Roses and Demons: Hell's Flower escrita por JulianVK


Capítulo 1
O Segredo de Banemare


Notas iniciais do capítulo

Finalmente iniciei a terceira série de Roses and Demons. Mudei muitas vezes de ideia antes de decidir qual seria o título mais adequado e acredito que Hell's Flower é minha melhor opção.

Pretendo fazer desta a melhor de todas as "temporadas" e colocar toda a habilidade de escrita que vim desenvolvendo nestes anos em prática.



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Você já teve a sensação de que a própria vida é enfadonha? De que passamos anos buscando algum sentido, mas no fim das contas, por mais esforço que façamos, tudo continua igual? O mundo prossegue em seu próprio rumo, inexorável, até que mesmo os maiores heróis ou intelectuais se perdem nas páginas da história.
Talvez isto não seja necessariamente culpa da humanidade, mas sim dos deuses distantes que nos enxergam apenas como joguetes. Por milênios eles vêm buscando expandir sua influência em Realia, seja tentando possuir os mortais, seja manifestando seus servos em nosso plano de existência através de magias de alto nível.
Ainda assim, essas intrusões, como podemos chamar, são raras. Isto porque pouquíssimos humanos possuem a dedicação suficiente para se dedicar de forma exclusiva à vontade divina ou diabólica, e menos ainda detém o poder suficiente para fazê-lo de forma significativa. É irônico pensar que seres tão poderosos sejam incapazes de agir diretamente aqui e dependam de nosso auxílio, mas foi justamente este conhecimento que me permitiu ter uma nova perspectiva.

Eu nasci quase trezentos anos antes do isolamento de Chesord. Mais especificamente, 587 anos antes da queda do último pilar e o início da guerra. Era o filho único dos Banemare, uma família de nobres empericianos com fortes laços com o rei. Durante minha infância e juventude tive como mentor o filósofo Daniel D’Illusie e, embora olhando em retrospecto eu o considere raso, admito que era muito mais sábio que a maioria.
Sua tutela me ajudou a questionar o próprio significado da minha existência e meu propósito, assim como de tudo o mais que havia no mundo. Despertar essa sede por respostas me levou a uma vida de estudos intensos, sempre procurando as verdades ocultas nas entrelinhas.
Posso dizer que fui o Defteri do meu tempo. Não havia ser em Empericia, Chesord ou qualquer outro dos reinos que pudesse rivalizar o meu intelecto. Deveras, se tivesse continuado neste caminho eu provavelmente teria superado até mesmo a fama do grande estudioso e contribuído com mais conhecimento do que ele próprio.
Contudo, minha busca chegou em um ponto tal que me levou a um estado de fastio insuportável. Depois de quarenta anos vivendo em prol do saber e de muito meditar sobre tudo que eu havia aprendido, cheguei à inevitável conclusão: o que eu vinha construindo, desde o começo, não passava de um castelo de areia, incapazes de suportar a devastação do tempo. Nem mesmo a minha vida tinha propósito ou significado, pois ainda que eu me tornasse uma lenda, chegaria o dia em que ela seria esquecida.
Fico imaginando o que Adriel pensaria a respeito dessa injustiça. Qual seria a opinião do líder dos deuses de Utopia sobre as existências fugazes que somem num piscar de olhos, enquanto a dele é eterna? Talvez sentisse uma pontada de pena, ou talvez sequer sentisse alguma coisa. Mas eu, que estava do outro lado, que era finito, senti ódio e fúria com intensidade que jamais julguei ser possível.
Foi assim que surgiu um novo desejo no meu âmago, a vontade de realizar algo verdadeiramente memorável. Algo tão espetacular, tão inusitado que até mesmo os seres de Utopia e Pravus lembrariam meu nome por toda a eternidade. Obviamente, a única forma de se fazer isso seria desequilibrando a disputa em favor de um lado, garantindo que o ou o paraíso ou o inferno conseguissem o tão almejado domínio sobre Realia.
A decisão quanto ao lado que merecia meu auxílio também era óbvia. Os deuses hipócritas de Utopia, que se assentavam nas próprias noções de bem e justiça, não mereciam uma vitória. Preferiria sacrificar minha alma e entregar nosso mundo de bandeja aos demônios do que dar àqueles desgraçados a satisfação.
Com este plano em mente, me aprofundei nos estudos das artes malignas com mais afinco do que jamais havia demonstrado em qualquer outro assunto. Aprendi cada minúcia da magia diabólica até dominá-la como se eu mesmo fosse um dos filhos do inferno. Também tomei precauções para garantir que teria tempo suficiente para colocar meu plano em prática, tornando-me verdadeiramente imortal.
Esta foi a primeira vitória que obtive nesta busca profana e, graças a ela, pude dedicar mais de um século ao aperfeiçoamento de minhas habilidades de invocação. O plano era muito simples: invocar uma legião infernal de tamanha magnitude que o mundo seria simplesmente incapaz de combater. Eu a comandaria, arrasando todos os reinos e, por fim, converteria a energia de milhões e milhões de almas em combustível para realizar o feitiço mais espetacular já conduzido por mãos humanas e anexar Realia a Pravus como um de seus domínios.
A forma mais direta de se fazer isso era usando cadáveres humanos como recipientes para os seres demoníacos. Através da minha magia eu era capaz de moldar a carne junto com a essência maléfica e criar formas físicas que permitissem aos servos de Pravus manifestar seu verdadeiro poder. Mas mesmo que eu consegui invocar dois ou três demônios, criar um exército envolvia um sem número de complicações.
Evidentemente, eu não esmoreci e iniciei uma colheita de corpos, enviando meus servos diabólicos na calada da noite para assassinar e me trazer os defuntos. Através de magia eu os preservava, aguardando o momento em que tivesse o suficiente. Abrir os portões do submundo, mesmo para invocar um único demônio, não é nada fácil. Fazer isso milhares de vezes resultaria num desgaste imenso.
Eu provavelmente deveria ter considerado que minhas ações não passariam despercebidas, é claro. Desconfio que haja o dedo de Argenta nisso tudo, pois ela com certeza sabe que enganei a morte e isto não deve tê-la deixado nada contente. De toda forma, enquanto eu me mantinha isolado e concentrado, o rei de Empericia, de alguma forma, descobriu ou suspeitou das minhas intenções e me forçou a fugir.
O resultado disto foi um baque enorme para os meus planos, pois os corpos que acumulei no decorrer de alguns décadas foram todos perdidos durante a tomada do meu condado. Sem outra escolha, fugi para Chesord, sabendo que eles logo viriam atrás de mim. Mas eu tinha uma solução em mente e criei um distúrbio para mergulhar a fronteira sul no pânico.
Bastou este ataque de alguns poucos demônios para convencer a realeza chesordiana de que o mundo estava prestes a terminar. Estar cara a cara com um demônio de verdade provavelmente deve causar uma impressão muito forte na mente de um ser humano e os relatos desesperados dos sobreviventes certamente ajudaram a corroborar minha história. Os sábios se apressaram a erguer pilares, sacrificando as próprias vidas na esperança de que a barreira fosse erguida a tempo, antes que o reino fosse arrasado por uma invasão inexistente. Chego a ter vontade de rir só de pensar nisso, ainda mais considerando que depois de tudo isso fui agraciado como herói!
O posto de conselheiro real me coube bem e me permitiu retomar meu plano rapidamente. Porém, desta vez eu não cometeria os mesmos erros. Enquanto iniciava novamente o processo de acúmulo de corpos, primeiro influenciei a criação de um grupo de manipuladores de elite, que viria a ser chamado de Ordem da Rosa Branca, e em seguida incriminei os clãs de bruxas pelos sumiços de pessoas em todo o reino.
Tudo correu conforme o planejado enquanto eu pacientemente aumentava meu estoque de corpos. E, finalmente, depois de trezentos anos, estou perto de realizar o sonho que venho nutrindo há tanto tempo. Admito que fui audacioso em momentos mais recentes e que por vezes alguns indivíduos suspeitaram a respeito da verdade sobre o reino, mas eu garanti que eles não se tornassem ameaças, fosse através da morte ou tornando-os servos que me ajudariam a concluir o plano.
Pensei que com o próprio rei Follet sob meu controle eu teria todo o tempo que quisesse para me preparar, mas Empericia se mostrou mais engenhosa do que eu lhe dava crédito. A desorganização que favorecia minhas ações também facilitou a infiltração de agentes do reino vizinho a eventual derrubada dos pilares. Mas felizmente a guerra, embora breve, garantiu que eu tivesse tempo suficiente para me preparar.

Noite. Os últimos gritos morriam ao longe enquanto chamas estalavam e se alastravam pelas casas de uma vila de porte médio no leste de Chesord. Vultos grotescos arrastavam cadáveres pelas ruas, empilhando-os diante de uma estátua na praça central. A imagem, uma representação do deus Adriel, era observada de perto por um homem encapuzado.
-A hora está chegando, seu desgraçado. – Disse a voz, inundada de desprezo.
Nisto, a atenção daquele homem foi tomada pela súbita chegada de outra pessoa, alguém que ele conhecia. Tratava-se de um adulto com cabelos muito longos, descendo até sua cintura, e divididos ao meio na frente. A tonalidade azul escura deles, igual à de seus olhos, se tornava negra na fraca iluminação do fogo crepitante. Ele vestia um manto branco, aberto na parte inferior e de mangas curtas, adornado com um brasão dentro do qual reluzia a imagem de uma flor branca na altura do peito. As vestes que usava por baixo também eram brancas e, completando a indumentária, cabos entrelaçados, assemelhados a caules, desciam dos ombros até a barra do manto de cada lado, à direita tingidos da cor roxa e à esquerda da cor preta. Era o uniforme da Rosa Branca, trajado por ninguém menos que o vassalo mais fiel de Banemare, o homem que um dia foi conhecido como Adrian Holark, mas que agora possuía um novo nome.
-Vortex, o que está fazendo aqui? Eu ordenei a você que permanecesse no castelo Secrett!
-Eu peço desculpas, meu senhor. – O controlador dos portais imediatamente se ajoelhou. – Mas eu trago notícias da maior urgência. Inferno nos traiu e matou o rei. Agora ele planeja convencer o restante da ordem a se unir aos seis manipuladores que derrubaram os pilares para combater vossa excelência.
-Não me surpreendente, eu já sabia que um dia teria que me livrar daquele homem. Mas é tarde demais para eles, agora finalmente possuo corpos o suficiente para criar meu exército. Realia inteira vai tremer perante a invasão demoníaca.
Vladmir jamais viu o sorriso que se desenhou nos lábios de Vortex naquele momento.


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Notas finais do capítulo

Quais são as verdadeiras intenções do que homem conhecido como Vortex?

Capítulo 232: Minha Ambição

Em breve.



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