Adeus às Armas escrita por A Taverna do Historiador


Capítulo 2
As memórias de um velho Templário.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/637420/chapter/2

“Se o passado conta, é pelo que significa por nós. (...) Mas este passado, próximo ou longínquo, tem sempre um sentido para nós. Ele nos ajuda a compreender melhor a sociedade na qual vivemos hoje, a saber o que defender e preservar, saber também o que mudar e destruir. A História tem uma relação ativa com o passado.” (CHESNEAUX, Jean. “Devemos fazer tabula rasa do passado?”. Pag. 22).
_____________________________________________________________________

(25 anos depois...)

Minhas mãos trêmulas se desacostumaram a manusear objetos pequenos, mesmo que seja uma simples pena com tinta de polvo. Passei a vida manuseando espadas e escudos e isso me deixou desajeitado, além de minha avançada idade não ajudar em minha caligrafia. Peço perdão caso minhas palavras escritas com um pouco de dificuldade se tornem ilegíveis, mas farei um esforço para tornar esta biografia um resgate a memória de meus amigos e entes queridos.

Muito do meu passado se tornou um mistério, mas não o faço isto por mal. Muitas lembranças simplesmente me doem muito, embora eu tenha tido alguns momentos de alegria em minha vida. Deixo esta biografia feita de próprio punho para o conhecimento das próximas gerações de aventureiros em minha família, a fim de descobrirem que um dia existiram maravilhosas pessoas que deram suas vidas para garantir a existência de seus familiares e amigos.

Quisera Odin ter tomado minha vida nas amarguras de outrora, mas infelizmente em seus desígnios, ele me deixou envelhecer. Sinto minha vida aos poucos se esvaindo e senti a necessidade de homenagear meus irmãos em armas. Parte deste livro pode ser considerado como minha despedida pessoal desta vida, mas peço ao leitor desta biografia para não se aborreça com minhas palavras amargas, já que estou chegando a 60 primaveras de idade e só quero viver o que me resta em paz.

Para muitos nesta vila, sou um mistério ambulante. Quem desconfiaria hoje, de que atrás de minhas vestes esta um antigo Guerreiro Templário velho e fraco que em um período de sua vida participou de grandes batalhas? Sentado em minha modesta cabana na pequenina cidade de Hugel, observo o movimento cotidiano de um lugar pacato. Ultimamente ela vem recebendo a visita de inúmeros aventureiros (assim como eu fui um dia), atraídos pela popular e divertida corrida de monstrinhos. Pelo cais daqui de Hugel, tem muitos guerreiros atraídos também pela perspectiva de poder evoluir tanto físico, quanto espiritualmente, nas ruínas do Templo de Odin.

Cidade pequena, onde todos se conhecem e se respeitam. Ninguém aqui se arrisca a saber minha verdadeira origem quando, há 25 anos atras, eu apareci gravemente ferido nas montanhas geladas a oeste daqui, sendo socorrido por um humilde camponês no meio da gelada floresta ao lado das montanhas que circundam esta cidade. E eu acho que nenhum habitante indagaria sobre a aparição de um sujeito entre a vida e a morte tal como eu estava, visto que aqui a principal bandeira de seus habitantes é a caridade e a alegria, algo aprendido por mim em convívio com esta comunidade.

Bandeira! Quanto significado esta simples palavra teve para mim em meus tempos áureos de guerreiro! Mas quantos fantasmas me assaltam a alma pelo o que eu já fiz defendendo um estandarte. Até mesmo a disputadíssima corrida de bichinhos atordoa a minha alma em busca de paz, devido a estas simples palavras: Guerra do Emperium. Simples para quem lê. Complexo para quem já participou.

Típicas escaramuças entre clãs rivais, a Guerra do Emperium levou (e ainda leva) gerações inteiras de jovens guerreiros a se confrontarem em busca de glória, pelos confrontos de ideologias ou pelo simples desejo de vingança pelas perdas pessoais ou materiais. Ainda assim, embora estes sejam a motriz de toda uma Guerra do Emperium, a conotação do contexto vivido por mim e pelos meus amigos extrapolaram estas típicas batalhas que só aconteciam entre castelos. Estas batalhas em minha época se tornaram guerras totais, com direito a atrocidades e violências desmedidas. Dentre todas as verdades possíveis, darei a mais próxima visão dos fatos sobre o que ocorreu comigo e com tantos outros, eventos estes mudaram a antiga Rune-Midgard de tal forma que nem eu mesmo reconheço a partir da minha visão com os meus arcaicos olhos...

Ao contrario do que se passa nos feudos em que, quando você tomba apenas desacorda e retorna ao ponto de socorro, nesta guerra total tudo havia sido diferente: a dor existia a graus terríveis e as pessoas morriam, ao invés de desmaiar. Toda uma geração perdida pela culpa de, provavelmente, uma dúzia de homens cobiçosos e perdidos em paixões negativas.

Em nome dos meus antigos irmãos de batalha, venho lhes dedicar o sangue derramado em prol da liberdade conquistada pelo Reino de Rune-Midgard e outros Reinos adjacentes. Meu nome é Godfrey e o que tenho para falar aqui não se refere a gloria dos antigos lideres de clã ou aos eventos emocionantes e decisivos de grandiosas batalhas, mas sim de jovens que amavam seus entes, lutavam e temiam pelas suas vidas. Eles queriam estar caçando Esporos, não atirando de arcos em outros jovens. Eles queriam uma vida de aventuras, não queriam fatiar inimigos que mal conheciam. Mas quando veio o teste, quando veio à opção entre escolher ficar livres ou serem subjugados, eles lutaram. Pois um soldado pode até lutar pelo seu clã, mas morre pelos seus amigos. E é a eles que agradeço por existirem em minha amargurada vida, mesmo que estejam em minha memória.



Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Adeus às Armas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.