Ali estava ela outra vez. Sentada no banco, com o livro em mãos, no rosto diversas expressões. Mergulhava no mundo de palavras, cada vez mais longe da superfície e do ser que a adorava. Era, infelizmente, desconhecido para a garota. Ela era fria, ou pelo menos aparentava. Não gostava de gente que se aproximava logo metendo o nariz onde não era chamado. Só conversava com os professores e as três ou quatro amigas quando estas surgiam, de resto, ignorava o mundo.

Sua roupa sempre composta pela blusa de frio, o nariz e as bochechas avermelhados por um provável resfriado. Era sua amada, com o rosto e o corpo pequeno de uma fada, e os olhos cobertos da sabedoria de um mago.

Será que algum dia conversaria com ela? Ou então passaria o resto da vida só a lembrar de sua graciosa face? Não sabia, porém. Declarar-se-ia? Arriscaria levar um fora? Provavelmente a garota iria evitá-lo depois disso.

Ou talvez não. Já tinha ouvido falar muito dela. Era gentil com os colegas, mas era brava. A melhor da classe, mas avoada. Batia em quem ousasse demais, mas até que soltava alguns sorrisos às vezes. Parecia achar graça dos meninos e suas idiotices, apesar de lhe encher as paciências na maioria das vezes.

Também ouviu falar que ela gostava de coisas estranhas, como terror e coisas macabras, mas como, se a via na igreja todo domingo de manhã? Era uma mentira, provavelmente, um boato! Onde já se viu, falar tal coisa de alguém tão adorável?!

E enquanto divagava, a garota levantou-se. Mal sabia ela que era alvo de tal garoto. Achava que não era bonita o suficiente para ter um admirador. Só em seus livros é que podia ver-se em outra pele, com beleza o suficiente para fazer um príncipe tomá-la para si. Pobre garota solitária. Não percebia o mundo a sua volta. Não sabia quão adorada era. Era esperta e inteligente. Fazia-se de arrogante, apesar da humildade sobrar-lhe. Tinha medo de não gostarem dela, de isolarem-na. Não sabia que isolava-se própria com tais pensamentos. Fingia que ignorava o mundo. Tinha a pose e o queixo levantado, e o “foda-se” frequentemente saia por seus lábios, acompanhado de uma torrente de palavrões.

Era tímida, agressiva, calma, tudo junto de uma vez! Delicada, esperta, malandra, pervertida, mas isso não se podia ver por cima da máscara que construíra por anos. Tinha uma expressão indiferente. Mas a sagacidade pulava de seus olhos e quem não prestava atenção, não via o pequeno sorriso presente em seu rosto na maioria das vezes em que lia.

Será que ela algum dia notaria o menino? Será que algum dia ele se declararia? Bem, cabe ao destino responder essa pergunta.