Roses and Demons: Hell's Flower escrita por JulianVK


Capítulo 27
O Mestre do Portão




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/638230/chapter/27

Séculos antes do isolamento de Chesord, uma região no extremo norte do país era considerada proibida para todos. Somente os insensatos se arriscavam a adentrá-la, pois se tratava de uma terra amaldiçoada pelo Portão do Sacrifício. Responsável pelo desaparecimento de muitos guerreiros corajosos, embora talvez tolos, a origem do portão era oculta em mistério.
Mesmo com o passar de muitos anos, ninguém foi capaz de conquistar o portão ou descobrir seus segredos. Aqueles que tentaram tiveram todos o mesmo destino, perdidos para sempre em seu interior. A história de tragédias somente chegou ao fim quando, oitenta anos após a criação da barreira, a Rosa Branca foi acionada por ordem do rei.
Ainda assim, até os heróis mais poderosos do reino receavam o portão lendário. No fim, foi o mais velho dentre os membros, o líder Nerhart, quem se voluntariou para cumprir a missão, mesmo sabendo que provavelmente seria sua última.
Ao alcançar as terras frias do norte, ele iniciou sua jornada solitária em direção à região proibida e desafiou o portão. Ninguém nunca soube ao certo o que ocorreu naquele dia, exceto que a estrutura sumiu para nunca mais ser vista. A bravura de Nerhart foi celebrada pelo reino todo, mas eventualmente outras crises vieram e tomaram seu lugar nas histórias contadas pelo povo. O Portão do Sacrifício e o homem que o conquistou acabaram esquecidos.
Contudo, a memória destes feitos heroicos, assim como os da princesa Nathalia e de todos aqueles que carregaram o título de líder da ordem, permaneceu viva em seus sucessores. Carregando tais memórias consigo, não houve dúvida no coração de Inferno quando descobriu que o portão que deveria estar selado ressurgiu. Como líder da ordem, era seu dever terminar o trabalho de Nerhart.

Fabius Illumire, codinome Inferno. Um homem na casa dos trinta anos, dotado de um espírito honesto e valente, afiado pela sua devoção ferrenha ao deus Adriel. Mais do que qualquer outro membro da ordem, seu senso de justiça queimava forte no peito. Com cabelos curtíssimos e porte elegante, ele trajava um uniforme cujos caules eram das cores vermelha e preta.
Em meio à névoa densa, era quase impossível ver aquele que caminhava ao seu lado, o fantasma de Nerhart. Sua presença, entretanto, se fazia sentir, pois nem mesmo a morte havia sido capaz de apagar a aura de respeito que ele impunha. Ao falar, ele o fazia com uma voz clara, ainda que envelhecida.
—Séculos atrás, quando enfrentei o demônio, descobri que o Portão do Sacrifício não passa de uma ferramenta que ele usa para prender suas vítimas e depois consumir suas almas.
A ideia de perder a própria alma deixou Inferno um tanto perturbado. Somente seu desejo de não mostrar fraqueza diante de Nerhart permitiu que ele mantivesse a compostura, evitando uma careta.
—Os registros da ordem diziam que a última pessoa a entrar no portão foi o senhor. Por acaso isso significa que o demônio foi derrotado?
—Depende do ponto de vista. É verdade que eu consegui matá-lo, mas foi ao custo da minha própria vida. Por causa disso acabei ficando preso aqui como um fantasma.
—“Então é um inimigo que nem um guerreiro do calibre de Nerhart conseguiu vencer sem se sacrificar...” – Inferno se preocupou. – “Estou vendo que essa vai ser uma luta bem difícil.”
—Mas eu não entendo. – Disse o fantasma, com um tom de frustração na voz. – Tenho certeza de que destruí aquele demônio. Como foi que ele conseguiu voltar?
—Imagino que isso tenha a ver com a crise que estamos enfrentando em Chesord. – Ponderou o controlador das chamas negras. – Fomos atacados por um exército de demônios sob o comando de um feiticeiro maligno, e por causa disso agora o reino está praticamente todo destruído.
—Então o que nós mais temíamos aconteceu...
—É verdade, mas desde o começo o isolamento de Chesord foi uma mentira. – Inferno dizia tais palavras com pesar. – Os outros reinos nunca foram invadidos, isso foi tudo um plano desse feiticeiro para poder ganhar tempo.
—Que homem ardiloso! Como foi que eu nunca desconfiei de nada? – A frustração na voz de Nerhart se tornou ainda maior.
Os dois continuaram avançando em silêncio, pensando a respeito da situação em que se encontravam. Enquanto caminhava, Inferno tentou analisar o ambiente ao redor, mas a névoa persistente era espessa demais para lhe permitir enxergar qualquer coisa.
—A propósito, senhor Nerhart. O que é exatamente esse lugar?
—Isso infelizmente nem eu sei dizer, mas não creio que seja parte de algum mundo conhecido. Mesmo depois de tanto tempo vagando por essa planície morta, sempre acabo voltando para o mesmo lugar. – Subitamente, o fantasma se deteve. – Está sentindo essa presença maléfica? Ele está logo adiante.
A neblina ficou para trás, dando lugar a uma extensa clareira circular cercada pelo nevoeiro. Em seu centro havia um trono cinzento feito de ossos, e o monstro que o ocupava era ainda mais robusto que o próprio Nerhart, praticamente com o dobro da altura de Inferno. De corpo marrom e peludo, ele tinha proteções de metal cobrindo os antebraços, as canelas e a cintura. Presas afiadas se alongavam a partir de sua mandíbula e quatro chifres curvados erguiam-se acima da cabeça.
—Há quanto tempo, Nerhart. – Disse o demônio, exibindo seu sorriso cruel. – Eu devia ter imaginado que nosso visitante era amigo seu. A última vez que vi as almas penadas se agitando tanto foi quando você veio me desafiar.
—Então você realmente estava vivo, Onimaru...
—Curioso isso, você não acha? O que me trouxe de volta foi nada menos do que magia demoníaca do mais alto nível. Será que o seu mundinho não está correndo perigo? – Ao ver a expressão preocupada de seu antigo inimigo, Onimaru gargalhou. – Pelo visto parece que eu estou certo!
—Você tem mais com o que se preocupar do que com o que está acontecendo em Realia. – Afirmou Inferno, desafiador. – Foi um erro ter me trazido aqui. Fique sabendo que assim como Nerhart, eu também carrego o título de líder da Ordem da Rosa Branca!
—É mesmo? Então por que você não me mostra se é realmente tão forte quanto esse velhote? – O demônio se ergueu do trono, avançando com passos lentos. – Faz muito tempo que eu não devoro uma alma que preste!
Em resposta à provocação, Inferno conjurou seis espirais flamejantes, direcionando-as para a posição do inimigo. Este, porém, não esboçou qualquer tentativa de defesa, simplesmente deixando-se atingir pela conflagração ardente. Mesmo assim, quando as últimas labaredas morreram e a fumaça se dissipou, não havia nenhum ferimento aparente no corpo de Onimaru.
—Feh... até que não foi ruim. Lutar com você vai ser bom para me ajudar a recuperar a forma.
O demônio alcançou Inferno com um salto, descendo seu punho imenso sobre ele, mas atingiu apenas o solo. Apesar da esquiva bem-sucedida, o guerreiro da ordem se viu desequilibrado com o impacto, obrigando-se a defender o ataque seguinte com sua espada. Graças a isso, conseguiu evitar um choque direto, mas foi lançado para o alto junto com a arma.
Onimaru saltou novamente, seu braço contraído para atingir o alvo em pleno ar, mas uma rajada flamejante o devolveu ao chão. Ciente do perigo que corria, Inferno não deu chance para o demônio se recuperar, bombardeando-o com explosões de fogo negro. Tais golpes em sequência, entretanto, eram exaustivos e drenavam rapidamente suas energias.
Arfando, o manipulador finalmente cessou o ataque, aguardando inquieto conforme a cortina de fumaça ao redor de seu inimigo desvanecia. Atônito, ele então constatou que havia conseguido nada mais do que causar alguns danos superficiais.
—Como esse desgraçado pode ser tão resistente?!
—Qual o problema, menino? Não me diga que está ficando com medo? – Respondeu o demônio, divertindo-se com a aflição de Inferno.
De fato, aquela era a primeira vez que o atual líder da ordem se deparava com um inimigo capaz de resistir tão facilmente a seus ataques, praticamente sem fazer qualquer esforço. Era impossível não questionar suas chances de vitória, mas ele sabia que entreter tais pensamentos seria um convite para a derrota. Mais do que uma simples questão de orgulho ou dever, sua própria alma estava em jogo, e a única forma de preservá-la seria lutando sem medo de arriscar tudo.
Com passos pesados, mas velozes, Onimaru disparou adiante, pronto para lançar outro golpe com seu punho. Era evidente que ele pretendia vencer Inferno pela exaustão, mas o manipulador tinha uma ideia. Esperando pelo momento certo, ele lançou uma rajada explosivo sob os próprios pés, usando o impulso para saltar sobre o monstro.
Caindo sobre as costas do demônio, Inferno então conjurou sua espada, cravando-a logo abaixo do pescoço. Somente uma pequena parte da lâmina conseguiu atravessar o couro resistente, mas já era o bastante.
—Já que atacar de longe não adianta, vamos ver se você gosta disso!
A arma foi envolvida por chamas intensas, que desceram e invadiram o corpo de Onimaru, fervendo suas entranhas. Não restava muita energia a Inferno, mas ele queimou tudo que tinha naquele ataque derradeiro, cessando apenas quando só o que conseguia fazer era continuar segurando o cabo de sua espada.
Com um movimento brusco de uma das mãos, o demônio o derrubou. Mesmo com dificuldade, ele continuava em pé, exibindo seu sorriso diabólico.
—Conseguiu me ferir tanto assim... você realmente é um guerreiro esplêndido!
—Não é possível... – Nerhart estava incrédulo. – O nível de poder de Inferno é o mesmo que o meu! Como foi que você não caiu depois de receber esse ataque?!
—Ainda não entendeu, seu velho esclerosado? A magia demoníaca que me trouxe de volta também me deixou mais forte! E quando eu devorar a alma desse homem, finalmente vou me tornar poderoso o bastante para destruir essa prisão e retornar a Realia!
Lentamente, Onimaru se aproximava do manipulador caído, lambendo os beiços em antecipação à alma deliciosa que estava prestes a consumir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Agarrando-se ao que lhe resta de vida, Inferno continua lutando, mesmo sem esperança de vencer.

Capítulo 258: Coragem

Em breve.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Roses and Demons: Hell's Flower" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.