Radioativos escrita por Carolina


Capítulo 1
Capítulo 1




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Todo os dias, exatamente as cinco horas da manhã as notas do hino de Pax e a imagem hologromática de sua bandeira, no céu, invadem todas as províncias do país. O hino e a bandeira foram ideias do governo para avisar aos cidadãos de Pax qual era a hora de despertar, uma vez que, exatamente as sete horas da manhã todo mundo deveria estar em seus postos – adultos nos empregos e crianças na escola – Em Pax o atraso era imperdoável e, por conseguinte na manhã de segunda-feira Frida St. Girard já estava de pé muito antes da sinfonia quebrar o silencio da província de Óteri. Ele não poderia se atrasar de maneira alguma hoje.

Frida correu os pés rapidamente pela cama e gemeu um pouco ao tocar os pés no chão. Fez suas higienes matinais mais rápido do que o comum, vestiu o macacão azul padrão dos cidadãos de Pax – As roupas têm a mesma cor e forma para todos os habitantes do país – amarrou as botas pretas padrão que iam um pouco acima da panturrilha, pegou seu crachá – nada mais era que um papel retangular plastificado com uma marca d´agua do símbolo de Pax, seu nome completo e um código, que dizia todas as informações de sua vida desde o dia o qual você nasceu até o que você comeu no jantar – desceu trinta e dois andares que a separavam do térreo pelo elevador e disparou pela cidade.

Quando você conhece uma província em Pax, conhece todas, porque todas são exatamente iguais – quanto a natureza do lugar permita, é claro. Há sete províncias em Pax perfeitamente dispostas e construídas, cada uma, em formas de círculo, separados cada província da outra por exatamente 60 graus, no qual cada uma se liga por uma ferrovia à província vizinha e todas são ligadas a província central, Mayh. Em todas as províncias de Pax a linguagem, os hábitos, as instituições, as leis são idênticas. As sete províncias possuem os mesmos estabelecimentos e edifícios públicos.

A província de Óteri tem as ruas e as praças perfeitamente dispostas. Os prédios com suas paredes espelhadas rasgavam o céu tingido nas cores do amanhecer de Óteri, todos os prédios eram iguais e planejados especificamente para serem belos e confortáveis; duas suítes, duas salas e no térreo há belos jardins. Em cada prédio há uma porta que dá para a rua e outra para o jardim. Estas duas portas se abrem facilmente com um comando de voz, porém geralmente se encontram abertas, pois não há roubo ou qualquer outro tipo de crime pelo simples fato de não haver necessidade. Todos tinham comida e tudo necessário para se viver bem, mas quem cometesse qualquer crime era punido da pior forma: com a morte.

Os habitantes de Pax em geral aplicam o princípio da posse comum. Para abolir a ideia da propriedade individual e absoluta, trocam de casa todos os dez anos e tiram a sorte da que lhes deve caber na partilha.

Os paxianos atribuem a Foxy o plano geral de suas províncias. Este grande legislador não teve tempo de concluir as construções e embelezamentos que tinha projetado; isso demandava o trabalho de muitas gerações. Assim, legou à posteridade o cuidado de continuar e aperfeiçoar sua obra. Lê-se nos anais de Pax, conservados religiosamente desde a construção do país - após a pandemia que destruiu tudo que o ser humano conhecia - e que abarcam a história de duzentos anos;

No centro das províncias fica o refeitório, quatro torres extremamente altas em formato de pirulito achatado, dispostas nos pontos cardiais em volta da praça que ao centro ficava a estátua de Foxy.

Logo quando se subia pelo elevador dava de cara com um salão amplo e grande o suficiente para comportar todos os habitantes da província – cerca de 300 mil em cada província e a população nunca aumentava, pois, o governo ensinava nas escolas que para o bem de todas as províncias, as famílias não deveriam ter filhos antes dos 30 anos e deveriam adotar a política do filho duplo. Todavia, se a população extrapolasse (só aconteceu uma vez; em Óteri) eles distribuiriam as famílias para províncias menos populosas.

No refeitório é onde todos os praxianos se alimentam antes de começar suas obrigações. A comida em Pax é distribuída levando em conta a altura e o peso do paxianos, assim a partilha de alimentos era justa; dando muito a quem precisa de muito e pouco para os que precisam de pouco. Logo, em Óteri ou em qualquer província do país não havia obesos ou desnutridos. Todos estavam na mais perfeita saúde e forma física. As Província que produziam mais alimentos do que precisavam enviavam o excesso para as províncias com menos. Evitando o desperdício – Desperdício de qualquer coisa, seja ou tempo, ou trabalho, ou alimento era imperdoável em Pax

Frida estava em uma fila gigantesca para poder conseguir pegar o seu café da manhã. Quando chegou a sua vez a garota andou até uma máquina metalizada e brilhosa e apertou um botãozinho fazendo uma tela tridimensional aparecer em sua frente. Ela digitou o seu código e a máquina verificou sua retina.

– Olá, Frida St. Girard. Bandeja 12033. – A voz mecânica de uma mulher falou

A garota pegou sua bandeja e procurou entre o mar de macacões azuis alguém conhecido. Achar alguém no meio de uma multidão em Pax era horrível, pois todos os habitantes além de vestirem a mesma roupa são todos carecas. Raspar o cabelo dessa forma foi uma medida imposta pelo governo – e muito repudiado no começo da formação do país – para evitar a vaidade e tentar manter uma igualdade entre homens e mulheres, o que funcionou de uma maneira esplêndida porque agora todos os habitantes parecem exatamente iguais, diferenciando as vezes pelas cores da pele.

Frida avistou um trio conhecido e andou por entre as mesas até chegar na mais afastada onde estava Chris, Katherine e Jess; seus melhores amigos. A garota pôs a bandeja sobre a mesa. Ela estava com tanta pressa que nem dera um comprimento a seus amigos e se pós a engolir, não comer, engolir a comida.

– Oi, para você também, Flilás– Katherine falou estralando o dedo na frente da face de Frida tirando-a de seu Frenesi – Você está com fome mesmo em garota?

Katherine estava sentada na cadeira em frente a Frida. Ela uma garota baixinha, seu tom de pele era uns três tons mais escuros que a pálida Frida, sua boca carnuda e seus olhos verde de cílios escuros denunciavam sua descendência cigana. Frida apostava como se Katherine deixasse o cabelo cresce como as pessoas atrasadas da era Moderna eles seriam cheios e cacheados como a cigana do livro O corcunda de Notre Dame que leu quando tinha sete anos.

– Terra para Flilás?

Flilás era um apelido, achava Frida, ridículo. Os seus amigos colocaram assim que a pálida e toda desengonçada Frida chegou na escola. No primeiro dia na escola – que para as crianças de Pax se iniciava antes mesmo dela saber seu próprio nome – os professores e alunos não demoraram para perceberem a sua característica inesquecível; ninguém nunca lembrava da palidez de Frida, ou de sua boca ser naturalmente rosada, ou simplesmente que havia um pequeno sinal atrás de sua orelha. Não. Todo mundo só se lembrava dos seus raros olhos lilás.

Logo, as crianças trataram de apelida-la de Flilás que é uma mistura ridícula de Frida com lilás.

– Eu não luero cheguar atraçada – Frida falou entre duas garfadas

– A Flilás relaxa um pouco, as entrevistas só começam em cinquenta minutos! – Jess falou dessa vez. Ela estava sentada ao lado de Katherine dando o seu caloroso sorriso.

Jessica ou Jess era a sem dúvida a garota mais bonita de Óteri, se não de toda a Pax, com seus olhos azuis turquesa, boca em forma de coração, rosto fino, maçãs do rosto altas e nariz reto ela é o que os gregos chamariam de Afrodite, mas em Pax idolatra a beleza em vez da inteligência era imperdoável.

– Quero causar uma boa impressão – Explicou Frida

– Eu que deveria estar preocupada com causar boa impressão, pois provavelmente vou conseguir no máximo ser atendente de algum órgão do governo – jess brincou, mas Frida sabia que tinha um fundo de verdade nisso, afinal, mesmo Jess sendo inegavelmente linda as profissões que iriam seguir era escolhida pelo governo a partir de quais matérias tínhamos melhor desenvoltura ou seja a que suas notas são melhores e no grupo de amigos de Frida, com exceção da própria que sempre tirava notas máximas em tudo e com apenas 18 anos era fluente em 9 línguas mortas (latim, Russo, francês, japonês, Árabe, alemão, Mandarim, espanhol e português) fora a sua língua nativa, todos eram péssimos alunos – horríveis para ser mais realista

– Frida, depois que sair o resultado vamos nos encontrar no lugar de sempre – falou Chris parecendo, como sempre, entediado – eu achei uma coisa e queria que vocês deem um olhada.

– E o que é? – Perguntou Katherine um pouco curiosa

– É uma coisa dos antigos – explicou Chris – Vai ou não Frida?

– Eu não sei...

– Vamos, Flilás você sabe que quer ir e eles não vão nos pegar – Katherine falou coçando os olhos

– Ok, eu vou.– Frida falou se levantando da mesa – Mas para de me chamar de Flilás

Frida deu as costas e saiu.

Frida dobrou algumas esquinas antes de finalmente chegar ao centro de profissões. Ali era o lugar onde os adolescentes que terminavam o nível básico de ensino iam para ver qual profissão seguiria. A sua profissão era escolhida baseado em sua desenvoltura nas matérias, por exemplo: um garoto que é bom em biologia e química provavelmente seguiria a área biomédica, se é bom em matemática e física segue para a engenharia e há aqueles casos onde você não é bom em nenhuma matéria, mas tem força neste caso só há duas opções ou vira um soldado ou vira lavrador. Porém, tem aquelas pessoas – como Frida – que era bom em tudo e ficava a critério da sorte a sua profissão.

A escolha da profissão era um momento crucial na vida de um paxiano, pois mesmo que todos “ganhem” a mesma coisa (Na verdade ninguém ganhava nada, porque não existia dinheiro. Os paxianos recebiam o crachá e dali tinham direito à alimentação, segurança, educação e moradia de qualidade) a escolha da profissão designava o quanto você iria trabalhar – não em questão de horários todos os cidadãos só trabalham seis horas por dia – mas em questão de força. Convenhamos que um agricultor trabalha mais que um médico.

Frida empurrou a porta com a mão e ficou um pouco irritada com seus amigos por tê-la atrasado. Havia cerca de trinta adolescentes na sua frente e ela planejara ser no máximo a decima.

Frida entregou o seu crachá ao atendente o qual digitou rapidamente em seu teclado e em seguida disse que ela podia sentar em qualquer lugar. Frida optou por sentar no lugar mais ao fundo e pegou um livreto para ler.

O livreto era o mesmo livreto que fica em todos os estabelecimentos de Óteri. O livreto é cheio de imagens e conta a história da formação de Pax que Frida já sabia de có.

O mundo estava em guerra. Superpotência contra superpotência. Famílias arrasadas, crianças famintas, países destruídos, mas uma superpotência havia adquirido uma nova arma. Uma arma de fácil disseminação. Uma arma biológica criada a partir de uma superbactéria. Essa arma foi nomeada X-Cion e a doença provocada por ela Cion. A superpotência dona da nova arma e crente de ter tudo sobre controle disseminou a doença em um dos países inimigos. Todavia algo fugiu do controle e a doença logo estava em outro país, depois em outro e outro, e outro, e outro. A superdoença provocada por ela fugiu do controle e em menos de dois anos havia se disseminado uma praga pelo velho mundo maior que qualquer outra doença já vista. As mortes cresciam em progressão geométrica. Depois de anos lutando contra a praga alguns governos sobreviventes e com algum poder resolveram juntar as poucas pessoas sobreviventes e formarem um lugar superprotegido onde as pessoas poderiam viver em paz. Esse lugar se chamou Pax e foi criado aos moldes de uma utopia onde todos os habitantes daquele novo país seriam iguais indiferentemente de cor, raça ou do sexo.

– O que você acha que aconteceu as outras pessoas? – Uma garota morena de olhos tão escuros quanto a jabuticaba e usando óculos perguntou. Frida demorou um pouco para entender que outras pessoas ela estava falando – As que não conseguiram chegar até aqui.

– Ah, morreram pela praga – Frida falou

– Mas se alguma delas desenvolveram uma imunidade? E estão por aí... – os olhos da garota brilhavam – você deve estar achando que sou louca

Frida deu um sorriso amigável

– As pessoas achavam que Kepler era louco e olha só não é que as orbitas são mesmo elípticas – Frida falou sorridente

– Mas Einstein era mesmo louco – A garota brincou

Frida pôs a mão na boca e fingiu surpresa:

– Talvez você seja louca

– shhhhh – a garota levou os dedos os lábios – não conte para ninguém

As garotas riram

– Jane Torquato – O atendente chamou

– Essa sou eu – a garota de olhos de jabuticaba falou se levantando

– Boa sorte e não deixem eles descobrirem sua insanidade – Frida sussurrou a última parte

– Pode deixar comigo – Jane falou

A garota andou até o atendente. Ela mostrou o seu crachá e o atendente apontou para um corredor.

Alguns minutos depois Jane saiu do corredor e dissera que seria astrofísica o que era bom. Ótimo na verdade. Em Pax existia um número certo de profissões de pesquisadores e a cota de astrofísicos são 30 em todo o país o que significa que Jane era muito boa. Talvez ela realmente tivesse a loucura dos físicos. Frida deu os parabéns a Jane que correu para contar aos pais, mas agora a cabeça de Frida girava sobre outro assunto: Havia possibilidade de haver humanos lá fora?

Depois de horas Frida chegou à conclusão que era impossível! Mesmo que alguns humanos tenham desenvolvido imunidade isso aconteceria em uma proporção de 1/300.000. Seria mega raro encontrar esses humanos e todos em volta deles teriam morrido e sendo o ser humano um ser sociável ele teria morrido por não conseguir caçar ou simplesmente de solidão. A verdade era que não havia como ter seres humanos lá fora.

A cabeça de Frida girava tentando encontrar uma possibilidade; talvez se dois irmãos que tivessem o mesmo genótipo? Não, eles já teriam morrido e sem deixar descendentes; talvez se o humano com o genótipo encontrasse um com mesmo genótipo? Não, a probabilidade de isso ocorrer é quase zero e para produzir descendentes teriam de ser homem e mulher; talvez...talvez...

Frida começava a ficar impaciente com a demora. Olhou para o seu macacão azul a cada minuto para achar alguma dobra, mas depois de algum momento enjoo disso e tentou recitar as casas decimas de pi.

– 3, 141315...

– Frida St. Girard

Frida andou até o atendente que pediu novamente o seu crachá.

– Terceiro andar, Sala P7. Boa sorte, Srtª. Gregory.

O corredor era extenso e apertado, mas bem iluminado. Nas paredes brancas havia pinturas de ex-legisladores, Frida sabia o nome de todos: Foxy, John, Veronica, Burman, Rabi, Charlie, Margareth, Truman, Van Del, Mary-Anne até o atual governador: Yang Cho

Frida apertou o botão do elevador. Sentindo-se meio pequena em meio aquele enorme corredor e a demora só a fazia ansiar cada vez mais por um espaço menor. Cerca de alguns segundos depois as portas de vidro se abriram com um pequeno bipe e ela entrou.

– Olá, visitante. Qual o andar deseja ir? – Um desenho em 3D de uma mulher magricela usando o macacão padrão de Pax surgiu em uma tela ao lado da porta.

– Terceiro andar – Frida respondeu.

– Aproveite a Vista – A mulher desejou e sumiu, deixando apenas o hino de Pax tocando e o símbolo de sua bandeira na tela assim que o elevador começou a subir.

As paredes do elevador eram de vidro e em quanto o elevador subia era possível ter uma vista maravilhosa de Óteri com seus prédios padronizados arranhando os céus, ruas bem planejadas, o refeitório pouco distante dali, algumas poucas pessoas andando pela cidade e lá no fundo, depois das cercas do limite da cidade, ficava uma floresta de arvores altas que seguia até onde a vista alcança.

As portas se abriram. Frida puxou todo o ar que conseguiu e soltou rápido provocando um barulho mais alto do que ela imaginara. Seu coração batia acelerado, se chocando contra as suas costelas com o simples pensamento que seu futuro seria decidido atrás de uma dessas portas. A garota suspirou novamente e saiu a procura nas portas o código que o atendente a dera para identificar o lugar onde iria entrar.

– P1...P3... P5...P7!

Frida bateu na porta de vidro espeço opaco.

– Pode entrar

A garota apertou o botão branco e a porta correu para o lado revelando uma sala relativamente pequena, totalmente branca; desde as paredes aos móveis, com exceção de uma série de telas hologromatica que escondia uma mulher muito concentrada em seu chá mandou-a se sentar.

– então...? – A mulher com alguns simples movimentos no ar apagou algumas telas, abriu outras e digitou.

– Frida St. Girard – Frida se apresentou com um sorriso amigável.

– Frida St. Girard – A mulher repetiu e pousou os olhos pela primeira vez sobre Frida. – Me chamo Mary.

A mulher tinha sua pele escura, alta e esguia, de sobrancelhas claras, lábios carnudos, nariz largo e rosto fino, todavia os olhos dela chamaram a atenção de Frida.

– Seus olhos... – Frida não sabia como falar que ela tinha um olho verde e outro azul

– Chama-se heterocromia ocular – Explicou Mary com ar de tédio, tirando novamente a atenção de Frida e voltando-se para as telas.

– Eu li sobre isso na minha aula de biologia. É uma condição hiper rara e.... – Começou a garota com entusiasmo

– Seus olhos também não são os mais comuns...Freya? – Chutou Mary

– Frida – corrigiu

– Tenho problemas com nomes – Mary vasculhou nas gavetas até encontrar algo de metal em formato de um ovo achatado – Isso é um detectou de mentiras. Não é nada pessoal é só para garantir que você não minta para as minhas perguntas.

Mary se levantou e pôs os dois objetos pouco acima da minha orelha e sentir um pequeno choque e quando percebi ela já estava novamente em sua mesa.

– Vai doer um pouquinho – Mary falou enquanto analisava algo em sua tela


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