Maria liga o som do carro e logo o refrão de “I love Rock’n’Roll” preenche o interior do carro. A morena começa a cantarolar baixo distraidamente, o que faz Natasha arquear as sobrancelhas surpresa.

“Não sabia que você curti Rock dos anos 80.”

“Um pouco.” Maria dá de ombros “Não tenho uma década preferida, só curto um pouco de Rock, jazz, Blues.”

Natasha não era muito ligada em música ou ritmos musicais. Ela ouvia o que tocava e adquiriu certa simpatia por algumas bandas e cantores graças ao marido, mas tirando isso, ela não se importava se o som do carro estaria ligado ou não.

“Foi uma pena a Pepper não ter podido vir...” Maria cometa distraída.

“Verdade. Raramente nós três saímos em campo ao mesmo tempo.”

“De qualquer forma, o escritório não poderia ficar sozinho.” A morena completa. “Os diretores estão no nosso pé. O secretário de segurança anda meio surtado e vê ameaça em qualquer coisa.”

“Você não concorda com ele?”

“Não sei, acho que as vezes meio que exageramos, entende? Nós lutamos pela liberdade mas infligimos ela ao impor nossas regras e leis aos outros países. Acho natural que um ou outro se vire contra nós.” Maria explica e Natasha fica pensativa.

“O Steve pensa o mesmo. Ele não concorda com algumas coisas do governo, diz que certas ações são invasivas e desrespeitosas.”

“E o que você pensa disso?”

“Sinceramente?” a ruiva vira o rosto na direção de Maria que concorda com a cabeça “Eu não sei. Concordo com ele e com você, mas consigo ver os dois lados.”

“Sei como é isso, eu também vejo, mas é necessário ter posicionamento. Eu sei pelo que luto e não é apenas pelo meu país.”

“E pelo que mais é?”

“‘Se você não morreria por uma causa, então não tem causa alguma pela qual viver.’ Li isso num livro quando ainda era criança, acho que foi o Robin Wood que falou, não importa, a questão é que eu luto pela segurança, não do governo ou do país, mas das pessoas. Elas não sabem metade do que acontece a volta delas e não acho que elas mereçam pagar pelo erros dos outros. Além do mais, agir unicamente em prol do país me parece meio... estranho. Lavagem cerebral.” Maria fala fazendo uma careta no final, o que faz Natasha rir.

“Então você acha que passamos por uma lavagem cerebral?”

“Não, só acho que se você não tiver um posicionamento e principalmente, não for fiel a si mesmo e seus próprios princípios, pode acabar fazendo coisas ruins em nome de um governo que não hesitara em lhe dar as costas caso isso venha a público, entende?”

Natasha não responde, afinal, ela sempre usava a desculpa de ‘ser pelo país’ para justificar suas ações. Não que ela houvesse feito algo do qual se arrependesse ou lhe causasse desconforto, mas de certa forma, era como se ela, desde o princípio, não houvesse estipulado uma barreira entre o certo e o errado dentro dos seus preceitos morais.

“Acho que nunca pensei muito nisso, embora meu pai tenha discutido isso comigo várias e várias vezes. Eu gosto do que faço e se parar pra pensar muito, talvez comece a fazer vários questionamentos que não vão me levar a nenhum lugar bom.” Natasha explica.

“A linha que separa o certo do errado é muito tênue e quando você olha determinada ação de forma subjetiva, fica ainda mais difícil determinar se é bom ou não. Uma criança que rouba um doce, pra alguns será um ato completamente imoral, para outros coisas de crianças, e ainda haverá aqueles que irão querer descobrir o que levou a criança a fazer aquilo. Tudo depende do olhar de quem vê.” Maria argumenta deixando Natasha levemente boquiaberta.

Não que a ruiva duvidasse da inteligência da amiga, só não esperava que elas tivessem aquele tipo de conversa enquanto viajavam para encontrar um cara e provavelmente surra-lo para que contasse o que sabia.

“Mas então, você falou que o Steve também pensa dessa forma, é por isso que você teme a reação dele caso descubra o que você faz?” Maria pergunta mudando um pouco de assunto.

“Não a reação dele em relação ao meu trabalho, obvio que isso conta, mas principalmente a reação dele ao saber que eu menti, que fui desleal.” Natasha balança a cabeça tentando tirar as várias reações que imagina do marido “ele odeia mentiras.”

“Quem não?” Maria pergunta retoricamente. “Como eu falei, tudo depende dos olhos de quem vê. Você devia começar a sondar ou até mesmo ‘plantar’ algumas ideias na cabeça dele, fazer ele entender que certas mentiras são necessárias.”

“Porque eu faria isso?” Natasha não estava gostando do rumo da conversa e era visível sua desconfiança.

“Todo esse caso do Ian vindo à tona novamente e esse alguém que sabe quem você é.... talvez seja melhor você começar a se preparar psicológica e emocionalmente para o pior.”

Natasha sente um calafrio lhe subindo pela espinha. Maria estava certa, ela podia sentir que algo iria acontecer, mas não sabia se seria bom ou ruim, de qualquer forma, ela se valeria do benefício da dúvida por mais algum tempo.

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“Aconteceu alguma coisa Bucky? Você está estranho.” Steve pergunta ao amigo enquanto arrumava um dos pratos novos do cardápio.

“Nada.” o moreno responde.

“Tem certeza? Você passou a manhã toda calado, quase fugindo de mim.”

Bucky ergue os olhos da receita a sua frente e encara o amigo. Ele ainda se sentia mal por ter acusado Natasha e estar com Steve era um lembrete constante do quanto havia sido idiota.

“Eu não estou fugindo de você, só estou meio preocupado com algumas coisas.” Afirma.

“Sabe que pode contar comigo, certo?”

“Eu sei cara.” Ele dá seu característico sorriso de lado e o loiro retribui.

Eles voltam ao trabalho e por mais que Bucky tentasse fingir normalidade, a reação de Natasha volta e meia estava novamente na sua cabeça.

“Droga!” ele exclama vendo o sangue escorrer por sua mão, sujando o balcão onde estava.

“Rápido, você precisa lavar o corte.” Steve avisa e ambos vão até a pia, onde a torneira é a aberta e mão de Bucky posta embaixo.

“Não me parece que foi profundo, mas acho que vai precisar levar pontos.” Steve fala e acena para um dos ajudantes “Você pode chamar o Sam ou a Sharon, por favor?” pede e o ajudante concorda, saindo em seguida.

“Cara, não precisa disso.” Bucky tenta argumentar. “Foi um corte bobo.”

“Você não pode trabalhar com a mão cortada, correndo o risco de salpicar todos os pratos com sangue.” Steve fala fazendo Bucky revirar os olhos. “Melhor ir a um hospital.”

“O que aconteceu?” Sharon pergunta arregalando os olhos ao ver a mão ensanguentada de Bucky.

“Não gosta de ver sangue?” Bucky pergunta com um sorriso maldoso.

“Você gosta?” a loira devolve fria.

“Sharon você pode levar o Bucky a um hospital? Acho que ele precisa levar alguns pontos.” Steve pergunta ignorando completamente a pequena troca de farpas entre os dois.

“Tudo bem.” Ela concorda. “Vou pegar o carro.” afirma se retirando.

“O que foi isso?” Steve pergunta claramente confuso.

“Ela é problema cara.” Bucky afirma, pega um pano e enrola na mão. “Abre o olho Steve.” Completa e antes que pudesse sair, Steve se coloca na frente dele, interceptando sua passagem.

“Porque está dizendo isso?”

“Durante a festa, enquanto você e a Natasha dançavam a Sharon ficou encarando vocês e quando nós dois fomos dançar, eu dei em cima dela e ela recuou, disse que não mistura vida profissional e pessoal, mas era mentira.” Bucky esclarece.

“Você só está implicando com ela porque levou um fora!” Steve acusa e Bucky bufa irritado.

“Se você acha que sou do tipo de cara que inventa mentiras sobre garotas só porque levou um fora... talvez você não me conheça tão bem assim.” Bucky fala duro e sai, esbarrando em Steve.

Steve suspira frustrado. Porque diabos todo mundo vinha implicando com a Sharon? E pior, será que tinham realmente razão? obvio que ele já havia notado uma coisa e outra, mas optou por ignorar e considera-la apenas uma amiga. Talvez fosse a hora de colocar as coisas em pratos limpos.