Após Chico os chamarem, os órfãos e os vizinhos direcionaram-se para a cozinha, a fim de finalmente jantarem. Tudo ocorria bem, até Janu fazer um comentário muito maldoso a respeito dos órfãos.

– Olha só, além de órfãos pobres também são sujos! Acabei de ver uma sujeira bem grande ali no canto!- berrou a garota loira com cara de nojo.

– Janu!- repreendeu André. Janu revirou os olhos e cruzou os braços.

– Garotinha, pra sua informação ninguém fala mal do nosso orfanato!- esclareceu Ernestina em um tom de voz elevado, assustando a garota.

– Fala mais uma palavra da gente que eu te quebro a cara!- ameaçou Pata.

– E você acha que eu tenho medo de você, mini gansa?- indagou Janu à Pata, que estava incrédula.

– Olha como fala da minha irmã!- berrou Mosca irritado.

– E você é?- questionou Janu, que até então não tinha se lembrado do garoto.

– O irmão dela.- respondeu Mosca.

– Mosquito.- corrigiu Janjão, em defesa da amiga. Janu encarou Janjão e deixou escapar um sorriso, despercebido por ele.

– Cala a boca anão!- ordenou Mosca, que já iria partir para cima do moreno, porém Carol o impediu.

– Isso são modos pessoal?- perguntou Carol surpresa com a grosseria dos adolescentes.- Eles são visitas!

– Visitas chatas e arrogantes!- opinou Bia, fazendo com que o restante dos órfãos passassem a rir.

– BIA!- repreendeu Carol novamente.

– Que tal se a gente jantasse de uma vez?- perguntou Bel, tentando amenizar a situação toda e também para evitar mais brigas.

– Melhor do que ficar perdendo meu tempo com esses chatos!- disse Bia, sentando-se junto à Mili, Pata, Cris, Dani e Ana.

– Deus que me livre! Não dá pra tentar falar que você já começa a gritar!- reclamou Janu, a respeito de Bia.

– Cala a boca loira oxigenada!- ordenou Bia, já começando a ficar estressada.

– Lacraia prostituta!- rebateu Janu. A essa altura, Carol, Ernestina e Chico já não sabiam mais o que fazer, afinal estavam impressionados com o vocabulário das duas.

– Calem a boca!- ordenou Tati.- O que era pra ser uma janta normal já virou uma rebelião gigante!- completou.

– Concordo com ela. E vamos comer logo, que já estou com fome!- contou Tatu, sentando-se junto com Bel, Janu, Janjão e André.

– Então tá, obrigada por guardarem lugar pra mim.- disse Vivi irônica. Esta queria sentar-se junto as amigas, porém não havia mais lugar na mesa. Acabou, então, tendo que sentar-se junto com os meninos.

– Crianças..-iniciou Chico, sendo interrompido por Rafa.

– Adolescentes.- corrigiu.

– Tá, adolescentes então... A janta está servida! É lasanha à moda Chico!-berrou Chico, tirando a vasilha com a lasanha do forno.

– Deve estar uma delícia!- comentou Binho, rapidamente sentando-se ao lado de Vivi e Thiago. O último agradeceu mentalmente Binho, pois o clima entre ele e Vivi não estava dos melhores.

– Eu sento do lado dela Binho! Pode saindo!- exigiu Tati, encarando o garoto de uma forma nada boa.

– Mas senta do outro, dá na mesma!- justificou-se o garoto, que estava confuso.

– Mas é que eu prefiro esse!- insistiu Tati, tentando fazer o garoto acreditar nela. O que ninguém sabia é que a pequenina tinha uma queda por Thiago.

– Tati, senta do meu lado!- convidou Tatu. Tati, mesmo não querendo, acabou aceitando, fazendo o garoto sorrir.

Na mesa da Vivi, Binho, Rafa, Mosca, Samuca e Thiago:

– Posso me sentar aqui?- indagou Marian, aproximando-se da mesa dos amigos.

– Pode- respondeu Binho sem dar muita atenção.

– Credo, até parece que não gosta de mim.- sussurrou Marian para si mesmo. A maneira que Binho tinha lhe respondido tinha lhe deixado triste, porém a loira não sabia o porquê. Para seus amigos não perceberem, acabou deixando isso de lado.

– Por que eu vim sentar aqui? Só tem eu e a Marian de menina!- exclamou Vivi, sentindo-se uma idiota naquele momento.

– E por acaso isso é algo ruim?- indagou Marian desconfiada, assustando Vivi.

– Não, claro que não.- mentiu Vivi com os olhos arregalados, ainda assustada.- A sua companhia é ótima!- completou, com um sorriso falso.

– Hum.- murmurou Marian em resposta.

– Eu sei porque você veio sentar aqui Vivi.- contou Samuca.

– Ah é? E por que então?- perguntou confusa.

– Por dois motivos. Um deles é que não tinha mais lugar na mesa das meninas.

– Isso é óbvio. E com os vizinhos eu não ia sentar.- interrompeu Vivi.

– Você não me deixou terminar!- reclamou Samuca. Vivi revirou os olhos.- Mas retornando.... Você sentou aqui pois EU estou aqui!- completou, dando ênfase ao "eu".

– Há há há, muito engraçado.- ironizou Vivi com cara de tacho.

– Que garoto chato!- exclamou Mosca, ao ver Janjão tentar acertar Mili com uma bolinha de guardanapo.- Se ele fizer isso mais uma vez vai ter que se ver comigo!- acrescentou, passando a encarar Janjão com uma cara nada boa.

– Também achei.- concordou Rafa.

– Achei ele exibido demais!- comentou Thiago.

– Acho que você está com ciúmes Thiago.- diagnosticou Vivi, fazendo com que o garoto começasse a ficar nervoso. De fato, cada palavra que Vivi lhe dizia lhe dava um frio na barriga. Só não entendia o porquê, e nem queria entender.

– Ciúmes dele? Você só pode estar brincando!- exclamou Thiago desacreditado, tentando evitar ao máximo olhar para a garota.

Mesa de Janu, Janjão, André, Bel, Tatu e Tati:

– E aí Tati, como vai?- perguntou Tatu sendo simpático.

– Bem, e você?- perguntou Tati de volta, não muito interessada na conversa.

– Isso é ciúmes?- indagou Bel, percebendo o olhar da garota para Thiago.

– Ciúmes? Acho que não.- afirmou a garota, fingindo-se de desentendida.

– Se não for isso eu não sei o que é!- comentou Tatu. Tati só deu a língua para ele.

– Só eu que achei a Pata uma gata?- perguntou André, fitando a mesma. De vez em quando, a garota deixava escapar alguns sorrisos, que eram rapidamente retribuídos por ele.

– Você vê ela todo dia e só tirou essa conclusão agora?- questionou Janu confusa.

– Nunca tinha visto ela na escola.- explicou André, fazendo com que Janu estranhasse um pouco. De repente, André atirou um beijo para Pata fazendo a garota rir. Janjão percebeu o que André tinha feito, então passou a gargalhar descontroladamente com uma risada nada discreta. Como consequência, todos os órfãos, e até mesmo Chico, Carol e Ernestina passaram a encarar o garoto com uma cara assustada. Pata percebeu que o encrenqueiro estava rindo dela e de André, então, a partir dali, começou a evitar olhar para André.

– Cala a boca meu!- ordenou André, tapando a boca do amigo com a mão.

– Isso foi ridículo André!- opinou Janjão rindo, porém desta vez com uma risada mais baixa e bem menos escandalosa.

– O que aconteceu?- questionou Bel à Janu.

– Ai Bel! Você é uma tonga mesmo!- respondeu a garota grosseira. Bel sentiu-se triste, pois Janu era sua melhor amiga desde criança e nunca havia gritado com ela dessa forma. Tati percebeu a tristeza de Bel, porém acabou sentindo-se triste por não poder fazer nada a respeito.

– Vocês vão querer pegar alguém depois, na festa?- perguntou Janjão, dando uma garfada em sua lasanha.

– Acho que sim.- respondeu André, olhando fixamente para Pata.

– Gostei do nerd..- comentou Bel, ainda desanimada.- Mas parece que ele só tem olhos para a Vivi.- lamentou, ao notar Samuca e Vivi em altos risos.

– Está se referindo ao Samuca?- perguntou Tati. Bel assentiu.- Está muito enganada Bel! Samuca não gosta da Vivi e nem ela dele.- confirmou, fazendo Bel sorrir.

– Como pode ter certeza disso Tati?- perguntou Tatu.

– Sou irmã dela. Sei quando ela está apaixonada por alguém.- respondeu Tati.

– Nossa, nunca ia adivinhar que vocês são irmãs.- comentou Bel impressionada.

– Pois é.

– Posso te ajudar a ficar com ele Bel.- disse Janjão, oferecendo ajuda.

– Como?- perguntou Bel confusa.

– Eu fico com a Vivi e você fica com ele.- cochichou Janjão a Bel. O mesmo teve um pouco de dificuldade, pois entre ele e a morena estava Janu, que acidentalmente acabou ouvindo a conversa. Ninguém sabia, mas Janu gostava de Janjão, e aquilo acabou a deixando muito triste. Em razão disso, acabou retirando-se da mesa.

– O que deu nela?- perguntou Tati a Tatu.

– Não faço a mínima ideia.- respondeu o garoto.

– Eu vou lá falar com ela.- avisou Bel, retirando-se dali.

– O que aconteceu André?- perguntou Carol ao garoto, que fez um negativo com a cabeça.

– Ai meu Deus!- exclamou Janjão, levando as mãos a cabeça.- Isso é minha culpa!- completou, saindo dali correndo e indo procurar a loira

– Culpa dele? O que ele fez?- perguntou Carol preocupada.

– Não foi nada Carol.- mentiu Tati, tranquilizando Carol.

Lá fora...

Janu havia permitido que as lágrimas tomassem seu rosto por completo. A loira estava sentindo-se um lixo naquele momento. " Eu sou uma idiota por ter me apaixonado por ele! Devia ter pensado que ele nunca seria capaz de gostar de mim!" , pensava a garota. Porém, Janu foi surpreendida por Bel se aproximando .

– Por que ficou assim Janu?- indagou a morena, sentando-se ao lado da amiga.

– Não foi nada Bel, só lembrei de umas coisas lá.- mentiu Janu, virando o rosto para a amiga não perceber que estava chorando. Em vão.

– Você gosta dele né?- perguntou Bel, abraçando Janu por trás.

– Não! Claro que não!- afirmou Janu, elevando o tom de voz.

– Sou sua melhor amiga, não precisa esconder as coisas de mim!- lembrou Bel, limpando as lágrimas da loira com o polegar. Nessa hora, Janjão chegou ao pátio, porém resolveu ficar escondido para ouvir a conversa das duas.

– Eu não queria gostar tanto dele assim!- confessou Janu, deixando Janjão perplexo.

– Janu, olha pra mim.- pediu Bel, e assim Janu o fez.- Eu estou aqui para o que precisar tá?

– Tá, obrigada por tudo Bel. Não sei o que eu seria sem você!- agradeceu Janu, abraçando a amiga.

– Melhores amigas né?

– Melhores amigas.- confirmou Janu com um meio sorriso.

– Então vamos lá. Não quero te ver mais chorar hoje. Levanta a cabeça e curte essa noite.- aconselhou Bel, fazendo a garota loira dar uma leve gargalhada.

As duas levantaram-se do banco que estavam sentadas e foram em direção a porta, porém Janjão apareceu, surpreendendo as duas.

– Janu...- chamou.- Será que eu poderia falar com você?- perguntou, coçando a nuca. Janu olhou para Bel com um olhar de dúvida, mas a amiga assentiu com a cabeça.

– Pode.

– Eu já vou indo, nos vemos lá dentro.- avisou Bel, saindo dali.

Após Bel sair, um silêncio tomou conta dali. Janu baixou a cabeça, mas Janjão a levantou com o dedo indicador.

– Eu não sabia que gostava de mim Janu.- confessou Janjão.

– Eu sei que você só está aqui porque a Carol mandou, ou algo do tipo.- disse Janu, tentando sair dali, porém Janjão a impediu.

– Claro que não! Eu vim para me desculpar!- revelou. Janu arqueou a sobrancelha.

– Bom, agora você já sabe da verdade né.

– Sei, mas não é que se porque eu não gosto de você outro garoto não irá gostar. Você é uma garota linda, gentil, especial, carinhosa, e entre várias outras coisas. Eu te amo, mas como amigo. Melhor amigo!- contou Janjão com um sorriso, deixando Janu desacreditada.

– Não sabia que me achava tudo isso tongo!- confessou Janu, abraçando o garoto. Janjão a abraçou forte, deixando a garota mais feliz e mais aliviada. Parecia que ela havia tirado um peso enorme das costas.

– Não vamos estragar nossa amizade por causa disso né?- indagou Janjão.

– Claro que não!

– Vamos lá pra dentro então, a festa já vai começar!- lembrou Janjão, puxando a garota pela mão.