Elizabeth parecia tensa, ela queria fazer de tudo para sair da cabine de John, mas o velho capitão estava estático em frente à porta.

–Sobre o que quer conversar?

–Vamos, sente-se Elizabeth. Fique a vontade. -Disse John apontando para uma cadeira em frente à sua mesa de trabalho.

Elizabeth caminhou até a cadeira, prestando atenção nos mínimos detalhes daquele cômodo que tanto lhe chamara a atenção. A cabine de John era escura e úmida, além de que possuía um cheiro intenso de mofo. No canto direito havia uma cômoda lotada de livros velhos, e ao lado dela encontravam-se pilhas de roupas sujas. No canto esquerdo do quarto, havia uma pequena cama abaixo de uma grande janela, a cama possuía um colchão de palha e algumas manchas que Elizabeth suspeitava serem de sangue.

Mas o que mais chamou a atenção da menina foi uma mesa grande ao centro. A mesa para aonde John caminhava lentamente. Em cima da mesa haviam mapas de todos os lugares e foi ali que Ellie confirmou; estava muito longe de casa.

–Então Elizabeth. -Disse John sentando-se na cadeira atrás de sua mesa de trabalho, ficando frente a frente com Ellie. - Como foi tua viagem até aqui?

–A ilha aonde Edward me achou não era muito longe daqui, portanto ainda não tive uma grande aventura no mar.

–Não é dessa viagem a que me refiro, querida. -John parecia estar tentando ser gentil, mas claramente o sorriso que ele lançava à Elizabeth era falso. - Falo de tua grande viagem, que te trouxe até o passado.

Elizabeth congelou. Ela nunca havia dito nada a ninguém, não confiava tanto em Edward para lhe contar que não pertencia àquela época e ela tinha certeza de que seu uniforme escolar não era de forma alguma uma "prova" de que ela veio de um futuro distante, afinal, todas as pessoas que a viram vestida daquela forma, só acharam suas roupas interessantes, mas nunca chegaram a perguntar sobre elas.

–Como sabe sobre a viagem no tempo?

John soltou uma gargalhada como se Ellie tivesse-lhe contado uma piada.

–Ora garotinha, por que acha que eu me tornei um pirata?

–Por que estava em busca do seu tesouro?

–E qual o meu tesouro?

–Ouro?

O velho capitão abriu um sorriso de orelha a orelha.

–Quase isso menininha... Quase isso. Eu procuro o portal pelo qual tu atravessaste.

–O espelho?

–Então o portal é um espelho, muito bem. Onde ele está?

A jovem começou a reparar em como John ficou sério quando fez à pergunta, ele estava se aproximando da garota, ela podia sentir o vento que saia das narinas do homem.

Ellie olhou em volta. A porta estava longe de mais, a janela em cima da cama era sua a única saída, se ela corresse talvez conseguisse sair dali.

–Não sei onde ele está.

A menina tentou se levantar calmamente, mas John segurou os ombros da menina, empurrando-a de volta à cadeira.

–ONDE DIABOS ELE ESTÁ?

Elizabeth tremia. John não parecia mais o velho capitão simpático que lhe oferecera uma viagem até seu navio, ele estava tão vermelho, tão ofegante, que por um minuto a menina pensou que sua cicatriz iria se transformar em um corte e se abrir.

–Muito bem, Elizabeth. - Disse John colocando sua mão sobre uma navalha de aço que se encontrava em seu cinto. - Não me faça perguntar novamente...

Ele ia matá-la. Ela sentiu o corpo todo tremer. Não havia saída. Se ela contasse a localização do espelho, John iria pega-lo... mas se ela não contasse, possivelmente não viveria o suficiente para encontrar o espelho por si só.

John estava retirando a navalha de seu cinto e iria posicioná-la no pescoço de Elizabeth, quando de repente a porta se abriu.

–Elizabeth?!

–Como ousas entrar em meus aposentos?

A menina reconhecia a voz... E virando a cabeça em direção a porta não pode acreditar na imagem que via. Não podia demonstrar o alivio que sentia. Ele veio salvá-la. Ele... Edward... Estava ali, por ela.