Um barulho ensurdecedor cobria a sala com perguntas pra todo lado, minha cabeça explodindo com os berros das crianças.
“OK. Hey, calma!” Gritei, a sala se silenciando aos poucos. “Ótimo. Agora, um por vez, faça uma pergunta.”
Kellie foi a primeira a levantar o braço, se esticando o máximo possível na cadeira.
“Professor, já resolvi todas as potências, equações de primeiro e segundo grau. Pode passar mais no quadro?” Pergunta ela, os olhos brilhando de animação.
A sala novamente se explodiu em suspiros e reclamações, as vezes xingando Kellie, a Sabe Tudo, as vezes xingando o quadro onde passei os exercícios.
“OK, calma, Kellie. Passarei mais depois, mas antes, explicarei mais uma vez a matéria.”
Expliquei todas as contas, todas as regras, tudo de volta. Assim que parei de falar, terminando a minha explicação, olhei para a turma, exasperado.
“Não entendi nada não, professor,” diz Dwel de repente, me fazendo suspirar alto.
“O que não entendesse, cabeça de ervilha? É tão fácil! É como a,” hesitei por um momento, procurando as palavras. “é como a inteligência mais cabeça que é igual a Kellie. Não é uma soma tão difícil.”
“Eu ainda não entendi”, Dwel apoiou a cabeça na mão, encarando as contas do quadro com desdém.
O sinal soou pelos corredores da escola, fazendo com que todos os alunos esquecessem das atividades e saíssem correndo pela porta, agarrando a mochila com força nas costas.
Guardei todo meu material na minha pasta, um por vez, tomando mais tempo que o necessário para arrumar tudo.
Suspirei novamente assim que entrei no carro, e suspirei ainda mais alto quando já estava em frente a minha casa.
Passei a chave e entrei, sem esperar por um Bom Dia, filho! ou Como foi seu dia hoje? Não era lá do costume de papai fazer essas coisas, assim como não era o meu.
Caminhei até a cozinha para me servir um pouco de café, carregando uma caneca quente para a sala e me jogando no sofá.
“O Jornal começou mais cedo desta vez. Decidiram revelar os selecionados agora mesmo, de manhã.” Diz papai, parecendo incomodado em sua poltrona. “Seu nome ainda não apareceu na tela.”
“Mas vai aparecer logo.” Tomei um pouco do café quando meu telefone vibrou no meu bolso, a tela exibindo uma grande foto de Aiden.
“O que foi?” Pergunto, encurtando a conversa.
“Bom dia pra você também, senhor Um Mais Um.” Debochou ele, sua risada atravessando o aparelho. “Você está vendo o jornal?”
“Não perderia isto por nada,” digo no mesmo instante em que a câmera pega o perfil da princesa Evlyn, que mais parecia uma boneca de porcelana de tão delicada – e linda – que ela é.
“Já disseram o nome de oito selecionados. Acho que você vai perder essa, meu chapa.”
“Não mesmo”, ri alto, chamando a atenção de meu pai que grita para eu calar a boca. “Um cara mais uma princesa é igual a casal feliz. Um cara chamado Axel.”
“Ihh, já começou, senhor Um Mais Um? Você nunca vai se cansar de fazer esses exemplos, não é?"
Fiz careta como se, de alguma forma, Aiden conseguisse me ver pelo celular.
Ouvi a voz do apresentador gritar pela TV, anunciando mais um nome.
“Agora são nove selecionados. Tem certeza que serás escolhido?”
“Absoluta.” Eu digo, confiante. Não havia o que temer, eu seria um dos selecionados. E mesmo assim, caso eu não seja, continuarei sendo um Três. Não tenho nada a perder.
“Certo. Que tal fazermos uma aposta?” Propôs ele, provavelmente rindo da minha cara. “Se você for escolhido, te pagarei quantos uísques você quiser. Se não for, você dará aula no meu lugar na sexta. Vai ter uma palestra na praça sobre a primeira família real com exposição exclusiva dos diários de Illéa. Eu preciso ir. É incrível!”
Novamente, torci a cara, tentando fazer a pior careta de todas. Como trocar ir para uma festa ou um bar para ir numa coisa daquelas?
“Fechado.” Digo, e pra me contrariar, mais uma foto surgiu no telão, a imagem de um homem ruivo sorrindo discretamente para mim, como se debochasse da minha perda dizendo Sou um selecionado, você não.
Agora, diferente de dois segundos atrás, eu tinha algo a perder com a seleção, e isto significava rodadas e rodadas de uísque esperando por mim solitariamente em uma mesa do bar Werl.
“Dez selecionados!” Cantarolou Aiden no telefone, dando gargalhadas. “Você quer que eu te passe o conteúdo da aula? Eu ia começar a explicar A Arte Real.”
“Guarde sua incrível aula de história para você, meu amigo. Eu não irei perder esta.”
Mais uma foto surgiu, desta vez um loiro, também rindo da minha cara.
“Tem certeza?” Ele pergunta, e pela primeira vez começo a duvidar de mim, me juntando a Aiden e papai.
“Olha,” comecei a falar, me preparando pra dizer Você não quer desfazer a aposta, não?, quando uma enorme foto apareceu na minha TV, preenchendo toda a tela, o meu rosto mil vezes ampliado. “é bom você ter economizado bastante dinheiro este mês.”