

Niflheim. O reino do frio e dos mortos. Os que não morrem em batalha tem seU destino aqui, separado em três níveis: heróis e deuses, guerreiros que não morreram em batalhas junto com idosos e pessoas doentes, e o terceiro nível é... Bem, é familiar com o conceito de inferno, não? Sentiu um calafrio subir pela sua espinha. Assentiu com a cabeça. Os guerreiros que morrem em combate tem um lugar especial no Valhala.

Isso é...

Muita informação? Ela assentiu com a cabeça. Estende a mão. Helena obedeceu. Loki puxou Midgard e colocou-a na palma de sua mão. A moça encarou-o por um tempo antes de abaixar os olhos, encantada, para a imagem que tinha ali.

Lif já tinha enxotado Magnus da cozinha pela décima vez naquele dia. O jantar está quase pronto, homem, pelo amor dos deuses! Se quer fazer algo, que pelo menos vá chamar sua neta para ajudar a colocar a mesa. Suspirou, olhando para a escada e sabendo que teria que subir para chamá-la. Que impressão passaria para a realeza de Asgard se gritasse por Sigyn como sempre fazia quando estavam sozinhos em casa? Subiu as escadas devagar e, ao chegar no corredor, percebeu a porta do quarto aberta e o leve brilho dourado que emanava. Franziu o cenho e colocou apenas a cabeça em posição que dava para ver alguma coisa. Seu coração parou de bater por alguns segundos enquanto recuperava o ar. E assim que o fez, correu escada abaixo.

Lif, largue tudo o que está fazendo. Você precisa ver isso.

O que? A mulher colocou a tigela na mesa e olhou para o senhor, com as mãos na cintura. Se você não quer me ajudar, não precisa, mas pelos deuses, homem, pare quieto!

Você não está entendendo. Você-precisa-ver-isso! Ela rodou os olhos e cedeu, deixando ser puxada por Magnus até o quarto da neta. Mas tente não ser escandalosa, porque não queremos atrapalhar...

Se você está me levando para um flagra deles...

Não é nada disso, mulher. Anda logo. Acenou com a cabeça para a escada, tentando fazê-la se apressar. Suspirou e limpou as mãos no avental, subindo as escadas com cuidado. Arregalou os olhos azuis quando se colocou na posição que seu marido tinha falado, apenas o necessário para conseguir enxergar dentro do quarto. Ouvia a voz de Loki, mas estava perdida na beleza daquela projeção para prestar atenção em qualquer coisa. Queria ter a visão do rosto da sua neta, provavelmente também tão encantada quanto ela, mas ela estava de costas. Eu disse.

Pelos deuses. Murmurou, o mais baixo possível. Isso é maravilhoso. Lif não tinha a menor dúvida que estava diante de um dos homens mais poderosos que ela já tinha estado, talvez perdendo apenas para Odin, quando ela foi pedir permissão para seu casamento com Magnus.

Aquela tinha sido a confirmação que a sua pequena neta, a pequena Sigyn, que ela viu crescer, dar os primeiros passos, amadurecer e se tornar uma mulher, tinha encontrado a pessoa que o destino tinha escrito para ela. Sentiu os olhos arderem e encherem de lágrimas e, com isso, virou-se para o corredor, em direção a cozinha. Fungou um pouco, passou a mão no rosto para limpar alguma lágrima que talvez tenha escapado.

Preciso terminar o jantar. Chame os dois, sim? Magnus entendeu, assentindo rapidamente e sorrindo para a esposa que agora se apressava para descer as escadas. Voltou a observar a imagem dourada no quarto da neta. Não atrapalharia aquele momento por enquanto. Decidiu esperar mais alguns minutos e virou-se para o corredor, indo até a biblioteca.

Loki sorriu ao vê-la tão admirada com aquele gesto que para ele era tão simples. Estava se tornando um idiota apaixonado, daqueles que sentia o coração bater mais forte quando Sigyn o olhava e sorria, ou que não conseguia ficar muito tempo sem o beijo dela sem que sentisse tanta saudade que doía fisicamente. Talvez um dia chegasse a decorar todas as pequenas sardas do rosto dela, concentradas perto do nariz, que pareciam constelações quando o rosto dela estava próximo ao seu. E o cheiro dela já era capaz de fazê-lo esquecer do mundo a sua volta – igual naquele instante.

Helena sentia o olhar de Loki sobre si. Estava se acostumando com aquilo, com aqueles olhares intensos que pareciam ler sua alma. Aumentou o sorriso e levantou a cabeça para ele, a imagem de Midgard ainda na palma da sua mão. Quando, em seus maiores sonhos, ela tinha imaginado que Asgard era real e que estaria ali, totalmente perdida nos olhos azuis do deus da mentira?

Obrigada. Isso é... Maravilhoso.

Sempre que quiser.

Ela terminou de se servir e sentou-se ao lado de Loki, que já conversava com seus avôs animadamente. Tinha que admitir que não imaginava que veria aquela cena tão cedo, e estava estranhamente satisfeita com aquilo. Não sabia o porquê, mas sentia certa familiaridade com aquela cena, como se ela fosse feita para ser repetida sempre. Magnus perguntava sobre Asgard enquanto Lif não tirou os olhos da neta, observando a sentar ao lado de Loki, o modo como os dois se ajeitaram ao mesmo tempo para ficarem o mais próximo possível e sorriu, voltando a prestar atenção na conversa dos dois homens a mesa.

Thor... Loki suspirou. Ele continua...

Imaturo? Sua vó perguntou. Desculpa. O deus deu risada e negou com a cabeça. Quando príncipe Thor era mais novo, ele decidiu que seria legal ir treinar fora da cidade, perto das nossas terras. Nós e todos os vizinhos perdemos muitas plantações aquela vez.

Exatamente, ele continua imaturo.

Mesmo deslocada da conversa, Helena sentia-se extremamente confortável. Talvez fosse a perna de Loki que encostava na sua e a aquecia. Talvez fosse a comida de sua avó que sentira tanta falta durante tantos esses anos. Ou, talvez, fosse que finalmente estava se sentindo em casa. Como se aquele pedacinho da Terra, naquela hora, fosse Asgard por alguns instantes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Chasing a Starlight" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.