Roses and Demons: Hell's Flower escrita por JulianVK


Capítulo 9
A Vontade das Bruxas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/638230/chapter/9

Do lado de fora do templo de Argenta, duas garotas estavam diante uma da outra, separadas por uma distância de três metros. Depois de uma longa manhã de treino, ambas estavam cobertas de sujeira e suor, sendo impossível reconhecê-las como bruxas, em particular porque vestiam roupas simples, ao invés dos tradicionais quimonos.
Uma delas era loira e tinha cabelos divididos ao meio, descendo até a altura do peito, assim como olhos tingidos de azul claro e feições que inspiravam nobreza e confiança. A outra tinha um rosto que trazia certa semelhança ao de Luna Watlear, embora não a ponto de poder causar confusão. Seus cabelos escuros eram apenas um pouco mais longos que os da ex-sacerdotisa, mas visivelmente mais rebeldes. Outro detalhe que chamava a atenção nesta última era sua pele, muito pálida, resultado de dezoito anos vividos sob as luzes artificias das masmorras das bruxas chesordianas.
Seus nomes eram, respectivamente, Erika Secrett, a filha do rei, que supostamente deveria estar estudando na Magna Academia, mas optou por seguir um estilo de vida mais condizente com seus desejos pessoais, e Kate Silmun, uma discípula de Madame Ancara que decidiu acompanhar Anya e suas aprendizes depois que estas deixaram o Forte Brokefront.
As duas bruxas se encaravam, com expressões bastante diferentes. Erika estava tranquila, e seu sorriso deixava claro que, naquele momento, nenhuma preocupação assolava sua mente. Já Kate se mostrava tensa, inquieta, e analisava a outra garota incessantemente.
Por fim, foi esta última quem realizou o primeiro movimento, tentando atingir a cabeça de Erika com um chute que foi facilmente defendido. Na sequência, Kate desferiu outros ataques, todos sem sucesso, enquanto evitava os eventuais contragolpes. Alguns de seus bloqueios e esquivas fluíam com naturalidade, enquanto outros pareciam desajeitados. No fim das contas, apesar de estar realmente se esforçando, foi a jovem de cabelos negros quem se viu derrubada no chão.
–Não faça essa cara, você já melhorou bastante. – Disse a princesa, estendendo sua mão para ajudar a amiga a se colocar em pé.
Kate deixou a careta de frustração de lado e seguiu sua amiga até uma pilastra derrubada e coberta de musgo. Elas sentaram lado a lado, aproveitando um momento de descanso.
–Fico feliz por você ter vindo conosco, Kate, e pra falar a verdade queria que o Elbio pudesse fazer a viagem também. Mesmo que eu conhecido muitas bruxas, com toda a certeza em Chesord vocês são meus melhores amigos.
–Não tinha outro jeito, para o Elbio é uma questão de honra ajudar a enfrentar os demônios. Eu me preocupo muito com ele, com minha mentora, a madame Ancara, e também com a madame Papillon, que me recebeu de braços abertos e me tratou como se fosse uma filha.
–Desculpe, eu não deveria ficar falando essas coisas. – Disse Erika, sentindo-se um tanto melancólica.
–Não se preocupe com isso. Lembre que eu pedi pessoalmente para a madame Anya que me deixasse acompanhar vocês. É ótimo ter a oportunidade de conhecer um novo reino e aprender a usar magia da mesma forma que vocês.
–Falando nisso, eu ouvi as instrutoras comentando que você está dominando nosso estilo muito rápido. Se bem que não é de se surpreender, já que você já é bem habilidosa no uso da magia Airanul.
A expressão no rosto de Kate se tornou ainda mais solene enquanto ela respondia.
–É porque estou me esforçando ao máximo. Quero aprender a lutar o mais rápido possível para poder voltar a Chesord e ajudar minhas irmãs a combater a ameaça de Pravus.
Erika não foi a única a sentir uma pontada de angústia ao ouvir aquilo. Uma terceira bruxa, que vestia um quimono preso por uma faixa azul, escutava as outras duas ali perto, mas deu as costas e voltou para dentro do templo, sem que sua presença fosse notada.

Já era a hora do almoço. Gabrielle acompanhava Esther pelos corredores dos andares inferiores da construção enquanto explicava, animada, a respeito dos novos reagentes que estava estudando.
–Só não consegui ainda acertar a dosagem correta da poção. A instrutora disse que eu provavelmente causaria uma morte agonizante em quem bebesse ao invés de apenas paralisia.
–Por favor me lembre de nunca aceitar algo que você me oferecer. – Esther respondeu em tom jovial. – Enfim, eu até lhe ajudaria, mas não conheço nem metade das propriedades das plantas que você mencionou.
–Não seja boba, Jenipher! Você sabe muito bem que eu nunca faria mal a você!
–Fico muito agradecida por isso, mas ficaria mais ainda se você não esquecesse que esse não é o meu nome verdadeiro.
–Ah, desculpe! – Depois de perceber a gafe, a garota fechou a cara. – Mas a culpa é sua, que mentiu para nós esse tempo todo! Não é fácil assim me acostumar a chamar você de Esther de uma hora para a outra.
–Verdade. - A bruxa mais velha respondeu, melancólica. – Eu é que tenho que pedir desculpas a vocês.
–Também não é assim! – Gabrielle retomou um tom mais leve, tentando animar sua amiga. – Na verdade eu até entendo por que você resolveu usar um nome diferente, mas gostaria de saber o que aconteceu para fazer com que mudasse de ideia.
–É que eu fiz uma amiga durante o tempo em que estive em Chesord, e ela me levou a perceber que é errado me acovardar só porque algo parece impossível. Agora eu acredito que talvez seja possível mudar o futuro, mas não se eu tentar fugir de mim mesma.
–Que legal! Mas que amiga é essa que você mencionou? É a Kate, por acaso? – Gabrielle estava justificadamente confusa, já que esteve perto de Esther durante a maior parte do tempo enquanto permaneceram no reino vizinho e poucos foram os momentos em que elas tiveram contato com pessoas que não conheciam.
–Na verdade eu me refiro a uma guerreira da Rosa Branca chamada Spectra.
–Espera um pouco! A Ordem da Rosa Branca era nossa inimiga, como é que essa mulher virou sua amiga?
–É uma história complicada. – Esther sorriu. – Mas mesmo tendo sido minha inimiga, ela me ensinou coisas muito importantes.
Nesse momento, a mesma bruxa que havia escutado a conversa entre Kate e Erika, e agora passava ao lado de Gabrielle e Esther pela direção oposta, congelou onde estava. As duas bruxas, distraídas, não notaram isso e continuaram seu caminho.

Poucas horas mais tardes, Erika adentrou no escritório de Anya, respondendo a um chamado vindo de sua mestra. Ela não sabia o que esperar, então preferiu ficar calada, fechando a porta atrás de si com uma leve batida.
–Obrigado por ter vindo tão rápido, Erika. Antes de começar o assunto principal, gostaria de lhe dizer uma coisa. Com tudo o que aconteceu, eu pensei bastante a respeito de quem eu gostaria que me sucedesse quando eu não tiver mais condições de liderar nossas irmãs.
A garota de cabelos dourados se sentou numa cadeira defronte à mesa de sua mestra e continuou ouvindo atentamente.
–Creio que quando a hora certa chegar, você será a pessoa mais adequada para me substituir. Acredito quesaberá como guiar uma nova geração de bruxas para que elas sejam ainda mais fortes que a atual.
–Eu realmente fico lisonjeada e prometo me esforçar. Mas tenho certeza de que você não está pensando em se aposentar ainda.
–É verdade. – Anya riu. – Provavelmente ainda devo dar conta do recado por mais um tempo, mas queria deixar bem claro que suas responsabilidades como bruxa só aumentarão daqui para frente.
A idosa aguardou um momento, para que sua pupila entendesse a seriedade daquelas palavras, para então prosseguir.
–Agora, quanto ao motivo de eu ter convocado você. Estive prestando muita atenção no comportamento e nas palavras das bruxas que participaram da batalha contra Chesord. Acho que as subestimei um pouco, mas agora vejo o quanto elas amadureceram. Por este motivo, resolvi que vou lhe dar uma chance de me convencer que devemos participar da nova batalha que começou em Chesord.
–Sim, é desse jeito que tem que ser! – Erika dobrou os braços e os ergueu em sua animação, mas se acalmou rapidamente. – Pode falar, mestra, o que eu vou ter que fazer?
–Não se afobe, Erika. Quero que pense bem se é realmente isso que suas irmãs desejam e, se sua resposta for sim, então terá que me derrotar em combate para me convencer de que sua determinação é verdadeira.
Essas palavras bastaram para arrefecer toda a euforia que a bruxa estava sentindo. Agora ela chegava a suar frio, pois sabia muito bem o quanto sua mestra era habilidosa. Enfrentá-la não seria tarefa fácil e a perspectiva de levar uma surra começava a desencorajá-la, mas a princesa deixou esses pensamentos de lado por um momento, meditando a respeito do que Anya disse sobre suas irmãs. Erika não podia se dar ao luxo de permitir que o temor de lutar contra a bruxa mais experiente que conhecia a fizesse ignorar o que acreditava ser certo.
Mas será que o certo era realmente aquilo em que acreditava? Como podia ter certeza de que não estava simplesmente sendo egoísta, tentando se convencer de que seus desejos eram os mesmos que os das demais bruxas? Ela ponderou com calma e deixou que o silêncio reinasse por alguns poucos minutos, até que finalmente respondeu, sem hesitação.
–Sim, eu realmente acho que essa é a vontade das bruxas. Sendo assim, eu aceito o seu desafio, mestra!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Talvez tivesse sido loucura aceitar aquele desafio desde o começo, mas Erika tem bons motivos para não perder.

Capítulo 240: Mestra e Discípula

Em breve



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Roses and Demons: Hell's Flower" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.