Kazoku 家族 escrita por Lara


Capítulo 1
Kazoku - Oneshot


Notas iniciais do capítulo

Olá! Tanto "A viagem de Chihiro" quanto "O castelo animado" não são de minha autoria. Esta oneshot foi uma ideia que tive a muito tempo atrás, mas que nunca tive tempo para escrever. Basicamente é a junção entre o mundo de Chihiro e o de Howl. Espero que gostem! Qualquer dúvida com relação a história é só perguntar! Reviews também são muito bem vindas! Milhões de abraços, e boa leitura!



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Havia várias coisas que escondia de todos ao seu redor. Não importava o quanto se aproximassem de si ele nunca abria o seu coração. Que coração? Ao passar a maior parte da sua vida sem um coração batendo dentro do seu peito, Howl percebeu que os seus sentimentos e emoções não eram mais um fardo a se carregar. Mentir ficou mais fácil, assim como esconder os seus pensamentos atrás de um sorriso. Tudo o que fazia era com o intuído de satisfazer a si próprio. O problema foi quando aquelas duas pessoas perceberam o que tinha feito. Howl não se importava com que aquele homem pensava, mas quando se deparou com as lágrimas descendo pelo rosto daquela pessoa que tanto amava algo dentro de si quebrou.

– Por quê? – a voz dela não passava de um sussurro repleto de tristeza. – Por que você fez uma coisa dessas? Eu... Eu fiz algo errado?

– Não! Não é isso! Eu...

– SILÊNCIO! – o pequeno Howl parou de falar e engoliu em seco sentindo o suor descer pela lateral da sua face. Ele não tinha ideia do que fazer. Nunca antes tinha visto aquela pessoa tão brava e muito menos a outra tão triste. – Você pelo menos tem noção do que fez?! Magia não é brincadeira de criança! Quantas vezes eu já não te disse isso?! O que tinha na cabeça ao pegar aquela estrela cadente?!

– Espere. – ela pediu ao segurar gentilmente o ombro dele. – Deixe-o falar. – encararam-se por alguns segundos até que ele assentiu se acalmando. – Howl, diga-nos o que aconteceu. – a criança se encolheu olhando para o chão pensando que não importava o que dissesse as coisas não voltariam a ser como eram e aqueles dois provavelmente passariam a odiá-lo. Com esse pensamento em mente, lágrimas começaram se formar nas beiradas de seus olhos azuis. Ele as engoliu antes que se quer saíssem dos olhos e levantou a cabeça com determinação. Sabia que se ainda tivesse o coração batendo dentro de si nunca se atreveria a escolher a decisão que estava prestes a tomar.

– Eu... quero me tornar o mais poderoso mago que já existiu! Não importa o que tenha que fazer e mesmo que vocês não concordem não vou mudar de ideia. – por alguns instantes ninguém disse uma palavra. O homem cruzou os braços fechando os olhos.

– Essa é a sua resposta? Um sonho idiota? Não tenho ideia de onde você tirou essa ideia tão ridícula, porém não fique se achando quando ainda não passa de uma criança! – os dois se encararam. – Toda magia tem um preço! Entenda isso de uma vez!

– É claro que eu entendo!

– Se você entendesse nunca teria dado o seu coração para um demônio! – o homem suspirou cansado passando a mão pela testa. – Já chega. Vamos parar com essa discussão sem sentido. Onde esta?

– O quê?

– O seu coração. – a pele do menino se arrepiou. – Onde esta?

– Não.

– Howl.

– Não! – surpreendendo a criança, a mulher o abraçou com carinho enquanto apoiava a cabeça sobre os cabelos negros dele. Howl teve medo daquele sentimento familiar de conforto. Tinha a impressão de que se ficasse mais tempo entre aqueles braços todas as emoções que reprimia nos últimos tempos voltariam a tortura-lo e por essa razão, pela primeira vez, rejeitou aquela mulher ao empurra-la.

– Quentinho. – os olhos de Howl se arregalaram ao ver que ela segurava uma pequena forma em chamas. Olhou para a mochila que estava nas suas costas e percebeu que ela estava aberta. – Posso sentir até os batimentos. – ela se aproximou das chamas. – Qual é o seu nome?

– Não...! – antes que o menino corresse na direção da mulher o homem o levantou e o prendeu entre os seus braços. – O que pensa esta fazendo?! Solte-me!

Calcifer. – respondeu o pequeno ser com certa timidez.

– Calcifer. Que nome bonito. – ela sorriu. – Tenho um pedido a fazer, Calcifer. Você poderia cuidar bem do dono desse coração? – o ser de chamas a encarou sem entender. – Você poderia ser amigo dele?

Mas nós já somos amigos.

– Verdade? Que bom. – ela fez carinho no fogo. – Obrigada. – caminhou até Howl o qual foi colocado novamente no chão. – Aqui. – e colocou o coração sobre as mãos do menino.

– Tem certeza? – perguntou o homem a mulher.

– Eu confio nele. – ela se abaixou e beijou a testa de Howl.

O tempo foi passando e aos poucos Howl conseguia realizar todos os seus desejos, por mais impossíveis que parecessem. Tornou-se um grande feiticeiro só a tempo de perceber que isso acabaria lhe trazendo muitas dores de cabeça. Construiu um castelo que andava, ganhou um aprendiz e conheceu outros feiticeiros e bruxas. Levava a vida de forma bem moderada sem ter do que reclamar mesmo que ainda não soubesse cozinhar direito. No entanto, em um instante tudo mudou quando ele a conheceu. Foi uma mera coincidência. Tinha saído para se divertir no desfile que acontecia na cidade próxima quando percebeu que estava sendo seguido pelos capangas daquela bruxa e por isso teve que escolher um caminho diferente quando de repente a viu caminhando pela rua.

A estranha garota que viu quando ainda era criança. Apesar de ela estar um pouco diferente, reconheceu-a imediatamente, afinal ela nunca tinha saído dos seus pensamentos por mais que ele tentasse esquece-la dizendo a si próprio que ela não passava de um sonho. Naturalmente, seguiu-a pelas ruas estreitas ainda sem saber exatamente o que faria. Todas as suas dúvidas desapareceram quando a viu sendo perturbada por dois militares idiotas. Tentou ser o mais cortes que conseguia, mas os militares acabaram sendo mais teimosos do que esperava e assim usou os seus poderes mesmo sabendo que não deveria. Seus olhos acabaram se encontrando com os dela e ele podia ter jurado que sentiu o seu coração bater mais rápido. Ela definitivamente não era a mulher mais bonita que já tinha conhecido, então por que ele se sentia tão estranho? Quando começaram a caminhar os passos deles era a única coisa que ecoava pela rua estreita. O loiro estava começando a apreciar a companhia dela quando os perseguidores resolveram atrapalhar ao aparecerem. Não queria a ter envolvido nessa confusão, porém seria mentira dizer que se arrependia de tê-la ao seu lado. Sabia que estava se comportando como uma criança, mas não podia evitar. Era divertido. Principalmente quando começaram a voar. Deixou-a aterrissar na varanda e por um momento desejou não soltar aquela mão. Despediu-se elegantemente e caiu desaparecendo na multidão. “Boa garota”? Ele não tinha algo mais legal para dizer? Howl começou a pensar que talvez ela não fosse aquela misteriosa garota, porque sempre pensou que ela deveria possuir poderes que nem ele. Sentiu-se um pouco decepcionado. Independente do que ele acreditava ou não, o destino já tinha planos para os dois. Imagine a sua surpresa quando a viu na sua casa fazendo uso da frigideira para cozinhar o café da manhã. Alguém a tinha enfeitiçado a parecer uma velha senhora, contudo ele conseguia enxergar a verdadeira Sophie.

Muitas coisas aconteceram depois da chegada dela. Bons momentos e situações que o tiraram do sério. Howl queria muito odiá-la após a confusão do seu cabelo, mas não conseguia. Não importava o que ela fizesse, ele a perdoava com uma facilidade que chegava até a surpreendê-lo. Queria que ela fosse embora e ao mesmo tempo não. O que diabos estava acontecendo? Tudo começou a fazer sentindo quando a salvou dos caprichos da sua mestra Suliman. Claro que tinha sido por sua culpa que ela estava ali em perigo, porém isso não mudava o fato de que ele tinha se arriscado para salvá-la. Por causa dela ele mudou. Ao perceber e aceitar os seus sentimentos com relação a ela, Howl decidiu que iria protegê-la mesmo que isso significasse se sacrificar. De certa forma tinha fugido de várias coisas durante a sua vida inteira. Como uma criança mimada que não aceitava a realidade. Já estava mais do que na hora de crescer.

– Faz tantos anos desde a última vez em que senti esse coração batendo dentro de mim que honestamente ainda não consigo me acostumar. – reclamou passando a mão sobre o peito. – Que incômodo.

– O quê? Achei que tivesse me agradecido por tê-lo devolvido. – Sophie tentava tirar os cabelos da frente do rosto. O vento batia forte na varanda onde se encontravam. – Estava mentindo então?

– Claro que não! – disse uma aflição fingida como se ela tivesse machucado os seus sentimentos. – Quando é que eu teria coragem de mentir para a mulher que amo? – falou com a voz firme e séria aproximando-se mais dela. Notou que o rosto dela ficou levemente corado e um sorriso tímido surgiu em seus lábios. – Sophie, você sabe que eu a amo, não sabe? – ela virou o rosto na sua direção e ambos ao mesmo tempo se aproximaram até se encontrarem em um beijo.

– Desde o momento em que nos conhecemos. – respondeu rindo.

– Agora quem esta passando dos limites? – envolveu os seus braços ao redor da cintura dela e a aproximou mais de si já com o rosto próximo do dela. – E você? – a jovem mulher segurou o rosto dele com as duas mãos.

– Amo. Amo tudo o que você é. Seus defeitos, sua personalidade complicada, seu charme, seus olhos e seu coração. – ela colocou uma das suas mãos sobre o peito dele. – Eu te amo, Howl, e não me importaria de passar o resto da minha vida ao seu lado. – o moreno não esperou por um convite e pressionou os seus lábios contra os dela com urgência. Naturalmente houve correspondência de ambos os lados.

– Eu também. – sussurrou para ela quando suas bocas se afastaram. – Na verdade, eu não sei como conseguiria viver sem tê-la ao meu lado. – riu. – Estou enrascado, não estou?

– Acho que só o tempo dirá.

Vários meses depois

O campo verde sem fim tirava-lhe o fôlego. Era tão brilhante e vivo sobre a luz do sol que chegava até o ponto de não parecer real. O infinito céu azul ajudava a destacar a grama e as diversas pedras espalhadas pelo terreno. Algo lhe dizia que apesar da familiaridade que aquele lugar lhe propiciava, não mais se encontrava no mesmo mundo de que viera. Após tudo o que já passara isso não lhe surpreendia mais, no entanto algo ainda a incomodava e ela não sabia exatamente o que era.

– Então? O que achou? – a voz animada de Howl a trouxe de volta da realidade, fazendo-a com que virasse o rosto na direção dele. Só agora notara que ele segurava em uma das suas mãos um lindo buquê. Reconheceu as flores do jardim segredo dos dois. – Faz anos que não venho aqui, mas este lugar não mudou em nada! Chega até a assustar.

– Verdade? – sem saber ao certo o que responder Sophie voltou a analisar o lugar. O moreno se aproximou da jovem em rápidos passos e lhe segurou a mão.

– Vamos? – ela sorriu e assentiu com a cabeça.

Começaram a caminhar pelo campo verde até um ponto em que tiveram que atravessar um pequeno riacho pulando em cima das grandes pedras. Depois de subirem alguns degraus de pedras se deparam com uma espécie de vilarejo repleto de restaurantes. A parte estranha era que não havia ninguém por ali.

– Arg. Que cheiro é esse? – ela perguntou tampando o nariz com uma expressão de desgosto envolvendo a mão ao redor do braço do moreno.

– Uai? Não gosta? Estranho. A maioria dos humanos adora esse cheiro de comida, mas não posso dizer que isso seja uma boa ideia. – continuaram a seguir pela rua entre as construções.

– Por quê? – perguntou ainda com o nariz tampado.

– Confie em mim. – respondeu com um sorriso.

Tiveram que subir uma longa escadaria até encontrarem uma ponte vermelha de madeira que dava direto para uma construção rustica de vários andares. Sophie nunca antes tinha visto uma construção como aquela.

– Bem, nós poderíamos usar a porta da frente, mas... – ela conhecia muito bem aquele tom de voz brincalhona dele. Conhecia até bem demais. – Que graça isso teria, né? – depois de atravessarem a ponte Howl lhe guiou até uma pequena porta na qual teria que se agachar para passar.

– Tem certeza, Howl? Vai acabar nos metendo em problemas. – o moreno riu beijando a mão dela e sorriu.

– Não se preocupe. Esse era o caminho que eu usava quando era criança. Eu apenas quero mostrar a você. – apesar de ter a impressão de que estavam prestes a fazer algo que não deviam, ela não recusaria participar de algo que tinha ligação direta com o passado dele. Queria saber mais sobre ele, mesmo que fosse uma pequena parte.

– Esta bem.

Ele passou primeiro e depois ela se engatinhou na entrada. Howl a ajudou a se levantar e a seguir fechou a porta. Estavam agora em um pequeno jardim em estilo oriental. Dirigiram-se para a porta dos fundos e após passarem por ela se depararam com uma escadaria sem fim.

– Vamos descer tudo isso?

– Claro que não! – entregou o buquê a ela a qual segurou por puro reflexo e sem avisá-la carregou-a entre os braços começando a voar para baixo seguindo a trilha de escadas. – Que nostálgico! Isso me faz pensar na primeira vez em que voamos juntos.

– Sim. – ela tinha o braço direito ao redor do pescoço dele enquanto a mão esquerda segurava o buquê sobre o próprio colo. – Quem diria que eu me acostumaria com isso? – pousaram de frente para uma porta enferrujada.

– Aqui é a caldeiraria onde colocam as fornalhas, por isso cuidado para não encostar em nada. – colocou-a no chão pegando o buquê e abriu a porta. Sem soltar a mão um do outros eles entraram fechando a porta atrás de si. Com cuidado passaram pelas fornalhas até chegarem em um lugar diferente. Tinha uma parte mais baixa onde dava para pequenos buracos na parede, muitas gavetas por toda a parede à direita e em um lugar elevado se encontrava um senhor de bigodes grandes dormindo. Howl olhou para os buracos na parede. – Que foi? Estão dormindo? Vão ficar sem comida. – e de repente dos buracos saíram seres em formado de bolinhas peludas que correram na direção do moreno que parecia se divertir com a situação. – Sim, sim. Eu também estava com saudades de vocês. – de dentro do bolso da sua calça ele retirou pequenos cubículos em formato de estrela de várias cores e jogou para as bolinhas peludas.

– O que isso? Açúcar? – perguntou Sophie curiosa se agachando para observar os pequenos seres mais de perto. – Eles são tão fofos! – Howl colocou alguns cubículos nas mãos dela e jogou o resto para as bolinhas pretas animadas.

– Eles ajudam a manter as fornalhas funcionando. – contou enquanto a observava alimentar os pequenos seres. – Se não fosse pelo encanto de Kamaji eles voltariam a ser fuligem.

– Kamaji? – o moreno apontou para o senhor que ainda dormia.

– Vocês poderiam guardar as nossas coisas? – as bolinhas pretas produziram sons animados pulando de cima para baixo. – Obrigado. – ele retirou os sapatos e os colocou ao redor das bolinhas. – Vamos deixar os sapatos por aqui. Vão brigar com a gente se sujarmos o chão. – Sophie imitou o moreno e colocou o calçado ao redor dos pequenos seres que pegaram os sapatos e levaram para dentro dos buracos. – Sophie. – ele lhe ofereceu a mão livre e ela a segurou. Flutuaram até a ponta oposta de onde estavam. – Por aqui. – abriu mais uma porta que acabou os levando para um lugar de deposito. A seguir tiveram que passar por onde funcionavam mecanicamente os elevadores. Entraram no primeiro elevador onde o moreno puxou uma alavanca que ficava no canto direito próximo da entrada.

– Por que ainda não passamos por ninguém?

– Ah! Todos provavelmente ainda estão dormindo. Este lugar costuma a funcionar de noite. Não se preocupe com isso. – quando o elevador chegou ao andar eles saíram e caminharam por um corredor até chegarem a um segundo elevador. – O que você esta pensando? – perguntou beijando o topo dos cabelos prateados dela.

– Acho que estava tentando imaginar um pequeno Howl correndo por esses lugares. – riu alegremente. – Você realmente cresceu aqui?

– Sim, mas depois que descobri sobre os meus poderes comecei a passar a maior parte do meu tempo naquela cabana que eu te mostrei. – havia algo de diferente no tom da voz dele. Parecia estar mais fria. – Eu tinha que aprender a controlar os meus poderes se não poderia acabar machucando alguém. – chegaram ao andar e saíram. Atravessaram uma pequena ponte para chegar ao terceiro elevador. – Estamos quase lá! – puxou a alavanca e o elevador começou a subir. O elevador parou e abriu as portas revelando uma pessoa escrevendo em uma prancheta. Era um rapaz provavelmente da mesma idade que eles que trajava roupas tradicionais da cor azul e branca. Sua pele era branca e tão bem tratada quanto a de Howl e o seus cabelos pretos caiam até os ombros em um corte preciso e reto assim como a sua franja. Quando ele levantou os olhos ela ficou admirada com a cor verde misteriosa das suas íris, mas por algum motivo o achou familiar como se já o tivesse visto antes. – Oh, desculpe. Andar errado. – o moreno já estava baixando a alavanca fazendo com que as portas começassem a se fechar quando a mão do rapaz segurou a porta forçando-a a abrir apesar dos esforços inúteis de Howl em tentar fecha-la. O rapaz entrou como se nada tivesse acontecido e voltou a atenção para a prancheta.

– Por que você fez isso?! – Sophie sussurrou o mais baixo que conseguiu para o moreno o qual estava mais pálido do que o normal. – Howl?

– Vejo que seu cabelo voltou ao normal. – a voz sem emoção do rapaz ecoou dentro do elevador. – O que aconteceu? Cansou de ser um feiticeiro loiro metido?

– É uma longa história e eu realmente não quero desperdiçar o seu precioso tempo com isso. – retrucou friamente se colocando o mais longe que conseguia daquela pessoa sem soltar a mão da jovem mulher a qual o encarava tentando entender o que estava acontecendo.

– Por acaso essas flores são para ela? – por mero reflexo ele olhou para o buquê que segurava e soltou um longo suspiro.

– E se forem? – o misterioso rapaz riu colocando a prancheta debaixo do seu braço.

– Pelo menos nisso você não mudou. – as portas se abriram e todos saíram do elevador. – Por mais quanto tempo você vai demorar em me apresentar? – Howl trincou os dentes olhando para o outro lado.

– E quem disse que eu quero te apresentar? – o rapaz parou de andar e encarou o moreno com olhos sérios e repreendedores. – Esta bem! Pare de me olhar assim. – respirou fundo. – Sophie, este é Nigihayami Kohakunushi. – o rapaz parecia que tinha soltado faíscas pelos olhos ao encarar Howl. – Mas você pode chama-lo só de Kohaku. – fez uma pausa. – Pai, essa é a Sophie, minha esposa.

– PAI?! – ela acabou falando mais alto do que gostaria.

– Então você realmente se casou. Estou surpreso, não esperava que uma criança sem coração como você fosse acabar amando alguém. – ele se aproximou da jovem mulher e segurou gentilmente uma das suas mãos para beija-la nas costas. – Prazer em conhecê-la. – foi no momento em que viu o sorriso dele que ela reconheceu a semelhança entre os dois homens e sentiu o seu rosto corar. – Eu teria os recebido assim que chegaram se este pirralho tivesse tido a decência de me informar que viriam.

– Sim, sim. – Howl fez com que o pai soltasse a mão de Sophie. – Onde esta a mamãe?

– Resolvendo alguns assuntos com os empregados. – voltaram a caminhar passando por várias grandes portas abertas. – Honestamente, eu sempre digo a ela que não precisa se preocupar com tudo, mas ela não me escuta.

– Não seria a primeira vez. Ela consegue ser mais teimosa do que eu se quiser.

– Nem me lembre isso. – suspirou parecendo cansado. – Só espero que com a sua visita ela pare de trabalhar e relaxe um pouco. – colocou a mão dentro das vestes e de lá tirou algo. – Antes que eu me esqueça. Aqui. – deixou cair duas pequenas bolinhas na palma da mão de Howl. – Imagino que nenhum de vocês quer desaparecer, certo?

– Como se eu fosse deixar isso acontecer. – o moreno tacou a bolinha para dentro da sua boca e ofereceu a outra para a sua mulher. – Não se preocupe. Tem um gosto meio estranho, mas logo passa. – ela pegou a bolinha e a engoliu fazendo uma careta.

– Azedo... – reclamou fechando os olhos.

– Bem, o gosto varia de pessoa para pessoa. – ao chegarem à última porta aberta o rapaz bateu na porta. – Com licença.

– Haku! – escutaram uma voz feminina animada. - Por que demorou tanto? – a garota correu para abraça-lo pressionando o seu rosto contra o peito dele.

– Desculpe. – ele retribuiu o abraço beijando o topo da cabeça dela. - Acabei encontrando com umas visitas inesperadas.

– Visitas? – a jovem garota o soltou e olhou para as pessoas que se encontravam trás dele. Ela era um pouco mais baixa que o rapaz, possuía longos cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo e vestia um traje rosa e branco. Sua expressão mudou quando reconheceu o moreno e imediatamente correu em sua direção para envolvê-lo em um abraço forte. – Howl! É mesmo você? Está tão alto! Tem comido direitinho? Quando foi que chegou? Por que não nos avisou?

– É bom vê-la também, mãe. – retribui o abraço. – Tem uma pessoa especial que gostaria de te apresentar. – eles se soltaram e Howl puxou Sophie para perto segurando o seu ombro. – Mãe, esta é a Sophie, minha esposa. Sophie, esta é a minha mãe, Chihiro.

– É um prazer conhece-la. – a jovem de cabelos prateados sorriu e estendeu a mão, porém ao em vez de aperta-la Chihiro a abraçou sem pensar duas vezes.

– O prazer é todo meu! – afastou-se e segurou as suas duas mãos. – É ótimo saber que temos mais um membro na família! Meus parabéns pelo seu casamento!

– Muito obrigada.

– Lin-san! Você escutou as novidades?! – exclamou virando o rosto para trás.

– Claro que escutei. Não sou surda. – uma mulher de longos cabelos com as mesmas vestes que Chihiro se aproximou. – Mas isso é inacreditável! Não consigo acreditar que esse moleque levado ficou responsável de repente.

– Também senti saudades de você, Lin. – o moreno sorriu. – Ainda esta por aqui?

– Arg! Continua atrevido como sempre. Realmente não sei como é que a Chihiro consegue aguentar você e seu pai. – ela fez cafune na cabeça de Chihiro. – Outra hora a gente termina de conversar sobre aquele assunto. Vou indo.

– Até mais! – acenou animada para a amiga até que a sua visão ficou bloqueada por um buquê de flores. – O quê? Elas são para mim? – ele entregou o buquê rindo.

– Para quem mais seriam?

– Obrigada. – ela cheirou as flores colocando o seu rosto sobre elas. – Você não precisava se incomodar. Haku praticamente de dá flores todo dia. – o rapaz colocou a mão na frente da boca provavelmente tentando evitar rir o que apenas irritou mais o moreno.

– Eu sei, mas você fica contente quando eu te trago, não fica?

– Sim! – seu sorriso era radiante e contagiante. – A proposito, que caminho vocês pegaram para chegar até aqui?

– Ah... – Howl passou a mão pelos cabelos virando o rosto para o outro lado. – Foi pelo caminho que eu sempre uso... – o ambiente ficou silencioso por alguns instantes.

– Não acredito! Quando é que você realmente vai crescer? – falou brava.

– Qual é o problema? Você também usava esse caminho.

– Isso foi há anos atrás. Não é desculpa para colocar a sua esposa em risco.

– Não foi risco nenhum. – Sophie balançou a cabeça negativamente tentando melhorar a situação. – De verdade. Eu me diverti mais do que esperava. – sorriu entrelaçando os dedos com os do marido. – Vocês não podem imaginar a minha felicidade quando ele me disse que queria me apresentar a vocês dois. Sei que Howl pode ser um pouco imprudente às vezes, porém acho que foi graças a esse jeito dele de nós fomos capazes de nos encontrar e acabar amando um ao outro. – um sorriso brilhante surgiu em seus lábios. – Eu o amo exatamente por ser quem é.

– Que felicidade! Sempre desejei que o meu filho acabasse encontrando alguém especial, assim como eu consegui. – pequenas lágrimas de felicidade saíram dos olhos castanhos dela. – É maravilhoso saber que agora ele tem você ao lado dele. – Haku colocou o braço ao redor dos ombros da mulher a qual limpava as lágrimas. – Ah! Por que você não nos conta a história de vocês?

– Hã? – o rosto da jovem mulher estava vermelho.

– Por favor! Estou muito curiosa. – e assim acabaram se sentando no sofá.

A intenção de Sophie ao dizer todas aquelas palavras era nada menos do que defender Howl mesmo que ele parecesse não se importar com a recriminação que recebia de todos ali. Sabia melhor do que ninguém que ele já uma vez foi um adulto com a personalidade de uma criança mimada que só se importava com si mesmo, porém ele havia mudado assim como ela. Nunca poderia ter imaginado que a sua vida seguiria o rumo que se encontrava agora e muito menos acreditaria que um dia deixaria de ser tão negativa com relação a sua própria pessoa. Depois que o seu pai faleceu, crescer junto com uma mãe vaidosa e uma bela irmã amada por todos não foi uma tarefa fácil para ela, contudo quando o seu caminhou cruzou com o do feiticeiro passou gradualmente a pensar as coisas de maneira diferente. Graças ao feitiço da Bruxa do Pântano, Sophie descobriu quem realmente era.

Sentiu-se um pouco apreensiva ao contar a história já que ainda não estava acostumada em receber tanta atenção das pessoas, mas bastou apenas ver o sorriso de Howl para ela esquecer tudo isso e começar a narrar os fatos tão bem conhecidos por ela.

– Isso explica tanta coisa! – disse Chihiro animada. – Quem diria que vocês dois seriam tão parecidos? – todos a olharam confusos. – Eu sempre achei que você tinha puxado mais o seu pai do que eu, Howl.

– Hã?! – exclamaram ambos.

– O que diabos você esta dizendo, mãe? – pela sua expressão ele parecia se sentir muito ofendido pelas palavras de Chihiro. - Onde é que eu me pareço com esse dragão frio?

– “Dragão frio”? E quem diabos você pensa que é para me chamar assim, pirralho? – uma áurea negra envolveu Haku.

– Pirralho? – o moreno riu com gosto. - Até a última vez em que verifiquei, eu ainda sou mais alto que você. – e os dois ficaram trocando faíscas através dos seus olhares.

– Por que você acha que os dois são parecidos? – perguntou Sophie.

– Bem, eles definitivamente se parecem em termos de aparência, mas eu me refiro mais sobre a personalidade de ambos. – voltou os olhos para o buquê que segurava. – Tanto Haku quanto Howl parecem ter uma péssima mania de se sacrificar em nome da magia. Sabia que para aprender mais sobre magia Haku sacrificou as próprias lembranças para se tornar aprendiz da antiga dona dessa casa de banho?

– Yubaba? – Howl olhou surpreso para o pai. – Você foi aprendiz daquela bruxa feia?

– Eu era mais tratado como um capacho do que um aprendiz por ela, mas sim. Há muito tempo atrás fiz um contrato com ela. – ele sorriu ao olhar para Chihiro e a beijou no topo da cabeça. – Se não fosse por sua mãe, eu provavelmente ainda estaria preso àquela mulher ou pior.

– Por quê? Por que vocês nunca me contaram isso? – os dois olharam o filho.

– Que tipo de pai eu seria se te contasse todos os erros que cometi? – ele parecia um pouco envergonhado. – Eu ainda tenho o meu orgulho, sabe?

– Mas... Foi por causa desse erro que você foi capaz de reencontrar a mamãe, não foi?

– Sim, você esta certo. – ele levou a mão até a dela e entrelaçou os seus dedos. – Acho que nós nunca agradecemos Yubaba por ter sido tão bondosa em nos juntar, não é? – ambos riram com vontade.

– Não brinque, Haku, ela pode estar escutando. – apesar de falar isso ela ainda ria se divertindo muito com a situação. – E se ela acabar nos amaldiçoando? Tenho a impressão que Yubaba ainda não nos perdoou completamente.

– Isso pode ser verdade, mas o fato dela ter passado a casa de banho para nós deve significar que pelo menos confia em nós o suficiente para acreditar que poderíamos cuidar do lugar sem problemas.

– Verdade... Espero que ela e o Boh estejam bem.

– Por mim espero que aqueles dois não voltem nunca mais. – falou Howl.

– Ora, Howl, não esperava que você ainda guardasse ressentimentos com relação ao Boh. – a jovem de cabelos castanhos o observou curiosa. – Ainda esta com raiva das brincadeiras que ele fazia quando você era pequeno?

– Aquilo não era brincadeira! – exclamou com raiva. - Eu realmente achava que fosse morrer! Por que ele tinha que ser tão grande e forte?

– Bem, acho que ele puxou muito a mãe... Se bem que eu não tenho a mínima ideia de quem seja o pai. – virou a cabeça para o marido. – Você sabe?

– Não. Para falar a verdade, a imagem de alguém casando com a Yubaba chega a me assustar tanto que nem quero pensar sobre isso.

– Eu completamente te entendo. – falaram ao mesmo tempo Chihiro e Howl. Sophie que escutava a conversa atentamente se sentiu feliz em perceber que os três se davam tão bem. Tinha se preocupado de inicio com a teimosia do marido, porém agora isso tinha desaparecido quase por completo. Ainda não sabia o que tinha acontecido para que eles se distanciassem, contudo já podia ver que eles fariam as pazes naturalmente.

– E como vai Zeniba? – o moreno mudou de assunto ao se lembrar de algo. – Ainda mora naquela casa no fim do mundo?

– Sim, ela vai bem! De vez enquanto ela vem nos visitar junto com o Hiroshi. – respondeu Chihiro animada.

– Hiroshi? Quem é?

– É o nome que dei para o Kaonashi. – sorriu. – Legal, né? Significa generoso. Achei muito a cara dele. – Howl levou os olhos na direção do pai, mas este se distraia olhando a paisagem lá fora. - E por que você quer saber sobre a irmã da Yubaba? Achei que a evitasse.

– Não é nada de mais. É só que prometi que iria visitá-la na próxima vez em que viesse para cá. – antes que a sua mãe lhe perguntasse mais sobre o assunto, ele continuou. – O que deu em você para nomear um espirito como ele? Já se esqueceu do que aconteceu quando você resolveu ser bondosa com ele?

– Claro que não esqueci. – ela fez bico não gostando nenhum pouco de ser repreendida. – Mas achei que ele merecia pelo menos um nome de verdade depois de tudo o que passou. Qual é o problema de querer fazer um amigo feliz?

– Você esta querendo visita-la, então? – disse Haku.

– Sim, estava pensando em pegar o trem para ir. – fez uma pausa. – Vocês querem ir com a gente? Acho que ela ficaria feliz se todos forem.

– Não me diga que você ainda tem medo dela... – brincou o rapaz.

– Não tenho! – se levantou do sofá. - De qualquer maneira se vocês quiserem ir com a gente é melhor se apressarem. Já esta quase na hora.

– Nossa! Já passou tanto tempo assim? – disse Chihiro. - Eu nem percebi.

Depois que saíram da casa de banhos, desceram uma escadaria enorme até alcançar o mesmo nível que a água e depois caminharam sobre ela até chegar no ponto do trem. Não demorou muito para ele aparecer. Após entregarem os tíquetes entraram no vagão e se sentaram na poltrona. Howl e Sophie ficaram juntos nos acentos da direita enquanto Haku e Chihiro se sentaram no da esquerda ficando assim um de frente para o outro. Havia, é claro, outros espíritos por ali, mas isso não pareceu incomodar ninguém.

– Howl, posso te perguntar uma coisa? – chamou Sophie.

– O que foi?

– Por que os seus pais tem uma aparência tão jovem? – ele demorou alguns segundos para responder, como se estivesse pensando no que exatamente falar.

– Estava pensando quando é que você me perguntaria isso. – ele deixou a cabeça tombar até encontrar com o ombro dela. – Meus pais são de mundos diferentes. Enquanto ele é um dragão que uma vez já foi o espirito de um rio, ela é uma humana. Em circunstâncias normais eles não deveriam ficar juntos, afinal aqui é um lugar para espíritos e não humanos. – fechou os olhos. – Quando todos os problemas foram resolvidos e a minha mãe já podia voltar para o mundo dos humanos eles se despediram prometendo se encontrarem um dia. – ele abriu os olhos e olhou para os pais que conversavam entre si. – Ela não sabe disso, mas... o meu pai me contou que ele tinha certeza que eles não voltariam a se ver assim que soltou a mão dela. Regras têm que ser seguidas independente do que aconteça. – voltou a fechar os olhos sorrindo. – Bem, eu provavelmente não estaria aqui se ele tivesse desistido dela tão fácil assim.

– E o que foi que ele fez então?

– Ele desistiu dos seus poderes e foi para o mundo dela como um simples humano. – fez uma pausa. – Nos anos seguintes eles foram felizes vivendo como pessoas ordinárias, no entanto, algum tempo depois que eu nasci, aconteceu um acidente que teria matado eu e a minha mãe se ele não tivesse usado os seus poderes para impedir. Por causa disso ele foi obrigado a voltar para aqui sem poder nunca mais ir para o mundo dos humanos. – Howl acabou que deitando e colocando a cabeça no colo da esposa. – Obviamente minha mãe foi atrás dele sem pensar duas vezes e nós acabamos vivendo aqui pelo restante do tempo. Ela parou de envelhecer já que aqui o tempo não passa. De certa forma ela esta presa aqui já que não pode mais voltar para o seu mundo.

– Entendo. – Sophie passou a mão pelo cabelo dele. – Não achei que fosse por um motivo simples. Só posso imaginar como eles se sentiram ao sacrificarem tanto para poderem ficar juntos.

– Não faça essa cara triste. – o moreno apertou de leve a bochecha dela. - Independente das coisas que aconteceram eu acredito que aqueles dois são muito felizes. – sorriu. - Isso é tudo o que importa. – ela riu.

– Você realmente é um bom filho, não é? – ele estava prestes a dizer algo, porém foi interrompido pela voz repreendedora do pai.

– Howl, trate de se sentar direito! Por acaso acha que é dono de todos os acentos?!

– Calado! – exclamou se sentando em um rápido movimento. – Não esta vendo que estou no meio de uma conversa?! E não é como se alguém aqui fosse reclamar... – foi interrompido pelo barulho do soco de Haku contra o vidro da janela atrás de Howl. O vidro trincou devido a força exercita contra ele.

– O que disse? Eu não me lembro de ter criado um filho mal educado. – disse com um olhar assustador e frio.

– Sinto muito. Isso não vai voltar a acontecer.

– Oh, verdade? Que bom. – fez com que a rachadura desaparecesse e voltou a se sentar ao lado da mulher.

– Você realmente não é nenhum pouco honesto. – Sophie deixou o seu corpo se escorar no do dele. – Por que não admite que você só faz isso para chamar a atenção dele?

– Por favor, não fale isso.

Ao chegarem na última parada do trem, desceram caminhando por uma trilha entre as árvores até que uma lanterna salteadora surgiu e os acompanhou até a casa de Zeniba. Como sempre, a casa continuava a parecer velha e caseira não importava quantos anos já havia passado desde a última vez em que havia colocado os pés ali. Mesmo agora, Howl conseguia se lembrar exatamente da última conversa que teve com aquela bruxa.

– A resposta continua sendo a mesma, garoto. – Zeniba respondeu enquanto tricotava perto da lareira sentada na sua cadeira favorita. – Por que você não apenas desiste e volta para casa? Alguém da sua idade não deveria mais deixar os próprios pais preocupados.

– Eu não vou desistir até conseguir o que quero. – os cabelos dourados dele balançaram quando este se levantou da cadeira. – Se você não vai me ajudar, então encontrarei alguém que vai. – Howl sorriu colocando a mão sobre o peito e se inclinando na direção da senhora. – É sempre um prazer vê-la. Com licença. – depois de se endireitar caminhou elegantemente até a porta colocando o seu casaco rosa e cinza impecável sobre os ombros.

– Ainda pensa naquela misteriosa garota? – sua mão parou antes mesmo de tocar na maçaneta da porta. – Já faz anos desde que a viu. O que o faz pensar que a reconheceria? Ela provavelmente agora não passa de uma senhora de idade com problemas na coluna.

– Não me importo. – ele se virou para ela com uma expressão séria. – Aquela garota é uma das razões de eu ter me dedicado tanto a magia, então o máximo que tenho que fazer é encontra-la e agradecê-la.

– Isso é tão simpático da sua parte. – ela parou de tricotar e dirigiu os olhos para o jovem. – Por um instante acho que cheguei a acreditar. Enquanto um coração faltar dentro de você, suas palavras continuaram a me parecer de uma criança que só pensa em si mesmo.

– Suas palavras me machucam. – disse rindo já abrindo a porta.

– Não se esqueça de me visitar na próxima vez em que vier por aqui. – disse voltando a tricotar com calma.

– Por que eu faria isso? – ele nem se importou de esconder o seu desagrado.

– Pense nisso como um agradecimento pelos anéis. – ela respondeu sorrindo. – Eles vão acabar sendo mais úteis do que você imagina, querido. – e sem dizer mais nada ele saiu fechando a porta atrás de si.

O moreno duvidava seriamente que aquela bruxa sabia exatamente o que iria acontecer no futuro, contudo não podia negar que os anéis acabaram sendo importantes tanto para ele quanto para Sophie. Sentia-se em dívida com Zeniba e se tinha uma coisa que ele detestava era ficar devendo para uma bruxa. Ao se aproximarem da porta esta se abriu sozinha sendo seguida por uma voz familiar.

– Podem entrar, queridos.

– Com licença. – falou Chihiro entrando primeiro, sendo seguida por Haku e depois por Howl e Sophie. – Como vai, vovó? Espero que não se incomode que viemos visita-la sem avisar.

– Não se preocupe. – a senhora estava sentada no sofá terminando de tomar seu chá. – Eu tinha a sensação de que vocês viriam hoje. – o moreno fechou a porta atraindo a atenção da bruxa. – Ora, ora, se não é o pequeno Howl. Quase não o reconheci sem o cabelo loiro. – Haku riu levando uma cotovela da esposa. - Vejo que trouxe alguém com você.

– Muito prazer. – Sophie baixou a cabeça e depois a levantou. – Pode me chamar de Sophie. Eu sou... – seu rosto começou a ficar vermelho e deu uma rápida olhada para o moreno que lhe sorriu de volta. – Eu sou... a esposa do Howl. Espero que possamos nos dar bem.

– Que menina mais bem educada. – colocou a xicara na mesinha e se levantou caminhando na direção dos convidados. – Com certeza vai ser uma ótima influência para o nosso Howl.

– Onde está o Hiroshi? – perguntou Chihiro depois de analisar o interior da casa.

– Saiu. Pedi para que comprasse algumas coisas, mas não deve demorar. – os olhos da senhora se voltaram para Haku. – Ciúmes não combina nenhum pouco com você, Kohaku.

– Concordo, mas acha que se estivesse no meu lugar pensaria em outra coisa?

– O quê? Do que vocês estão falando? – perguntou a jovem curiosa.

– Tão inocente. – a senhora fez carinho na cabeça dela. – Parece que continua sendo aquela mesma menina que veio aqui pela primeira vez. Acho que é por isso que todos gostam tanto de bajula-la. – se afastou. – Sentem-se, vou preparar algo para comermos.

– Do que vocês estavam falando? – Chihiro segurou o braço do marido enquanto caminhavam até a mesa. – Conte-me, Haku!

– Não quero. – respondeu sem encara-la.

– Quê? Isso é injusto! Por favor? Por favorzinho?

– Não.

– Haku! – choramingou balançando o braço dele. – Por que você esta sendo tão malvado? – o rosto dela se iluminou assim que teve uma ideia. – Se eu te beijar, você me conta? – a expressão dele mudou subitamente para surpresa.

– O quê? – antes que ele pudesse se quer pensar em fazer qualquer coisa ela colocou os braços ao redor do pescoço dele e o beijou delicadamente nos lábios.

– E agora? – o rosto do rapaz estava corado.

– O que você pensa que esta fazendo? – perguntou sério.

– Ainda não foi o suficiente? Então... – a jovem estava novamente se aproximando do rosto dele até que ele a segurou, impedindo-a.

– Pare.

– Seus pais são uma graça. – comentou Sophie.

– Eles são idiotas, isso sim. – ele puxou a cadeira para que a esposa pudesse se sentar e logo depois se sentou ao lado dela. – Estão casados há anos e ainda se envergonham de fazer essas coisas bobas.

– Eu acho isso muito lindo. – ela sorriu. – É como se acabassem se apaixonando todo dia. – Howl beijou o seu rosto. – Para que foi isso?

– Não resisti. – ele colocou o braço sobre o topo das costas da cadeira dela. – Você é linda demais, minha esposa.

– Vejo que estão se divertindo. – Zeniba já havia colocando chá para todos e agora terminava de colocar os pratos com fatias de bolo. – As coisas acabam ficando mais divertidas quando se está na companhia da família, não acham? – todos acabaram sorrindo involuntariamente, cada um do seu jeito. – Que inveja... Tenho certeza que se eu e a minha irmã tivéssemos sido criadas por uma família assim as coisas não teriam sido tão ruins.

– O que esta dizendo, vovó? – disse Chihiro com seriedade. – Você também faz parte da nossa família, não é? – voltou-se para o marido que concordou balançando a cabeça. Ela virou a cabeça na direção do filho, aguardando a sua resposta.

– Como a minha mãe sempre a chamou de avó, por um bom tempo pensei que você realmente fosse a minha avó. – fez uma pausa. – Mesmo que não sejamos parentes de sangue, nunca deixei de vê-la como parte da família, apesar de não gostar dessa casa.

– Sua honestidade chega a me espantar! – a senhora riu. – Obrigada, todos vocês. – se juntos a eles e se sentou. – Agora, não se acanhem. Comam a vontade.

Todos saborearam tanto o chá quanto o bolo enquanto conversavam animadamente. Sophie concordava inteiramente com as palavras da bruxa. A sensação agradável que sentiu enquanto comia junto de todos ali foi a mesma que sentiu enquanto comia com todos lá no castelo de Howl. Família era muito mais do que uma ligação de sangue, significava os laços formados entre determinadas pessoas. Pessoas importantes que preenchiam o dia a dia de forma única e especial. Hiroshi logo entrou pela porta segurando uma cesta cheia de lã de várias cores. Ao ver Chihiro foi correndo para abraça-la até que Haku se colocou entre os dois o encarando sério. Quando chegou a hora de ir embora se despediram dos dois e saíram da casa.

– Eu e Sophie já vamos embora. – anunciou Howl para os pais. – Temos que voltar antes que aqueles quatro aprontem algo com o castelo e nós já os incomodamos demais.

– Não foi incomodo algum. – disse Chihiro com determinação balançando a cabeça negativamente. – Vocês vão voltar aqui, certo?

– Claro que vamos. – Sophie a abraçou. – Foi um prazer conhece-la.

– Eu quem agradeço! – colocou a boca perto da orelha dela e sussurrou. – Cuide bem dele.

– Eu vou. – depois de trocarem sorrisos se afastaram e a seguir Sophie olhou na direção de Haku já lhe estendendo a mão. – Obrigada por tudo. – ele a surpreendeu ao envolvê-la e um abraço.

– Obrigado por salvar o meu menino. – ela retribuiu o abraço pensando no quanto Howl e ele eram parecidos. Chihiro estava certa, talvez essa seja a razão deles não conseguirem ser tão sinceros um com o outro.

– Ele também me salvou, então estamos quites.

– Não apronte muito com aquele seu castelo. – pediu Chihiro arrumando os cabelos do filho. – E, por favor, não abuse dos seus poderes.

– Sim, vou sentir saudades também. – abraçou-a com força. – Vou indo, mamãe. – e beijou o rosto dela ao se afastar.

– Cuide bem dessa garota, Howl. Você não vai achar outra igual. – implicou Haku.

– Eu sei. Não preciso que você me diga isso. – o moreno deu as costas e começou a se afastar até que parou. – Pai... Você ainda me odeia? – Sophie ficou em choque quando escutou as palavras de Howl. Notou que ele tinha usado toda a sua coragem para perguntar aquilo, porém se perguntava por que pensaria tal coisa. O rapaz de olhos verdes deu um longo suspiro cruzando os braços, para logo em seguida aparecer um sorriso na sua face.

– E quando foi que eu disse que te odiava? Não coloque palavras na minha boca, pirra... – no instante seguinte ele estava sendo abraçado pelo filho. Fazia tanto tempo desde a última vez em que Howl tinha feito isso que Haku não soube ao certo como agir.

– Desculpe... – sabia que o filho estava chorando mesmo que a sua voz não demostrasse isso. - E obrigado. – retribuiu o abraço percebendo só naquele instante o quanto tinha sentido falta daquilo. – Vou indo, papai.

– Cuide-se, filho. - antes de partirem, o corpo de Howl se cobriu de penas negras enquanto Haku voltou a sua forma de dragão. Sophie olhou encantada para o dragão.

– Incrível! – exclamou ao lado do marido.

– Não é? – Chihiro passou a mão com carinho pelas escamas brancas. – Nunca me canso de vê-lo assim. – como já tinha feito aquilo inúmeras vezes ela subiu no dragão sem qualquer dificuldade. – Quem sabe na próxima vez ele te deixa subir nele? – a jovem ia dizer algo, porém o moreno a puxou para perto.

– Até parece que vou deixar. – o moreno segurou a jovem de cabelos prateados entre os braços. – O único que pode voar com ela sou eu. Até mais! – e em um impulso forte voou para o céu.

– Aquele menino nunca vai crescer. – o dragão grunhiu alguma coisa. – Fico feliz que vocês dois fizeram as pazes. – ela beijou no topo da cabeça dele. – Vamos. – e levantaram voo seguindo para direção oposta a que Howl e Sophie foram.


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Notas finais do capítulo

E então? Que acharam?Muito legal, né? Achei muito fofo a Chihiro e o Haku serem os pais do Howl. Queria ter escrito mais sobre a relação deles, mas não deu. Quem sabe eu faço uma outra fic? Reviews? Até a próxima! ^^



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