Não se Esqueça das Rosas escrita por Arabella


Capítulo 2
Terrores Noturnos


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! Obrigada pelos reviews e pelo suporte, vocês são incríveis!



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Thomas acordou, ainda sentindo a sensação ardente percorrer seu corpo. A cama estava embebida pelo suor do garoto, os lençóis grudados em sua pele.

Os urros vieram antes que ele pudesse se deter, sôfregos e soluçantes. Não tardou muito para que a luz do quarto fosse acesa e um casal preocupado atravessasse a distância até o garoto, como tantas vezes havia acontecido.

–Calma, Tom, foi só um sonho... –A mulher de curtos cabelos loiros se inclinou sobre a cama, afagando a cabeça do garoto de maneira maternal.

–O incêndio... –Thomas soluçou, parecendo ter muito menos do que seus dezessete anos.

–Relaxa, filhão. Você tá bem. –O homem o encarava, um sorriso de pena estampado no rosto preocupado.

Thomas abaixou a cabeça, tentando parar os soluços. Recordava-se dos gritos, dos flashes de pessoas correndo para lá e para cá... Das chamas. Sentiu as bochechas esquentarem com a vergonha assim que fitou novamente os pais adotivos.

–Me desculpem... –Ele falou, a voz trêmula.

“Merda. Eles devem pensar que adotaram um bebê. Ninguém merece ficar acordando sempre com choros. ”

–Não, Tom, está tudo bem. –A mulher sorriu docilmente.

–Você vai querer os remédios? –O pai lhe perguntou, já se afastando da cama para seguir até o banheiro.

–Não, não! Eu... vou ficar acordado. –Balançava a cabeça freneticamente, a voz urgente.

–Tem certeza? –A mãe tombou a cabeça, sem entender.

–É sim. Eu vou arrumar as coisas para a escola. –Deu de ombros. –É o último dia de aula, afinal.

–Como quiser. –A mulher se inclinou novamente para lhe plantar um beijo no alto da cabeça.

Assim que os pais saíram, Thomas enterrou o rosto entre as mãos, tentando parar as várias lembranças que lhe tomavam a mente. Seria pedir demais um dia sem aquilo tudo?

XXX

Alexa tinha os olhos fixos na pequena televisão enquanto comia biscoitos. Esperava por uma ligação e não conseguiria dormir antes de recebe-la; por isso estava ali de madrugada assistindo um filme infantil tosco, mesmo tendo aula no dia seguinte.

A garota estava tão bagunçada quanto o pequeno apartamento em que morava. Seus cabelos castanhos estavam presos em um coque um pouco solto e ela usava um conjunto de moletom surrado e velho que era definitivamente grande demais para o seu corpo. Os olhos cinzentos eram acompanhados por escuras olheiras roxas e o rosto anguloso estava um pouco vermelho devido à ansiedade.

O telefone finalmente tocou, despertando Alexa de seus próprios devaneios angustiantes. A garota deixou as feições serem invadidas por um sorriso torto antes de estender a mão para o aparelho preto, o levando em seguida até o ouvido.

–Alô?

–Alexa Blues? –A voz do outro lado da linha era grave e firme.

–Sim. Quem é? –Perguntou por perguntar, já sabia a resposta.

–Aqui quem fala é o Detetive Keys. Espero não ter lhe feito esperar muito.

Ah, claro, imagina. Eu sempre costumo estar acordada às 03:00”

–Não, está tudo bem. Alguma nova informação? –A garota murmurou.

O detetive suspirou profundamente, fazendo o estômago de Alexa afundar.

–O que foi? –Ela perguntou, a voz trêmula.

–Não temos nenhuma nova informação. Geralmente, o Cobra dá algumas pistas propositalmente, só para sabermos que Rosie ainda está viva, mas não temos mais nada.

Alexa sentiu os olhos arderem, mas manteve-se firme.

–Ele só está brincando comigo. –Falou, convictamente. Sabia que falava mais para si do que para o detetive.

–Assim espero, garota. –O detetive murmurou, receoso.

–É tudo? –Ela lhe cortou, ansiosa para desligar o aparelho.

–É... Na verdade, conseguimos uma possível família adotiva para você. –Keys se animou repentinamente.

A garota revirou os olhos. Tudo o que Alexa não precisava era de uma nova família.

–Sinto muito, mas minha única família é a Rosie. –Ela retrucou, a voz repentinamente seca e áspera. –Fique bem, detetive. –Descansou o telefone em sua plataforma, o desligando.

Alexa se levantou do sofá para seguir até o quarto, os olhos ainda ardendo com lágrimas. Queria espantar os pensamentos, despencar de sono... E assim o fez.

XXX

O tempo se arrastava no último dia de aulas no Colégio Galilei. Thomas conservava os cotovelos sobre o tampo da mesa, a impaciência lhe levando a bater o pé num ritmo frenético.

–Sr. Turner. –A professora chamou, despertando o garoto de seus devaneios.

Thomas desprendeu o olhar da janela para encarar a mulher que andava até sua mesa.

–Quê? –Perguntou, ainda aéreo.

–Sei que estamos todos muito ansiosos para as férias, mas como ainda estamos tendo aula aconselho que preste atenção. Este conteúdo cairá na próxima prova, na volta às aulas, e eu sei que você... Bem, precisa dessa nota. –Ela abriu um sorrisinho que fez Thomas fechar as mãos em punhos e a sala irromper em risos baixos e discretos.

Ele soltou um grunhido leve antes de deixar o corpo cair desleixadamente na cadeira.

–Tá, desculpa. –Respondeu.

A mulher, satisfeita, tornou a se virar para o quadro a fim de rabiscar algumas palavras na superfície branca.

–Ninguém merece essa professora, cara. –Matt murmurou enquanto se inclinava para Thomas.

–Não é? –Uma garota alta e morena revirou os olhos.

–Tanto faz. –Tom bufou em resposta. Passou algum tempo em silêncio antes de abrir um sorriso malandro: –Como vão os planos para a festa desta noite, Blair?

A garota morena deixou um risinho constrangido escapar antes de olhar para o chão.

–Você vai? –Ergueu uma sobrancelha escura.

Tom revirou os olhos, mas ainda sustentava o sorriso.

–Claro. Bom, se você quiser que eu vá. –Ele fez uma careta, repentinamente desconfortável.

–Não, é claro que quero. –Blair ergueu os olhos para ele, a voz urgente. –É só que... estou surpresa. Não vai ter muita gente lá. –Deu de ombros.

Tom riu do constrangimento da garota, tamborilando os dedos sobre o tampo da mesa e, por fim, deixando um sorriso orgulhoso lhe tomar as feições. Sabia que Blair era apaixonada por ele há algum tempo e, embora eles nunca tivessem tido uma chance, esperava que aquela festa finalmente fosse o que precisavam.

Fitou a garota de esguelha após alguns segundos, tomando tempo para analisar seu rosto delicado. Os olhos claros em contraste com a pele escura eram de um verde quase felino, o formato amendoado. Os lábios cheios e rosados esboçavam um sorriso bobo enquanto ela encarava o quadro e Tom ficou feliz com o pensamento de que ela estaria sorrindo por ele.

O sinal finalmente tocou, indicando o final da aula. A professora recolheu os materiais enquanto os alunos se erguiam tomando as mochilas e se direcionando aos armários para seguir até o refeitório.

–Dando em cima da Blair Helston? –Matt surpreendeu Thomas com um soco leve no braço.

O garoto deu um sorriso malandro em resposta, fazendo o amigo gargalhar.

–Sabia que não deixaria aquela garota escapar. –Matt revirou os olhos, brincalhão. –Ela é muito gostosa, cara.

–Eu sei. –Thomas deu um sorriso torto enquanto parava na frente do armário. Procurou lá dentro até achar a familiar jaqueta preta, tremendo devido ao inverno inglês. A vestiu por cima do suéter azul enquanto alargava o sorriso devido à sensação morna quase imediata. Agarrou também um embrulho pequeno e familiar: Uma caixa de cigarros. Gostava da sensação de tê-los consigo, mesmo que não planejasse fumar logo.

–Eu só ‘tô interessado em uma pessoa... –Matt suspirou e Tom ouviu o barulho de passos contra o chão da escola, se virando.

A garota na frente deles era alta e dispunha de longos e cacheados cabelos loiros. Seus olhos escuros esquadrilhavam todo o corredor enquanto ela apertava uma pilha de livros contra o peito, conservando um ar nervoso.

–Eu não lembro de um momento em que você não estivesse interessado na Gigi Langdon. –Tom estreitou os olhos enquanto a garota se afastava. –Não sei o porquê de nunca ter a chamado pra sair... Ah, é, porque você é um merdinha sem atitude. –Tom fingiu se lembrar de algo, batendo na testa de leve.

Matt bufou, irritado.

–Não é tão simples. Ela... –Matt fez uma pausa longa e Tom encarou o amigo a tempo de vê-lo corar. –Bom, eu já te contei.

–Certo, ela te desprezou quando você a chamou pra fazer um trabalho qualquer quando a gente era pirralho. É por isso que você prefere ficar sofrendo pelos corredores depois de uns três anos? –Tom parou abruptamente assim que chegaram na mesa de costume no refeitório.

–São quatro anos... E vá à merda, Turner, você não entende. –Matt revirou os olhos, se largando em uma das cadeiras ao lado de um garoto forte e loiro que abraçava uma menina alta dentro do uniforme de líder-de-torcida.

Tom se sentou do lado oposto da mesa, perto de um rapaz franzino que estava mergulhado em uma pilha de papéis.

–Quê isso, Nathan? –Tom indicou as anotações, despertando o garoto de seu transe estudantil.

–Trabalhos para conseguir pontos extras... A bruxa da Sra. McCall nem considera me dar uma mãozinha no Conselho assim, de graça. –Ele bufou, voltando a rabiscar algumas coisas nas folhas.

–Talvez se você se esforçasse mais durante o ano... –Uma garota baixa e ruiva se manifestou enquanto dava uma mordida no seu sanduíche.

–Não enche, Olive. -Nathan retrucou.

As pessoas ao redor soltaram alguns risos baixos, ao que Olive respondeu com um grunhido.

–Bom, mudando de assunto, vocês ficaram sabendo da novata? –Matt ergueu uma sobrancelha do outro lado da mesa.

–Hum, a Blues? –Olive indagou tombando a cabeça.

–Quem é Blues? –Tom franziu o cenho.

–Alexa Blues. –Matt falou, animado. Arregalou os olhos ao perceber que o amigo ainda não sabia de quem se tratava. –A novata gata que entrou há uma semana. É impossível que você não tenha sequer um horário com ela... ou muito azar. –O garoto soltou um sorriso tarado dando de ombros.

–Tá, tanto faz. –Thomas revirou os olhos, não entendendo o ponto da conversa.

–Certo, a questão é que um homem alto e mal-encarado chegou hoje na escola procurando por ela. Fazia parte da assistência social e tudo mais... os boatos que correm são de que a garota é drogada, o que para mim não é nenhum problema. –Matt soltou um risinho –Até torna as coisas mais interessantes...

Thomas estreitou os olhos. O garoto sempre odiara boatos, mas aquele o irritou de uma maneira específica: Sabia muito bem o que era precisar de assistência social após a morte dos pais e pensava que Matt entendia a seriedade disso, mas aparentemente não.

Ele se ergueu da mesa sem cerimônia, se dirigindo para algum banheiro próximo. Seu grupo de amigos, que antes riam, calaram-se por algum tempo enquanto ele se afastava, uma série de murmúrios se seguindo. Thomas desejou poder virar e berrar com eles, xingá-los de todos os nomes que lhe viessem à mente, mas decidiu-se pelo velho e seguro conforto de um cigarro.

Assim que chegou até o banheiro, tirou a caixa do bolso traseiro. Apanhou um maço enquanto se sentava na pia de mármore, procurando pelo isqueiro dentro dos outros bolsos. Deu um suspiro frustrado assim que percebeu que não tinha fogo, soltando um palavrão em voz baixa.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Como sempre faço, apelo a vocês para que deixem reviews! São realmente muito importantes para mim e terei todo o prazer em respondê-los!



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