A Dream Twice escrita por laurakr


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Sinto que hoje não estou inspirada  ._. mas eu precisava explicar algumas coisas nesse capítulo... inicialmente pensei nele como parte do capítulo 05 mas precisava ser contado do ponto de vista da Kate então tive que mudar :/ o próximo capítulo será sobre o Lucas



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                          Você abriria mão da sua própria felicidade

                               

                         Para que a pessoa que você ama fosse feliz?

 

 

- Você notou que a Annie tem vindo aqui todos os dias desde que a gente conversou naquela festa semana passada?

 

- Na verdade sim.

 

Leonard parecia se divertir com a situação.

 

- Ela fica parada ali na porta, mas nunca entra. Tá na cara que ela quer me pedir algum conselho sobre o Lucas.

 

- Você devia falar com ela.

 

- Porque não vai você? Parece que se deram bem.

 

- Acho melhor não.

 

Eu não posso ficar perto da Annie, sei disso... Mas... Não posso deixar de me sentir estranha vendo-a tão próxima sem poder conversar com ela. Fiquei surpresa ao ver que mudou tanto... Salto? Vestido? Isso nunca aconteceria se fosse antes... Mas as pessoas mudam não é? Eu me afastei, concordei que me afastaria pelo bem dela, pela felicidade dela. Como disse “não é tão difícil abrir mão da sua própria felicidade quando é por alguém que você ama e se importa”. Será mesmo? Será que não é tão difícil como ela diz?

 

- Haha, se você acha... Vou lá falar com ela então... Te vejo depois Kate.

 

- Já disse pra não me chamar assim.

 

- Pensei que fossemos amigos agora Kate.

 

O Leonard estava cada vez mais próximo de mim, embora a minha idéia inicial fosse mantê-lo longe. A verdade é que eu não estou nem um pouco incomodada com isso... E por isso mesmo que é tão assustador tê-lo por perto. Mas eu não tinha outra opção, é melhor que ele me considere uma amiga do que uma possível conquista. Assim, nenhum de nós se machuca.

 

- Tem razão, me desculpe.

 

Ele sorriu e se levantou da cadeira.

 

- Vou lá então, fazer minha boa ação do dia. Até daqui a pouco Kate.

 

Kate...

 

A primeira pessoa que me chamou assim... Foi o Tony. Nós estávamos conversando sobre o fato de que quando uma pessoa tem um nome muito difícil costumam inventar um apelido pra ela.

 

- Eu nunca tive um apelido. O meu nome por si só já é um ahahaha

 

- Eu também não! Mas é... Porque as pessoas nunca se importaram em falar o meu nome! Talvez porque ele seja muito bonito.

 

- Ah deixa de ser convencida! Ninguém gosta de falar o seu nome.

 

- Tem razão, e nunca tive muitos amigos...

 

- Se você quiser eu posso inventar um apelido pra você... que tal Kate?

 

- Ahh é muito bobo... É só uma abreviação!

 

- Isso quer dizer que somos próximos ué... É muito melhor do que um apelido, porque quer dizer que eu te considero uma pessoa importante.

 

- Pessoa importante... Como amigos?

 

- Não... Hum... Você não entenderia.

 

- Um dia você me explica, né...?

 

- Talvez...

 

Que boba... Se eu tivesse me dado conta naquela época, nós teríamos passado mais tempo juntos. Mas... Não me arrependo disso... Como poderia? Foram os anos mais felizes da minha vida.

 

- Ei... Vim te visitar hoje, algum problema?

 

Era Lucas, e isso me fez lembrar de tudo que Annie tinha me contado na festa. Como ele se sentiria, se ficasse sabendo? Acho que isso abriria um buraco enorme no seu coração... Eu não queria que ele sofresse mais do que já tinha sofrido, e não é justo contar a ele os sentimentos de Annie, se alguém tinha que fazer isso... Era ela mesma.

 

- Você sabe que não. Fico feliz que tenha vindo me ver... Como você está?

 

- Bem... Na medida do possível.

 

- Que bom.

 

- Onde está o Leonard?

 

- Saiu... Não sei onde está, porque?

 

- Curiosidade mesmo.

 

- Hum... Você não se sente... Estranho?

 

- Sobre o que está falando?

 

- Nada... Deixa pra lá.

 

Nós passamos o resto do intervalo conversando sobre a escola, provas, matérias e trabalhos. Eu não queria correr o risco de voltarmos a brigar por algum tipo de assunto mórbido de novo, agora que estávamos tão bem. O intervalo estava quase acabando quando Leonard chegou, sorrindo e logo em seguida fechando a cara ao ver Lucas sentado em seu lugar.

 

- Está tudo bem? Ele não está fazendo nada pra te aborrecer não é...?

 

- Na verdade não. Não precisa se preocupar.

 

- Você sempre fala isso.

 

- E você sempre se preocupa.

 

Ele sorriu e se levantou indo em direção a porta. Pude ver a tensão entre os dois,  quando Lucas passou ao lado de Leonard antes de sair. Idiotice, claro. Fingi não ver nada e apenas agi normalmente quando Leonard se sentou e começou a me olhar com cara feia.

 

- Coitada da Annie. Ainda bem que ela não tem coragem o bastante pra se declarar pra ele.

 

- O que quer dizer?

 

- Tá na cara que ele gosta de você.

 

- Não seja idiota... Espera, a Annie está pensando em se declarar?

 

- É, mas ela não tem coragem pra fazer isso. Porque o interesse?

 

Eu nem posso imaginar o que aconteceria se ela fizesse algo assim.

 

- Você não iria entender, então não se mete.

 

Provavelmente isso feriu o orgulho dele ou algo do tipo, porque não falou comigo durante toda a aula que se passou. Quando bateu o sinal, nos disseram que o professor havia faltado e que poderíamos ir a biblioteca se quiséssemos. Todos os alunos se levantaram correndo mas eu fiquei ali mesmo. Eu já tinha trazido um livro... Que não lia a um bom tempo... Eu precisava de coragem, precisava saber qual seria a minha reação. Precisava saber o quanto me afetava.

 

- Que livro é esse Tony?

 

- É o Peter pan, sua sem cultura!

 

- Eu não gosto dessa história... É muito triste... Eles não ficam juntos no final...

 

- E quem disse que só por isso ela é triste? É um final tão feliz como qualquer outro.

 

Quando o tirei da bolsa, Leonard que assim como eu, preferiu ficar na sala – o motivo era diferente, claro, ele ficou porque queria dormir – pareceu surpreso, em me ver com esse livro nas mãos. Será que Leonard também gostava dessa história? Ele me olhou curioso, mas sorriu ao dizer:

 

- É um livro do Peter Pan? Não sabia que você gostava de contos-de-fada.

 

Ele estava debochando do meu gosto?

 

- Gosto sim. Algum problema com isso?

 

Pareceu surpreso, pela minha reação.

 

- Não, nenhum. É só que... isso é meio inusitado... Porque o trouxe?

 

- Fazia muito tempo que não o lia. E acabou se tornando minha história preferida.

 

- Sério? Quer dizer... Nunca gostei muito dessa história, geralmente contos-de-fada tem

finais felizes.

 

Agora eu é que havia ficado surpresa com a resposta dele. Mas não deixaria de continuar tal conversa, então prossegui:

 

- Entendo. Sempre me incomodou o fato de que o Peter Pan não queria crescer.

 

- Pff... Sempre me incomodou o fato de que a Wendy preferiu voltar pra casa ao invés

de ficar com ele.

 

Não pude deixar de achar engraçado, o fato de não gostarmos da história por tais motivos.

 

- Mas a definição de final feliz varia para cada um Leonard... Uma vez quando questionei

sobre isso com uma pessoa, ela me disse que o fim da história era tão normal como

qualquer outro conto-de-fada, já que ambos ficaram felizes no final. E que a história terminar dessa maneira era inevitável, porque assim como Wendy tinha um lar ao qual retornar, Peter Pan tinha um ao qual não poderia abandonar.

 

Era estranho vê-lo pensativo... Ainda mais quando estávamos falando sobre um assunto como esse.

 

- Hum... Talvez tenha razão, não seria justo para nenhum dos dois se tivessem que ceder.

 

- Você está certo, não seria justo. Mas... Mesmo sabendo disso, nunca pude deixar de pensar que se eles se amassem de verdade, teriam ficado juntos. Talvez não se gostassem tanto assim.

 

- Ou talvez seja o contrário. Talvez se amassem tanto que tinham certeza de que mesmo longe, ainda continuariam a se amar.

 

- Ou talvez, apenas fossem muito jovens.

 

Ele sorriu e me fitou, ficou assim por um tempo antes de continuar a falar.

 

- Talvez. Mas eu gostaria de saber... Se o final dessa história a incomoda tanto quanto

a mim... Porque ela se tornou sua preferida?

 

- Porque... Uma pessoa muito importante pra mim gostava muito dela.

 

              

                                          Esse... É o livro preferido de Tony.

 

 

- Ah... Entendi... Essa pessoa deve ser muito importante mesmo, pra te fazer gostar de um livro do qual você não concorda com o fim.

 

- Sim, ele é muito importante.

 

- Ele...? Por acaso essa pessoa é o Lucas?

 

- Não. Você não o conhece.

 

- Então me apresenta!

 

- Não posso, nem se quisesse.

 

- Porque não?

 

- Algumas coisas simplesmente são inevitáveis.

 

A conversa já estava ficando perigosa, e eu precisava escapar de algum jeito.

 

- Vou ao banheiro.

 

- Eu te acompanho.

 

- Não foi um convite.

 

Ele deu uma gargalhada.

 

- Eu sei! Mas te acompanho até a porta.

 

- Tudo bem.

 

Nós fomos até o banheiro em silêncio. Eu não ousaria puxar qualquer tipo de assunto, estava com medo. Então quando chegamos, eu entrei e fiquei por lá o resto da aula. Na esperança de que ele não estivesse mais me esperando quando batesse o sinal. Mas eu estava errada. Leonard estava parado em frente à porta, do mesmo jeito que o deixei.

 

- Confesso que estou me sentindo culpada por você ainda estar aqui.

 

- Então não devia ter me deixado esperando.

 

- Você é que já devia ter ido embora.

 

- Mas eu disse que ia te esperar.

 

- Tudo bem, me desculpe por ter feito você me esperar até agora.

 

- Desculpas aceitas Kate! Mas você vai ter que me recompensar por isso... Afinal já faz mais de dez minutos que o sinal bateu e eu perdi a minha carona por sua culpa!

 

- Não vou te recompensar coisa nenhuma.

 

Eu não sei de que tipo de recompensa ele estava falando, mas achei melhor não arriscar. Comecei a andar pelo corredor em direção a saída enquanto Leonard me seguia ainda com a história de recompensa – eu o ignorava – quando pude ver uma figura conhecida passar correndo por nós.

 

- Leonard... Aquela era a Annie?

 

Ele parecia tão chocado quanto eu.

 

- Acho... Acho que era...

 

- Ela... Estava chorando...?

 

- Merda! Ela se confessou pra ele! Tá vendo eu sabia que ele gostava de você!

 

Droga, droga! Ela havia se confessado para o Lucas?

 

- Deixa de falar besteiras e corre atrás dela!

 

- Tá, a idéia foi minha mesmo, peraí! Aonde você vai?

 

- Vou ver o Lucas é claro!

 

Não fiquei para ouvir os protestos do Leonard, eu precisava saber como Lucas estava. Minha intuição? Não muito melhor do que Annie. Eu corri o mais rápido que pude e cheguei na sala dele sem ar, mas me esforcei em abrir a porta. Ele estava lá... Apoiado em uma das carteiras... Como descrever? A mesma expressão que tinha... Quando tentou me empurrar aquele dia. E eu não suportava ver aquilo, eu precisava fazer alguma coisa, eu sentia que ele iria se despedaçar se continuasse ali sozinho.

 

- Lucas...

 

Eu fui até ele mas não sabia o que fazer... Não sabia o que dizer. Para a minha surpresa foi ele quem se aproximou. Apoiou sua cabeça no meu ombro... Parecia cansado... Exausto... Como se tivesse acabado de levar uma surra e estivesse desmoronando.

O que eu faço? Eu sempre fui a consolada... Era sempre ele que tentava fazer com que eu me sentisse melhor. Como eu poderia retribuir? Como eu poderia tirar todo aquele sofrimento de cima dele?

 

- Apenas me deixe ficar assim...

 

- Tudo bem, você também tem o direito de fraquejar, pode se apoiar em mim que eu não vou te deixar cair.

 

E ele começou a chorar. Eu nunca o tinha visto chorar. E isso me chocou.

 

- Porque Kate? Porque ela teve que me dizer tudo isso se eu me afastei dela pra vê-la feliz? Será que nem isso eu sou capaz de fazer? Porque ela não pode continuar com aquele sorriso idiota e agindo como se nada tivesse acontecido? Porque ela não consegue me esquecer? Porque ela não se livra de uma vez dessas coisas que podem conectá-la a lembranças que só vão trazer cada vez mais tristeza? Eu não quero que ela passe pelo que nós passamos... Não quero vê-la sofrer o quanto nós sofremos. Ela foi a única que teve a chance de esquecer de tudo e continuar a viver normalmente... Então porque? Porque ela teve que se apaixonar por mim? Como ela quer que eu consiga ficar longe dela depois de me dizer tudo aquilo? Já é difícil o bastante vê-la todos os dias e não poder me aproximar, a única coisa que me mantinha forte com a nossa decisão era ver que ela estava bem, que ela estava sorrindo, que ela estava feliz. Então droga, porque?!

 

- E-Eu... Já... Sabia disso... Sabia que ela ainda gostava de você...

 

Minhas mãos tremiam e estava a ponto de chorar. Eu o entendia, sabia bem o que ele queria dizer, como é possível abrir mão da sua felicidade quando a pessoa que supostamente deveria estar feliz, estava sofrendo por sua culpa? Como poderia continuar fazendo isso, sabendo que era em vão?

 

 

 

                             Você abriria mão da sua própria felicidade

            E ficaria longe da pessoa que ama para que ela pudesse ser feliz?

                                               E o que você faria

                             Se a felicidade dessa pessoa significasse

                                Que você deveria estar feliz também?

                                              E o que você faria

                             Se a felicidade dessa pessoa, fosse você?

 


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