Roses and Demons: Hell's Flower escrita por JulianVK


Capítulo 32
O Caçador de Bruxas




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Mesmo à noite, os céus de Chesord eram tingidos de rubro. Maculada pela vermelhidão, a lua iluminava um país que, para um humano, podia muito bem já ter se tornado um reflexo de Pravus. Ao menos era isto que Vladmir Banemare pensava ao observar o céu noturno do conforto de sua cadeira numa das sacadas do castelo. Para o demônio que lhe fazia companhia, entretanto, tal visão nada mais era do que um fenômeno simplório, incapaz de se comparar à realidade de seu lar. Ele, que havia sido convocado a mando do feiticeiro diabólico, vestia um manto surrado e usava uma sinistra máscara cinzenta com espinhos vermelhos. Além dos dois, Corvame também estava lá, descansando sobre o parapeito da sacada enquanto mordiscava um naco de carne, alheio à conversa.
—Por enquanto estou deixando os outros demônios à vontade para eliminar a população deste reino. – Dizia Banemare. – Mas há um problema que preciso que seja resolvido logo, e acredito que o mais indicado para isso seja você, Arloc.
O demônio respondeu com um aceno afirmativo.
—As bruxas que vivem em Chesord precisam ser caçadas e eliminadas. – O olhar do feiticeiro carregava o mais genuíno desprezo. – Eu quero que você reúna alguns demônios para lhe auxiliar e acabe com todas elas.
—As bruxas daqui são tão perigosas assim? – A voz de Arloc veio curiosa, contendo até mesmo com um traço de contentamento.
—Depende do que você considera perigoso. Por si próprias elas não são uma grande ameaça. Nem sequer são capazes de lutar direito. Mesmo assim, foi graças ao apoio delas que meus inimigos me obrigaram a iniciar a invasão antes do previsto.
Este era um detalhe espinhoso para Banemare. Sua urgência em lidar com a questão das bruxas vinha justamente da raiva que sentia por ter deixado a situação fugir de seu controle, assim como havia acontecido quase trezentos anos atrás. Respirando o fundo e fechando os olhos, ele manteve uma expressão comedida, embora sua expressão se mantivesse afiada.
—Enfim, existem grupos que vão nos oferecer resistência, mas esta ainda não é hora de lidar com eles. Primeiro eu quero garantir uma posição mais vantajosa para nós, e parte disso requer que as bruxas sejam expurgadas. Acredito que você não terá nenhuma objeção quanto a realizar esse serviço para mim, não é?
—De forma alguma. Isso será um grande prazer. – Um lampejo amarelado iluminou o visor da máscara de Arloc.
—Muito bem. Devo apenas alertá-lo a evitar o esconderijo localizado na região sudeste do reino, ao menos por enquanto. Parece que as bruxas de lá estão agindo em conjunto com a Ordem da Rosa Branca, e eu não creio que seja possível derrotá-las sem reunirmos nossas forças primeiro. Felizmente, as outras não devem oferecer muita resistência.
—Entendo. Mais alguma coisa que eu precise saber antes de começar?
Vladmir deteve-se um instante para pensar.
—Aproveite para vasculhar os esconderijos delas. Se encontrar alguma coisa de valor, traga para mim.
—Muito bem então. Com sua licença, vou me retirar.
Após o outro demônio sumir salão adentro, Corvame grasnou, saltando do parapeito para a mesa posicionada ao lado do assento de Banemare. – Acredito que ele seja mesmo o mais indicado para isso, meu senhor. – Disse a ave disforme, com sua voz estridente.
—O caçador de bruxas, não é? – O feiticeiro passou os dedos pela barba. – Eu me pergunto que atrocidades ele deve ter cometido para ganhar essa alcunha.
—Ouvi dizer que ele corrompe as bruxas com promessas espúrias e as faz sacrificar suas próprias irmãs em homenagem a ele. Depois que as almas das pobres infelizes já estão completamente corrompidas, Arloc então as arrasta para Pravus e as devora.
—Que perverso. – Banemare sorriu. – Espero que ele não decepcione.

A foice de Scythe dançava pelo corredor estreito, rasgando a carne dos demônios que tentavam alcançá-la, enquanto setas negras voavam acima de sua cabeça, cravando-se nos que estavam mais atrás. Juntos, ela e Carbon conseguiam conter o ataque, mas esta não era sua única preocupação.
—Deixa que eu me viro aqui, Carbon! – Disse a garota em meio aos golpes. – Nós precisamos achar o Elbio!
—Nada disso. Agora que estamos em território inimigo, nossa melhor chance de sobreviver é ficarmos juntos!
—Mas e quanto a ele?!
—Vamos ter que torcer para que ele seja tão forte quanto parece. – Respondeu o homem com uma voz amarga. – E que ele não faça nenhuma idiotice.
—É isso que me preocupa... – Completou Scythe, mais pálida que o normal.

Obedecendo ao comando da mão de Arloc, um anel de runas prateadas surgiu no ar. Em seguida, outro menor tomou forma também, alguns centímetros adiante, e então mais outro, menor ainda, completando o trio. Por fim, uma rajada de energia mística os atravessou, indo de encontro a Elbio.
Este reagiu criando um escudo à sua frente, concentrando-se apenas em suportar o golpe. Apesar do impacto poderoso, a proteção não cedeu, e Elbio pôde respirar aliviado. Um alívio passageiro, entretanto, pois a sensação de que seu inimigo era um demônio ainda mais perigoso que o normal apenas aumentava. Mesmo assim, o jovem não se deixou abater e, empunhando uma espada gigantesca, avançou, descendo a lâmina contra Arloc.
Somente o chão da biblioteca foi atingido e, de imediato, a arma se dissipou. Elbio então estendeu os braços, disparando uma saraivada de dardos mágicos, esperando interceptar o adversário no meio de sua esquiva. Apesar disso, bastou Arloc deslizar a mão pelo ar, liberando uma onda de sua própria energia, para que o enxame fulgurante de prata se espatifasse numa nuvem de estilhaços.
—Mas que poder é esse? – Elbio se mostrava incrédulo diante da ineficiência de seus ataques.
—Pensei que isso fosse óbvio. – O demônio, por outro lado, falava com toda a calma do mundo. – Meus poderes não são muito diferentes dos seus. Se bem que você só consegue usá-los de forma tosca, ao contrário do meu estilo refinado.
—Então suas habilidades também vêm da magia Airanul?
—Exatamente. Eu diria até que somos bem parecidos, tirando o fato de que você é um fracote.
—O que está insinuando com isso? – Retrucou Elbio, cheio de desgosto por ter sido comparado ao demônio.
—A princípio, eu achava que o seu poder fosse só um encantamento temporário, mas ele realmente faz parte de você, não faz? Eu só consigo pensar em uma explicação para isso. – Novamente, um lampejo amarelado reluziu nos olhos de Arloc. – Você conseguiu essas habilidades sacrificando a alma de uma pessoa, não foi? Esse é exatamente o tipo de coisa que um demônio faria.
Livros voaram para todo lado, pedaços de madeira choveram e uma leve nuvem de poeira se ergueu. Furioso, Elbio grunhia enquanto tentava fazer a barreira esférica que protegia o demônio ceder sob a pressão de seu punho, envolvido por uma manopla mágica. Perfeitamente ileso, Arloc brincou.
—Realmente, seu estilo é muito grosseiro.
Desfazendo a barreira, ele girou para o lado, deixando que Elbio se desequilibrasse enquanto seu punho era projetado para a frente. Em seguida, o demônio formou novamente seus anéis rúnicos, varrendo o adversário com o golpe disparado através deles. Rachando a parede contra a qual foi lançado, Elbio então caiu de forma completamente desajeitada. Mesmo tendo protegido a si mesmo no último instante com uma armadura feita de magia, ele podia sentir seu corpo formigando devido à potência da técnica de Arloc.
—Eu até queria saber como foi que você ganhou esse poder. – A passos lentos, Arloc se aproximava do rapaz caído. – Mas no fim das contas não faz diferença. Vou devorar logo sua alma e acabar de vez com isso.
Carregado por asas reluzentes, Elbio se ergueu num instante, envolvendo mais uma vez seu punho num invólucro de radiância prateada. Surpreendido, o demônio cruzou os braços à frente do rosto, formando um escudo de energia ao fazê-lo. O golpe o empurrou quase três metros pelo chão, deixando trilhas no piso por onde seus pés passaram, mas não conseguiu lhe causar nenhum dano significativo.
No fim das contas, apesar de todo o esforço de Elbio, Arloc sentia uma pontada de decepção. Que o único humano capaz de simular seus poderes em mais de um milênio de existência fosse tão fraco chegava a ser lamentável. Se sua força não fosse consideravelmente inferior no mundo dos mortais, sem dúvida a luta já teria terminado há muito tempo.
—Se não vai colaborar comigo, fique quietinho no chão e morra. Eu tenho coisas importantes a fazer!
—Não pense que pode simplesmente me ignorar! Você matou as pessoas que me acolheram... – Elbio materializou duas espadas longas, empunhando-as com firmeza. – Isso só termina quando você morrer!
Os dois engalfinharam-se novamente em batalha, cada um à sua maneira. Elbio desferia golpes violentos, mudando a configuração de suas armas a cada sequência de ataques. De espada para machado, de machado para martelo, de martelo para lança, e então de lança para golpes de punho. Uma variedade realmente surpreendente, mas ainda assim incapaz de ferir Arloc. Este, com movimentos fluidos, por vezes esquivava e por outras bloqueava, disparando seus próprios golpes na forma de rajadas de energia que o rapaz não tinha escolha senão receber e suportar.
O confronto se estendeu, e embora Elbio constantemente se visse em situação desfavorável, não dava o menor sinal de que estivesse fraquejando. Cansando-se de tudo aquilo, da insistência crônica daquele humano em tentar enfrentá-lo, mesmo sendo claramente inferior, o demônio decidiu reunir o máximo possível de energia que era capaz, lançando um disparo derradeiro, mais potente que todos os anteriores. Elbio foi atingido em cheio no peito.


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Notas finais do capítulo

Quando as forças de Elbio se acabarem, ainda restará um raio de esperança?

Capítulo 263: Um Lampejo Dourado

Até o final do mês que vem sai.



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