Herdeiros do Olimpo escrita por Junior Dulcan, Starkiller, Steward Robson


Capítulo 4
Cecilia - Perseguição Bem Calculada


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos filhos do Olimpo. Estou vindo postar mais um capítulo dessa história para vocês. Hoje teremos a visão de um novo personagem. Meu secundário. Espero que gostem e se divirtam com a leitura. Lembrem-se que críticas bem feitas são sempre bem vindas.



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"Só porque me carregou na barriga por nove meses acha que tem direito de por minha vida de ponta cabeça. Não tão rápido minha senhora."

Descobri que meu dia ia ser uma pilha de esterco assim que saí de casa. Ter estranhos te encarando como se pudessem ver sua alma nunca seria um bom sinal. Peguei uma barra de cereais na mochila e comecei a comer. Tinha uma prova importante hoje e não queria me atrasar. A quem eu queria enganar, eu nunca fui e nunca serei um exemplo acadêmico, tenho TDAH, então minhas notas nunca foram lá muita coisa. Tenho trocado de escola ano após ano, na esperança de encontrar alguma que possua um método eficiente com crianças como eu. Meu nome é Cecília Mills, mas podem me chamar de Cissa.

Moro com meu pai em São Francisco, num sítio afastado da baía e do centro comercial, pois ele trabalha com pesquisas agroindustriais. Ele não gosta que eu me intrometa em seu trabalho, mas bisbilhotei mesmo assim e sei que ele está trabalhando com uma formula orgânica que combate pestes e ervas daninhas. O que acho super interessante, afinal sempre gostei de plantas mais que de pessoas. Minha mãe não passava de um tabu em casa. Sempre que tentava conseguir uma informação qualquer sobre ela, meu pai se lembrava de algo urgente para fazer. Sabia que meus olhos eram herança dela. E tinha vaga lembrança dela sorrindo para mim, ou pelo menos gostava de acreditar que era ela.

Meu ônibus parou no ponto costumeiro e eu desci apressada. Entrei no prédio da escola e fui direto ao banheiro. Lavo as mãos e me olho no espelho. Não me considero nenhum padrão de beleza, tenho 1,62m, meu corpo é esguio e com curvas leves, tenho uma pele bem clara e olhos castanho-dourados quase da cor do trigo. Ajeitei meu cabelo ondulado e castanho, atualmente o usava abaixo da altura do meu ombro e solto. Meu rosto era redondo com o queixo levemente torto, nariz redondo e um pouco empinado, o que me dava um ar de soberba totalmente inexistente. Orelhas proporcionais ao rosto. Eu estava usando uma calça jeans skinny azul, uma blusa preta de flanela que fazia babados na minha cintura por que estava emoldurada pela minha jaqueta de tecido cru tingida de lilás.

Minha atual escola era divida em pavilhões, o primeiro chamado de Pavilhão Sede era onde ficava a secretaria, diretoria, biblioteca, sala de informática e os banheiros. No próximo tínhamos as aulas de Humanas, seguido pelo de Exatas e depois Biológicas. Havia um pavilhão maior que os outros onde ficavam os vestiários e a quadra de esportes. Corri até a sala de Cálculo I, estava em cima da hora e o professor Malcolm não tolerava esse tipo de atitude. Derrapei na porta da sala quase caindo e entrei apressada, do quando notei que já havia uma figura sentada à mesa do professor.

Precisei de poucos segundos para notar que algo estava errado. Aquele não era meu professor. O homem sentado diante da classe tinha fácil uns dois metros e seus músculos eram visíveis mesmo com aquela camisa social e terno. O Prof. Malcolm além de baixinho estava um pouco acima do peso. Quase voltei pela porta, acreditando ter errado de turma, mas reconheci alguns rostos e mais ao fundo uma mão tímida acenando pra mim diziam que eu estava no lugar certo. Foi aí que senti que era observada. O professor me encarava como se eu fosse uma de suas equações, encabulada fui depressa pro assento ao lado do garoto que estava acenando.

— Bom dia turma. Eu sou o Professor Grande e estarei substituindo o Prof Malcolm esse mês na disciplina de Cálculo I.

— O que houve com ele? - indagou Helen Hale, uma puxa-saco de marca maior e que parecia nutrir uma raiva mortal em relação a mim. O que eu não entendia, já que ela tinha um corpo perfeito, beleza estonteante, era chefe das lideres de torcida e namorava o cara mais quente da turma de formandos.

— Um acidente, mas não se preocupem, não foi nada grave. Ele me disse onde tinham parado na última aula, então continuemos daí. – por alguma razão não senti verdade naquelas palavras.

A aula transcorreu normalmente, o professor falando e eu distraída entre trocar bilhetes com Kol, o amigo que acenou mais cedo. E espiar os garotos do atletismo pela janela. Seria uma primeira aula perfeita, não fosse ela já estar destinada a catástrofe.

— Srta. Mills, a minha aula está entediando você?

Olhei assustada para o professor. Seu tom de voz era mais que irritado, ele soava como se quisesse me partir ao meio. Coisa que ele faria facilmente se quisesse, dados seus braços enormes.

— Já que parece dominar perfeitamente esse assunto, que tal resolver essa equação que está no quadro.

Entrei em completo pânico, para alguém com TDAH pior que um texto eh uma expressão com letras e números. A expressão parecia saltar do quadro e girar em minha direção se embaralhando mais e mais. Meu estômago revirou, fiquei tonta, mas não ia fazer aquilo pior que era, me obriguei a levantar e ir ao quadro, meu rosto queimando como brasa. Olhei de novo o monstro que estava escrito ali e descobri que era inútil, além de mal poder ler, não fazia idéia de como resolver aquilo. Depositei o pincel na mesa do professor e pedi desculpas.

— Conversaremos sobre seu pedido de desculpas depois da aula. Na detenção.

"Ótimo." Pensei comigo mesma somando raiva à vergonha e frustração.

Voltei pro meu lugar e juro ter me esforçado ao máximo para prestar atenção na aula. Acontece que quanto mais eu mantinha o foco no professor mais distraída eu ficava, principalmente quando sua aparência começou a ondular, ora focando no professor alto e bem vestido, ora focando numa criatura ainda maior, mais brutal, usando calças rasgadas e nada mais. Seu rosto parecia contorcido ou deformado com os olhos juntos demais acima do nariz. Essa oscilação entre Dr. Jekkyl e Mr. Hyde aumentava minha náusea. Meu amigo parecia tão tenso quanto eu. Me olhava como se a Detenção fosse pena de morte.

Felizmente as demais aulas foram bem tranquilas, não tive problemas em nenhuma delas. Quando sai do vestiário após a aula de ginástica, fui em direção ao setor de exatas onde o professor disse que me esperaria. Kol me alcançou, puxando conversa.

— Tem algo errado? Você parece que viu um fantasma. Ele não vai fazer nada demais. Só me manter presa por mais uma hora.

— Não é nada. - Kol tentou disfarçar sua apreensão, falhando como sempre.

Conheci o Kol no inicio desse semestre, ele não era fisicamente atraente, mas tinha um coração incrível. Era alguns centímetros mais alto que eu, magricela e tinha um jeito esquisito de andar, seu cabelo escuro e grande estava sempre coberto por um boné, quando não estávamos em sala. Tinha olhos bem vivos e espertos num tom de castanho que beirava ao preto. Naquele dia usava uma calça caqui, uma camisa estampada do exercito e uma jaqueta verde musgo.

Chegamos à porta da sala e o professor estava sentado em sua cadeira. Como se pudesse me farejar ou algo do tipo ele se virou assim que apareci na porta.

— Isso não é um passeio Srta. Mills. Pode ir para casa. - completou ele olhando para o Kol.

O garoto pareceu inclinado a discutir, mas olhou para o professor estremeceu e virou as costas para ir. Ainda me olhou uma ultima vez e disse que me esperaria sem emitir som. Entrei na sala e sentei numa cadeira nem muito distante nem perto demais do professor, ainda tinha problemas para me concentrar nele, uma vez que seu corpo insistia em assumir a forma de uma criatura de um olho só.

— Você tem um cheiro bom. - disse ele inspirando profundamente. - Apetitoso eu diria.

"Que nojo." - pensei.

Estava pronta para dar um fora homérico nesse professor sem noção quando ele se levantou, ficando mais alto do que eu me lembrava, sua cabeça tocando o teto da sala. Meu grito de terror ficou preso na garganta, esqueci momentaneamente como se usava as cordas vocais, pois o professor substituto acabara de se transformar num gigante de mais de três metros e meio de um olho só.

Ele avançou para mim, empurrando a mesa a sua frente como se fosse de papel. Ouvi o baque surdo da madeira na parede e acordei. De um modo nada natural para mim, rolei para o lado e imediatamente corri para fora da sala. Ao virar no corredor Kol, que vinha correndo em minha direção, parou atônito. Antes que eu o alcançasse o monstro virou o corredor e entrou em seu campo de visão e pude jurar que o garoto baliu. Isso mesmo ele baliu exatamente como um bode assustado.

Corremos sem parar. Eu só queria ir pra casa e esquecer que esse dia aconteceu. Não sei como nos distanciamos dele, com aquele tamanho todo ele poderia cobrir o dobro do caminho na metade do tempo. Eu arfava em busca de ar. Kol parecia melhor que eu, mas também estava cansado.

— Temos que sair da escola. Vamos pra minha casa la chamamos a polícia.

— Acha mesmo que a polícia vai dar conta disso? O máximo que ela vai ver é um professor perseguindo alunos que fugiram da detenção. E quando nos entregarem para ele...

A fala foi interrompida pelo estrondo das portas da escola voando e depois se arrastando pelo pátio da entrada. Para mim aquilo era mais que o suficiente. Não disse nada porque o momento era impróprio, mas estava com a impressão que o Kol sabia o que tudo aquilo significava. Deixei ele me guiar, primeiro para fora do terreno da escola, depois para o ponto de ônibus, onde pegamos um que já estava de saída. Com isso despistamos a criatura. Depois de respirar por um tempo, decidi ser um momento bom para o bombardeio. Ainda cochichando comecei:

— O que era aquilo? Porque ele está atrás de mim?

— Acredite em mim, quanto menos souber mais seguro vai ser.

— Tem uma coisa de um olho só do tamanho de uma casa me perseguindo. Então é melhor contar o que sabe. E para onde estamos indo?

— Nesse ônibus? O mais longe da escola possível. A longo prazo para um lugar seguro.

— Mais segredos. Você não esta ajudando Kol.

— Você vai entender. Eu prometo.

— Argh! - resmunguei, pegando uma barra de cereal na minha mochila, sempre comia essas coisas fitness quando estava nervosa.

Descemos num terminal de ônibus e pegamos outro. Tentei ler o letreiro, mas meu nervosismo intensificou meu TDAH e as letras saltaram para fora e começaram a dançar na minha frente. Kol me disse que estávamos indo para perto do litoral.

Entramos e fomos para o fundo, uma vez que Kol disse que poderíamos ver qualquer um que entrasse no ônibus. Eu já achava que o Professor Grande ("ainda não acredito que ele escolheu esse sobrenome") tinha desistido de nos caçar. Estava até bem tranquila. Quando o ônibus afastou-se da zona urbana e passou por algumas fazendas alguém parou ele num ponto ermo em que a estrada era ladeada por uma floresta mais densa. As portas se abriram e ninguém subiu, o motorista olhou para fora e arregalou os olhos. Foi quando senti o carro sacolejar com uma pancada na lateral. Uma segunda pancada e a lateral do ônibus inteira amassou para dentro, o vidro das janelas estourando e chovendo para todos os lados. As pessoas começaram a gritar e se pisotear para fora da condução. Kol tentava me empurrar para fora do ônibus quando o professor monstruoso entrou.

— Acha mesmo que vai se esconder de mim? Posso sentir seu cheiro a quilômetros, ainda mais misturado ao fedor de bode.

— Ei! Não precisa ofender também. - Kol gritou para o monstro.

Não entendi a piada ou ofensa, mas não estava disposta a discutir naquele momento. Então fiz a única coisa sensata que poderia. Saltei pela janela quebrada pelos golpes do Prof. Grande, sendo seguida de perto por Kol. Ouvi o bufar irritado monstruoso enquanto corria sem destino pela floresta.

— Não estamos tão longe assim. Talvez possamos chegar antes de ele nos alcançar. – não sei onde aquele garoto achava que ia chegar, mas se fosse longe do ônibus eu estava de acordo.

Como se sua voz fosse um agouro ouvimos o som de árvores sendo removidas do caminho. Naquele momento me senti feliz por minha estranha conexão com a natureza, quase podia ouvir a floresta sussurrando para onde correr. Realmente achei que tínhamos uma chance de fugir. Aquela era uma floresta típica da América do Norte, com pinheiros e carvalhos, alguns arbustos, em sua maioria árvores que perdiam suas folhas no outono. O chão era úmido e coberto de húmus. Eu só conseguia pensar em porque não podia fugir de monstros em LA ou Nova York, ou melhor, ao invés de fugir de monstros, podia estar correndo para uma lanchonete naturalista. Daria tudo por uma tigela de cereais ou meu sanduíche natural perdido na mochila que ficou no ônibus. Até darmos de cara com os cachorros mais feios que já vi na vida. Eles tinham cabeça de cachorro, corpos lisos e negros (assim como os mamíferos marinhos), pernas curtas e grossas como nadadeiras, e pés e mãos semelhantes às dos humanos, porém com garras extremamente afiadas. A matilha de monstros rosnou para nós mostrando seus dentes e garras. Confesso que toda a minha coragem se esvaiu, tinha me dado por derrotada e estava mais que pronta para aceitar a morte horrível que certamente me esperava, seja ela devorada por cães-peixe ou esmagada pelo professor de um olho só. Como se esperasse sua deixa ‘Mr. Hyde’ chegou onde estávamos, ele segurava o tronco de uma árvore como se fosse uma clava e tinha um olhar assassino cravado em mim. Kol tremia feito vara verde o que significava que ele não seria de muita ajuda nem mesmo numa fuga. O professor ergueu seu tacape e fez menção de avançar para nós. Ao mesmo tempo os cães de nadadeira atacaram. Gritei com todo o ar dos pulmões, esperando que isso de alguma forma desse resultado e antes de ser atingida pela primeira leva de criaturas uma parede de fogo se ergueu entre nós. Os monstros mais próximos foram engolidos pelas chamas, sendo dizimados quase imediatamente e os demais recuaram ganindo, alguns feridos pelas chamas. O professor parou no meio de seu ataque, a ponta de uma lança saindo de seu peito. A lâmina foi forçada para baixo e o corpanzil explodiu em uma chuva de pó, da qual um garoto girando o que agora eu notei ser um báculo saiu. Ele parecia totalmente bem com aquela cena e em momento algum tirou os olhos das coisas negras que ainda buscavam uma brecha nas chamas.

— Você tem assuntos comigo ainda, Dâmnos. Deixe esses dois seguirem.

— Meus assuntos são com todas as crias do Olimpo, semideus. Não se atreva a me dar ordens. – o cão nojento maior de todos respondeu.

Nesse momento meu cérebro entrou em parafuso e não consegui mais me segurar. Desmaiei.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem até aqui. Espero que tenham curtido. Não se esqueçam de clicar em acompanhar para serem notificados de novos capítulos e de comentar para dar um feedback ao autor, por que ele sofre pra escrever e merece.
Sem mais, que Hecate abençoe todos vocês. Merry meet, merry parte and merry meet again!



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