Palavras escrita por Éden


Capítulo 4
Livro II — Romeu e Julieta


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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— Atenção todos os internos do Hospital Psiquiátrico D.K. Aqui quem vos fala é a sua diretora, Luiza, avisamos a todos que daqui a um dia teremos o dia de comemorações pelo Natal e por isso vocês ficaram aqui apenas com a Senhorita Severa e o Doutor Romantini, esperamos sinceramente que não tentem nenhuma bobagem como da ultima vez. Deixaremos um banquete especial, composto de alimentos saudáveis e vitaminosos, esperamos que gostem! - dizia a voz da Luiza, que ressoava por todo o hospital por meio das diversas caixas de som espalhadas pelos corredores.

Era manhã do dia vinte e quatro de dezembro, véspera do Natal, os internos estavam bastante contentes com a chegada desses feriado, alguns adoravam comemorar tal data - pelos presentes, é claro - já outros viam uma oportunidade de fugir desse holocausto. Cristina estava dividida entre duas opiniões: Se devia tentar fugir - pela quinta vez - e ter grandes chances de falhar ou permanecer como esta, tentando parecer normal aos padrões do D.K. Ela sabia que seria uma imensa dificuldade passar pelo pente fino de Severa, uma mulher, como diz o nome, perdidamente severa e também pelos olhos atentos do Doutor Romantini, um homem sem escrúpulos, que não mede esforços para tentar se aproveitar da situação em que algumas pacientes se encontram e cometer crimes sexuais bem graves. Era quase impossível escapar desse pandemônio.

Nove horas e trinta minutos, nada de novo acontecia naquele dia. Cristina ainda estava encabulada com os acontecimentos do dia anterior, tentava a todo momento se convencer que era uma ilusão de sua mente. Era dever da mesma parecer normal, mesmo que não seja, ela precisava ter sua vida fora daquele hospital, mesmo se isso custar alguns neurônios a menos.

O ponteiro do relógio principal, no alto da grande torre que todos os detentos temiam - conhecida como ‘Torre dos Murmúrios’ devido aos gritos constantes e ao desaparecimento das pessoas que eram levadas para lá -, se alternava de trinta para trinta e um. O tempo parecia não passar, Cristina desejava que sua vida desse um pulo e ela acordasse em sua cama, com a família a amando verdadeiramente, mas depois de tantas decepções, ela acreditava que nada seria como antes, já que sua mãe não a visitava a muito tempo. Depois de passar o dia todo trancada em seu quarto, a garota decide caminhar pelo jardim e observar a monotonia de sempre: As enfermeiras tentando fazer a teimosa da Maria tomar o remédio, o Pedro subindo nas árvores e despencando delas a toda velocidade e depois sendo socorrido pelos médicos… Mas, ao colocar seu primeiro pé descalço na grama, percebe algo de diferente: Cinco homens - ou montanhas? -, vestidos de preto e com óculos escuros, entravam no hospital e levavam consigo um jovem - bem bonito, por sinal - amarado em uma camisa de força, mas que aparentava ser normal. Luiza parecia bem preocupada com o rapaz, já que decidiu não se aproximar muito, apenas mandou que os homens os liberarem da camisa e fossem embora em seguida e assim fizeram, liberaram o rapaz que em seguida começou a caminhar pelo jardim e se sentou em um banco, cruzou as pernas e sorriu para Cristina.

Cristina sentiu que precisava se aproximar desse tal rapaz, mas ela não sabia o porque. Ela então simplesmente virou -se para a porta do prédio e caminhou para dentro, indo na direção de seu quarto. Era só mais uma das bobagens de sua mente louca, pensou.

— Ei! Garota! - gritou o rapaz, se referindo a Cristina. A mesma ficou surpresa, parou, deu meia volta e encarou o jovem com seus olhos negros penetrantes. O moço caminhou na direção da jovem, Cris aproveitou o momento para dar uma boa olhada no rapaz - e viu que não era de se jogar fora -.

— Falou comigo? - perguntou Cristina. O rapaz foi se aproximando e estendeu a pálida e gélida mão para a garota, que fez o mesmo, desconfiada.

— Me chamo Victor. - ele solta a mão da garota e olha no fundo dos olhos da mesma, Cristina fica encantada com a coloração da íris do jovem, um azul vivido, como nunca havia visto antes.

— Cristina. - ela soltou a mão, inclinou a cabeça para a esquerda e fez uma expressão confusa. — O que você tem? - Victor riu.

— Nada. Assim como você! - exclamou, enquanto ia na direção de um banco. Cristina foi atrás e se sentou ao lado do mesmo, atordoada com as palavras deste.

— É claro que eu tenho… - respondeu a garota, receosa - Eu sou louca! Por isso estou aqui… - ela encarou o rapaz - E você também deve ser!

— Não eu não sou, e você também não é… - ele cruzou as pernas e começou a roer as unhas - Pode ficar calma, logo logo você vai escapar daqui! - Victor se inclinou para o lado e olhou para trás de Cristina, a mesma, curiosa, olhou para trás não vendo nada. Ao se virar de volta, o rapaz já não se encontrava mais lá, apenas um livro estava sobre o banco. A garota, tentando acordar, se estapeou e fechou os olhos com raiva, mas percebendo que nada mudava, sentou -se ao lado do livro, o pegou e abriu.

— Romeu e Julieta… - ela exclamou, enquanto foleava -o, a mesma encontrou no meio do livro uma dobra, curiosa, a garota foi até a página em questão e desdobrou o papel, justo na página onde Julieta bebe uma poção, que faz Romeu pensar que a mesma estava morta. Ao lado da dobra uma receita: “Veneno da morte falsa”. Cristina se espantou e arregalou os olhos, mas não deu atenção, pegou o livro colocou por baixo da blusa e correu para o quarto, deixando o mesmo por baixo do colchão, como fez com o anterior. Seguindo sua monotonia, a mesma corre para o banheiro para jogar água no rosto e ‘tentar’ acordar de sua ilusão, mas ela se espanta ao perceber que Victor se encontrava lá, nu, se banhando. Ao ver Cris, o mesmo abre um sorriso, pega uma toalha e cobre seu corpo esbelto. A garota nunca se sentira como naquele momento, parecia que uma ventania passava pela sua mente e deixava apenas a imagem do rapaz lá dentro. Não pensava, não agia, não falava. Só cobiçava por algo que nem sabia do que se tratava. Também, era de se esperar, depois de tantos anos trancada, sem conhecer nenhum rapaz que soubesse contar até vinte.

— Cristina…? - exclamou Victor, não dando atenção para sua nudez explicita. A garota continuava boquiaberta e babando, ao encarar o dorso do rapaz. — Oh! Sorry girl… - ele finalmente percebe sua promiscuidade, pega suas vestimentas e as traja rapidamente. Cris acorda do transe com um chacoalhar da cabeça e fecha os olhos, tímida.

— O… Que você faz aqui? - gaguejou a garota, tentando não olhar o rapaz se trocando.

— Não é meio óbvio? - pergunta ele, olhando ao redor. — Brincadeira… Estava esperando você para ter certeza que encontrou meu presente… e precisa de um bom banho! Você não faz ideia de como é ficar preso dentro de um livro empoeirado por toda a vida…

— ‘Preso dentro de um livro’? - a garota fez uma expressão confusa.

— Sim! E devo te agradecer por isso… Se não fosse você estaria lá até agora! - exclamou.

— Me agradecer? Mas eu não fiz nada!

— Ontem, quando você leu aquele livro ‘A profecia da vida’ em voz alta, fui liberto do meu livro original! Pena que ele estava na posse de um inimigo bem sagaz e ele conseguiu me prender facilmente… Bom, e aqui estou! - ele sai do banheiro e vai até o quarto, se sentando na cama de Cristina e pegando o livro citado acima. — Esse maldito do Klaus… Mas ele não perde por esperar… Logo, logo estarei livre dessa prisão! - ele olha firmemente para Cris e sorri - E você também, senhorita!

Cristina se espanta, bota a mão no peito e tenta se afastar de Victor.

— Você é maluco! - exclamou a mesma, caminhando de costas para a porta do corredor - Por favor, vá embora e finja que nunca me conheceu! - ela aponta para a porta - Se não eu vou chamar os enfermeiros e pode ter certeza que eles não gostam que os rapazes invadam o quarto feminino!

Victor se levanta, vai até a direção de Cristina e ameaça sair para fora, mas antes beija a garota no rosto e volta a caminhar com um sorriso. Cris fica pasma e sem ação, mas nunca se sentiu tão bem como naquele momento.

— Pode ficar calma… Você ainda vai acreditar em mim! - exclamou o rapaz, saindo do quarto. Cris, ainda surpresa com o beijo, caminhou para a cama e se sentou na beirada, passando a mão no rosto, com um sorriso belo de orelha a orelha.

Ela em seguida pegou o livro (Romeu e Julieta) voltando a ler -o desdo começo, dando destaque apenas as partes que falam do romance do casal e dos sentimentos de Julieta. Ela sabia que a historia dos dois podia ajudar a explicar o que ela sentia, mas não tinha certeza do porque. Victor ficou a espiando pelo buraco da fechadura, ele não queria demonstrar perto de Cristina, mas estava bastante preocupado com a descrença da garota. Se ela não acreditasse podia ser o fim de um raça.

E então, Julieta, em seu ultimo ato de amor, beijou o amado na esperança de que ainda havia um pouco de veneno em seus lábios, não encontrando o que procurava, olhou para o céu estrelado, uma lágrima escorreu de seu olho e então declarou aos sete ventos sobre o amor que sentia por Romeu, depois, pegou um punhal da cintura do rapaz e desferiu um único golpe em seu peito, acabando com sua vida em pouco instantes. Eles morreram lado a lado, como um casal de apaixonados.



— Sera que… Amor? - a garota se levanta, guarda o livro novamente e vai a direção do espelho - Mas o que é amor? - pergunta a jovem, arrumando seu cabelo rebelde e sorrindo sem motivo. Ela apenas queria, sorrir.

✴✴✴

Do outro lado do mundo, Claire e Alex observavam Cristina com a ajuda do espelho. A mesma parecia bastante contente ao ver que Victor, aparentemente já eram conhecidos, estava vivo e melhor, pretendia fazer com que a garota voltasse a acreditar. Já o rapaz, começando a desenvolver um sentimento pela moça, não parecia nada contente e exalava ciumes por todos os lados.

— Esse cara nem é grande coisa… - disse Alex, enciumado. Claire olhou para o rosto do rapaz e gargalhou.

— Parece que alguém esta com ciumes! - exclamou a fada, se levantando de sua cadeira e indo até sua imensa biblioteca - nunca se vira tantos livros juntos -, ela pega um aleatoriamente e caminha de volta para a sala.

— Que livro você vai mandar para ela dessa vez? - pergunta Alex, curioso.

— O Flautista de Hamelin… - ela olha para o livro e sorri - Se ela conseguir libertar o Flautista… Ele vai ser uma grande ajuda na hora de fugir do hospital! - ela coloca o livro na janela, o gavião de três cores novamente aparece, pega o mesmo e sobrevoa. — Ele tem poderes ilusórios e vai ser bem útil na fuga!

— Mas e o Romeu e Julieta? Porque mandou esse livro para ela? - pergunta o rapaz, confuso.

— Venha! - ela caminha até uma sala cheia de espelhos por todos os lados, lá apenas um reflete a imagem de ambos, ela se aproxima deste e toca -o, Alex fica a certa distancia, com medo - Não é apenas ‘fazer ela acreditar’, para isso é preciso fazer com que ela se ame… E para ela se amar, ela precisa encontrar um amor primeiro!

— Ou seja?

— Ou seja… Romeu e Julieta é um dos romances mais aclamados e famosos. Por muitos anos esse conto despertou encantos por mulheres e homens que não sabiam amar e hoje Cristina vai ajudar a reviver essa historia e reviver o ‘amor’ no mundo!

— O que? Como assim?

— Meu jovem… Cristina não é uma Seladora comum! Ela tem o poder de reviver QUALQUER historia, basta apenas sentir o que ela passa, além disso, ela pode também trazer os personagens para a realidade… Como foi o caso de Victor, que não era um personagem, mas estava preso em uma historia e ela o libertou!

— Epa! Então quer dizer que você premeditou tudo isso? - ele faz uma expressão de surpresa. — AH! Então foi por isso que você mandou o livro das profecias primeiro para ela?

— Exatamente! Eu sabia que o poder dela podia trazer o Victor de volta a nosso mundo, e sabia também que ele estaria nas mãos de Klaus! Ele vai ajudar a garota a reviver sua imaginação, sua crença! Mas é claro, se não fazer nenhuma bobagem antes!

✵✵✵

Novamente na América, precisamente em New York, um belo homem - olhos azuis, cabelos pretos e sorriso devasso - caminhava por uma enorme empresa, levando as mulheres que passavam no caminho ao delírio - e alguns homens também - ele por sua vez, não dava atenção aos mesmos, continuava em frente indo na direção de sua sala. Logo, ele entra em uma porta a esquerda, olha para os lados e bate -a com toda a força na parede, a placa que estava pendurada cai, deixando o nome do homem a mostra: Klaus Devir.

Lá dentro o homem joga suas coisas por cima de um banco e se senta em uma cadeira por trás de uma mesa, ele fica aguardando alguma coisa, até que uma mulher - ruiva, olhos pretos, bem vestida - entra e vai na direção do mesmo, fazendo de tudo para chamar a atenção do rapaz, que nem da atenção para a mesma.

— Com licença Senhor Klaus. - disse a mulher, se aproximando do homem -.

— Finalmente, Olga! - ele se levanta e caminha na direção da mulher. — Fez o que mandei? - ele observa as curvas da moça, que faz tudo para chamar atenção.

— Sim senhor… - ela se abaixa para pegar uma caneta que estava no chão, arrebitando bem o bumbum. Klaus por sua vez, saiu andando pela sala e não se importou com a mulher. — Aquele rapaz foi preso no seu hospital… Devir Klaus (D.K) - ela se levanta e olha com raiva, por ter sido desprezada.

— Ótimo! - ele se senta na cadeira novamente, seus olhos brilham em uma coloração vermelha e uma dor de cabeça repentina atinge sua mente. Ele grita e coloca a mão sobre os olhos, tentando fazer parar. Olga se assusta e se afasta devagar.

— Senhor… Quer que eu chame um médico?? - pergunta a mulher, surpresa.

— NÃO! - grita Klaus, irritado. — SAIA DAQUI SUA… VADIA! - e em seguida, aponta para a porta. A mulher corre para fora desesperada. — AH! - ele grita e em seguida vasculha a gaveta de sua mesa, encontrando um livro bem antigo. Ele pega o objeto e abre -o, jogando sobre a mesa desesperado. — Vida minha, vida sua, vida nossa, vida tua! VIE LE VIE! - depois das palavras do homem, as letras do livro começam a sair das páginas voando e rodeiam o mesmo, fazendo -o brilhar em uma tonalização roxo escuro. Uma explosão ocorre, deixando uma névoa colorida no ar, a mesma vai baixando e revela Klaus, despido e renovado, sua pele estava muito mais firme e brilhante, seus olhos estavam mais coloridos e seu sorriso mais devasso do que nunca. — Ah! - disse o rapaz, com prazer. — Não existe nada melhor do que nascer de novo! - ele em seguida fecha o livro e caminha para fora. O título deste ficava em destaque na mesa, por brilhar intensamente: A profecia da Vida.





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Notas finais do capítulo

O que acharam? :D



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