Quimerae escrita por Crazy Old Stories


Capítulo 1
Prólogo - O Ferreiro (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Primeira parte do prólogo



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Nos limites do Grande Reino, próximo as soberbas e magníficas Cordilheiras Beor, existe uma pequena vila chamada Hochberg. É um lugar pacato, onde vivem pouco mais de duzentas pessoas. Famosa por sua produção de armas e armaduras, vive principalmente do comercio das mesmas. Alguns afirmam que Hochberg produz os melhores armamentos do reino! Outros já acham que é exagero… Há também a prática da caça, que serve basicamente para suprir a vila com carne e peles. Não é considerada muito próspera, mas, por ficar próxima a uma das principais rotas de comércio do Reino, recebe uma quantidade razoável de visitantes. É comum encontrar pessoas que saibam mais de um idioma.

A vila está localizada ao pé de uma montanha de mesmo nome. É uma região acidentada e pouco propicia para o cultivo. Praticamente não há fazendas nos arredores. E por sinal só há uma, cuidada por um senhor humilde que também é caçador.

A ferraria de Hochberg é uma das mais famosas do Reino. O dono é o ferreiro Balthazar Eisen, conhecido por criar ferramentas duradouras e por suas armas altamente resistentes. Quando mais jovem ele foi um mercenário, mas faz anos que ele trabalha apenas como ferreiro. Também é um dos fundadores da vila, mas ninguém sabe ao certo o porquê de ter escolhido aquele lugar para erguê-la.

Muito mistério gira em torno de Balthazar. Dizem alguns que ele fala de igual para igual com reis e lordes, que é amigo de feiticeiros e monstros. E tais rumores só aumentaram quando ele decidiu adotar uma criança abandonada por uma caravana, dita como amaldiçoada! Ela possuía uma estranha e inexplicável marca nas costas: um círculo perfeito com, como diziam, palavras mágicas. “Isso é feitiçaria!!!” “É uma maldição!” “É a marca do mal!”

A criança foi batizada de Meltse. Desde cedo instruído na arte da forja e da fabricação de armas. E, conforme o ensinava, Balthazar dizia: “Ele nasceu com o dom. Será um ferreiro muito maior do que eu sou”.

Apesar do passado difícil, a criança se tornou um bom rapaz; gostava do trabalho de ferreiro e adorava ficar perto do fogo da forja. Era onde ele se sentia mais vivo. Mas, como todo jovem, nunca estava satisfeito com a vida. Sempre teve o sonho de ser cavaleiro, um nobre, hábil nas artes do arco e da espada.

Nobre obviamente não era e nunca seria. Filho adotivo de um ferreiro numa vila no fim do mundo isso sim. Por isso, cavaleiro nunca poderia se tornar. Também nunca foi bom com uma espada, por mais que treinasse. Seus maiores dons sempre foram a forja… e o arco e flecha.

Meltse assim viveu e cresceu. Agora tem vinte e dois anos: é um rapaz alto, forte e de boa estrutura física. Tem longos cabelos claros, que sempre usa amarrado, e grandes olhos, às vezes cinza, às vezes esverdeado.

Seu sonho de tornar-se cavaleiro diminuiu, meio que ele se aceitou finalmente como ferreiro. Nunca achou ruim a profissão, mas sempre quis sentir mais emoção na vida. Por isso seu sonho nunca morreu verdadeiramente. Sonho que, por ser frustrado, o torna um tanto ranzinza e mal humorado. Mesmo assim, seu amor pelas armas lhe rendeu o posto de defensor da vila: aquele que organiza e coordena a defesa em caso de ataques ou saques.

Muitos não concordaram com a escolha e dizem que Meltse é jovem demais para tal responsabilidade, mas ao mesmo tempo é um dos mais preparados na vila na arte da luta. E ser filho do famoso ferreiro Balthazar Eisen também ajudou bastante na escolha.

Não que Hochberg precise de defesas fortes: não possui terras aráveis, não há muitos bandidos nas proximidades e os reinos vizinhos são muito menores e não ousam bater de frente com o Grande Reino.

E assim, no dia sete do mês de Yuli, mais um dia aparentemente tranquilo se inicia. É época de caça, uma manada inteira de cervos havia sido avistada dias atrás, assim a maioria dos adultos partiu para caçá-los. Por isso Hochberg está bastante vazia, apenas com os mais jovens, a maioria das mulheres e as crianças. Meltse trabalha sozinho na ferraria.

O dia segue tranquilo, sem nenhum problema, mas Meltse estava com um mau pressentimento. Achava que seria algo pequeno, como encontrar-se com os irmãos Helten, que sempre arrumavam uma maneira de importunar-lhe a vida. E a previsão se cumpre: eles aparecem pouco após Meltse fechar a ferraria, enquanto ele se encaminhava ao campo de treino de arco e flecha.

— E então, Meltse. Como vai? — pergunta sarcasticamente o mais velho dos Helten.

Meltse não estava com muita paciência no momento e resolve ignorá-los. Continua seu caminho até o campo de treino, enquanto os irmãos o seguem, cochichando e rindo.

Estava encordoando o arco quando os três irmãos resolvem importunar novamente:

— Que houve? Cortou a própria língua com a espada de tão bom que você é? — atiça o mais novo. — Ou arrancou a própria orelha e ficou surdo mesmo? A gente tá falando contigo, não tá vendo?

— Você deveria desistir dessas suas brincadeiras de criança de fingir-se de cavaleiro. Sem família, nem nome?! Que ridículo! — diz o irmão do meio e os três começam a rir.

Os insultos continuam por mais alguns minutos. Não aguentando ficar calado:

— Pelo menos eu sei lutar e empunhar armas para defender a vila. Vocês sequer conseguem fazer o trabalho de cortar lenha! — fala calmamente, mas seus olhos destilam ódio — Até mesmo a Sra. Martha consegue ganhar de todos os três numa luta. Imaginem o que eu seria capaz de fazer com vocês.

Os irmãos continuam rindo, mas saem com pressa. Tinham medo de Meltse quando ele estava zangado.

Ao final do dia, Meltse volta para casa para descansar, já tinha feito todas as obrigações do dia e achava que tudo estava em ordem.

Não passa mais do que quinze minutos deitado quando acha ter ouvido algo. Ignora a principio, mas como ele volta a ouvir, vai até a janela verificar se havia algo de errado. Então ele avista vultos e luzes de algumas tochas acesas ao longe, se aproximando de Hochberg. “Saqueadores!” E corre em disparada na maior velocidade que conseguia até a torre do sino, para avisar a vila e tentar formar uma defesa precária antes que seja tarde demais…


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