Secret Dreams escrita por The Stolen Girl


Capítulo 1
Together




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/638129/chapter/1

O vento soprava forte, mas seus ouvidos não doíam. A longa capa com capuz a protegia, apesar de ainda sentir o ar noturno infiltrando-se e gelando, de uma maneira que achou agradável, seus braços e pernas. O vestido curto de material resistente não era para esquentar, mas também cumpria essa função. Sentia o cascalho abaixo de seus coturnos e as mãos formigando, quentes pelo poder que delas desejavam sair. Mas ela sabia que quem estava por vir não merecia sentir a fúria de suas habilidades especiais. Já podia sentir a presença dele, mesmo a distância.

Quando ele surgiu, vindo à sua frente, não muito distante, trazia consigo aquela mesma brisa suave que a confortava e a enchia de motivação, de vontade. A aura escura e triste que o acompanhava era o que ela mais admirava. O rosto anguloso e marcado, masculino. E os olhos. Qualquer outro que olhasse não veria nada de especial neles, mas ela via, porque quando eram só os dois, eles se transformavam. A cor preta brilhava, como se fosse saltar da íris, em seguida adquirindo o tom dourado, que mostrava a quem os visse seus mais profundos desejos e sonhos. Quantas vezes ela não olhou para eles e contemplou o que tanto queria, mas ainda não havia realizado? Depois da cor de ouro, que ela tanto invejava, ia voltando ao normal aos poucos, mas nem o negro natural de seus olhos era sem graça para ela, porque revelava a natureza de seu amado.

Suas mãos, agora controladas, ansiavam por adentrar aqueles fios de cabelo macios e finos. Queria que ele chegasse mais perto, trazendo seu calor natural. Com ele, não havia inverno ou ventania, era sempre aquilo: um calor que emanava de dentro dele, e a envolvia como um abraço apertado e longo, que só acabava quando ele se afastava.

Ele, agora na sua frente, esticou o braço e tirou o capuz de sua cabeça, deixando à mostra seus longos e ondulados cabelos brancos. Adorava isso em si mesma. Era o que em parte a tornava mais especial e excêntrica. Foi o que permitiu que ele a encontrasse.

Suspirou. Seu peito aliviou-se ao sentir o toque que vinha daquelas mãos quentes que tanto apreciava. Sempre que estavam juntos era como se o peso do mundo em suas costas não fosse mais um peso, e sim uma dádiva. Afinal, era isso que queria. O mundo.

Olhou em seus olhos, e soube que ele estava agora lendo o que ela pensava, através de seus olhos azuis. Uma das poucas diferenças entre eles era essa: a cor dos olhos. Porém, pensavam igual. Sentiam e ambicionavam o mesmo. Antes de encontrá-lo, sentia que algo faltava. Era incompleta, por dentro e por fora. Não tinha com quem compartilhar o que a incomodava. Mas então ele chegou, e isso mudou.

-Senti sua falta – ele sussurrou em seus ouvidos, agora descobertos.

Fechou os olhos, apreciando a sensação de ouvir a voz dele. Parecia ronronar, acariciar com suas palavras. Tinha a voz macia. Mas ela sabia o perigo dessa voz. Com ela, ele já havia conquistado e esmagado corações. Enfeitiçava apenas com o som que saia de sua boca. E quando percebiam, já era tarde para suas vítimas. Mas ela já tinha construído muros e defesas fortes contra isso. A vida lhe obrigou a ser assim, e isso não era ruim. Ele frustrava-se quando não conseguia que ela fizesse seus gostos, mas nada podia fazer, pois a garota era imune a seus poderes.

Demorou para que ela controlasse suas próprias habilidades, mas agora fazia isso bem. Pegou o braço pálido dele, virando-o a fim de verificar se as feridas já haviam cicatrizado. Leves marcas percorriam o membro, lembrando aquele dia em que ela passou suas mãos radiantes de poder por ele. Quando fez isso, não queria machucá-lo. Em sua mente, a cena repetia-se. Ela com as mãos brilhando em vermelho, seu poder emanando de suas mãos em uma luz avermelhada. Sentia o sangue quente em suas veias enquanto percorria o braço dele com seu toque. Passou a unha pelo braço, deixando um rastro de fogo. Estava queimando. Mas ele não sentia dor. Pelo contrário, estava calmo, apreciando o gesto. Para ele, as marcas que ali ficariam seriam prova de sua resistência e uma lembrança dos sentimentos de Aeryn. Sua amada dos cabelos brancos. Yannick levou anos para encontrá-la. Precisava dela, de seus poderes; tinham que unir-se. Mas aconteceu mais que isso. Achou-se nela. Aeryn era tudo que faltava nele, todas as coisas que ele mais admirava embrulhadas num lindo pacote. A única que ele foi e ainda é incapaz de seduzir com seus poderes. Isso nem foi necessário, porque ao se encontrarem, perceberam: deviam ficar juntos. Para sempre.

Ambos sentiam-se confortáveis ali, pois podiam agir como realmente eram. Nada de fingimentos. Nada de frequentar locais dos quais não gostavam, com pessoas com as quais eram obrigados a conviver. Ela de um lado, usando jeans e camiseta, se enturmando com seus colegas de faculdade. Ele do outro, posando para fotos no seu trabalho como modelo. Ter de viver assim, anonimamente, não os agradava. Mas era necessário. Se por acaso se revelassem, seriam considerados ameaças, e não daria em boa coisa. Não que algum deles quisesse que desse realmente em boa coisa.

Eles queriam voltar para casa. Lá, suas famílias os esperavam. Mas não podiam. Não antes de cumprir o que haviam ido fazer ali. Por mais que quisessem voltar, especialmente Aeryn, esse não era seu maior desejo.

Aeryn encarou Yannick, e ele já sabia o que viria a seguir.

-Faça. – ela pediu.

Então, os olhos de Yannick mudaram. O preto dando lugar ao dourado, as pupilas se dilatando e brilhando. Aeryn parecia hipnotizada, perdida em devaneios. Quando não havia mais resquícios do antigo olhar, e a cor de ouro reinava, ela viu: primeiro, seus inimigos sucumbindo; ela sugando tudo de bom que há neles, lembranças, poderes, sentimentos, para em seguida os deixar morrer; depois, o mundo ardendo, as pessoas implorando por misericórdia enquanto temem os horrores lançados a eles; por último, ela e Yannick sentados nos imponentes tronos negros, gelados, reinando sob àqueles que sobreviveram, que escolheram apoiá-los.

Yannick sentia a pele do braço queimando. Aeryn apertava tanto que, além de estar ferindo-o com as unhas, deixava sair de si aquela luz vermelha de que ele tanto gostava. Quando seus olhos foram se ajustando, voltando ao normal, ela saiu do transe, dando conta de que estava segurando-o.

-Me desculpe. – ela disse.

Ele sorriu e colocou o dedo sobre os lábios de Aeryn, fazendo-a calar-se. Não queria desculpas. Sempre que ela lhe pedia para ver, ele sentia-se feliz, porque também estava lá, em seus mais profundos sonhos e desejos. Sentia-se feliz porque ela o queria.

O sol começava a sair, um sinal discreto no horizonte. Era a hora de irem embora, de voltarem a fingir. Se pudessem, ficariam ali para sempre, juntos. Mas não é assim que se conquista o mundo.

-Nós vamos conseguir, Aeryn.

-Juntos.

Um vento forte surgiu, envolvendo-os, fazendo os cabelos e a capa de Aeryn esvoaçarem. As pequenas flores dos ipês brancos ali perto também vieram junto, espalhando seu perfume no ar. Ela abraçou Yannick, colando seus corpos com força, e fechou os olhos, sentindo apenas o vento e o cheiro. Quando os abriu, estava no campo da faculdade, sozinha. De volta ao jeans e à farsa, abriu as duas mãos à sua frente, deixando sair delas um ipê branco, simbolizando para ela a força de um amor e a segurança de que seus sonhos se realizariam.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Deixem sua opinião :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Secret Dreams" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.