A Dream Twice escrita por laurakr


Capítulo 13
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

bem, finalmente, um capítulo narrado pelo Leonard.



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Hey Leonard, feliz aniversário!

 

Eu sei que você deve estar se perguntando porque é que depois de tanto tempo eu resolvi te mandar uma carta, sendo que a mamãe te manda uma toda semana e eu nunca falei nada... Mas é que eu me dei  conta de que cara, você é meu irmão, e mesmo assim eu nem te conheço. Estranho isso né? Eu nem sei o que falar... E a mamãe também disse que você não vai me responder, mas eu não me importo. Bem, hoje é nosso aniversário e eu queria te desejar tudo de bom...

Ei, como é morar aí? A escola por aí é divertida como naqueles filmes, onde as pessoas dão festas e tal? Você sai no dia do halloween  pra pedir doces na rua? Aaah, queria muito te visitar qualquer dia! Ou você poderia vir me ver né? Você e o papai... Acho que seria divertido comemorar nosso aniversário com todos por perto... Você podia trazer os seus amigos também. Falando nisso, acho que você gostaria muito dos meus, apesar de serem meio estranhos. Bem, vou ficar esperando pela sua resposta... Me fale um pouco sobre você se puder, eu gostaria de te conhecer melhor!

 

                                                                                                     Do seu irmão, Tony.

 

 

Essa foi a primeira carta que o Tony me mandou. Pra falar a verdade, perdi as contas de quantas vezes eu a li. Quando ela chegou pra mim, no meu aniversário de doze anos, eu mal acreditei que ele estava mesmo me escrevendo. Foi estranho receber uma carta dele porque apesar de ter um irmão eu nunca senti como se realmente tivesse um. Desde que eu me lembrava, morava sozinho com o meu pai e apesar dele ser legal comigo e me deixar livre pra fazer o que eu quisesse, nós não éramos muito de conversar ou agir como uma família. Eu já achava idiota, a minha mãe me mandar cartas. Quer dizer, que tipo de relação era aquela? Eu só a via por fotos e conversávamos por telefone às vezes. Sempre a mesma coisa. E agora, do nada... O meu irmão resolvera me escrever? Será que minha mãe o pediu que fizesse aquilo? Pois é, foi a primeira coisa que eu pensei quando li aquela carta que chegara junto com a dela. E é claro que eu não me importava em respondê-lo. É claro que eu não tinha ficado feliz em receber uma carta de aniversário. É claro que eu não queria me aproximar de ninguém. Eu gostava, de ser sozinho. Eu só continuei relendo aquela carta porque... Queria descobrir o que ele estava pensando quando a escreveu. Como será que ele era? Me irritava o jeito que a minha mãe falava sobre ele no telefone, como se ele fosse a melhor pessoa do mundo. Ela parecia gostar tanto dele... E até mesmo meu pai, costumava elogiá-lo pra mim. Como ele era um garoto inteligente e bem-humorado, e como costumava fazer amizade com todas as pessoas quando saíamos em família. Não que me importasse, eu já estava acostumado com aquilo. Eu tinha meus amigos. Eles não eram a melhor coisa do mundo, mas eu curtia sair com eles. Andávamos bastante de skate no parque. E eu também tinha uma namorada. Mas eu não gostava muito dela não, ela me irritava às vezes, mas ela era bonita. E eu gostava de meninas bonitas. Sabe, minha vida era bem comum, e monótona. Como era a do Tony? Eu queria saber, porque é que a mãe ficava daquele jeito todo idiota quando falava dele, e porque... Ele parecia ser tão melhor do que eu. É, eu lembro de ter ficado pensando nisso por um bom tempo enquanto relia aquela carta de aniversário, mas como eu não me importava, eu não o respondi. 

Provavelmente foi só um lapso idiota. Não é como se ele quisesse mesmo me conhecer... Só estava curioso, então não tinha porque responder aquilo. Eu pensei que ele não escreveria mais nada já que eu o tinha ignorado, mas me enganei. Três semanas depois, ele tinha mandado outra carta. Ela também tinha vindo junto com uma da minha mãe.

 

 

E aí Leonard, tudo bem?

 

Desculpa ter demorado pra mandar outra carta... Mas sabe como é, fiquei esperando uma resposta sua... Você deve estar muito ocupado por aí né? Mamãe me disse que você mal para em casa e toda vez que ela tenta falar com você, está no parque andando de skate. Nossa, você realmente deve ser incrível. Eu já tentei andar de skate e sabe, não deu muito certo... Achei que nunca mais ia conseguir sentar depois daquele tombo. Acho que meu lance mesmo é o futebol, não sei se a mãe comentou com você que eu sou o capitão do time de futebol da minha escola... É realmente cansativo, mas é muito legal! Ás vezes é um saco ter que ouvir certas coisas dos alunos mais velhos, mas não é como se isso vá fazer com que eu desista. Mesmo porque a melhor parte são os jogos. As meninas da escola estão super empolgadas com a minha idéia de termos líderes de torcida, e os meninos parecem mais empolgados do que elas com essa notícia. Eu ainda não liderei nenhum jogo oficial e confesso que isso me deixa um pouco nervoso, sei lá... Mas o Lucas me disse que eu tenho sorte nas coisas que eu faço, e que tudo ia dar certo porque sou eu. É ele é meio estranho, mas é um cara legal. Quando eu conheci ele, a gente tava na primeira série e ele usava uns óculos enormes. Claro que depois que entramos no ginásio ele começou a usar lentes por causa das garotas. Cara, incrível como tem meninas bonitas na nossa escola, acho que você ia gostar daqui. Você tem namorada? Tem alguém de quem goste? Quando tiver tempo pra me responder, vê se não esquece de me contar tudo em detalhes ouviu? Ah, eu e a mamãe tiramos uma foto ontem no jantar, nós conversamos bastante sobre você enquanto eu a ajudava a fazer a comida. Não liga pro nosso estado nessa foto não, eu to coberto de farinha porque a mãe é uma desastrada.

 

                                                                                                                   Tony.

 

 

Dobrei a segunda carta e a guardei em seu devido envelope. Eu as tinha, todas guardadas em uma caixa. Todas elas. Eu me lembrava certinho, da ordem de cada uma. Foi essa, a segunda carta de Tony, que me fez querer saber mais sobre ele. Não, eu não tinha vontade de contar sobre a minha vida. Ela era sem graça, normal demais. E apesar de ouvir meus amigos dizerem que eu tinha sorte por ter ido morar lá com o meu pai, eu tinha certeza de que o Tony era muito mais feliz do que eu. Então eu comecei a respondê-lo. Coisas pequenas, e não tinham nem metade do tamanho das cartas que ele me escrevia – que por sinal foram ficando cada vez maiores com o tempo – porque na verdade, eu só queria que ele me respondesse de volta, contando mais histórias. E ele, assim o fez. Me contava sobre o que aprontava na escola, sobre o Lucas, as meninas com as quais ele ficava e sobre como era legal ter duas garotas como amigas.

 

 

“(...) Sabe Leonard, elas são realmente legais! Eu nunca pensei que me divertiria tanto no ginásio. A Annie parece um menino e vive brigando com todo mundo que mexe com a Kate. Eu gosto muito delas e o Lucas também. Desconfio que ele tenha uma queda pela Annie, o que é meio bizarro. Não porque ela seja feia, porque ela é muito bonita apesar de se parecer com um menino, mas sim porque, ela não faz em nada o tipo dele. Ah, a Kate também é muito bonita sabe? Ela tem o cabelo preto e comprido, franja e é bem branca. Incrível como ela não tem nenhuma espinha no rosto. Eu já perguntei se ela usava maquiagem ou esse tipo de coisa que as meninas passam na cara mas ela disse que não. O que também é bem bizarro, ah, eu já te contei como a conheci? (...)”

 

Junto com o tamanho das cartas, que foi aumentando com o tempo, o conteúdo sobre a Kate também foi crescendo. Eu me pergunto se ele mesmo percebia o quanto ele falava dela nessas cartas. Falava bastante sobre as coisas, pessoas e a sua vida em geral, mas quando começava alguma coisa que a envolvia, ele sempre acabava se excedendo e falando sobre como gostava de estar perto dela e principalmente de quando ela sorria. Incrível como que, apesar de ele me contar que ficava com várias garotas, era dela que ele falava o tempo todo. Acho que até mesmo eu havia me dado conta de que ela era diferente pra ele. Seria porque ela era uma amiga importante? Confesso que fiquei curioso com aquilo. Desde que começara a me corresponder com ele, eu já tinha trocado de namorada umas seis vezes, mas nunca, nunca tinha tido uma garota que pudesse chamar de amiga. E eu fiquei me perguntando o porque daquilo, até que um dia...

 

 

 “(...)Ei, Leonard... Você já se apaixonou por alguém?(...)”

 

 

Não, eu nunca tinha me apaixonado. Aquilo era besteira. Como seria possível eu gostar de alguém de verdade, se eu não gostava nem de mim mesmo? Pra mim era idiotice. Eu já tinha aprendido, depois de tantas garotas, que eu nunca teria saco pra isso. Era cansativo demais, ter que agir como se me importasse, se na verdade não me importava. E era cansativo quando elas diziam que me amavam, e eu não respondia nada. Porque eu simplesmente, não sentia nada.

 

 

“(...) Eu sei que é estranho... Mas ultimamente eu tenho vontade de matar qualquer garoto que se aproxima da Kate. E eu não paro de pensar nela o tempo inteiro! Qualquer maldita coisa que ela faz... Qualquer sorriso que eu consigo arrancar... Me faz agir como um idiota, e eu fico feliz o dia todo. Cara, eu pensei que tinha algum problema comigo, ou na minha cabeça, e quando eu disse isso pra mãe, ela me falou que eu tava apaixonado. Então eu saquei que to mesmo... Só que não era pra ser assim. Porque se é isso que se sente quando gosta de alguém, talvez eu nunca tenha gostado da Kate como amiga. Talvez eu esteja apaixonado por ela desde a primeira vez que eu a vi. (...)

 

Você já sentiu isso por alguém Leonard?”

 

 

E depois disso, ele não parou mais de falar sobre ela. Sabe o “cada maldita coisa que ela faz”, que ele mencionou na carta? Pois é, ele me contava com detalhes, cada uma delas. Eu confesso que era irritante no começo, porque eu queria saber mais da vida dele, e não dessa garota idiota. Mas com o tempo eu fui me dando conta, que ela fazia parte da vida dele, e ocupava um grande espaço nela. E depois que eu me dei conta disso, comecei a reler algumas coisas e me perguntei... É realmente possível, se sentir assim em relação a alguém? O que aquela garota tinha de diferente das outras, pra ele se sentir daquele jeito? Então eu comecei a imaginar... O “cada maldita coisa que ela fazia” e que ele me contava... E confesso que cheguei a cogitar a idéia de visitá-lo em algumas das férias. Eu fiquei interessado, e curioso, me perguntando como ela seria pessoalmente. Não, eu não sentia o mesmo que Tony sentia por ela. Não gostava dela, e não queria roubá-la de ninguém. Era só curiosidade mesmo, naquela época. A mesma curiosidade que eu tinha de conhecer o Lucas e a Annie. E de passar um dia com eles. A mesma curiosidade que eu sentia ao pensar: Como seria, se fosse eu quem estivesse morando com a mamãe?

Eu não sei, se era inveja ou apenas curiosidade. Eu não queria tomar o lugar dele... Eu apenas me perguntava se as coisas seriam desse jeito, se fosse eu quem morasse lá.

E o Tony continuou a me contar várias coisas sobre a vida dele. Eu sabia, antes de todos, que ele estava apaixonado pela Kate. Quando ele decidiu que não queria mais ser apenas um amigo pra ela, foi pra mim que ele disse isso, antes de contar pra qualquer outra pessoa. Ele confiava em mim e me considerava um irmão de verdade. Eu também o fazia. Eu conhecia o Tony. Mas ele, não me conhecia. Por mais que eu gostasse dele, por mais que o considerasse um irmão, ele ainda não me conhecia. E nunca conheceu.

Quando o acidente aconteceu e fomos obrigados a voltar imediatamente pra cá, eu torcia pra que ele ainda estivesse vivo. Eu não queria que ele se fosse, antes de me conhecer. Foi por isso que no dia do funeral, eu estava tão indiferente a tudo... Foi por isso que eu não fiquei pro enterro. Eu não queria... Se fosse pra vê-lo naquele estado, dentro de um caixão... Se fosse pra vê-lo sendo enterrado... Eu não queria que aquela fosse a última lembrança que eu teria dele. Não queria... Ter que vê-lo pela primeira vez, naquela situação. Eu preferia me lembrar dele sorrindo, como naquelas fotos que estão espalhadas pela nossa sala de estar. Eu preferia nunca vê-lo pessoalmente, ao ter que vê-lo morto.

E eu procurei por ela também... Pensei em como ela estaria... Agora que ele se fora. Provavelmente ela estaria no velório, chorando como louca por ele ter morrido. Mas ela não estava lá. Nem ela e nem a Annie. A única pessoa quem eu reconheci, devido as fotos que o Tony sempre mandava, foi o Lucas. Ele não parecia ser o garoto dorminhoco e preocupado com todos, como meu irmão costumava dizer. Parecia mais... Uma pessoa que perdeu a alma e só restara um corpo vazio. Então eu pensei que seria melhor se eu fosse embora. Eu tive vontade de fugir pra longe de todos que conheciam o Tony. Não devia ser muito legal, me ter por perto. Afinal, apesar de ser tão parecido por fora... Eu não era ele. Não sou como ele. E nunca vou ser.

Quando meus pais decidiram que morariam juntos novamente... Eu procurava ficar longe da minha mãe. Porque eu não queria vê-la triste, como naquele dia em que ela me viu no quarto dele, mexendo nas coisas. É claro que ela tentava disfarçar, mas eu sabia, sempre soube, que ela via ele em mim. Seria estranho se não visse. E era doloroso demais acordar de madrugada e vê-la deitada na cama dele, abraçando o travesseiro enquanto chorava. E nós brigamos muitas vezes por causa disso. Porque eu queria ir pra longe. Eu não acreditava que ela gostasse de mim tanto quanto gostava dele, até o dia em que arrumei minhas coisas pra ir embora, ela me abraçou chorando. Ela me disse que não saberia o que fazer se eu a deixasse. Porque ela não queria perder um dos poucos motivos pelo qual ela ainda vivia.

Eu sei que pode parecer uma coisa triste, ou que eu estou me lamentando. Ou tentando me fazer de vítima sei lá, mas essa não é a verdade. Embora não tenha sido fácil no começo, eu conhecia o Tony o suficiente pra saber que ele não iria querer ver ninguém triste ou se lamentando. É por isso que eu decidi ser mais otimista e ter sempre um sorriso no rosto. É por isso que eu não quero mais que as pessoas que ele tanto amou, sofram como estão sofrendo. É por isso que eu estou fazendo o possível pra não ser egoísta. É por isso que eu queria tanto fazer alguma coisa pra ajudá-los. Infelizmente, quando me transferi pra mesma escola que ele, a única coisa que pude fazer foi evitar que contassem a Annie toda a verdade. E eu procurei agir de modo mais idiota possível, pra que ninguém ousasse me comparar a ele. Porque eu prometi pra mim mesmo, que quando encontrasse com os amigos dele, eles não teriam motivos para lembrar de Tony quando olhassem pra mim.

 

- Querida... Você tem certeza que quer deixar o quarto de Tony como está? Tem certeza que não quer se desfazer de nada? Talvez isso só pio-

 

- Sim, tenho certeza. Eu quero deixar tudo como está. Quero deixar tudo... Como ele deixou, antes de partir.

 

- Ei mãe...

 

- O que foi Leonard?

 

- O que é essa caixinha de presente?

 

- Ah... Isso estava na mala do seu irmão... Mas não faço a mínima idéia do que seja.

 

O quarto dele, foi o primeiro lugar para o qual eu me dirigi quando cheguei aqui. Na cabeceira de sua cama, em cima de um criado mudo, havia um porta-retrato com a mesma foto que ele me mandara em uma das cartas, á um ano atrás. Tony, Kate, Annie e Lucas. Uma foto dos quatro sentados na grama. Estavam na escola, hora do intervalo, como ele havia me contado. Tony estava com um sorriso de orelha a orelha e o seu braço esquerdo envolvia o pescoço de Kate que também estava sorrindo. Annie pelo contrário, parecia irritada com isso, já que – com seu braço direito puxando Kate – tentava afastá-la de Tony, enquanto Lucas tomava um refrigerante – provavelmente roubado de Annie – despreocupadamente no canto da foto. Segundo Tony, cada um deles tinha uma cópia dessa foto.

E até hoje, está tudo como ele deixou. O porta-retrato continua lá, seus gibis, e seus livros continuam enfileirados na prateleira do armário, exceto por um, que quando entrei lá pela primeira vez, estava em cima da cômoda, junto com a caixinha de presente. Ninguém se atrevera a abrir aquilo, nem o livro. Nem mesmo eu, embora soubesse que aquele era seu livro preferido.

 

Mas eu gostaria de saber... Se o final dessa história a incomoda tanto quanto a mim... Porque ela se tornou sua preferida?

 

- Porque... Uma pessoa muito importante pra mim gostava muito dela.

 

- É realmente estranho Tony... Cada maldita coisa que ela faz...

 

Embora eu me encha de ilusões... Embora eu saiba que não importa cada maldita coisa que eu faça ou fale... É sempre nele em quem ela estará pensando. É sempre ele quem surgirá na mente dela. Mas esse tipo de coisa é tão sufocante... Que chega a ser bizarro. Porque não é daquela garota sorridente e inocente como nas fotografias, que eu gosto. Não é daquela garota pequena e feliz abraçada com o meu irmão, não é da namorada dele que eu gosto. Eu gosto da Kate. A garota de cabelos tingidos de loiro que não se socializa com ninguém. A garota fria que tenta se fazer de forte e indiferente quando me vê. A garota que mesmo tendo que ver uma cópia exata de quem ela tanto amou, todos os dias, ficando com outra na frente dela, age como se não se importasse. A garota da qual eu não consigo ficar longe. A garota que eu sinto tantas saudades de irritar. Eu não sei... Desde quando. Não sei se foi quando o Tony me falava dela. Não sei se foi quando eu a vi esbarrando com o idiota da sala treze no seu primeiro dia de aula aqui. Não sei se foi quando ela me ignorou totalmente naquela festa. Não sei se foi quando ela me falou sobre o Peter Pan, não sei se foi quando eu a beijei, não sei se foi quando ela me mandou ficar longe. Mas eu me apaixonei por ela. E eu até mesmo – egoistamente – tentei fazer com que a Annie se lembrasse do acidente pra me livrar das chantagens da Laila e então poder ficar perto da Kate. Porque eu não dou a mínima, se ela me quer longe. Eu não dou a mínima se ela ficar comigo porque eu me pareço com o Tony, desde que eu possa ficar perto dela.

 

- Leonard... Você ainda está acordado?

 

Era minha mãe batendo na porta. Guardei rapidamente as cartas de Tony e me deitei, antes que ela abrisse a porta do quarto. Percebendo que eu estava “dormindo” ela não disse mais nada e foi embora. Adormeci então, depois de pensar muito em como seria insuportável ter que agüentar Laila no dia seguinte, e no quão cansativo estava sendo tudo isso. Embora eu tenha pedido que não, tinha certeza de que Lucas contaria algo para Kate sobre a nossa conversa, e isso também era preocupante. Eu não queria que ela soubesse. No dia seguinte, me levantei e escovei os dentes. Olhei rapidamente pela fresta do quarto de Tony e me lembrei da foto em seu criado mudo. Ás vezes eu pensava se não seria mais fácil se fosse eu quem tivesse morrido e não ele. Porque, sendo franco, não acho que faria muita falta. Tomei meu café da manhã e peguei meu material. Meu pai me deu uma carona á escola como de costume e ao chegar, fui obrigado a me encontrar com Laila. Ela me agarrou na frente de todos como esteve fazendo nos últimos dias – embora soubesse que eu odiava aquilo – parecia estar fazendo de propósito. Kate andava mais pensativa do que nunca. Parecia ser a pessoa mais sozinha da escola. E eu tinha vontade de conversar com ela, queria procurar qualquer oportunidade que me levasse a dizer pelo menos um ‘oi’. Mas não era fácil... Parecia até que tudo conspirava contra. A nossa última aula naquela sexta-feira era de educação física, e Kate costumava ficar na sala até o dia em que me mandou ficar longe dela. Eu também... Tinha parado de ficar lá. Mas sendo sincero, tem dias que nem mesmo eu tenho saco pras pessoas e pras coisas. E mesmo que eu saiba muito bem como tudo tem que ser, chega uma hora que você cansa. Então, depois de fingir ir ao banheiro, eu entrei na sala de aula e não havia ninguém lá. Não era tão ruim assim.

 

- Porque será... Que ela olhava tanto pra esse céu?

 

Estava agora sentado na carteira dela olhando pra janela.

 

- Será que é por causa dele?

 

Então eu ouvi o barulho da porta se abrir e olhei em direção a ela. Kate adentrara a sala cautelosa, parecia estar fugindo de alguém. Ela fechou a porta calmamente, tentando não fazer barulho, até que se virou e me viu. Me viu. Aquela cena. Patética.

 

- Leonard? O que está fazendo sentado aí?

 

É, o choque foi grande. Mas eu fiquei feliz, de ouvir a voz dela novamente. Não saí da posição em que estava e após olhar demoradamente pra ela, respondi... Calmo até demais:

 

- Eu estava... Com saudades.

 

Não sei qual foi a da expressão melancólica que ela fez, mas não gostei nada daquilo.

 

- Não se preocupe, eu vou continuar cumprindo a minha promessa. Nunca quebro uma. – eu não consegui evitar o tom amargo com o qual as palavras saíram.

 

Era irritante sabe? Droga de menina. Não precisava ficar tão melancólica quando eu estava sendo tão sincero arriscando o segredo do acidente. Desci da carteira e fui em direção a porta – na qual ela estava parada em frente.

 

- Desculpa Kate, sei que não devia estar fazendo isso. Desculpa se isso te deixa mal, mas eu realmente sinto falta de passar as manhãs te enchendo o saco. 


Eu já ia passar por ela, quando surpreso, a ouvi abrir a boca para dizer algo. Mas ela parecia hesitar no que ia dizer. Parei por um momento, e como o silêncio permanecia, conclui que ela não tinha mais nada a dizer e passei por ela.

 

- Eu também...

 

Já estava com a mão na maçaneta da porta, quando ouvi ela murmurar. Me virei imediatamente, em choque. Eu tava ouvindo direito? Sim eu estava, porque ela colocou mais força ao repetir as palavras.

 

- Eu também, sinto falta de conversar com você.

 

Ouvir isso criou uma onda tão grande de esperanças em mim, que eu não consegui me controlar e disse:

 

- É só você pedir Kate. É só você me pedir e eu volto. Se você me pedisse eu largava o que quer que fosse e ficava perto de você, sem me importar com mais nada. É só você dizer que me quer por perto novamente que eu...

 

Mas ela não respondia, não falava nada... E então eu vi que não adiantaria, e desisti de implorar.

 

- É melhor você ir Leonard – agora ela falava, séria – se sua namorada descobrir que você se encontrou comigo, acho que ela não vai gostar muito.

 

- Eu não me importo com isso.

 

Ela pareceu irritada com essa informação.

 

- Pois deveria. Geralmente você se importa com a pessoa que namora. Geralmente, você só costuma namorar quando ama de verdade essa pessoa.

 

- Nem todos tem a sorte de encontrar a pessoa certa. Ás vezes você fica com as erradas pra não se sentir sozinho.

 

- Não sei quanto a você, mas isso não funciona pra mim. Não há diferença entre estar com alguém que você não gosta ou não estar com ninguém. É solitário... Do mesmo jeito.

 

Eu sorri.

 

- Então... Quer dizer que você vai sempre estar solitária, se não estiver com quem você ama?

 

Ela me olhou desconfiada, antes de responder.

 

- Sim, é isso mesmo.

 

- Entendi. – eu me virei e girei a maçaneta de uma vez – Vou ficar longe então.

 

- Espera! – ela parecia afobada – Não foi isso que eu quis dizer Leonar... – mas eu não ouvi o resto, que foi abafado devido ao som da porta se fechando.

 

Aquela manhã havia sido uma droga. E eu fiquei muito aliviado ao chegar em casa. O que a Kate me disse, certamente tinha mexido muito comigo. Subi para o quarto e mal cumprimentei minha mãe quando cheguei. Abri a porta do meu quarto e fui direto á caixa onde guardava as cartas do Tony, que estava em baixo da minha cama. Peguei a última delas e comecei a ler. 

 

Olá Leonard, como você está?

 

No próximo final de semana nós iremos viajar. Eu, Lucas, Annie e Kate... A nossa primeira viagem juntos. Também será o aniversário da Kate no sábado e eu preparei um presente pra ela. É sobre o que eu te disse na última carta... Acho que já está mais do que na hora né? Já faz quase dois anos... Que estamos juntos. E faz... Bom, se contar a quinta série, três anos que eu estou apaixonado por ela. Pensei em várias maneiras de fazer isso, e a verdade é que não sei o que fazer. Não sei como tornar esse momento especial ou sei lá. Embora pra mim, seja muito especial, eu sei que as garotas sempre esperam mais e tal. Mas eu não sei como fazer isso. Espero pensar em algo até lá... Bem, depois eu te conto se ela aceitou ou não e se consegui pensar em alguma coisa. Ah, mas eu comprei um anel, isso é bom, não é? E a escola, como anda? Conseguiu recuperar suas notas de matemática?

 

                                                                                            Tony.

 

 

- É... Provavelmente... Não haveria tanto sofrimento... Se fosse eu quem tivesse sofrido um acidente.


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