Deadly Hunt escrita por Lara


Capítulo 10
Liberdade


Notas iniciais do capítulo

Oii Cupcakes ♥!! Olha só como eu estou surpreendente. Estou atualizando toda semana e ainda hoje trouxe um capítulo enorme para vocês. Depois de muitas ameaças, eu estou tomando vergonha na cara.

Muito obrigada Juliana Lorena, Sweet Princess, Joosy e Lavinia pelos comentários adoráveis no capítulo passado. Espero que vocês gostem desse. Boa Leitura...



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“Posso sentir a magia flutuando no ar

Estar com você me faz ficar desse jeito

Observo a luz do sol dançar pelo seu rosto e eu

Nunca estive arrebatada assim

Todos os meus pensamentos parecem se acalmar na brisa

Quando estou deitada, envolvida nos seus braços

O mundo inteiro simplesmente vai sumindo

A única coisa que ouço são as batidas do seu coração

[...]

De certo modo sei que meu coração está despertando

Enquanto todos os muros vêm abaixo

Nunca me senti assim tão próxima de você

E eu sei, e você sabe

Que não há necessidade de palavras agora”

Breathe – Faith Hill

 

Capítulo IX – Liberdade

 

֎

 

Acordo com uma movimentação incomum em minha cama. Olho para o lado e vejo Ally correr de forma apressada ao banheiro. Preocupado e ainda sonolento, levanto-me e vou em direção a minha esposa. Ao chegar a porta, surpreendo-me ao vê-la vomitando com sofrimento. Desperto-me completamente no mesmo instante e seguro seus cabelos para que ela não se sujasse tanto.

— O que aconteceu, Ally? – Pergunto, angustiado ao ver o quão pálida minha esposa estava. Em resposta, ela apenas resmunga e tosse, vomitando ainda mais. Acaricio suas costas e fico sem saber o que fazer. – Eu irei chamar ajuda.

— Não...precisa. – Fala de maneira fraca. Ela suspira e se apoia no vaso sanitário, parecendo ter feito um esforço além de seus limites. – Eu estou bem.

— Bem? Ally, você está extremamente pálida e acabou de vomitar tudo o que comeu ontem. A última coisa que você está é bem. – Afirmo, sem acreditar nas palavras de Ally.

A morena respira fundo mais uma vez, fechando os olhos, parecendo procurar um pouco de equilíbrio e forças. Ainda fraca, ela tenta se levantar e preciso correr para segurar seu magro corpo, que por muito pouco não vai ao chão. Eu nunca havia visto Ally tão enfraquecida como naquele momento. Com a minha ajuda, ela vai até a pia do banheiro e lava o rosto e a boca.

— Não me olhe assim. Provavelmente foi algo que eu comi. – Responde, dando um fraco sorriso. – Eu só preciso dormir um pouco e logo estarei melhor.

— Ally... – Suspiro, preocupado com a saúde de Ally. A mulher dificilmente fica doente e até mesmo durante a gravidez de Enzo que era bastante complicada, Ally jamais ficou tão mal como estava naquele momento.

— Apenas me leve para cama. Quando amanhecer, eu já estarei melhor. – Afirma Ally, passado seus braços pelo meu pescoço.

Hesitante, pego minha esposa no colo e ela encosta sua cabeça em meu peito, com um sorriso terno em seus lábios. Mesmo que estivesse pálida e fraca, ela já parecia um pouco melhor do que antes. Levo-a para a cama e com cuidado, coloco seu corpo que parecia mais leve que o normal e a observo se aconchegar no travesseiro. Em poucos minutos, ela volta a dormir.

Olho para o relógio sobre o criado ao lado de minha cama e me surpreendo ao ver que ainda eram um pouco mais de três horas da manhã. Suspiro mais uma vez. Depois do susto que tomei, eu não conseguiria mais dormir, preocupado com minha esposa, então apenas me deito ao seu lado e a observo descansar.

Enquanto admirava o rosto sereno de minha esposa e seu evidente cansaço, as lembranças de nosso passado voltavam a minha mente de maneira adorável. Ally e eu passamos por muitas coisas e não foi fácil construirmos nossa união em meio a tantas interferências. Devido as nossas responsabilidades como reis de Krósvia, nem mesmo havíamos conseguido ter nossa lua de mel.

Nós nos casamos jovens e tivemos que enfrentar grandes problemas para colocar o reino no lugar. E foi graças a Ally que Krósvia conseguiu sair da miséria e da destruição pós-guerra e se tornar uma nova superpotência em menos de dez anos. No entanto, suas gloriosas ações trouxeram grandes consequências a nossa vida pessoal. Dificilmente conseguimos um tempo só nosso para namorar e nem mesmo podemos viajar a passeio com nosso filho por mais do que alguns dias. Tudo em pró de nosso povo. Uma situação que jamais imaginei que viveria e aceitaria se me dissessem alguns anos atrás.

E é perdido em pensamentos, enquanto observo minha esposa dormir, que o dia amanhece sem que eu perceba. Diferente do que geralmente acontece, Ally permaneceu dormindo, mesmo que eu tenha me levantado e feito barulho enquanto me arrumava para cumprir meus compromissos do dia, algo incomum para o sono leve de Ally. Incapaz de acordá-la após ter passado tão mal na noite anterior, eu apenas a cubro e desço para a sala de jantar.

O café da manhã é sempre a melhor parte do dia no castelo. Por não ter tido a oportunidade de ter refeições com os pais e o irmão quando era criança, Ally impôs a regra de que todos os dias o café da manhã deve ser feito com todos os parentes e amigos que moram no castelo ou o frequenta todos os dias. Então, a nossa rotina é nos reunirmos na grandiosa mesa de jantar para comer e conversar sobre os planos do dia, o que geralmente nos rende muitas brincadeiras e risadas. São nesses momentos reunidos a mesa, em um dia comum, que eu me torno o mesmo jovem de dez anos atrás que tinha como única preocupação as provas da escola e a banda de rock na qual tocava.

Assim que chego a sala de jantar, percebo que pareciam já ter se levantado, com exceção de Dez, que estranhamente ainda não estava a mesa ao lado de Trish. Até mesmo tia Elena, Bárbara e Enzo, que já estava na mesa devidamente arrumado para as aulas que teria pela manhã no castelo junto com seus primos e amigos, já tomavam café com expressões amenas no rosto.

— Bom dia a todos. – Cumprimento, assim que percebo que todos estavam concentrados demais em suas conversas e em se alimentar para terem notado a minha presença.

— Bom dia, Austin! – Fala Bárbara com um sorriso gentil em seus lábios.

Os outros da mesa me cumprimentam meio sonolentos, nada incomum para meus amigos. Meu cunhado parecia ser o pior de todos e eu quase podia ver em seus olhos que a culpa de seu cansaço era de seu caçula que continuava a acordá-los durante as madrugadas, mesmo com seus quase um ano de idade.

— Bom dia papai! – Cumprimenta, com sua típica animação. – Onde está a mamãe?

— Bom dia filho. – Respondo, dando um beijo no topo de sua cabeça. – Sua mãe não está se sentindo bem e está descansando. Emmy, poderia preparar um café da manhã leve para Ally? Ela vomitou bastante essa noite e parece estar bem fraca.

— Como desejar, Majestade. – Responde a atual governanta do castelo.

— Por que não me chamou? – Questiona Oliver, olhando-me com leve repreensão.

— Você não conhece a minha esposa, mas ela é extremamente teimosa. Ela não quis que eu chamasse ninguém e depois de vomitar, ela parece ter melhorado consideravelmente. – Digo com seriedade. Quem esse cara pensa que é para me dizer o que eu tenho que fazer com a minha esposa? – Além disso, que eu saiba, você é cientista e não um médico.

— Mas...

— Lawrence, peça para que a Dr. Leslie venha ao castelo assim que terminar de tomar sue café. – Peço, interrompendo a fala de Oliver. Lawrence parecia confuso com o que acontecia, então apenas balança a cabeça, concordando.

— Não será necessário, Majestade. Eu posso trabalhar como cientista, mas tenho graduação em medicina. Eu já realizei alguns exames em Ally ontem a noite e hoje mesmo terei os resultados. – Responde Oliver, com sua irritante petulância.

Uma enorme tensão se instala entre nós. Eu realmente não gosto da forma como Oliver trata minha esposa. É evidente que ele a ver muito mais do que como uma rainha, mas Ally é ingênua demais para perceber isso. Vejo Trish, Jade e Manu rirem, enquanto os homens pareciam confusos sobre o que estava acontecendo. As crianças permaneciam alheias a nossa conversa, enquanto terminavam de tomar o café da manhã.

— Vocês começam o dia de maneira agitada, não é mesmo? – Comenta Juliana, a nova aliada de Ally. Ouço um alto suspiro frustrado de Ansel, mais um que havia conhecido ontem e que aparentemente é amigo de longa data de Dez. – Que lindo dia, não é mesmo, lindinho?

— Estava maravilhoso até você aparecer. – Retruca o loiro com um sorriso irônico nos lábios. Observo a cena, confuso. O que ocorre entre esses dois?

Juliana ainda era um mistério para mim. Diferente de Ansel, que conheci um pouco através de Dez, tudo que sei sobre a mulher é que ela é amiga de infância de Lawrence e que é a melhor investigadora que meu braço direito conhece. Com o objetivo de investigar possíveis espiões no reino, Ally havia solicitado a Lawrence alguém de confiança e de habilidades inigualáveis. Por outro lado, algo me dizia que Ally ainda tinha outros planos para a nova espiã do reino. Mais um de seus segredos para a enorme lista de coisas que ela esconde de mim.

— Sempre muito gentil. – Comenta Juliana, lançando uma piscadela para Ansel, enquanto senta de frente para ele. – Bom dia, Majestade. Peço desculpas por ter aparecido tão tarde para o café da manhã.

— Não se preocupe, Juliana. Aproveite o café da manhã. – Respondo, sorrindo para a garota que realmente parece ser tão divertida quanto Ally havia comentado.

— Que falta de educação. – Ouço tia Elena sussurrar e obviamente, assim como eu, todos da mesa escutam o comentário da mais velha.

— O que você disse? – Pergunta Manu, dando um pouco de papinha para o filho mais novo que estava sentado na cadeirinha ao seu lado.

— Manu. – Prince repreende a esposa. Todos nós conhecemos bem o temperamento estourado de minha concunhada. Se ela estiver disposta a entrar em uma briga com minha tia, não há ninguém que a faça sair dela, sem que tia Elena esteja completamente machucada.

— Parece que temos uma nova companhia a mesa. Não irá nos apresenta-la, meu querido sobrinho? – Pergunta tia Elena, passando um pouco de geleia em seu pão. Havia uma certa prepotência em sua voz junto a uma leve repreensão pela minha suposta falta de educação. – Acho que eu tenho direito de saber disso, não é mesmo?

— Elena. – Tio Théo a repreende, insatisfeito com o tom de voz usado pela esposa.

—  O que eu fiz de errado? – Questiona a mulher fazendo-se de vítima. Bárbara revira os olhos diante da atitude da mãe e me lança um olhar arrependido, como se estivesse pedindo desculpas. Sorrio levemente, sabendo que a menina não possui culpa alguma pelo que está acontecendo.

— Oh, desculpe pela minha falta de educação, rainha Elena. É que eu não sabia que Vossa Majestade tinha o direito de saber sobre os assuntos pessoais da rainha Allycia. Eu me chamo Juliana Coleman. Sou uma ajuda extra do rei Austin e da rainha Allycia. Deseja saber de mais alguma coisa? – Pergunta Juliana, com um sorriso divertido em seus lábios.

— Quais são os compromissos de hoje, Lawrence? – Questiono ao loiro, antes que tia Elena tivesse a chance de responder a resposta provocante de Juliana.

— Agora pela manhã, você e a rainha Ally terão reunião com a Tríade Aliança sobre os novos casos de mortes infantis pela bactéria. Em seguida, vocês irão ao novo hospital que foi inaugurado para verificar como anda o funcionamento dessa nova unidade e depois terão um almoço com o Conselho para discutir o orçamento anual de Krósvia e decidi os novos planos de ação para o país. – Responde Lawrence de maneira tediosa. – De tarde sua agenda está programada para passear a cavalo com Enzo e treiná-lo na floresta.

— Eba! Iremos andar a cavalo, não é mesmo, papai? Você prometeu que iriamos hoje. – Relembra meu filho, sorrindo esperançoso.

— Sim, filho. Nós iremos. – Concordo, fazendo Enzo comemorar ainda mais. Sorrio diante da animação do garoto. Não é sempre que consigo um tempo para passar com Enzo, então entendia perfeitamente a animação de meu filho. Eu também estava ansiando a dias por esse momento.

— Faz tanto tempo que não passeio a cavalo. É sempre muito divertido correr com ele pela floresta, Enzo. – Comenta Bárbara, como uma criança sonhadora. – Quando criança, eu amava passear pelo reino, sentindo o vento bater em meu rosto, enquanto observava a paisagem. Uma pena que meu pai não podia ir comigo.

— Por que você não vai com Austin e Enzo? – Propõe tia Elena e Bárbara parece surpresa com a proposta da mãe.

— Não seja boba, mamãe. Eu não posso simplesmente atrapalhar o passeio entre pai e filho. – Responde Bárbara, rejeitando a ideia da mãe.

— Ainda bem que você sabe. – Comenta Trish, sorrindo com ironia.

— E o que tem demais ela ir junto? Minha filha só quer andar um pouco a cavalo e me preocupa que ela vá sozinha. – Retruca tia Elena e Bárbara bufa, irritada.

— Mamãe! Pare com isso. – Pede Bárbara, envergonhada. – O Enzo quer ir sozinho com o pai dele. Certo Enzo?

— Sim. Eu não quero ir com você. Eu quero ir só eu e meu pai. – Afirma Enzo, fazendo Jade, Manu e Trish segurarem o riso. Fico envergonhado pela resposta sincera e, de certa forma, mal-educada de meu filho. Tia Elena o olha insatisfeita e Bárbara parece ficar ainda mais sem graça. – Queria que a mamãe fosse também, mas ela disse que não pode ir. E o papai falou que ela está doente. Toda vez que eu estou doente, mamãe diz que eu tenho que ficar de cama. Então, ela tem que ficar deitada.

— Enzo! – Repreendo meu filho, sorrindo envergonhado. – Não diga isso. A Bárbara é nossa convidada e uma dama. Nós devemos ser cordiais e oferecer uma boa hospitalidade e experiencia para ela.

— Mas... – Resmunga o garoto, olhando triste para mim. Permaneço com meu olhar duro e ele parece finalmente aceitar a minha decisão. – Tudo bem.

— Não se preocupe, Austin. Minha filha está certa. É um momento pai e filho. Ela não deve se meter. – Afirma Théo, sorrindo agradecido. – Não quero que minha filha seja um incomodo em seu passeio.

— Bárbara jamais seria um incomodo. Eu gosto da companhia da minha priminha e acho que Enzo também vai se divertir bastante. Andar a cavalo pela floresta sozinha em um país diferente do seu pode ser perigoso, então tia Elena tem razão em se preocupar. – Respondo com sinceridade. – Sua companhia será bem-vinda ao nosso passeio, Bárbara.

— Você tem certeza disso? – Questiona Bárbara de maneira preocupada. Ela realmente parecia hesitante em aceitar minha oferta.

— Claro que sim! – Respondo, feliz por saber que Bárbara puxou a personalidade agradável de seu pai.

— Então eu irei aceitar a sua proposta. – Afirma Bárbara, sorrindo gentilmente.

— Seja cuidadosa, Bárbara. – Pede tio Théo, atento aos gestos e comportamento de sua filha.

— Eu serei, papai. – Promete a garota, dando um sorriso sincero ao pai. – Eu prometo que serei.

— Então estamos decididos. – Digo, recebendo a alegria de meu filho como minha maior recompensa.

— Papai! – Grita Tommy, de repente, ao ver o pai de longe.

— Bom dia a todos. – Cumprimenta Dez, finalmente aparecendo na sala de jantar. Ele beija os lábios da esposa e bagunça o cabelo de Tommy, que ri com o carinho do pai. Dez acaricia o rosto de Ian que dormia no carrinho ao lado de Trish e depois se vira para mim, esboçando um sorriso preocupado incomum de seu comportamento. – Onde está Ally?

— Você parece meio aflito. O que houve? – Pergunto, estranhando o comportamento de meu melhor amigo.

— Alguns problemas. – Admite, sorrindo forçado. – Onde está Ally? – Repete a pergunta que havia feito.

— Não está se sentindo bem e está deitada. – Respondo, tentando entender o que havia ocorrido para deixar meu amigo tão agitado. Ainda que seu rosto expressasse calma, seus olhos estavam inquietos. Algo de ruim havia acontecido.

— Nós precisamos conversar. – Afirma o ruivo, sorrindo culpado. – Sei que ainda estão tomando o café da manhã, mas será que poderíamos realizar uma reunião nesse momento. Não tenho notícias muito favoráveis.

Desvio o olhar de meu melhor amigo para meu tio que balança a cabeça concordando. Todos os outros se levantam no mesmo instante. Se Dez desejava uma reunião com tanta urgência, com certeza as coisas estavam um pouco fora de nosso controle. No geral, por conhecer bem Ally e eu, nós dávamos total liberdade para que o ruivo tomasse atitudes por conta própria. Mas dessa vez, parecia ser diferente.

— Claro. – Concordo. – De quem você vai precisar?

— Você, rei Théo, Prince, Juliana, Lawrence, Manu, Oliver e Ally. – Responde Dez de maneira objetiva.

— Tudo bem. – Afirmo, pensando no que deveria fazer. – Trish e Jade, cuidem das crianças e as levem para as aulas. E quando possível, avisem a Tyler que preciso que ele compareça a Füssen o mais breve possível. Ansel, continue a fazer as pesquisas que estava fazendo com Oliver para encontrar a vacina para parar a bactéria.

— Claro! - Trish e Jade assentem, concordando com as minhas ordens, enquanto começam a descer as crianças de suas cadeiras.

— Como desejar, Majestade. – Concorda Ansel, tomando um último gole de seu café antes de seguir para o laboratório em que estava sendo realizado as pesquisas.

— Papai, nós ainda iremos cavalgar? – Pergunta Enzo de forma ansiosa. – Você prometeu, papai.

— Nós iremos sim, filho. Prometo que depois do almoço nós iremos sair para cavalgar juntos pela floresta. – Respondo, bagunçando o cabelo de Enzo em um afago carinhoso. Dou um beijo em sua testa e sorrio tentando transmitir um pouco mais de confiança ao garoto. – Até mais tarde filho.

— E quanto a nós duas? – Pergunta tia Elena, encarando-nos com intensidade. Bárbara também parecia querer nos ajudar de alguma forma.

— Apenas façam o que tiveram vontade. Eu estarei de volta na hora do almoço e poderemos ir andar a cavalo assim como prometido, Bárbara. – Respondo e a mais nova balança a cabeça, concordando e dar um sorriso fraco e compreensível.

— Até breve. – Despede-se Bárbara, acenando de maneira rápida.

— Vamos. – Digo aos outros que permaneciam esperando para que fossemos para a sala de reuniões do castelo.

Assim, seguimos com passos apressados até o segundo andar, onde somos surpreendidos pela aparição de Ally. Apesar de ainda está pálida e visivelmente cansada, minha esposa portava sua máscara de ferro de mulher indestrutível. Eu a conhecia o suficiente para saber que ela não ficaria de maneira nenhuma na cama, mesmo que não estivesse se sentindo bem.

— Ally! O que está fazendo de pé? Austin disse que você passou mal a noite e que estava descansando. – Fala Prince, preocupado com a irmã mais nova.

— Eu estou bem, Prince. Foi apenas alguma coisa que eu comi que não me fez bem. – Responde e nos encara de maneira desconfiada. – Para onde estavam indo e por que essas caras de preocupação?

— Vamos para a sala de reunião. Nós temos um assunto importante para tratar. – Afirma Dez, encarando minha esposa com intensidade. A rápida troca de olhares entre os dois parece ser o suficiente para Ally entender que algo de grave havia acontecido.

— Tudo bem. – Concorda, começando a andar na direção contrária a que havia vindo.

Assim que chegamos a sala de reuniões, Dez e Lawrence ligam os computadores e começam a conversar entre eles, enquanto arrumavam tudo o que meu melhor amigo precisava para começar a reunião. Todos nós estávamos apreensivos e aguardávamos ansiosos por respostas. Por outro lado, eu também estava preocupado com a saúde de Ally e parecia que eu não era o único, visto que Oliver também não parava de encarar.

— Eu estou bem. – Afirma Ally, parecendo ler meus pensamentos. Ela se vira para mim e sorri com doçura, enquanto entrelaça seus dedos no meu. – Foi apenas um mal-estar passageiro.

— Você comeu? – Pergunto, colocando uma mecha de seu cabelo para atrás da orelha, observando os olhos de minha esposa com atenção.

 -Sim. Emmy me trouxe chá, frutas e um pão com geleia. Eu já me sinto bem melhor. – Responde, encostando seu rosto na mão em que eu acariciava seu rosto.

— Bom dia. Infelizmente não trago notícias agradáveis. – Começa Dez, chamando a atenção de todos. Ele mexe na mesa digital da sala e expõe algumas matérias que parecem ter sido recentes. – Um pouco mais de uma hora atrás, a cidade de Boise sofreu um misterioso ataque que levou a morte de vinte pessoas e outras cem ficaram feridas. Todos os soldados vestiam roupas pretas e uma toca de mesma cor cobrindo seus rostos. A princípio, desconfiou-se que se tratava de um ataque terrorista, mas eles atacaram os cidadãos com metralhadores e forte armamento militar indo em direção ao Museu Nacional de Boise, que fica no centro da Cidade de Boise.

— Alguma ideia de quem possa ter feito isso e o objetivo de ter atacado a Cidade de Boise? – Pergunta tio Théo, arrumando sua postura na cadeira em que estava sentado.

— Nenhuma suspeita até agora. – Afirma Dez com seriedade. – A polícia ainda está investigando e até o momento estão tentando socorrer as vítimas desse ataque. Ainda não sabem dizer como eles entraram na cidade e saíram sem que tenham sido pegos. A verdade é que tudo ainda é um grande mistério.

— Isso não faz sentido algum. Boise sempre se manteve neutro a conflitos e guerras. Até mesmo quando quase toda a Europa entrou na guerra dez anos atrás, eles se mantiveram afastados e apenas nos ajudaram a reconstruir o país porque Ally teve um grande poder de persuasão e convenceu ao rei. – Relembra Prince, pensativo. Todos concordam, estranhando esse ataque misterioso ao país conhecido por sua neutralidade. – Não há motivos para ela ter sido atacada de forma tão brutal e tão de repente.

— Talvez o que Dez vai revelar agora possa fazer vocês mudarem de opinião. – Responde Lawrence, colocando outra imagem na tela.

— Como vocês sabem, com o fim da guerra, Ally assinou um tratado de paz com todos os países que participaram. Tanto inimigos quanto aliados se reuniram em Boise, o país neutro e colocaram um ponto final em nossas diferenças. Ou ao menos foi isso que tentamos fazer. Para celebrar esse tratado de paz e a vitória sobre as diferenças e mal-entendidos, o quadro Bratstvo foi criado com a imagem de um cavaleiro lutando pela paz da humanidade e se tornou o símbolo da união de Krósvia e a Europa. Mas, como podem ver, o quadro foi roubado durante esse ataque e um bilhete foi deixado em seu lugar. – Revela Dez, surpreendendo a todos.

— “Prepare-se, rainha Allycia, a caçada mortal está apenas começando e você será a primeira a ser destruída junto a essa sua falsa ideologia de mundo perfeito. Isso é apenas o início da guerra que está por vir. Krósvia vai experimentar de perto a destruição de seu povo. Seja pela a bactéria ou pelas lutas, Krósvia será dizimada”. – Ally ler o bilhete que foi exposto no museu no lugar do quadro roubado. – Ao menos nós já temos uma pista. Com certeza, quem está por trás desse ataque pretende me prejudicar.

— Você não parece surpresa com isso, Ally. – Comenta Manu, observando a cunhada com atenção.

— Eu não pedi que Lawrence trouxesse uma pessoa de confiança sem qualquer motivo. – Responde minha esposa, dando um sorriso cansado. – Lawrence e Dez vêm registrando a presença de algumas pessoas intrusas nas periferias de Füssen. Atividades suspeitas demais para o padrão dos moradores dessa região. Além disso, ontem também ocorreu um ataque muito incomum. Uma criança e um cachorro receberam diversos tiros sem qualquer explicação. Um verdadeiro crime de ódio e ninguém sabe dizer de onde os tiros saíram e nem porque atiraram em criaturas tão inocentes.

— E o que você pretende fazer, Ally? – Questiona meu tio, curioso. Ele parecia realmente surpreso por Ally já ter se preparado para um possível ataque como esse.

— Infelizmente, por causa do Tratado de Boise, eu não tenho jurisdição para realizar uma investigação oficial nos países que participaram da guerra há dez anos. O Conselho de Krósvia e a ONU não permitiriam que eu iniciasse um conflito por apenas especulações. Então, Juliana ficará responsável pela investigação desse ataque. Infelizmente, Lawrence já não é mais um desconhecido e todos já sabem que ele está ao nosso lado. – Responde Ally com sua expressão típica de quando se torna a estrategista genial. O lado mais sombrio e perigoso de Ally que eu mais admiro. -  Assim que eu tiver alguma resposta de quem está por trás desse ataque, somente nesse momento eu poderei agir. Até lá, eu estou de mãos atadas. O governo de Boise não deve demorar a me procurar também. Com esse bilhete de ameaça direcionado para mim, as coisas se tornam um pouco mais claras sobre as intenções por detrás desse ataque repentino.

— Existe alguma coisa que nós possamos fazer, Ally? – Pergunta Oliver com seriedade.

— Quais são as chances dessa bactéria ter sido manipulada em laboratório, Oliver? – Questiona minha esposa, pensativa. – No bilhete diz que Krósvia irá experimentar a destruição seja pela guerra ou pela bactéria.

— Com sinceridade? As chances são grandes. O comportamento dessa bactéria é diferente e ao mesmo tempo igual a de outras com as quais eu já trabalhei. Em especial, esse fator de atingir apenas crianças. Eu acredito que ela possa ser a mistura de outras bactérias e se isso for comprovado, ela pode sim ter sido manipulada em laboratório. Atualmente, essa bactéria tem tido algumas características das bactérias que causam pneumonia, meningite e septicemia. Todas bactérias gram-positivas e que possuem alguns sintomas semelhantes, mas que atingem pontos específicos de cada doença. Essa nova bactéria atinge os mesmos pontos que essas doenças em questão de dias. É como se fosse a junção dessas bactérias de uma forma ainda mais letal. – Explica Oliver, expondo a gravidade da situação. – Ansel e eu ainda estamos investigando e estudando essa bactéria. A cada novo experimento realizado com ela, mais pistas eu descubro para a origem dela e maneiras para solucioná-la.

— Continue o bom trabalho e nos mantenha informados sobre as novas descobertas. Quanto mais cedo descobrirmos sobre essa bactéria, menor será sua destruição sobre a humanidade. – Responde Ally, suspirando cansada em seguida. – Há mais alguma coisa que nós precisamos saber, Dez?

— Não. Mas recomendo nos prepararmos para um segundo ataque. Eles citaram início de uma guerra e uma caçada mortal. – Responde o ruivo com sinceridade.

— Devemos aumentar a nossa segurança no país e treinar nossos soldados para uma provável guerra. – Recomenda Lawrence, concordando com a linha de pensamento de Dez.

— Talvez seja uma boa hora para reavaliarmos nossos abrigos. Com a bactéria se espalhando também, locais para instalar as crianças infectadas pode evitar que a contaminação seja maior. – Sugere Prince, olhando para a irmã com seriedade.

— Eu concordo com eles. Medidas preventivas nunca são demais. Não sabemos quem está por trás de tudo isso. E se eles foram capazes de agir durante o dia em uma cidade tão segura quanto Cidade de Boise, devemos ficar em alerta. Eles com certeza não têm medo de nos atacar. – Fala tio Théo, relembrando desse ponto importante.

— Alguém tem mais alguma ideia? – Pergunto, observando os presentes na sala. Manu balança a cabeça, parecendo cogitar se deveria falar ou não. – Manu?

— Alguns dias atrás, eu ouvi boatos pela cidade de que alguns armamentos estão chegando a Krósvia de maneira clandestina e sendo repassado para outros países. Pode ser que não tenha nada a ver com isso, mas se vocês permitirem, eu gostaria de investigar isso. – Manu pede autorização, parecendo realmente desconfiar que as duas notícias têm alguma ligação.

— Faça como achar melhor. – Concordo, sabendo que dificilmente Manu erra quando sua intuição fala mais alto.

— Obrigada. – Agradece, dando um leve sorriso.

— Já que todos estão de acordo com o que foi levantado aqui, acho que já está na hora de agirmos. Com exceção de Manu que vai investigar esses casos da entrada de armamentos no país, nós iremos nos focar na bactéria e em um possível futuro ataque. Dez e Lawrence, eu quero que vocês preparem nossos homens para lutas tão severas quanto as que tivemos na última guerra, mas garantam que a população não desconfie do perigo que estamos correndo. Procurem treiná-los de madrugada ou à noite na floresta. Oliver, continue as pesquisas e se precisar de algo, avise-me, por favor. Austin, Théo, Prince e eu nos encarregaremos de verificar os abrigos para refugiar vítimas de catástrofes e de construir locais apropriados para cuidar de crianças que possam contrair a bactéria. – Orienta Ally, colocando-se de pé. Ela fraqueja um pouco, mas se apoia em mim e respira fundo antes de continuar. – Juliana, quero que descubra quem atacou Boise e onde eles estão. Preciso dessa informação para ontem. E não se esqueça de manter tudo em sigilo. – Ela se vira para os nossos outros amigos. – O mesmo vale para todos aqui presente. Não quero que nada do que foi conversado aqui saia dessa sala. É de suma importância que assuntos que envolvam espionagem fique apenas entre nós, caso contrário, isso pode custar a vida de todos aqueles que conhecemos. Se eu descobrir que alguém além de nós sabe disso, serei obrigada a acusá-los por traição ao trono, independente de quem seja. Estejam cientes das consequências de suas ações.

Após todos concordarem com o sigilo sobre as informações cada um foi realizar a tarefa resignada por Ally, como exceção de nós dois. Ela ainda estava fraca, mesmo que tentasse não demonstrar.

— Por que não volta para a cama? – Proponho, enquanto andávamos até o nosso escritório.

— Porque eu já estou bem e porque você prometeu passear com Enzo hoje. – Relembra, sorrindo levemente. – Nosso pequeno está esperando por esse passeio há dias. Não pode simplesmente desmarcar com ele mais uma vez. Ele vai ficar muito decepcionado com você.

— Eu odeio quando você é teimosa e ainda tem razão. – Brinco, arrancando um sorriso mais largo de Ally. – Tudo bem. Enzo realmente não merece isso. Mas me prometa que você não vai se esforçar demais. Eu te conheço, Ally. Você me dizer que está bem e demonstrar isso para todo mundo, mas eu sei que você ainda está se sentindo mal. Peça para Dez ou Prince cuidar de tudo. Você sabe que eles são capazes.

— Eu sei. Mas existem coisas que somente eu ou você podemos fazer. Não há como mudar isso. São nossas responsabilidades como reis e você sabe disso. E eu não posso me afastar do governo enquanto não tivermos essa situação sob controle. Não podemos repetir o mesmo que aconteceu na última guerra, quando minha mãe e meu pai ainda eram vivos e o povo ficou na mão do Conselho. – Responde minha esposa, suspirando em seguida. Ela cumprimenta alguns guardas que estavam na porta cuidando da vigilância. Eles abrem a porta e nos reverenciam.

— Obrigado. – Agradeço e seguimos para dentro da sala. – Podem deixar a porta aberta. Eu já estou de saída.

— Como desejar, Majestade. – Responde um dos guardas, quando eu o impeço de fechar a porta.

— Eu já vou indo, Ally. Já que você não está em condições, eu irei realizar os compromissos que teríamos pela manhã sozinho. Depois irei andar a cavalo com Enzo e Bárbara. – Aviso, dando um beijo em sua testa.

— Bárbara? O que ela vai ir fazer com vocês? – Questiona Ally, em claro sinal de insatisfação.

— Ela está querendo andar a cavalo, Ally. Fiquei com pena dela ter que ficar presa aqui no castelo. Enzo também concordou que ela pode ir. – Respondo, tentando convencer minha esposa a não proibir a ida de Bárbara. Tudo o que menos estou querendo hoje é estressá-la, então se ela não concordar, terei que impedir Bárbara de ir. – Ela está mesmo querendo ir. Tinha que ver o brilho nos olhos dela quando eu perguntei se ela queria ir. Mesmo dizendo que não queria nos atrapalhar, assim que Enzo concordou, ela se animou.

— Eu não sei dizer se você é ingênuo ou cego. – Responde a morena, parecendo não acreditar em minhas palavras. Suspiro, já esperando um início de uma discussão. – Eu nem estou com cabeça para lidar com isso. Faça como quiser, mas mantenha essa garota longe de Enzo.

— Ally... – Começo a falar, mas ela me encara de forma feroz.

— Você me ouviu, Austin? Se Bárbara sequer ousar olhar para Enzo ou triscar nele, eu juro que você vai sofrer grandes danos. – Se eu não estivesse com medo do olhar assustador de Ally e do tom de voz mortal de minha esposa, eu com certeza teria rido de suas palavras. Ally não estava brincando. Ela seria capaz de me matar se eu não fizesse o que ela estava pedindo.

— Tudo bem. Não precisa se estressar. Eu não vou sair de perto de Enzo, se é isso que te preocupa. – Concordo, ainda perplexo com a fúria de minha esposa.

— Certo. – Ally respira fundo e me olha com mais suavidade. – Divirta-se e garanta que Enzo também possa aproveitar o passeio. Eu te amo.

— Eu também te amo. – Declaro, beijando seus lábios com carinho.

Depois de realizar todos os compromissos da parte da manhã, volto para o castelo e almoço com as crianças do castelo, Jade, Trish, Manu, Bárbara e com a tia Elena. Os outros estavam ocupados demais com suas tarefas para aparecerem, algo bastante comum em nossa rotina. Assim que estamos satisfeitos, Enzo, Bárbara e eu vamos para o estábulo do castelo pegar nossos cavalos para cavalgar.

O passeio não seria muito longo, até porque estava preocupado em deixar tudo nas mãos de Ally quando na verdade ela precisava estar descansando. No entanto, assim como ela havia dito, eu precisava fazer Enzo aproveitar o passeio. Diferente da realidade que a mãe dele viveu quando criança, eu quero ser amigo de meu filho e garantir que ele possa mesmo aproveitar sua infância.

— Vocês estão prontos para terem o melhor passeio da vida de vocês? – Pergunto, assim que Enzo está devidamente protegido e firme em cima de meu cavalo.

— Com certeza. – Responde Bárbara, montando com maestria em seu cavalo.

— Oba! – Comemora Enzo, assim que subo no cavalo que ele estava. – Nós vamos andar de cavalo!

— Segure firme nas rédeas. – Oriento meu filho, que balança a cabeça, concordando. Ele sorri largamente, ansioso pela emoção de cavalgar. -  Lawrence, eu não demoro a voltar. Se acontecer alguma coisa, peça para que um dos guardas me avisem imediatamente. Nós estaremos na Floresta Negra.

— Não se preocupe, Austin. Está tudo sob controle. Aproveitem o passeio. – Deseja o loiro, sorrindo. Ele se vira para os guardas que estavam na saída do estábulo. – Abram os portões!

Com o pedido de Lawrence, os dois homens começam a abrir os pesados portões de saída que davam direto ao caminho para a floresta, dessa forma, não precisaríamos nos preocupar em atravessar a cidade. Infelizmente, para nossa segurança, o passeio seria realizado com outros três homens de Lawrence que cuidariam da vigilância e agiriam no caso de algum ataque surpresa.

Quando enfim os portões estão completamente abertos, Bárbara, os guardas e eu começamos a cavalgar para fora do castelo. O sol brilhava de maneira tímida no céu, escondido por algumas nuvens, mas ainda era de algum conforto para nós que estamos no início do inverno.

Cavalgávamos em velocidade moderada, observando a bela paisagem do alto de Füssen. Enzo gritava e ria a cada vez que passávamos por algum obstáculo. Ele estava adorando o passeio. Já Bárbara corria por entre as árvores, parecendo treinar suas habilidades. Seus olhos brilhavam e ela parecia estar aproveitando o vento gélido atingir seu rosto alvo. Era como se ela fosse a própria personificação da liberdade naquele momento.

Depois de quase uma hora cavalgando pela floresta, chegamos a cachoeira da Floresta Negra. Era um lugar muito bonito e silencioso, excelente para colocar a cabeça no lugar e se livrar do estresse de minha rotina corrida e sobrecarregada. Enzo já havia caído no sono, então precisei da ajuda de um dos guardas para descer com ele e deixar o cavalo descansar um pouco.

— Esse lugar é maravilhoso. – Comenta Bárbara, acariciando o cavalo que estava cavalgando instantes antes.

— Eu sempre venho aqui quando passeio pela Floresta Negra. Eu me sinto recuperado com essa quietude e a paz que essa paisagem me transmite. – Respondo, colocando Enzo no pano estendido na grama, próximo das margens do rio. Eu o deixaria descansar um pouco antes de partirmos. Sento-me ao lado de meu filho e começo a observar a queda d’água da cachoeira.

— Eu acho que entendo bem o que quer dizer. Eu com certeza me sinto muito mais tranquila agora. – Afirma a garota, sentando-se ao meu lado. – Obrigada por me trazer. Não é sempre que tenho a oportunidade de me sentir tão livre. Geralmente meus pais me prendem demais no castelo. Eu entendo que é para a minha segurança, mas às vezes eu só queria ser uma jovem comum, com uma vida comum.

— Eu já tive uma vida comum por dezoito anos. – Respondo, rindo um pouco. – Acredite em mim, é ainda pior quando você já vivenciou essa experiencia.

— Como era viver em Miami? Meus pais me disseram que seus pais esconderam de você sua origem depois que perderam o trono de Serafine e que se refugiaram nos Estados Unidos. Eu sempre me perguntei como você se sentiu quando de uma hora para outra descobre que tem uma noiva e que é deve assumir o trono de um país tão grandioso quanto Krósvia. – Pergunta a garota, encarando-me com curiosidade. – Se você não quiser responder, não tem problema. – Ela cora um pouco ao ver a minha surpresa com sua pergunta.

— Não tem problema. – Afirmo, divertindo-me com a espontaneidade de minha prima mais nova. – Na verdade, acho que tudo aconteceu rápido demais para que eu pudesse ao menos sentir o impacto. Eu fiquei chateado por estar envolvido em um casamento arranjado e por meus pais esconderem meu passado de mim, mas não tive tempo para sofrer. Uma guerra estava para acontecer e eu tive que amadurecer. Se não fosse por Ally, eu provavelmente teria agido mais uma vez como um rebelde sem causa, algo bem comum de minha parte.

Eu me apaixonei por Ally e sua força. Ela sempre foi incrível e ainda que naquela época ela fosse extremamente insegura, Ally já possuía o dom para liderar. Com seu jeito meigo e tímido, ela conquistou a mim e a meus amigos. Diversas vezes ela tentou nos proteger e nos afastar dessa loucura que vivo hoje em dia, mas todos nós estávamos dispostos a morrer por sua causa. Infelizmente, Dallas e Cassidy, dois amigos muito queridos, não conseguiram sobreviver a guerra, mas tenho certeza que onde quer que eles estejam, estão orgulhosos por suas mortes não terem sido em vão. – Conto, relembrando com pesar daqueles de quem eu sentia tanta falta. – Eu sinto falta daquela época. As pessoas têm razão quando dizem que a ignorância é uma bênção.

— Por que diz isso? – Pergunta a garota, atenta a minha história.

— Acredite se quiser, eu era cantor e sonhava em me tornar famoso no mundo todo com a minha música. O que eu não esperava era que me tornaria famoso por governar um país poderoso na Europa. – Digo a Bárbara, sem evitar sorri fracamente pela ironia da vida.

— Você era cantor? Disso eu não sabia. – Bárbara parecia surpresa com a minha revelação.

— Eu tinha uma banda e tudo! – Exclamo animado ao relembrar de meus companheiros. Ainda que Elliot também viesse as minhas memórias, eu ainda me lembrava com carinho de cantar com aqueles caras. – Mark, Kelvin, Jason, Pablo, Elliot e eu. Éramos ótimos juntos.

— E o que aconteceu? Quer dizer, você assumiu o trono como rei de Krósvia logo depois de casar com Allycia. E como ficou a banda? – Pergunta Bárbara, interessada.

— Bom, depois que eu tive que lutar na guerra e descobri que Elliot era um espião. Ele acabou morrendo e eu também não tinha como deixar de lado o fato de que eu precisava assumir a responsabilidade como rei. Mas meus amigos seguiram na carreira musical. Eles formaram uma nova banda somente com Mark, Kelvin, Jason e Pablo. Sonic Boom, em homenagem a loja de meus pais onde ensaiávamos todos os dias para nos tornarmos os melhores. Você já deve ter ouvido falar deles. – Bárbara balança a cabeça, concordando. Ela parecia surpresa que eu já tinha tocado com eles. – Uma vez por anos eles vêm a Krósvia para se apresentar e passar alguns dias com a gente. Eles adoram a Ally e o Enzo.

— Uau! Isso é incrível! Devia ser demais poder tocar e ter a liberdade de ser uma pessoa comum, com sonhos. – Bárbara suspira, sonhadora. – Você deve ter sofrido muito.

— Demais. Apesar de não me arrepender do que fiz, também não foi fácil abandonar a minha vida. Nós só entendemos o que realmente é a liberdade quando a perdemos. Mas para Ally também não foi fácil. – Respondo, dando de ombro. – Para nenhum de nós dois foi fácil.

— Mas com certeza para você foi mais difícil. Quer dizer, não me leve a mal, mas Allycia viveu a vida toda em um castelo. Cresceu ciente de que iria assumir a responsabilidade como rainha de Krósvia. Você não. Você era só um cara comum que teve que aprender da noite para o dia o que é ser um rei. Se pararmos para pensar, quem saiu com a maior vantagem e, de certa forma, ganhando nessa história foi ela. – Fala a garota, sorrindo compreensiva. Ela pega em minha mão e me olha com carinho. – Eu realmente te admiro muito. Admiro que tenha sido capaz de amadurecer tanto e se tornar um rei tão bondoso e forte como você é. Acho que as pessoas deveriam valorizar mais isso em você.

— Você acha isso mesmo? – Pergunto, surpreso com as palavras de Bárbara.

— Claro. – Concorda, sorrindo docemente. Ela aperta mais um pouco a minha mão, tentando transmitir confiança. – Eu posso estar enganada, mas pelo pouco que eu pude observar, Allycia não valoriza você como deveria. Ela é tão desconfiada que não acredita nem mesmo no próprio marido. Mas eu acho que até a entendo. Ela já passou por muita coisa antes de se tornar rainha.

— Bom, mesmo assim, eu sempre estive ao lado dela. Então ela deveria confiar um pouco mais em mim. – Revelo, um pouco frustrado. Parece que não sou somente eu que vejo que Ally não confia em mim.

— Ela um dia vai perceber que você é um homem incrível, Austin. – Afirma Bárbara com sinceridade.

A garota parecia ter confiança em suas palavras e pela primeira vez na vida eu me sentia compreendido. Eu sabia que a culpa não era de Ally e nem de meus amigos. Eles apenas não entendem como eu me sinto, porque não estão em meu lugar. Mas Bárbara entende. Ela é uma jovem que foi privada de sua liberdade e que só queria ser feliz, assim como eu já fui um dia.

— Papai? – A voz fraca de Enzo, desperta-me de meus pensamentos. Desvio meu olhar de Bárbara para o garotinho ao meu lado que finalmente parecia ter acordado. Bárbara parece notar que ainda segurava minha mão e a solta no mesmo instante, envergonhada.

— Oi filho. Finalmente acordou? – Cumprimento o garoto, beijando o topo de sua cabeça. Ele se joga sobre meu tórax e me abraça com força. – Ainda está com sono? – Questiono e ele balança a cabeça, concordando, enquanto parecia lutar contra o sono que sentia. – Acho melhor irmos para casa. Sua mãe não está bem e já está ficando tarde.

— Pobrezinho. Ele deve estar cansado depois de ter se divertido tanto. – Comenta Bárbara se levantando. – Você quer ajuda para colocá-lo no cavalo?

Cogito se deveria aceita a ajuda de Bárbara, mas relembro das palavras de minha esposa e decido que era melhor não me arriscar. Não há nada que minha esposa não descubra quando ela desconfia de algo.

— Não precisa. Ele está pesado. Os guardas podem me ajudar. – Afirmo, sorrindo sem graça.

— Tudo bem. – Concorda Bárbara, estranhando minha resposta. Por sorte, ela não insiste muito no assunto e começa a arrumar a toalha em que estávamos sentados assim que pego Enzo no colo.

A volta para casa foi tranquila e mais lenta. Como as estradas são repletas de buracos e pedras, se fossemos rápidos demais, Enzo acabaria caindo e se machucando. Em cerca de uma hora e meia depois, nós chegamos ao castelo. Já começava a ficar mais frio e em breve o sol iria se pôr. Diferente da hora de entrada, somente os guardas nos recepcionam.

Após guardar os cavalos, seguimos para dentro do castelo. Logo na entrada, vemos Eric, Kathy e Liz brincando com Tommy e Diana. Era adorável como eles se divertiam com coisas tão bobas quanto bonecas e carinhos. Resolvo não atrapalhar a diversão deles e vou para o segundo andar, onde Trish, Jade e Manu deveriam estar com os mais novos.

— Boa tarde. – Cumprimento, assim que entro no fraldário do castelo.

— Oi Austin. – Responde Jade, sorrindo. Assim que nota a presença de Bárbara, ela volta a ficar séria. – Olá Alteza Bárbara.

— Boa tarde, Jade. Pode me chamar somente como Bárbara. Eu não me importo muito com títulos. – Responde, sorrindo sem graça.

— Enzo deve ter se divertido bastante no passeio. – Comenta Trish, olhando com doçura para o garoto em meus braços. Ela entrega Ian a Jade e vem ao meu encontro para pegar Enzo no colo.

— Sim. Ele amou cavalgar. – Concordo, sorrindo, enquanto coloco Enzo com cuidado em seu colo. – E onde está Ally?

— No laboratório. Ela ficou se sentindo mal o dia todo, mas agora a pouco seu estado piorou e achamos melhor levá-la a Oliver para ele ver o que está acontecendo. – Responde Manu, preocupada, enquanto dá de mamar para Peter. – Ela estava tão fraca. Acho que eu nunca a vi tão pálida como estava.

— Droga! E por que ninguém me avisou? – Resmungo, ansioso para saber do estado de saúde de minha esposa.

— Como se você não conhecesse sua esposa. Ela não deixou, obviamente. Não queria que atrapalhássemos o passeio pai e filho que você estava tendo com Enzo. – Responde Jade, suspirando enquanto brinca com Ian.

— Eu vou ver como ela está. Cuide de Enzo para mim, por favor. – Peço a Trish, que sorri e concorda.

Saio tão apressado do fraldário, que nem mesmo me lembro da existência de Bárbara. Somente quando ela começa a gritar meu nome é que paro de correr e a encaro confuso. Ela respira com dificuldade para recuperar o fôlego e me lança um sorriso cansado.

— Eu vou com você. – Avisa a garota, assim que se acalma.

— Tudo bem. – Concordo e volto a andar.

Em poucos minutos estamos no andar subterrâneo do castelo, onde é usado para realizar os experimentos. Bárbara tenta conversar comigo algumas vezes, mas eu só queria ver a minha esposa, saber se ela está realmente bem. Quando enfim chegamos em frente ao laboratório, respiro cansado.

— Austin, talvez seja melhor esperar que Oliver termine de realizar os exames em Ally. Não adianta nada ficarmos em cima dele, pressionando-o. -  Sugere a garota, parecendo preocupada.

— Não diga bobagens. Ally é a minha esposa. A mesma mulher que jurei diante de Deus que ficaria ao lado dela na saúde e na doença. Se ela não está se sentindo bem, é meu dever como marido ficar ao seu lado. – Respondo e logo me arrependo por ter sido tão duro com Bárbara. – Desculpe Eu realmente quero ver a Ally.

E sem esperar por respostas de Bárbara, abro a porta e me surpreendo com uma cena que não me agrada de forma alguma. Ally chorava em silêncio, enquanto Oliver a abraçava. Ela apenas permanecia parada, parecendo em choque. Meu sangue esquenta na mesma hora. Por que aquele idiota está abraçando a minha esposa? Por que ela está chorando?

— O que está acontecendo aqui? – Pergunto friamente, fazendo Oliver e Ally me encarar.

— Austin? – Ally sussurra fracamente.

— O que você está esperando para soltar a minha esposa? – Questiono Oliver, dando ênfase de que Ally já tem alguém.

— Ally não estava se sentindo emocionalmente bem e eu estava apenas dando apoio. – Responde Oliver, sem se afastar da morena.

Entro no laboratório e esbarro de propósito em Oliver para que ele saísse de perto de Ally. Minha esposa suspira e levanta o olhar. Assim como Manu havia dito, ela estava extremamente pálida. Havia uma bolsa de soro ligada ao seu braço, provavelmente para dar um pouco mais de forças a minha esposa.

— O que houve Ally? – Pergunto, limpando algumas lágrimas que haviam em seu rosto. – O que esse maldito te falou?

— Ele não fez nada, Austin. – Responde de maneira fraca. Ela olha para Oliver e depois me encara, forçando um sorriso. - Eu só estava sentindo um pouco de dor de cabeça e acabei chorando. Como já tomei remédio, a única coisa que eu posso fazer é ser consolada até que a aspirina faça efeito.

— Tem certeza que é somente isso? – Indago, preocupado com o estado de Ally.

— É somente isso. – Responde Oliver e eu preciso respirar fundo para não cometer uma loucura. Somente a voz irritante dele é o suficiente para me tirar do sério.

— Cala a boca. Eu não estou falando com você. Fica na sua. – Respondo grosseiramente, fazendo Ally me encarar assustada.

— Austin! Oliver só estava me ajudando. – Ally me repreende, sem acreditar em minhas palavras. Ela suspira e tira a agulha que estava em seu braço. – Eu já me sinto melhor, Oliver. Obrigada pelos cuidados. Eu irei tomar os remédios que você me recomendou. Por hora, eu irei me deitar. E me desculpe por Austin.

— O quê?! – Exclamo, surpreso com as palavras de Ally.

— Vamos embora. – Dita minha esposa, dando por encerrada aquela conversa. Ela se apoia em meu braço para se levantar e acena levemente para Oliver.

— Se precisar de alguma coisa é só me procurar, Ally. Você sabe que não está sozinha. – Declara Oliver, olhando com ternura para minha esposa.

Paro de andar no mesmo instante e me afasto de Ally, indo em direção a Oliver. Quando estou de frente para ele, nós nos encaramos intensamente. Havia muitas palavras presas em nossas gargantas e eu sentia que aquele cara e eu ainda teríamos muitos problemas.

— Afaste-se de minha esposa por conta própria e de maneira fácil ou eu terei que agir da maneira difícil e você não vai gostar de experimenta isso. – Ameaço com sinceridade.

— Austin! Vamos embora agora! – Ally me puxa pelo braço e vejo que ela está furiosa.

— Considere-se avisado. – Digo por fim, permitindo que Ally me levasse para fora daquele laboratório.

Encaro Oliver de longe, enquanto ele nos observar indo embora. A maneira como ele me encara era uma declaração de guerra e eu estou pronto para usar todas as armas a minha disposição para deixar bem claro quem é a pessoa que Ally ama e pertence.


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Notas finais do capítulo

Oii amores! O que acharam? Erros ortográficos? Sugestões? Críticas?

E nesse capítulo nós tivemos um pouco de tudo. Romance, surpresas, lembranças do passado, mistérios... Eu realmente espero que tenham gostado, porque esse capítulo foi o que eu escrevi em menor tempo e em tamanho maior Deixem a opinião de vocês! Beijocas ♥

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