Roses and Demons: Hell's Flower escrita por JulianVK


Capítulo 21
Predador Imortal




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Pela primeira vez em milênios de existência, Predher estava diante de um humano que se recusava a afundar em desespero, mesmo após ter experimentando seu poder. Tal pessoa ser uma garotinha, que inclusive ameaçava fazê-lo fugir amedrontado, tornava a situação ainda mais inusitada. Sem saber como reagir diante de tamanho disparate, o demônio não conseguiu fazer outra coisa senão gargalhar.
Era uma risada estrondosa e debochada de alguém que, no fundo, via muita graça na situação. Uma gargalhada que perturbava os guerreiros da Rosa Branca, mas inflamava ainda mais a vontade que Karin tinha de lutar. Diante daquele adversário que a considerava ridícula, ela trouxe à tona o poder bruto de sua habilidade, transformando essa energia numa rajada luminosa que desintegrou a cabeça de Predher, juntamente com parte do torso.
—Ela... matou o monstro?! – Perguntou Vulcano, espantado com a demonstração de poder. Ele, que havia experimentado na pele o poder da manipuladora da luz, era capaz de perceber o quanto Karin estava mais forte. Se viessem a lutar novamente, o rapaz temia que dessa vez seria o perdedor.
Ent, por outro lado, absteve-se de comentar. Sua atenção era direcionada à besta que, mesmo tendo recebido um dano imenso, permanecia em pé. Da mesma forma, Karin também observava apreensiva, como se esperasse por uma reação. Então, tiras escuras de carne começaram a se erguer sobre o peito arruinado, retorcendo-se com ruídos viscerais. Em questão de instantes elas deram forma novamente à cabeça e, ao final, Predher se mostrava completamente restaurado, como se jamais houvesse recebido qualquer ataque.
—Então é por isso que só a Karin estava ferida quando chegamos. – Comentou o controlador das plantas. – Demônios realmente são criaturas terríveis.
—Droga! Nem isso funciona? – Exclamou a menina, frustrada.
—Pode continuar tentando até gastar todas as suas energias, mas uma criatura como você jamais vai conseguir me matar! – Sentenciou Predher, exibindo um sorriso diabólico em suas feições bestiais. – Vai ser mais fácil se ficar quietinha aí enquanto apago sua vida insignificante!
Suas pernas robustas o impulsionaram com uma velocidade assustadora na direção da manipuladora enquanto ele preparava o braço direito para desferir um soco. No breve instante de que dispunha para reagir, Karin abriu os braços, criando uma barreira invisível para interceptar o ataque. Contudo, mesmo bloqueado, a potência terrível do golpe do demônio estilhaçou a defesa e arremessou a garota violentamente de encontro a uma árvore.
O som do impacto foi seguido de um grito agudo de dor. A expressão de Vulcano se tornou uma careta horrorizada de pânico enquanto ele via o corpo de Karin caindo sobre a grama. Temendo mais pela segurança dela do que pela sua própria, o rapaz sentiu um alívio imenso ao constatar que a jovem ainda se mexia.
—Nós temos que ajudá-la, Ent!
Sem sequer raciocinar direito, Vulcano deu um passo adiante na intenção de se juntar à luta, mas uma mão firme segurou seu ombro. Na ânsia de salvá-la, ele havia deixado escapar um detalhe importante. Mesmo estando tão ferida, Karin não havia perdido a ferocidade nos olhos. Seu espírito de luta queimava mais forte do que nunca.
—Calma, Thomas. – Respondeu o velho. – Ela ainda não foi derrotada.
Mais uma vez se ouviu uma risada, mas desta vez cortada por breves acessos de tosse. Quem ria era ninguém menos do que a própria manipuladora da luz, ignorando os protestos de seu corpo enquanto se colocava em pé.
—Só pode ser brincadeira. Sério mesmo que esse é o mais forte que você consegue bater? Os outros demônios devem morrer de vergonha de você...
O mais aturdido por tais palavras talvez tivesse sido Vulcano. Para provocar um demônio daquele jeito, ele só conseguia imaginar que Karin tivesse enlouquecido. Mesmo assim, a mão de Ent continuava a segurá-lo e, a contragosto, o rapaz permaneceu apenas assistindo.
Predher imaginou coisa parecida, mas não tornava sua fúria menos intensa. Se até aquele momento enxergava a luta apenas como um passatempo, agora seu orgulho como filho de Pravus demandava que despedaçasse aquela menina tagarela num único golpe. Transbordando de intenção assassina, ele disparou adiante, olhos cravados em sua presa.
—“Essa é minha última chance.” – Surpreendentemente calma, Karin jogou para o lado seu cajado. Não era de controle que precisava naquele momento, mas sim de poder. A quantidade imensa de energia que se acumulava no seu corpo diminuto era tamanha que se tornava evidente até mesmo para os guerreiros da Rosa Branca. – “Se eu morrer aqui, significa que eu não seria mesmo útil para a Yasmin.”
Um clarão engoliu o campo de batalha, ofuscando Vulcano com sua luz intensa. Ent foi o primeiro a ver o resultado do embate, deixando escapar um breve suspiro de admiração. Diante da garota ajoelhada e inconsciente, tudo que restava do demônio era a metade inferior de suas pernas.
—Inacreditável. Em termos de força bruta ela consegue superar até o próprio Inferno.
—O que aconteceu? Ent, você está aí?
O controlador do magma tateava o vazio sem sucesso em busca de seu aliado, caminhando cautelosamente. Aos poucos, porém, sua visão retornava ao normal, até que ele também pôde se dar conta do estrago causado pelo ataque desesperado de Karin.
—Ela conseguiu...?
—Não. – O velho respondeu, preocupado. – Infelizmente não foi o bastante.
Como antes, as tiras que se estendiam acima do tornozelo começaram a dar forma novamente às pernas e, rapidamente, ao resto do corpo também. Mais uma vez, Predher estava completamente regenerado, até a última fibra de sua forma física.
—Como isso pode ser possível?! – Quase não restava esperança a Vulcano. Se até mesmo o golpe mais poderoso de Karin havia sido inútil, que chance teriam de vencer aquele inimigo?
—Não perca sua compostura, Thomas! Existe uma forma de derrotar esse demônio. – As palavras de Ent carregavam um tom de reprimenda. De fato, seria quase impossível alcançar uma vitória apenas com as habilidades dos dois, mas seus longos anos de experiência permitiam que ele enxergasse uma chance de sucesso.
Ironicamente, Predher não demonstrava o menor interesse na presença da Rosa Branca. Sua atenção era dedicada somente à garota que, mesmo fracassando em derrotá-lo, havia chegado perigosamente perto de conseguir. A alma do demônio fervia de raiva, ódio e desprezo.
—Lixo insolente! Sua alma vai apodrecer nas profundezas de Pravus por toda a eternidade!
Erguendo sua perna sobre Karin, ele a pisoteou sem a menor piedade. Um jato de sangue escuro jorrou para o alto e respingou sobre o corpo de Predher, mas seu sorriso perverso foi substituído por uma expressão confusa. O sangue era dele próprio e seu pé estava cravado num enorme espinho de madeira.
—O que significa isso?
Carregada em segurança pelas raízes de Ent, Karin foi depositada com gentileza em seus braços. O demônio furioso, ao perceber o que acontecia, fixou seu olhar nos vermes malditos que ousavam interferir. Se faziam tanta questão assim de proteger a menina, então que fossem os primeiros a morrer.
—Agora, Vulcano! Atauqe com todas as suas forças!
A vontade que o controlador do magma tinha de lutar sumiu no momento em que fitou o semblante assassino de seu inimigo. Subitamente, questionava-se como poderia sequer ter cogitado a possibilidade de enfrentá-lo. Não fosse a presença de Ent, certamente já teria se entregado ao medo há muito tempo, e era justamente essa figura que o impulsionava a agir. Com um grito insano de quem tenta escapar da morte mesmo estando encurralado, o garoto despejou uma torrente de chamas.
Ignorando os urros de dor do demônio, Peter Watlear colocou Karin no chão. Ele próprio não tinha certeza do que fazer, mas considerava suas opções com cautela. Se Predher de fato pudesse se regenerar indefinidamente, então com certeza ele e Vulcano não seriam capazes de detê-lo sozinhos. A estratégia mais inteligente provavelmente seria fugir e buscar ajuda, mas sem os demais membros da Ordem por perto, colocariam as bruxas em grave perigo se fizessem isso. Confrontado com uma situação que não admitia soluções fáceis, o homem decidiu acreditar em sua convicção e, antes de se levantar, sussurrou algumas palavras que somente a manipuladora da luz poderia ter escutado.
—Trate de acordar logo, jovenzinha. Nós vamos precisar da sua força.
Enquanto isso, Predher lentamente diminuía a distância que o separava do controlador do magma, ignorando os ferimentos que as chamas lhe causavam. Seu braço se dobrou para trás, antecipando o golpe que viria, mas foi interceptado por uma robusta barreira de madeira criada às pressas. Mesmo assim, a fúria do monstro foi suficiente para estraçalhar o bloqueio, derrubando Vulcano com os fragmentos.
As horríveis queimaduras que havia sofrido, entretanto, o impediam de prosseguir com o ataque. Grunhindo, decidiu deixar seus inimigos em paz por um momento a fim de permitir que seu corpo se recuperasse. Mesmo com o monstro completamente desguarnecido, Ent preferiu apenas observar atentamente enquanto os pedaços de couro se remendavam. Depois de muito deliberar, sua estratégia finalmente estava definida, mas havia algo a ser feito antes de colocá-la em prática.
—“Esse é o único jeito de vencer sem colocar as bruxas em risco. Vai ser um problema, mas precisamos ganhar o máximo de tempo possível.”
—Meus ataques também não funcionam! – Exclamou Vulcano, colocando-se em pé. – O que podemos fazer contra ele?!
—Primeiro, vamos lutar mantendo a cautela e economizando nossas energias. Quando chegar a hora, precisaremos de toda a força que pudermos usar.
—Você tem um plano, Ent? Por favor me diz que você tem um plano!
—Não é exatamente um plano. Diria que está mais para uma aposta.
—Uma aposta?! – Exaltado, Thomas perdeu completamente a compostura. – Isso lá é hora de fazer uma coisa dessas?!
—Já chega dessa conversa fiada. – Rugiu Predher, impecavelmente regenerado, como sempre. – Vocês podem tagarelar à vontade depois que eu enviar os dois para Prav-
Um tronco enorme saltou do chão, atingindo com violência o peito do demônio que se aproximava. Atirado para o alto, ele caiu de forma completamente desastrada a vários metros de distância.
—Não existe hora melhor do que essa, Thomas. Minha aposta é que a chave para superarmos essa crise será o potencial de pessoas como você, que pertencem à nova geração.
—Era só o que me faltava! Agora você está ficando senil...
—Não foram esses os modos que eu lhe ensinei, menino, e eu não estou senil ainda. – Retrucou Ent, rindo. – Mas isso não importa agora, esse é o seu momento. Eu quero ver o quanto você é capaz de inflamar seu espírito para proteger o futuro deste mundo.


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Notas finais do capítulo

Somente unindo esforços será possível sobreviver à invasão dos demônios.

Capítulo 252: O Limite da Manipulação

Em breve.



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