Vigilantes do Anoitecer escrita por Lady Angellique


Capítulo 15
Capítulo 14




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Esses corredores parecem ser de uma casa assombrada quando se anda sozinha neles a noite.

Eu fiquei um tempo indeterminado no refeitório, pensando na proposta da Serenity, até que decidi ir para o meu quarto tomar banho e descansar um pouco a mente. Eu ainda tenho um mês para pensar e não posso negar que vai ser uma aventura e tanto se eu aceitar ir treinar com ela. Acabei ficando curiosa sobre a filha dela, Skye, eu queria ver se ela é realmente parecia comigo ou se é só imaginação da Serenity. Fico me perguntando se a filha de Serenity não quer entrar para a Ordem como a sua mãe, ou talvez ela não tenha talento para ser uma Guardiã, ou talvez a mãe dela não quisesse a deixar entrar, ou talvez simplesmente ela não quer. Bom, se eu aceitar ser treinada por Serenity eu vou conhecê–la aí eu vou poder perguntar a ela sobre isso e depois tirar as minhas próprias conclusões.

—Tori!

Eu me virei para ver quem estava me chamando e vi Thomas e Elric caminhando na minha direção, parei e entrelacei minhas mãos atrás do meu corpo e balançando sobre os meus calcanhares, apenas para ter algo o que fazer enquanto fico esperando eles falarem.

—O que está fazendo vagando pelos corredores há essa hora?  – meu irmão perguntou sério.

Eu olhei em volta, somente para confirmar que eu não tenho ideia da onde eu estou.

—Eu não faço a mínima ideia.

Ele levantou uma sobrancelha pra mim, como se não acreditasse em mim, mas qual é? Eu estava pensando e andando ao mesmo tempo, eu não prestei atenção para onde eu estava indo.

—Qual é Ell, porque nós não a levamos com a gente? – Thomas "pediu" ao meu irmão chegando perto de mim e colocando um braço em cima dos meus ombros.

—Sem chance...

—Eu adoraria ir, Tom – eu segurei na mão do seu braço que estava a minha volta – Aonde vamos?

Ele riu, vendo que eu só aceitei ir pra irritar Ell, mas mesmo assim ele começou a me puxar para um corredor. Escutei Ell vindo atrás da gente, bufando e resmungando coisas ilegíveis de raiva, Thomas e eu rimos dele, ele parecia uma criança que ninguém prestava atenção, emburrado e com um bico enorme. Se ele não tivesse tentado me mandar pro quarto eu até teria pena dele, porque é realmente uma cena muito fofa de se ver.

—Espere pra ver. Tenho certeza que você vai amar.

Nós seguimos um tempo pelos corredores até que chegamos a um elevador que eu nunca tinha visto na minha vida, nós entramos e Thomas apertou o botão para o último andar. A viagem foi bem rápida, os elevadores aqui não eram tão lentos quanto diziam ser os da Terra,  e por um lado eu fico feliz, porque eu acho que eu não teria paciência suficiente para andar nesses elevadores antigos. 
As portas se abriram e nós saímos para um enorme nada. Exatamente,  nada. Era tudo escuro, e eu podia ver que tinha algumas colunas que sustentavam o lugar que antes parecia ser uma garagem, agora é um lugar que não tem nada. Quando saímos do elevador as luzes se acenderam e eu pude ver, que um pouco mais no fundo do que eu acho ser a garagem, havia algumas motos, um pouco parecidas com a que eu vi com Elric no dia em que ele foi me buscar em frente à Academia, todas pretas.

—Aqui é a garagem né? – eu perguntei enquanto caminhávamos até as motos.

—Exatamente – Thomas concordou, tirando uma chave do bolso e a rodando nos dedos.

—Então, onde estão os outros carros e as outras motos?

—Ou eles estão em missão, ou eles saíram para a festa que está tendo no Palácio, ao qual só algumas pessoas foram convidadas – pelo tom de voz dele, eu acho que ele tava magoado aparentemente por não ter sido convidado – Ou estão todos no lugar para aonde a gente vai.

—E aonde a gente vai? – eu peguei ao observar cada um dos dois subir em uma moto e a ligar. As motos que antes eram totalmente pretas se acenderam com luzes neon, a de Thomas azul e de Elric branca, o que deixava as motos mais bonitas e que me fez morrer de vontade de aprender a pilotar uma dessas no futuro.

—Sobe aí, que eu te mostro – Ell me respondeu estendendo um capacete para mim, e depois que eu o coloquei ele estendeu a sua mão enluvada para me ajudar a subir na moto. Eu me segurei na sua cintura e ele deu partida na moto junto com Thomas.

A velocidade que essas motos podem alcançar é maravilhosa. A sensação de liberdade que a velocidade nos proporciona é demais, nunca me senti tão livre quanto nesse momento.

Depois de percorrer muitas ruas vazias, nós saímos da cidade e depois de mais alguns minutos eu comecei a ver uma luz no horizonte, uma luz muito forte, e quando estávamos nos aproximando eu pude perceber que as luzes eram dos faróis dos vários carros e das várias motos que estavam dispostas pelo campo aberto, uma música alta tocava no local e eu pude ver que era de um carro que tinha um equipamento de som impressionantemente exagerado. Elric estacionou a sua moto ao lado de outras quase iguais a dele, Thomas estacionou do nosso lado.

Eu desci da moto e retirei o capacete,  balancei meu cabelo para dar uma ajeitada nele, porque depois de ficar com ele debaixo do capacete eu sabia que ele ia estar bagunçado ou amassado, e como balançar ele não adiantou muito eu tive que passar os dedos nele, na vã esperança de tentar fazer com que eles ficassem com uma aparência melhor.

Observando tudo e todos em volta notei que havia algumas pessoas que eu conhecia todas elas pertenciam a Ordem, mas pareciam totalmente diferentes das pessoas que eu conheço e das que elas fingem ser quando estão na Ordem. A maioria das mulheres que se encontravam ali estavam com muita pouca roupa – se é que podia se chamar aqueles pedaços de pano de roupa – e todas elas estavam em volta de um ou outro homem exibindo os seus corpos enquanto eles exibiam os seus carros ou as suas motos, com sorrisos satisfeitos em seus rostos.

Um estouro chamou a minha atenção e eu virei o meu olhar para dois carros que disparavam pela noite rapidamente, e foi ai que eu me toquei o que estava acontecendo ali. Um racha. Uma corrida, em quem ganha provavelmente deve ganhar uma bolada de dinheiro.

—Um racha? – virei encarando meu irmão que sorria maroto.

—Que foi? Não é você que sempre gostou de carros e de velocidade? Então? Divirta–se, só prometa não arranjar confusão.

Eu ri – Eu não arranjo confusão, ela que vem atrás de mim – expliquei a mais pura verdade... só que não, quer dizer, depende do ponto de vista... e da situação.

Foi à vez dele de jogar a cabeça para trás e soltar uma sonora gargalhada – Sei. Me engana que eu gosto.

—Idiota – eu o empurrei e fui dar uma volta por ai, observando os diversos carros que estavam dispostos ali.  Todos eram de última geração e muitos bonitos, de longe eu podia afirmar que os donos deles gastaram uma fortuna neles, e ao ver os caras que exibiam os seus veículos eu podia ver que a maioria são todos filhinhos de papai que têm dinheiro para dar e vender e acabam decidindo gastar em carros e corridas assim. Mas posso dizer que alguns dos carros mais chamativos aqui não têm metade da potência que uns mais discretos.

— E ae, gata – um braço rodeou minha cintura e eu senti o forte cheiro de bebida que a pessoa exalava – O que faz sozinha em lugar como esse?

— Me solta – eu pedi com calma, quando ele riu demonstrando que não iria me soltar tão cedo eu projetei meu cotovelo em sua barriga e dei um pisão bem forte em seu pé fazendo ele me largar rapidamente – Não encosta em mim – eu ameacei me virando e vendo que o cara que tinha me agarrado era um homem com mais ou menos 1,78 de altura, cheio de tatuagens e alguns músculos, mas só porque ele tem músculos não quer dizer que ele é forte.

—Qual foi? Qual é o seu problema?  – ele exclamou com raiva andando na minha direção, ele acabou me encurralando em um carro – Você é igual a todas essas mulheres, então porque tá dando uma de difícil?

—Não sou qualquer uma – afirmei levantando o meu joelho e acertando o meio das suas pernas. Que foi? Isso é um clássico, e é a melhor forma de nocautear um homem, rápido e preciso.

—Ora sua... – ele não teve tempo de falar mais nada, pois uma voz diferente nos interrompeu.

—Você ouviu a moça, Zack, sai de perto dela antes que se machuque.

Me virei surpresa na direção da voz, e notei a figura familiar que se dirigia na nossa direção. Era Anthony, que caminhava tranquilamente na nossa direção, com as mãos no bolso de sua calça jeans preta, combinando com todo o resto de sua roupa, que também era preta, uma camiseta e jaqueta de couro e coturnos. Acho que nunca o vi usar outra cor sem ser preto, como será que ele ficaria em verde?

Fui tirada dos meus pensamentos quando uma gargalhada preencheu o local, olhei na direção do cara que eu acho que se chama Zack, e era ele quem estava rindo, mesmo com a aparente dor devido ao chute que eu lhe dei, eu podia afirmar isso tranquilamente ao ver ele com as mãos no meio das pernas.

—Olha só, se não é o mauricinho da Ordem – Zack começou a caçoar, se endireitando e encarando Anthony – Que foi? Agora deu pra salvar garotinhas em perigo? Pensei que você saísse por aí lutando contra seres imaginários e não fazendo atos heroicos.

Levantei uma sobrancelha com a sua frase. Como assim seres imaginários? Aposto que ele nunca viu um e não sabe o quão real eles podem ser e o quão perigosos também. Aposto que ele se mijaria todo se visse qualquer uma dessas criaturas que estamos treinando para matar, e que com certeza Anthony já deve ter matado.

—Eu salvar ela? – Anthony gargalhou jogando a cabeça pra trás – Por favor, ela pode muito bem se salvar sozinha, além do mais eu acho que o irmão dela não vai gostar de saber que você está dando em cima da irmãzinha caçula dele.

— E quem é o irmão dela?

Anthony levantou um dos seus braços e apontou para o meu irmão, que estava encostado em um carro muito bonito com várias pessoas a sua volta que pra mim eram totalmente desconhecidas. Ele parecia feliz ali, e esse parecia ser o círculo de amigos que ele está acostumado, sorri internamente por isso, eram raras às vezes que eu podia ver ele tão descontraído e feliz assim com outras pessoas que não comigo.

Zack se virou espantado na minha direção, como se não acreditasse que ele era meu irmão, mas pelo menos isso serviu pra algo e o cara logo foi embora, – provavelmente com medo do meu irmão,  eu consigo entender isso – mas não antes de bater o seu ombro no de Anthony, e é claro que ele não ia deixar barato.

—Ei, idiota! Por que a gente não resolve isso em uma corrida? Eu sei que você quer uma revanche das últimas três vezes que eu ganhei de você.

Eu ri. Parece que Anthony é realmente um mauricinho mimado, ao seu modo é claro.

Muitos haviam parado o que estavam fazendo para encarar os dois e ver no que ia dar, inclusive meu irmão, que me olhava com uma cara de interrogação e acusação ao mesmo tempo. A culpa não é minha... Tá,  talvez seja um pouco, mas Anthony também não ajuda provocando o cara que já estava indo embora. Fazer o que se a disputa de testosterona nesse lugar é alta demais?

—Então ta, mauricinho, vamos correr.

Eu vi um sorriso surgir nos lábios de Anthony enquanto observava o cara abrir a multidão e ir na direção de uma moto, que deve ser a dele. Anthony se virou na minha direção e fez um sinal com a cabeça me chamando.

—Vamos lá, Tori.

—Por quê?

—Você começou essa briga, nada mais justo que me acompanhar na corrida, não? Ou tem medo...

— Achei que já soubesse, Makalister, não tenho medo de nada.

Ele riu, mas não disse nada, apenas foi em direção a sua moto e a ligou, suspirando eu andei até a sua moto, sentindo todos os olhos em mim ou em Anthony, inclusive o meu irmão que estava rindo quando eu olhei pra ele, talvez ele tivesse achando essa situação super engraçada, embora eu não consiga ver graça. Subi na moto de Anthony e rodeei a sua cintura com os meus braços, as pessoas começaram a gritar, animadas quando viram que uma nova disputa ia começar e pelo visto eles estavam mais animados do que antes com as outras corridas.

Zack estava com a moto parada atrás de uma linha branca no chão que eu deduzi ser a linha da largada, e Anthony colocou a moto dele ao lado da de Zack que parecia bem maior que a dele, porém o som de ambas as motos quando ligadas eram bem diferentes uma da outra, o que certamente mostrava que uma com certeza uma era mais potente que a outra, mas isso eu só poderia dizer com certeza absoluta quando cruzássemos a linha de chegada.

Uma mulher caminhou até no meio das motos parando na frente delas, eu não sei como essa mulher estava aguentando ficar com tanta pouca roupa no frio que estava fazendo aqui em cima, mas ela não demonstrava estar com frio e sim empolgada enquanto fazia a contagem regressiva e depois dava a tão esperada largada e ambas as motos aceleravam noite adentro, com os motores potentes rugindo e os faróis das motos iluminavam a noite escura que se estendia na nossa frente.

O percurso era simples e fácil, principalmente para Anthony que disse que já fez ele diversas outras vezes, era só dar uma volta completa na montanha e retornar, a "pista" tinha placas que indicavam o caminho certo para continuar na corrida e não ter o risco de ninguém se perder.

As luzes neon das motos deixavam uma trilha de luz por onde passavam e tenho certeza que quem quer que observasse a montanha em que estávamos nesse momento iria ver duas luzes diferentes cortando a montanha rapidamente. Eu optei por não usar o capacete dessa vez e um vento frio e cortante atingia o meu rosto, e provavelmente meu rosto deve estar parecendo gelo depois dessa corrida. Ambos eram muito bons, e eu pude notar a frustração de Zack cada vez que ele ultrapassava Anthony e na curva seguinte ele o ultrapassava de novo. Eles ficaram ziguezagueando pela montanha,  toda hora um ultrapassando o outro, eu podia ouvir o barulho das marchas sendo mudadas e quando ele tinha que reduzir para fazer alguma curva, teve horas que a curva era muito fechada e ele acabava por inclinar muito a moto para poder conseguir fazê–la não tão tranquilamente, e se ele inclinasse mais um pouco eu podia jurar que iria encostar o meu joelho no chão. E ia doer, muito. E eu não estava afim de experimentar esse tipo de sensação

Apesar de nunca ter participado de uma corrida como essa antes, eu posso tranquilamente dizer que eu correria de novo, assim que tiver oportunidade e talvez eu tente correr por mim mesma e sozinha, mas acho que meu irmão surtaria se eu pedisse a ele ara me ensinar, acho que vou ter que arranjar outro professor, mas depois eu penso nisso porque agora eu já consigo ver novamente as luzes dos faróis dos carros na linha de chegada – que também era a linha de partida se for pensar bem – e agora estávamos descendo a montanha depois de subi–la quase até o topo, até que a estrada e as placas mudaram e mandaram a gente descer.

O vento nos cabelos e a alta velocidade, fazia o meu coração bater em um ritmo acelerado, a adrenalina correndo nas veias. Nós passávamos pelas arvores como um borrão de sombras da noite. Mesmo com o barulho do potente motor da moto eu tinha a impressão de escutar o barulho de um ou outro animal que vivia ali, e até mesmo tive a impressão de ver olhos amarelos e selvagens nos encarando do meio da moto. Parece que Anthony percebeu que eu estava observando tudo ao nosso redor e acabou diminuindo a luz da moto e enquanto nos serpenteávamos pelo percurso da corrida eu me senti feliz de estar ali, e acabei apertando meus braços mais forte na cintura dele e encostando a minha cabeça nas suas costas enquanto fechava s meus olhos e aproveitava o vento no rosto.

Escutei o barulho de outra moto se aproximando da gente, e percebi que Zack estava na nossa cola e eu podia jurar que estava ouvindo ele resmungar atrás de nós por alguma coisa, talvez porque aparentemente ele vá perder ou talvez ele só seja doido mesmo, vai saber. Do nada eu senti algo se chocando contra a traseira da moto com violência e por um milésimo de segundo Anthony perdeu o controle da mesma, e a moto começou a ir em direção ao barranco.

Pronto. É agora. Eu vou morrer. Eu sou linda demais pra morrer, eu não posso morrer agora, tenho muitas coisas pra fazer ainda, nãopode terminar tudo aqui. Quem quer que esteja aí em cima, não me deixa morrer agora não!

Enquanto eu rezava para não morrer e via a minha vida passando diante dos meus olhos, Anthony conseguiu recuperar–se antes que nós dois seguíssemos rolando ladeira abaixo. Juro que meu coração foi pela boca nesse momento e só não foi pra fora porque não tive tempo em sequer pensar nisso.

—Você está bem? – Anthony perguntou, ao parar a moto um pouco mais longe do barranco.

— Estou – respondi meio arfante ainda, devido ao susto.

—Vamos, acho que ainda dá tempo de pegar esse idiota.

—Mesmo se não o pegarmos, eu vou quebrar a cara dele depois disso – prometi com a voz baixa, enquanto ele ligava novamente a moto e a acelerava, para tentar alcançar o idiota em questão que já estava um pouco mais a frente de nós, e quando digo um pouco eu quero dizer muito.

Essa moto definitivamente faz milagres, ou talvez o seu piloto que deva merecer os créditos por isso, porque rapidamente conseguimos recuperar a velocidade de antes, mas eu digo que se não fosse a sorte que aparentemente está do nosso lado, nós não teríamos conseguido ultrapassar o idiota mor. Eu nem sei como, mas havia um enorme galho de um dos lados da pista, deve ser de uma árvore velha que caiu devido as fortes chuvas que tivemos ultimamente, se Zack tivesse prestado atenção na estrada ele teria visto a tempo e teria conseguido desviar, mas ele estava olhando para trás e para Anthony e eu que descíamos a estrada rapidamente e acabou trombando com muita força no galho da árvore que estava no caminho dele. Ele e a moto voaram alguns metros à frente antes de baterem com tudo no chão e ainda deslizarem um pouco, tenho certeza que deve ter doído, e talvez ele tenha um ou outro osso do corpo quebrado devido à força com que ele bateu no chão, não digo que me preocupei, ele bem que mereceu. Anthony não deu índice de que iria parar para ajudar, na verdade ele só acelerou mais e desviou da árvore e de Zack que gemia de dor no chão e seguiu em frente em alta velocidade. Quando passamos ao lado de Zack ainda caído, eu gritei pra ele:

—Isso se chama carma!

Escutei Anthony rir baixinho, mas sua risada foi abafada quando dobramos a direita e à cerca de meio quilômetro à frente a multidão nos aguardava eufóricos para ver quem ganhou a corrida, e quando eles viram que era a moto de Anthony que havia chegado primeiro, eles começaram a gritar e a comemorar mais alto, e não foi diferente quando nós paramos um pouco depois da linha de chegada, Anthony parou a moto, dando uma leve derrapada com a traseira e apoiou o seu pé no chão. O barulho do motor da moto foi abafado pelas pessoas que corriam na nossa direção totalmente animados, e logo nos vimos cercados por várias pessoas desconhecidas pra mim que nos davam felicitações,ou melhor davam a ele felicitações.

Meu irmão foi o primeiro a chegar até nós e me tirar da moto, me abraçando e falando no meu ouvido que não me deixaria chegar perto de nenhuma outra moto quando o objetivo da mesma fosse uma corrida, mas que estava feliz de eu estar bem e por termos ganhado a corrida. Com certeza meu pai teria um enfarto se soubesse que eu participei de uma e quase cai de um barranco por causa dela, e de certa forma eu entende o meu irmão e sua preocupação, já que quando eu vim pra Ordem, ele meio que passou a ser o meu responsável, meu segundo pai por assim dizer, já que pra eles eu sempre seria uma pequena garota que precisa ser protegida a qualquer custo, embora isso estivesse bem longe da realidade e eu desconfiasse que ambos sabem disso, mas não querem e nem vão admitir isso pra mim e pra si mesmos.

De repente eu ouvi o barulho de dois carros ligando e disparando pelo caminho que a gente veio, devem ter ido atrás de Zack para ver se ele ainda estava vivo, quando perceberam que já havia se passado muito tempo e ele ainda não havia chegado. É. Parece que a coisa foi bem feia.

Bem feito.

— Foi uma boa corrida, Moore – uma voz meio rouca atrás de mim chamando a minha atenção, me virei e me deparei com Anthony que sorria abertamente pra mim, um dos seus raros sorriso que eu acho lindo.

—Com certeza.

—Devíamos fazer isso mais vezes.

—É, quem sabe?

—De jeito nenhum – meu irmão nos interrompeu me puxando para perto dele e começando a me puxar provavelmente para a sua moto para me levar embora, mas não antes de se virar para Anthony e dizer o ameaçando – E você, fica bem longe dela, Makalister. Você é uma péssima influencia pra ela.

—Sim senhor – ele concordou rindo da atitude do meu irmão.

—E você nunca mais vai vir para um lugar como esse – Elric começou a me dar um sermão de como eu fui imprudente e tal, e que ele só não me impediu de ir porque ele achou que eu não iria o escutar e antes mesmo que ele pensasse em fazer algo pra me impedir eu já disparava em alta velocidade pela noite na garupa de Anthony.

Vai ser lerdo assim lá em Júpiter viu.

Ell me fez montar na garupa de sua moto e colocar o capacete, e na hora em que estávamos quase saindo, os carros que haviam ido buscar Zack apareceram, mas eles não pararam pra matar a curiosidade das pessoa e desceram morro a baixo em disparada na direção da cidade, talvez tenha sido algo sério e agora eles o estão levando pra o hospital ou qualquer coisa assim. Mas fazer o que? A que se faz, a que se paga. E na hora que ele tentou fazer a gente perder o equilíbrio e ir em direção da morte quase certa, ele acumulou em si mesmo um monte de carma negativo. E tudo que vai volta. Então eu não estou surpresa dele ter sofrido um acidente, logo depois de tentar causar o nosso.

Elric ligou a moto e a direcionou para ir no mesmo caminho que os carros haviam seguido, mas eu não pude negar–me dar uma última olhada no dono dos olhos verdes, que ainda estava parado no mesmo lugar de antes me encarando de volta, sem dar atenção a nenhuma das meninas que estavam a sua volta. Sorri e ele sorriu de volta, e tudo o que eu pude pensar no caminho de volta pra casa foi no pequeno momento que eu estive a sós com ele na montanha, e o enorme prazer que apenas meio quilômetro de cada vez nos proporciona, e a sensação de liberdade que ela trás. 


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