Reciprocal escrita por shineonminho


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Novamente vencendo o bloqueio de escrita graças à Sirem. Tive duas versões com finais bem diferentes mas essa me agradou mais e espero que agrade a vocês também :3



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Tudo tinha começado no quinto ano.

Remus não sabia indicar o dia ou mês exato, mas sabia bem que seus sentimentos por Sirius haviam começado a se manifestar pouco antes do baile de inverno do quinto ano.

O nervosismo inexplicável toda vez que estavam perto um do outro, os arrepios e batimentos cardíacos super acelerados. Mãos suando, seus olhos parecendo sempre buscar pela mesma pessoa nas multidões e sua perda de fala repentina toda vez que o amigo se aproximava. Remus achava que havia algo extremamente errado consigo, não entendia o que estava acontecendo ou preferia fingir que não.

Negou para si mesmo o máximo que pôde. Tinha receio de que algum dos amigos percebesse algo, apesar de continuar a ignorar a voz em sua mente gritando de ciúmes cada vez que uma garota se aproximava do Black.

Rejeitou, ignorou e negou o máximo que pôde. Não se podia negar seus esforços, mas foram em vão.

Com o baile se aproximando, Sirius logo apareceu com um par. O que ele esperava, afinal? Era de Sirius Black que estávamos falando, provavelmente recebera milhares de convites assim que o baile fora anunciado.

De qualquer forma, todos os Marotos tinham pares, exceto Lupin. Não por falta de convite, mas ele sequer planejava de fato ir a esse baile, então negou qualquer oferta – da forma mais educada que encontrou.

Apesar disso, na noite do baile Remus estava no salão. Sentado no canto com um copo de suco de abóbora na mão, ele se arrependia amargamente por ter se deixado convencer. Sirius insistira tanto que em dado momento ele não conseguiu dizer não àquele belo par de olhos cinzentos.

Sentiu-se um idiota quando, ao chegarem ao salão, a acompanhante de Sirius o tomou pelo braço e eles sumiram no meio da multidão de casais na pista de dança. Claro que ele não largaria uma garota bonita para fazer companhia a um amigo sem par.

Ainda assim, o incomodo e a tristeza que sentiu durante toda a noite não foi o suficiente para que ele assumisse seus sentimentos. Voltar para o dormitório e ver Sirius se atracando com a garota na cama foi.

Não soube explicar nem para si mesmo o que sentiu ao ver tal cena, mas foi como se algo tivesse se quebrado dentro dele. A dor emocional que o tomou o fez sair correndo do dormitório o mais rápido possível – e não voltar mais por aquela noite.

Não pensou muito no fato de que poderia ter sido pego saindo do castelo àquela hora e foi até a passagem do Salgueiro, buscando refúgio em um dos lugares que mais odiava por ser onde seu monstro interior passava as noites de lua cheia trancado, mas que naquele momento lhe pareceu um lar acolhedor.

Chorou a noite inteira. Parecia que tudo o que ele reprimiu durante meses havia resolvido se libertar de uma vez só. Todo o ciúme, raiva e tristeza que acumulou o invadiram e escorreram por suas bochechas.

Estava apaixonado por seu melhor amigo. Remus Lupin estava apaixonado por Sirius Black.


Isso tudo já fazia mais de um ano. Lupin havia aprendido a conviver com seus sentimentos – e a escondê-los. Mas de forma alguma as coisas haviam ficado mais fáceis. Na verdade pareciam ter piorado.

Perdera a conta de quantas garotas Sirius beijara durante aquele consideravelmente curto espaço de tempo. Recusava-se a pensar em com quantas ele já poderia ter ido para a cama.

De certa forma, Remus lidava com tudo aquilo muito bem. Nunca surgiram desconfianças. Se perguntassem sobre o porquê de não namorar, inventava uma desculpa sobre como devia se focar nos estudos. Se perguntassem por que parecia distante ou estar evitando o grupo, dizia que estava concentrado nos estudos. Talvez sua boa reputação como estudante o estivesse salvando de situações das quais não conseguiria sair facilmente sem estragar tudo.

Havia aceitado que Sirius jamais olharia para si do jeito que ele gostaria. Não o culpava, aliás. Não via em si algo que pudesse ser atrativo, algo que fosse capaz de fazer alguém se apaixonar, ainda mais alguém como Sirius.

Sirius Black era perfeito de muitas maneiras. E não apenas aos olhos de Remus. Todos sabiam disso e o próprio Black fazia questão de enaltecer suas qualidades aos quatro ventos. A questão era que Remus não via Sirius da mesma forma que as outras pessoas viam.

As garotas viam Sirius Black como o pegador bonitão da Grifinória. Nada além de boa aparência. Remus Lupin o via simplesmente como Sirius Black.

Era como uma combinação de várias pequenas perfeições. Características que o castanho adorava admirar. O sorriso, os olhos, a forma como ele o tratava. Não que Lupin se aproveitasse da relação de amizade – claro que não – mas havia muito contato físico entre eles. Uma iniciativa que partia com frequência de Sirius, já que Remus vivia amedrontado pela ideia de ser descoberto. Mas era apenas contato. Uma amizade cheia de contato.

Raras vezes havia se deixado iludir. Era impossível não ceder à tentação de se imaginar com Sirius, mas conseguiu desenvolver um autocontrole muito bom. Apesar de realmente não conseguir controlar os sonhos que frequentemente tinha com o moreno. Sonhos que nem sempre mantinham a decência e que faziam Lupin corar pela capacidade de sua mente para imaginar situações tão tentadoras.

Mas ele sempre manteve uma ideia fixa em sua mente: amava Sirius, mas Sirius jamais o amaria. Desde o começo, sempre soube que as coisas seriam sempre assim. Amor não recíproco.

Remus odiava a pontada de esperança que insistia em lhe cutucar de tempos em tempos. Um simples sorriso de Sirius direcionado especialmente para ele podia despertar os sentimentos que ele tentava ao máximo enterrar fundo dentro de si. E na verdade, Sirius não colaborava muito.

Remus acostumara-se ao contato físico amigável: abraços após vitórias em jogos de quadribol ou ombros colados quando conversavam. O que o surpreendia às vezes era coisas como acordar com Sirius dormindo ao seu lado na cama após terem cochilado enquanto conversavam até tarde ou quando o moreno simplesmente deitava em seu colo e exigia cafuné.

Sabia que era algo “natural” para Sirius – apesar de aparentemente essas coisas só acontecerem entre os dois – mas isso o afetava de tal forma que exigia muito de seu controle. Perdera a conta de quantas vezes o impulso de contar o que sentia o invadiu. Não o fizera, entretanto. Era covarde e sabia bem disso. Tinha medo de acabar em poucos segundos com uma amizade tão especial construída através de anos. Não podia ser tão egoísta.


Estavam os dois sentados à beira do lago, a cabeça de Sirius pousava no colo de Remus enquanto o mesmo lia um livro com as costas apoiadas em uma árvore. O moreno tentava distrair o castanho de sua leitura, cutucando-o ou fazendo perguntas aleatórias, mas Lupin apenas ria e mantinha sua atenção nas palavras à sua frente.

– Remus – o garoto de olhos cinzentos chamou.

– Diga, Sirius – respondeu sem desviar os olhos das páginas amareladas.

– Me diga algo que admira em mim.

Remus franziu a testa. Não era comum perguntas daquele tipo vindo de Sirius Black. Ele sempre fora mais do tipo que preferia afirmar por conta própria todas as suas qualidades e habilidades.

– Pensei que você soubesse de cada coisa em você que agrada aos outros, Black – respondeu com deboche.

– Esse é o problema – Sirius ergueu o corpo e encarou Remus – eu sei o que agrada às garotas, sei o que agrada aos professores ou aos nossos amigos. Mas não sei o que agrada a você. E você consegue me aturar bem mais que todos eles – sorriu.

O castanho ficou mudo por um instante, não sabendo o que dizer sem se denunciar. Pensou por alguns instantes. Não queria mentir ou deixar de responder, então optou pela verdade camuflada.

– O que me agrada em você é o fato de ser você – suas bochechas arderam – só isso.

Um sorriso exageradamente bonito se abriu no rosto de Sirius, que voltou a repousar a cabeça no colo do amigo enquanto o mesmo voltava a ler. Aquele sorriso não desapareceu, tanto da mente de Remus quanto do rosto do moreno.


Lupin ficou apreensivo quando outro baile fora anunciado. Dumbledore parecia querer que eles se tornassem uma tradição, mesmo que não comemorassem nada em especial. Talvez fosse simplesmente pela animação que se espalhava pelo ar.

Tentou novamente escapar, ressaltando como fora deixado de lado no baile passado quando Sirius veio convencê-lo a comparecer. Mas dessa vez a primeira tentativa fora suficiente: Sirius Black iria desacompanhado.

Remus quase não acreditou em seus ouvidos quando ouviu aquilo, mas fora o próprio moreno quem lhe contara. Black rejeitara cada um dos convites que recebera. Lupin se perguntou o motivo. Sirius piscou um olho ao declarar:

– Não irei desacompanhado, Remus, irei com você.

Perguntou-se se o amigo tinha alguma noção do efeito que tais palavras causaram nele.


Na noite do baile, Remus não se decepcionou. Durante toda a noite Sirius ficou do seu lado e sua atenção não se desviou nenhuma vez para qualquer garota. Algumas tentaram se aproximar, mas foram logo dispensadas.

Dançaram tanto que seus pés doíam e os cantos da boca estavam sempre curvados em belos sorrisos. Era tudo muito natural. Sirus Black e Remus Lupin se divertindo como os bons amigos que eram. Apesar de precisar se lembrar algumas vezes de que eram somente aquilo, o castanho nunca se sentiu tão bem.

O único problema que enfrentou foi um Sirius muito bêbado próximo ao final da festa. O amigo mal se apoiava sozinho nos próprios pés e acabava usando Remus como apoio, algo de que ele não reclamou.

– Sirius, acho melhor voltarmos para o dormitório, você está quase caindo de bêbado – falou, e em meio a uma gargalhada sem motivo o moreno concordou.

Ajudou o amigo a subir as escadas e, tirando algumas quedas, chegaram bem ao dormitório, que ainda estava vazio, apesar do fim do baile estar bem próximo.

Remus apoiou Sirius até a cama do mesmo, e o ajudou a se deitar. Virou-se para se dirigir à própria cama quando sentiu seu pulso ser agarrado e em um piscar de olhos caíra deitado ao lado do moreno.

Sirius estava de olhos fechados, o cabelo caído nos olhos e na testa suada. Estava simplesmente lindo e Remus não conseguia desviar o olhar. Acomodou-se melhor e continuou a aproveitar tal visão até que os olhos se abriram e um par de orbes cinzentas o encararam com profundidade.

– Eu te amo.

O coração de Remus disparou imediatamente. Sabia que se tratava de amor relacionado à amizade, mas não pôde evitar a reação de seu corpo. Não sabia o que responder, porque não poderia dizer que também o amava quando suas frases carregavam significados distintos.

Fechou os olhos. O que poderia dizer?

De repente, lábios macios se uniram aos seus. Abriu os olhos em espanto e viu os de Sirius fechados enquanto ele se concentrava apenas em suas bocas. Num impulso, afastou o moreno de si.

– Sirius, quanto você bebeu?

O moreno riu sem graça.

– O suficiente pra criar coragem, mas ainda ter consciência plena de que me declarei para o cara que eu amo. Que, aliás, é meu melhor amigo.

Remus não sabia o que diabos estava acontecendo. Sua mente dava voltas e as palavras de Sirius se repetiam como um disco arranhado em seus ouvidos.

– Sirius, o que você está dizendo? – tinha quase certeza de que talvez o bêbado ali fosse ele.

O moreno suspirou e tomou o rosto de Lupin entre as mãos.

– Eu estou dizendo que eu amo você, Remus Lupin. Não como amigos. Amo como namorados. Aliás, gostaria de poder te chamar assim daqui pra frente, se for recíproco, claro.

– Por que você me amaria?

O polegar de Sirius acariciou a bochecha do outro.

– Porque é você. E porque você é perfeito do jeito que você é.

Os lábios se tocaram novamente, e várias outras vezes durante aquela noite. E continuaram a se tocar dali para frente, assim como Sirius passou a chamar Remus de namorado, afinal, era recíproco.


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Notas finais do capítulo

Se você leu até aqui, muito obrigada ♥Comentários são sempre bem-vindos, sintam-se a vontade para deixá-los por aqui ashdjkalsd