Clair de Lune escrita por Lúthien


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Então, chegamos ao final. Qual será o caminho que Félix irá seguir?
Perdoem se as palavras em francês estiverem erradas, a culpa é do google tradutor. =D



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Félix tomou um táxi e voltou para o hotel. Já não se preocupava mais em ter que enfrentar os chiliques de Edith ou os sermões do pai. Sentia-se livre, ainda que estivesse preso em convenções sociais e compromissos familiares. Seu coração estava em paz.

Quando entrou em seu quarto, Edith estava dormindo. Félix tomou um banho, vestiu um pijama e se deitou, acabou pegando no sono rapidamente. Enquanto dormia, sonhou com Nicola. Ambos passeavam de mãos dadas em uma bela praia e as ondas do mar banhavam seus pés.

Mais tarde acordou com o chamado de Edith.

— Félix, Félix acorda.

— O que foi Edith, me deixa dormir.

— Seu pai está nos chamando, Félix.

— O papi? O que aconteceu? – Félix se ajeitou na cama, ainda sonolento.

— Eu é que pergunto. Já foi dar com a língua nos dentes?

— Não vejo meu pai desde ontem, Edith.

— Bom, vamos até o quarto dele e ver o que ele quer.

Sem trocar muitas palavras, Edith e Félix foram para o quarto de César, que aguardava com Pillar e Paloma, ambas tinha uma expressão aflita no rosto.

— Bom, eu chamei vocês porque teremos que interromper nossa viagem, podem fazer as malas de vocês, viajaremos a noite.

— Mas já, como assim papi? O que aconteceu?

— Ocorreu um problema sério no hospital. Um paciente faleceu na mesa de cirurgia. A família suspeita de erro médico e quer processar o hospital.

— Ai meu Deus! Papi e agora?

— E agora nós voltamos para o Brasil e enfrentamos esse problema, Félix. Ou você acha que vamos ficar nos divertindo em Paris e fingir que nada aconteceu?

— Claro que não, o senhor tem razão.

— Bom, eu quero que estejam prontos às 21 horas. Não quero saber de atrasos.

Félix e Edith voltaram para o quarto.

— Tá vendo Félix, se você contasse pro seu pai sobre o que aconteceu ontem, ia acabar trazendo mais problemas pra ele.

— Meu pai não tem nada a ver com isso Edith. Meus problemas eu resolvo.

— O que você quer dizer.

— Nada Edith, nada. Por enquanto vamos esquecer tudo isso. O papi precisa de apoio nesse momento.

— O que deu em você Félix?

— Sabe Edith, eu não ligo se você me põe chifres, por mim você pode sair com quem você quiser.

— O que você quer dizer com isso?

— Que eu não te amo Edith, eu nunca te amei. E você faça o que quiser da sua vida.

— Você quer se separar de mim, Félix? Se você fizer isso eu vou...

— Não Edith, você não vai fazer nada, porque você não quer passar vergonha, não foi o que você me disse ontem?

— Olha Félix...

— Chega Edith, eu não quero ouvir. Sabe de uma coisa? Esses últimos dias aconteceram coisas que me fizeram refletir sobre quem eu sou e sobre quem eu quero ser. E eu quero ser feliz Edith.

— Mas Félix, você não pode ser divorciar de mim e o nosso filho?

— Nosso filho será feliz também, porque eu vou ser o melhor pai do mundo pra ele.

— E o que você acha que ele vai pensar quando descobrir que o pai é um...

— Eu devo dançado cancan durante a crucificação de Cristo pra ter que assistir esse teatrinho. Você só engravidou pra me dar o golpe do baú, criatura. Mas não se preocupe, porque eu vou ensinar ao Jonathan a não ser uma pessoa vil como você.

— Se você pensar que isso vai ficar assim, você está muito enganado.

— Edith querida, eu não tenho medo das suas ameaças.

Félix saiu para dar uma volta, caminhou sem rumo pelas ruas da cidade, pensando em Nicola. Viu de longe a Torre Eiffel, seus olhos encheram-se de lágrimas ao pensar que não o veria mais. Não conseguia entender porque aquilo lhe aconteceu. Estando ali, diante daquela realidade tão palpável, não compreendia aquela estranha mágica. Ainda se perguntava se tudo aquilo fora produto de sua imaginação. Por que Nicola não poderia ser um rapaz de sua época? Um belo jovem francês como muitos que andavam pela rua naquele momento. Ilusão ou não, ele fez uma promessa ao seu amor do passado e pretendia cumpri-la. Não sabia como, mas ele buscaria sua felicidade, ainda que isso significasse enfrentar seu pai, sua família, a sociedade inteira. Não iria se esconder mais.

De repente lembrou-se do convite que Paloma havia feito, pegou o celular e ligou para a irmã.

— Paloma, meu doce. Vamos aproveitar o resto da tarde para dar aquele passeio? (...) Tudo bem, te espero.

Félix encontrou Paloma num café.

— Pena que vamos ter que voltar tão rápido, estou gostando tanto dessa viagem.

— Eu também, eu passei momentos incríveis aqui.

— Sério, eu tenho te achado tão pra baixo, pensei que você estivesse odiando.

— Eu tava chateado mesmo, mas era por causa de uns problemas pessoais, mas essa viagem foi um verdadeiro milagre em minha vida.

— Jura? Por quê?

— Paloma, eu vou te dizer uma coisa, mas eu preciso de você guarde segredo absoluto.

— Tudo bem, eu prometo.

— Assim que passar esse problema no hospital, que eu espero que não prejudique o papai, eu... eu vou me separar da Edith.

— Se separar? Mas vocês têm um filho pequeno Félix.

— Eu sei, mas isso será bom pra ele também, não quero que ele cresça vendo seus pais brigando o tempo inteiro.

— Nossa, eu não imaginava que a sua situação com Edith estivesse assim.

— Meu doce, eu não amo a Edith, eu nunca a amei. Nosso casamento é uma farsa, eu só me casei porque ela ficou grávida e o papi praticamente me obrigou. Mas eu não sou feliz com ela Paloma.

— Ah, que pena maninho.

— Não sinta pena, eu estou bem essa decisão. Será o melhor para todos. Com certeza a Edith vai fazer um escândalo, mas eu não voltarei atrás.

— Se você tem certeza disso, você tem meu apoio.

— Obrigado, meu doce. Eu precisava falar sobre isso com alguém. Mas quero que isso fique entre nós, não quero aborrecer o papi agora.

— Você tem razão. Não se preocupe, eu não direi nada.

— Vem vamos pegar um táxi, quero te levar a uma loja de doces que eu conheci por acaso, e como eu sei que você adora doces... também quero levar uns para o Jonathan.

Félix e Paloma foram até o local onde muitos anos antes foi o restaurante Clair de Lune, Félix não conhecia o caminho, pois sempre era levado por um misterioso chofer, mas ao dizer o nome da loja de doces para o taxista ele o levou até o local certo. Durante o dia ele pode reparar que a arquitetura do lugar ainda preservava alguns aspectos da década de 1920. Olhava para todas aquelas construções com uma imensa saudade. A lembrança do sorriso de Nicola veio em sua mente, ainda podia sentir os lábios quentes dele nos seus.

— Olha ali, na verdade eu não comprei nenhum doce, mas eles parecem deliciosos.

— Nossa, que graça essa loja Félix. Olha, quantos doces, olha aqueles coloridos. Nossa, estou me sentindo uma criança de novo.

— Pode pegar quantos quiser, eu pago.

Animada, Paloma abraçou Félix e lhe deu um beijo no rosto.

Felix ficou observando a loja por dentro enquanto Paloma provava e escolhia os doces que queria levar. Uma atendente se aproximou dele:

— Bonjour monsieur.

— Bonjour.

— Em que posso ajudá-lo.

— Eu estou esperando minha irmã é aquela ali.

— Ah sim. Então com licença, fique a vontade.

— Ei moça, espere.

— Sim.

— Só por curiosidade, essa loja funciona aqui desde quando?

— Desde 1995.

— E o que esse prédio era antes disso?

— Pelo que eu sei, estava abandonado, mas antigamente era um restaurante que foi muito badalado na década de 1930.

— Ah é, foi muito badalado?

— Sim, o dono se chamava... como era mesmo o nome?

— Nicola?

— Isso, Nicola de Gaulle. Então você já ouviu falar dele?

— Sim, alguma coisa. É que eu me interesso muito por culinária francesa. Mas, me diga, o que aconteceu com o restaurante, com o chef?

— Aparentemente foi fechado durante a segunda guerra. Dizem que o tal Nicola teve que fugir.

Félix sentiu um nó na garganta:

— Fugir? Mas fugir do quê?

— Dos nazistas, Nicola era judeu e homossexual. Ele até se casou com uma jovem dançarina para não ser preso, mas eles eram mais amigos que amantes. Os dois tinham um comportamento muito liberal para a época e todo mundo sabia que o casamento era fachada.

— E pra onde eles fugiram?

— Ninguém sabe ao certo, mas há quem acredite que ele fugiu para o Brasil. Dizem que na juventude ele se apaixonou por um jovem brasileiro e nunca o esqueceu. Até a esposa dele sabia disso.

Félix ficava cada vez mais atônito com o relato da jovem.

— Mas como você sabe de tudo isso?

— Eu li a biografia dele. De um escritor daquela época que era seu amigo próximo.

— Biografia?

— Sim, você não leu?

— Não, eu não li. Você sabe onde eu posso encontrar essa biografia?

— Em qualquer livraria francesa vende, até em bancas de jornal. Eu tenho uma por aqui – A jovem foi ao balcão, remexeu algumas coisas e finalmente encontrou – aqui está, se quiser pode levar.

— Eu posso mesmo?

— Claro.

— Muito obrigado!

Paloma se aproximou com uma cesta cheia de doces.

— O que é isso Paloma? Vai ficar diabética desse jeito. Acho que isso nem vai passar na alfândega – comentou Félix sorrindo.

— Que livro é esse Félix?

— É a biografia de um chef francês.

— Desde quando você se interessa por isso?

— Eu me interesso por muitas coisas irmãzinha.

Félix pagou pelas compras e agradeceu mais uma vez a atendente pelo livro. Quando ia saindo, ela o chamou:

— Ei senhor!

— Sim?

— Quer ver uma coisa?

— O que é?

— Venha cá, olhe aqui atrás desse móvel tem um marca na parede. É um fenômeno estranho porque ela foi pintada várias vezes, mas nunca conseguiram escondê-la.

Félix ficou branco como papel quando viu o que tinha naquela inscrição, suas pernas bambearam e o coração parecia que ia sair pela boca.

— Olha Félix, que coincidência.

— O senhor também se chama Félix?

Félix estava em choque.

— É esse é o nome do meu irmão – respondeu Paloma.

— Ora, que engraçado.

— A pessoa que escreveu isso deve ter amado demais esse tal Félix- comentou Paloma.

— Com certeza. Quisera eu que alguém me amasse assim.

— Você disse que não conseguiram cobrir a inscrição? – Félix finalmente falou.

— Não, isso está aí desde que meus pais compraram o prédio, eu era muito pequena, mas eu me lembro bem. Minha mãe disse que devia ser algo espiritual.

— Deve ser mesmo, eu acredito em amor de outras vidas – disse Paloma.

— Obrigado moça! Vem Paloma, vamos embora.

Félix e Paloma tomaram um táxi de volta para o hotel. No caminho, ele ficou a maior parte do tempo calado, abraçado ao livro que havia ganhado da atendente da loja de doces. Paloma fazia vários comentários e perguntas que Félix respondia por monossílabos.

Quando chegaram ao hotel, Paloma foi falar com a mãe e Félix foi para seu quarto. Sentiu um alívio enorme quando não encontrou Edith. Sentou-se numa poltrona e começou a ler a biografia de Nicola. O livro não era muito grande, Félix leu metade dele em poucas horas, só foi interrompido quando Edith voltou.

— O que você tá lendo?

— Nada que te interesse Edith.

— Félix, se você não quer conversar tudo bem. Eu vou terminar de arrumar minhas coisas. E você deveria fazer o mesmo.

— Eu já vou.

Félix guardou o livro e terminou de arrumar suas coisas. Em todo aquele tempo, só conseguia pensar em Nicola e em como queria atender aquele pedido que ele deixara gravado na parede do restaurante, que se transformou em loja de doces.

Félix, où êtes-vous maintenant?

Ma Clair de lune, reviens à moi.

Mais tarde, voando de volta para o Brasil, Félix terminava de ler a biografia de Nicola no avião. Seus olhos se enchiam de lágrimas enquanto conhecia a história da vida de seu amado. Nicola tornara-se um grande chef, era querido e estimado pelos amigos, criou pratos maravilhosos, que Félix já havia provado em restaurantes chiques que frequentava sem nem imaginar sua origem. Nicola vivera intensamente, chegou a casar-se e ter um filho muito amado. Na biografia o autor explicava que apesar do casamento ser de fachada, Nicola e a esposa acabaram gerando um filho numa noite de bebedeira. Sua vida era alegre, mas lhe faltava algo. O chef havia confidenciado ao amigo sua paixão por um jovem brasileiro que ele chamava de F... nunca havia mencionado seu nome. Nicola dizia que sua vida era noite e F... era o mais belo luar que já existiu.

Félix mal cabia em si de emoção ao ler aquelas palavras. Quando terminou, foi para o banheiro do avião e chorou. Colocou para fora todo a dor represada pela saudade que sentia.

Eu voltaria pra você se seu pudesse, Nicola.

Meses depois.

Félix já havia se formado no curso de administração. Seu TCC teve nota máxima, e tudo que recebeu do pai foi Parabéns, Félix. Agora você está pronto para me ajudar a administrar o hospital. E assim ele fez, mas aquilo não seria por muito tempo, pois Félix tinha planos. Esperava apenas correr o processo contra o hospital San Magno na justiça. Assim que a poeira baixasse, Félix soltaria mais uma bomba em sua família. Seria difícil, seria doloroso, mas ele estava disposto a correr o risco. Em breve deixaria Edith, arrumaria um emprego, faria outro curso. Félix daria um novo rumo a sua vida. Mas nem tudo era perfeito, a saudade de um tempo que não voltaria mais, as lembranças de certo jovem francês ainda habitavam seus pensamentos.

Certo dia, era hora do almoço, Félix terminava de examinar uns documentos no hospital quando recebeu uma ligação de Paloma.

— Oi, meu doce!

— Félix, almoça comigo hoje?

— Doçura, eu estou atolado de trabalho aqui, nem sei se terei tempo de almoçar.

— Ah Félix, vamos, tô sentindo falta de passar um tempo com você, conversar... Você trabalha demais e eu estudo demais. A gente merece uma pausa.

— Você tá certa, mas aonde vamos? Não vai me levar numa barraca de hot-dog né? Socorro.

— Não seu bobo. Vamos naquele shopping do Jardins, abriu um restaurante novo lá.

— É francês?

— Não, é japonês, eu sei que você também adora comida japonesa. Fica no terceiro piso, é o único japonês de lá, não tem como errar.

— Tá certo, te encontro lá em meia hora.

Momentos depois, Félix chegou ao tal restaurante, Paloma já estava a sua espera, mas ela conversava animadamente com um jovem rapaz.

Ah, mas eu devo ter feito sushi com os peixes multiplicados pra Paloma me chamar pra almoçar com os amiguinhos dela

— Esperou muito meu doce? – perguntou Félix sem prestar atenção no amigo de Paloma.

O jovem se virou e ficou visivelmente impressionado com Félix. Este, porém ficou lívido quando colocou os olhos no tal rapaz. Teve que se apoiar na mesa para não cair.

— Félix, esse é o Niko, o dono do restaurante. Niko, esse é meu irmão mais velho, Félix

— Nicola? – Félix disse num som quase inaudível.

— Oi, muito prazer, você também já deve ter ouvido falar do meu bisavô né? Todo mundo diz que eu sou a cópia dele - disse Niko com um sorriso que para Félix era bastante familiar.

Dessa vez não era encanto, aquele jovem chef loiro, de olhos verdes e cabelos cacheados estava ali no mesmo tempo e espaço. O que a vida teria reservado para Félix com aquele novo encontro?

—- FIM --


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Notas finais do capítulo

Quero agradecer a todos (as) que leram a fanfic, ela teve muitas visualizações. Não imaginava que isso seria possível depois de tanto tempo. Claro que essa não chega aos pés de Plenitude. Mas essa foi uma maneira que encontrei de matar a saudade do casal Feliko. Minha inspiração para o fanfic foi o filme "Meia Noite em Paris" de Woody Allen, super recomendo. E o tom romântico de "Em Algum Lugar no Passado" com o saudoso Christopher Reeve. Também fiquei imaginando como seria a relação entre Félix e Paloma se eles sempre tivessem se dado bem, se ele nunca tivesse sido um cara do mal.
Novamente obrigada por lerem, pelos comentários carinhosos. Para os que apenas leem, peço que deixem um comentário, gostaria de saber o que você achou da fanfic. Um grande abraço e até quando a saudade bater de novo e eu encontrar inspiração para um nova história.