Segredos Amargos escrita por S Pisces


Capítulo 42
Capítulo 40


Notas iniciais do capítulo

Eu estou melhor? Sim! e mesmo que não estivesse não conseguiria manter vocês no escuro por tanto tempo, embora quisesse.
Enjoy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/638127/chapter/42

  Natasha estava sentada numa cadeira velha, abraçando os próprios joelhos no deposito no quintal da sua casa. O lugar era iluminado apenas pelo luar e os soluços da ruiva não chegavam a casa. Eram pouco mais de 2 da manhã e ela tivera todo o cuidado de não ser vista ou ouvida por ninguém da casa. Não queria mais ter que responder a nenhuma pergunta ou fingir o que quer que fosse.

O celular dela estava na mesa de madeira ao seu lado. Várias vezes ela o pegara, discara o número das amigas, mas a ligação nunca era completada. O que ela poderia dizer? O que ela queria dizer? Tudo o que ela sentia era um grosso nó na sua garganta que há cada segundo parecia sufoca-la mais e mais.

A noite passava pela sua cabeça em flashes cada vez mais rápidos e confusos. Steve chorando de alegria. Bucky gargalhando e comemorando. Sharon os parabenizando, assim como Sam e todos os amigos e colegas de Steve. A comemoração na sua casa... como ela permitirá que aquilo acontecesse na sua sala? Na sua casa? Que todos comemorassem a sua covardia, dissimulação e sua deslealdade?

Ela pega novamente o celular e disca mais uma vez, no segundo toque uma voz bastante alerta, atende.

“Aconteceu alguma coisa, ruivinha?” Clint pergunta, num misto de surpresa e preocupação.

“Preciso beber.” É tudo o que Natasha responde, desligando em seguida. Rápida e silenciosamente ela entra na casa, troca de roupa e sai. Seu coração dói ao ver o marido dormindo tão serenamente. Ela é um mostro e não o merece.

Em poucos minutos, Barton estaciona na rua, um pouco mais à frente da casa da ruiva e a mesma entra no carro sem hesitar.

“Algum lugar preferido?” Clint sabia tanto por experiência própria quanto pela expressão da ruiva que ela não queria ser interrogada.

“Qualquer um.”

O carro voa pelas ruas praticamente desertas, até um bar mais afastado. Natasha nunca havia ido – na verdade ela nem tinha conhecimento sobre aquele lugar – mas parecia ser bastante confortável e discreto. Eles se sentam numa mesa no canto e logo são atendidos. Martini duplo para os dois.

“Eu estou grávida.” Natasha fala quebrando o silencio.

“Devo parabeniza-la?” Clint pergunta seco.

“Essas foram as palavras que acabaram com o meu casamento.” Natasha morde o lábio inferior, sua expressão denotava uma tristeza imensa. “O Steve nunca vai me perdoar por isso. Nunca.” Seus olhos marejam.

“Você fez o que precisava ser feito.” Clint pega a mão da ruiva por cima da mesa, num aperto confortador. “O importante é que ele viva para sentir alguma coisa, certo? Além do mais, quando ele entender o motivo, ele vai te perdoar.”

Natasha balança a cabeça, em completa negação. “Quando ele descobrir o motivo dessa mentira, ai que ele me odiara ainda mais. Eu acabei com qualquer chance de perdão nessa noite, ao dizer as palavras que ele mais quer ouvir.”

“Você precisa se acalmar, ruivinha.” Clint chama o garçom e pede mais duas doses. “Você está baseando suas conclusões no que você acredita serem verdades absolutas para ele. As pessoas mudam.”

“Você não viu como ele ficou... os olhos dele....” Nat soa o nariz num guardanapo. “Os olhos dele brilhavam como nunca brilhou antes. Ele ria e chorava. Ele contou a todo mundo. Todo mundo. E eu fiquei lá, agradecendo as parabenizações com um sorriso no rosto quando tudo o que eu mais queria era gritar que era mentira! Que é uma grande e vergonhosa mentira!” Natasha chora silenciosamente. Lagrimas quentes escorrem por suas bochechas.

Clint a abraça. Ele sabia que nada dito naquele momento poderia consolar a ruivinha ao seu lado. Ele entendia o porquê dela tê-lo chamado, tê-lo escolhido em lugar de suas amigas para desabafar. Não haveria julgamentos. Ele não poderia julgá-la, assim como ninguém poderia. Ele mentiu para o marido, numa tentativa de salva-lo. O plano deles dependia da ausência de Steve tanto para dar certo, quanto para garantir a segurança do mesmo.

“Você sabe que podemos fingir um aborto, não sabe?” Barton pergunta, olhando o rosto vermelho e molhado de Nat. “Um acidente ou simplesmente um aborto espontâneo. Pode acontecer com qualquer uma.”

“Eu não consigo.” Natasha sussurra cansada. “Eu simplesmente não consigo mais. Não aguento mais tudo isso... essa mentira... todas essas mentiras.”

“Você não pode...” Clint começa, mas Natasha o interrompe.

“Por que não? O que mais tenho a perder?”

“Você ainda não o perdeu.” Afirma Clint.

“Mas é só uma questão de tempo.” Natasha dá um sorriso amargo. “Eu achei que eu conseguiria, eu realmente acreditei que eu conseguiria continuar a viver com todas essas mentiras entre nós. Mas... como eu posso ir dormir todas as noites ao lado de um homem tão bom como o Steve sabendo que usei o maior sonho da vida dele contra ele? que eu o manipulei dessa forma? Se eu disser para o Steve que perdi esse...” a ruiva respira fundo “esse bebê fictício, ele vai morrer de certa forma. E eu não posso olhar nos olhos dele todos os dias sabendo que todo o sofrimento dele foi causado por uma mentira. Foi causado por mim em um momento de puro desespero e egoísmo.” Clint não consegue dizer nada. A dor que Natasha sentia era tão real e palpável que Clint temia que a ruiva simplesmente chegasse em casa e contasse toda a verdade para Steve. “Aquela conversa dele com o Bucky... se eu não tivesse ouvido, talvez eu tivesse conseguido contornar a situação de outra forma, mas quando eu vi que ele estava realmente em dúvida... que o amor dele por estava prestes a ser posto numa balança e que ele não iria viajar até ter certeza, eu me desesperei. Quem pode me culpar por querer protege-lo? Tudo bem, a culpa por ele estar em perigo é minha, eu sei, mas justamente por isso eu tenho obrigação de garantir a segurança dele. Não importa o que eu faça, eu sempre estou bagunçando ainda mais a vida nele. Nunca consertando. Nunca arrumando. Nunca dando alegrias verdadeiras, apenas trazendo mais e mais e mais problemas.” Conclui.

“Não seja tão dura e cruel consigo mesma. Você não tem culpa dessa louca da Harrison estar atrás de você. Lembre-se que você quase morreu uma vez e sua vida também está em risco agora, mas até isso você está pondo em segundo plano para salvar o Steve e seus irmãos.” Barton tenta apaziguar.

“Eu me sinto tão perdida.” Admite Natasha.

“Você não é a única sentindo assim, acredite. Sei que agora você pode não enxergar uma solução para tantos problemas, mas as coisas vão se ajeitar. Eu vou te ajudar a coloca-las no lugar.” Garante Barton.

“Obrigada.” Natasha soa o nariz mais uma vez e seca as lagrimas que ainda insistiam. “Obrigada por tudo Barton.” Agradece.

“Acho que agora podemos nos considerar amigos, huh?” ele pisca, fazendo a ruiva dar um breve, mas singelo sorriso.

“Algo assim.” Ela responde e Clint paga a conta. Ambos saem para a noite fria e que de certa forma, ajuda Natasha a clarear a mente.

“Melhor levar você para casa, são quase 5 da manhã.” Barton avisa e em poucos minutos, o carro estaciona pela segunda vez naquela noite próximo à casa de Natasha. “Seu segredo está seguro comigo.” Clint informa, quando Natasha faz menção de descer do carro.

“Não precisa ser um segredo.” Ela fecha a porta atrás de si e fala pela janela entreaberta. “Não há segredos entre nós.” Completa, se referindo a sua amizade com Pepper e Maria.

“Bom dia, meu amor!” Steve saúda a esposa ao abrir os olhos. “Você dormiu bem? Está se sentindo bem? Quer que eu prepare algo especial pro café?” o loiro começa um verdadeiro bombardeiro de perguntas, que Natasha se limita a negar com balanços de cabeça.

“Não Steve, está tudo bem.” Ela afirma por fim e Steve sorri. Aquilo ela definitivamente um milhão de vezes pior que levar um tiro. Ela preferia ser alvejada a continuar olhando para ele. “Acho melhor você ir tomar banho.” Desconversa.

“Hum, certo!” concorda “Mas diz ai, você dormiu bem?” o loiro questiona pondo-se pé.

“Humrum.” Responde a ruiva. Ela não sabia se seria capaz de contar mais uma mentira, ainda que fosse tão simples como aquela. “E você?”

Steve a encara, abrindo um sorriso que mataria de inveja qualquer ator de propaganda de creme dental.

“Como nunca havia dormido antes.” Afirma e se joga na cama, ao lado da mulher. Sua mão desliza pela cintura da mesma e Natasha sente a mão quente do marido pousar sobre sua barriga, no local onde supostamente uma criança deveria estar crescendo. “Você não faz ideia do quão feliz eu estou! Sei que isso foi inesperado e que você deve estar aterrorizada, mas eu tô aqui com você e para você.... Ou melhor, vocês.” Aquela declaração foi o suficiente para fazer Natasha voltar a chorar. Ela controla os soluções que lhe sobem a garganta e ameaçam transformar o choro que deveria ser de emoção em um verdadeiro ataque histérico.

Steve tenta acalma-la, dizendo palavras doces e reconfortantes, mas Natasha as ignora. Ela não era digna da preocupação e amor que Steve lhe dedicava todos os dias. Ela se sentia um lixo de pessoa e embora fosse possível sentir a insanidade se arrastando em sua direção, ela se força a engolir o choro e abrir um sorriso.

“Obrigada amor. Devem ser os hormônios.” Ela ri novamente e Steve a acompanha.

“É melhor eu me acostumar.” Steve comenta. Estava na cara que ele passaria pelo inferno com gargalhando e agradecendo só para ter a família que sempre sonhou.

“É melhor você ir logo pro banho, antes que se atrase ainda mais.” Natasha o repreende e ele lhe dá um beijo rápido, porem apaixonado e finalmente vai para o banheiro.

 Natasha respira fundo e seca as lagrimas com a manga da camisa. Ela não podia mais se dar ao luxo de chorar e se entregar ao desespero. O desespero a levará aquela situação e era imprescindível que ela estivesse com o controle das suas emoções. Ela checa o celular, Maria e Pepper deveriam chegar em poucas horas. Ela deveria estar preparada para arrumar os últimos preparativos para sua viagem e claro, pôr o seu plano em ação.

“Então amor, você acha mesmo seguro viajar nesse estado?” Steve pergunta saindo do banheiro.

“Steve, eu estou gravida, não morrendo.” Ela revira os olhos, insinuando que a preocupação do marido é desnecessária.

“Só estou preocupado.”

“Tenho certeza que sim.” Ela levanta-se e entra no banheiro, fechando a porta e ignorando completamente o discurso de Steve sobre os cuidados no início da gravidez.

A agua gelada desperta ainda mais a mente já desperta da ruiva. Ela não pregara o olho desde que chegara em casa após a bebedeira com Clint. Seus olhos ainda estavam marejados e sua face avermelhada, mas com certeza a causa fora sua última (ela esperava que tivesse sido realmente a última) crise de choro. Agora ela precisava focar no seu objetivo.

As mentiras já haviam sido contadas e nada que ela fizesse agora poderia mudar isso. Toda a magoa que Steve poderá sentir caso o plano dela venha a dar errado e tudo seja descoberto, não poderia mais ser evitada. Agora só lhe restava garantir que Steve vivesse, mesmo que fosse apenas para lhe odiar. Ela poderia viver com isso. Pelo menos era do que ela vinha tentando se convencer.

Ela sai do banheiro e encontra o quarto vazio, bem provável que Steve já tivesse decido para preparar o café. Então, ela decide acordar os gêmeos, para protelar ao máximo ficar – sozinha – na presença do marido tendo que lidar com sua felicidade constante. Aguentar aquilo com outras pessoas tornava mais fácil ignorar.

“Bom dia.” Natasha diz, abrindo a porta do quarto e se deparando com os irmãos já acordados e praticamente prontos.

“Bom dia!” os dois respondem em uníssono.

“Achei que vocês ainda estivessem dormindo.” Ela comenta, encostando-se na parede.

“O papai não deixava que dormíssemos até tarde, então acordar cedo não é problema para a gente.” Pietro explica.

“Claro. Como fui me esquecer disso...” Nat comenta, com um sorriso mínimo, lembrando-se das regras do pai.

“Droga Pietro!” Wanda reclama. “Você usou todo o meu perfume!” acusa a garota, irritada sacodindo um frasco vazio.

“Não fui eu!” nega o garoto.

“Ah não, claro que não! Deve ter sido a Nat.... ou então aquele psicopata do outro dia!” a garota estava claramente irritada.

“Eu já disse que não fui eu!” Pietro nega veementemente. Natasha prevendo uma discussão que provavelmente terminaria com o frasco quebrado e Pietro no hospital, decide interceder.

“Eu tenho alguns no meu quarto, Wanda. Você pode usa-los se quiser.” Oferece.

“Tem certeza?” a garota pergunta indecisa.

“Claro. Vamos lá.” Natasha caminha até seu quarto sendo seguida por Wanda. As duas entram no banheiro e Natasha mostra uma variedade de perfumes e maquiagens para a irmã mais nova.

“Uau! Eu adoro esse!” Wanda fala pegando um pequeno frasco. “E essa cor de batom é muito legal.” Comenta admirada.

“Então são seus!” Natasha fala e Wanda arregala os olhos. “Pode levar.” Afirma.

“Mais…”

“Sem mais. Você gostou, certo? Então são seus! Eu tenho vários.” Natasha aponta para o armário e a pia, onde várias coisas estavam à disposição. “E aproveita e leva esse para o Pietro, assim ele não pega mais o seu.” Ela entrega a garota um outro frasco de perfume.

“Poxa, obrigada.” Agradece sem graça.

“Não por isso. Agora melhor irmos, antes que você se atrase.”

“Certo.” As duas saem do quarto, mas Wanda para na porta e encara a irmã. “Sei que não somos melhores amigas nem nada do tipo e admito que ainda tenho um pouco de rancor por você ter nos deixado de lado, mas...”

“Mas?” Natasha pergunta curiosa.

“Sinto que você não está bem, que alguma coisa está para acontecer. Alguma coisa que mudara nossas vidas, mas principalmente a sua.” As palavras de Wanda apavoram Natasha e o temor que ela sentira no bar volta a tentar afoga-la, sua boca fica seca e embora ela tente dizer alguma coisa que descarte as previsões de Wanda, ela continua calada. “Não precisa acreditar em mim, ou ficar com medo, é apenas uma sensação que sinto as vezes... enfim, eu e o Pietro, sempre estivemos um para o outro, não importa o que aconteça. E estamos aqui para você também. Somos irmãos, nós três, e independente de qualquer coisa, temos que ficar unidos contra todo o resto.” Num ato completamente impensado, Natasha abraça a irmã que o devolve sem hesitar.

Elas nunca haviam se abraçado antes, a não ser quando crianças e na noite do atentado, mas Pietro estava entre elas. Naquele momento eram apenas elas duas. Uma tentando passar confiança para a outra.

“Obrigada Wanda.” Agradece a ruiva. “Unidos contra todo o resto.” Ela sussurra.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Nem deixei vocês se iludirem muito, hein? quero opiniões! Pedirei comentários sim! qual é pessoal, eu mereço, não? afinal tenho postado com regularidade e os capítulos estão até melhores.
Enfim, beijos! ♥♥♥