Encontros escrita por Alexandra Eagle


Capítulo 8
Capítulo 8 - Vivendo com o inimigo.




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Roxton caminhou para sala, olhou em volta e não havia ninguém. Com a cabeça a mil refletindo sobre todos os acontecimentos recentes e o coração explodindo de felicidade, ele foi até a varanda – o seu lugar favorito e palco de muitas conversas íntimas com a bela morena que abrilhantou a sua vida e sem ela o nobre não saberia mais o que é felicidade.

O caçador ficou olhando para além das montanhas Krux, depois levantou a cabeça e olhou com admiração para o céu estrelado e se lembrou das palavras de sua amada; respirou fundo e agradeceu a Deus por se sentir o homem mais sortudo do mundo.

.....

Verônica observava em silêncio Marguerite comer o que ela havia preparado. A loira estava esperando algum comentário negativo da bela herdeira, mas Marguerite comeu tudo sem dizer nada.

A morena tomou um último gole de chá e encarou a garota da selva, que estava com a sobrancelha arqueada esperando a iniciativa dela para uma conversa. Marguerite limpou a garganta e...

– Verônica, será que o Roxton ainda está com aquela... insuportável?

– Bom, talvez... Acho que a conversa não deve estar sendo fácil. E, falando em conversa, vocês ficaram um bom tempo aqui; espero que esteja tudo bem entre vocês.

Marguerite ficou um tempo em silêncio; ela não sabia se deveria contar já sobre as novidades do seu relacionamento com o caçador, mas agora com dois possíveis inimigos dentro de casa, a morena refletiu e achou melhor desabafar um pouco com a jovem. Verônica também tinha extintos bem aflorados e Marguerite estava contando com eles para seus planos futuramente. A bela tentou ser o mais objetiva possível.

– Verônica, bem, eh... Suponho que você já deve saber que John e eu estamos juntos; já há algum tempo. Nós conversamos muito sobre isso e, entre outras coisas, ele me pediu em casamento. E eu aceitei.

Verônica sorriu e abraçou a amiga com um afeto sincero.

– Ooh Marguerite, eu estou tão feliz por vocês. Já estava mais que na hora!

A morena retribuiu o abraço e se sentiu emocionada. Verônica, ao ver os olhos marejados da amiga, se impressionou, afinal de contas, a herdeira sempre se mostrou forte e suas emoções ficavam guardadas a sete chaves.

– Marguerite, você está diferente... Roxton provocou grandes mudanças em você.

– Ah... Disso você pode ter certeza. E por falar nisso, daqui a alguns meses essas mudanças estarão bem evidentes.

– O que quer dizer?

Marguerite pôs as mãos juntas na barriga lisa e sorriu timidamente para a loira, que logo percebeu o que a herdeira quis dizer.

Verônica adorava crianças e a notícia da chegada de um bebê fez a garota da selva se encher de felicidade e ela não conseguiu segurar a empolgação.

– Marguerite você está grávida!! Eu não acredito! Isso é maravilhoso! Precisamos começar a preparar tudo. E o Roxton já sabe ?

– Sim, aquele abelhudo ficou escutando a minha conversa com o Jacob e descobriu tudo. Eu não ia...

– Você não queria contar pra ele por causa da Diana, não é?!

– Essa era uma das razões. Mas a verdade é que eu não posso mais ficar fugindo do que eu sinto pelo John e o meu filho tem o direito de ter uma família. Não quero que ele ou ela sofra o que eu sofri...

– Não sofrerá! Você e o bebê têm a todos nós, somos sua família; pode não ser a que você queria, mas somos uma família e vocês não ficarão sozinhos. É uma promessa!

A herdeira segurou a mão da amiga, olhou nos olhos dela e disse de coração aberto:

– Eu não poderia desejar uma família melhor do que essa. Obrigada.

Depois de um abraço apertado...

– Bem, agora chega de tantos abraços e lágrimas. A gravidez está afetando muito o meu lado emotivo, que eu pensei que nem existia mais! rsrs

– Eu já percebi. Mas isso é normal; a gravidez deixa a mulher mais sensível, eu li isso nos diários do meu pai, e lembro que Summerlee havia comentado sobre isso em uma conversa. É uma pena que ele não esteja aqui, tenho certeza de que ficaria muito feliz por você.

– Eu queria muito que ele estivesse aqui; muito!

A loira parou por uns instantes para refletir sobre uma preocupação que surgiu em sua mente.

– Marguerite, e quanto a Diana e o chato do irmão dela? Não sei se quero eles em minha casa, ou melhor, nossa casa. Você deve ter paz pra não prejudicar o seu bebê.

– Você vai achar que é ciúme, mas eu tenho um mau pressentimento sobre os irmãos Connelly. Só que eles são amigos da família do John, cresceram juntos e tal... Ele não permitiria isso, mas eu mesma jogaria os dois daqui de cima.

As amigas trocaram risadas e continuaram a conversa e a combinar alguns planos.

..........................

Harrison já havia saído do banho há algum tempo; pegou algumas roupas emprestadas com John e foi ao encontro de sua irmã.

– Diana, posso entrar?

Ela ainda estava deitada, com a cabeça explodindo de dor; ao ouvir a voz do irmão a megera revirou os olhos e se levantou bruscamente.

– O que esse idiota quer agora?! Entra logo!

– Puxa, que mau humor! Você deveria ir tomar um banho e relaxar um pouco. John nunca irá trocar Marguerite por você se você estiver cheirando a homem macaco... Argh! Criaturas medonhas, não gosto nem de me lembrar!

– Você é mesmo um imbecil! A situação não está nada boa, precisamos sair logo desse platô horrendo e com a proteção do John. Aquele desgraçado está todo animado e muito feliz com a notícia do bastardo.

– Ela contou a ele? Você me disse que ela estava com medo!

– Contou sim. E ele veio aqui conversar comigo.

– E o que ele disse? Diga!

– Resumindo: ele me disse que não vai ficar comigo, que quer se casar com aquela vadia independente da opinião alheia e que será sempre grato pelo nosso esforço por termos vindo até aqui. Dá pra acreditar?

Com uma risada irônica, Diana encarou o seu irmão. Harrison já sabia o que aquele olhar diabólico queria dizer.

– Temos que nos livrar daquela vagabunda e de todos os que se meterem em nosso caminho.

– Mas, Diana, se o Roxton está tão agradecido vamos conversar com ele, explicar tudo e sair logo desse lugar!

– Então vá lá, converse com ele, diga que perdeu tudo por causa do jogo e que se endividou com mafiosos; que, além disso, o encontrou por pura sorte. Ele vai nos dar esmolas e vamos continuar na lama, sem prestígio e vivendo de favor em alguma pocilga.

– Mas isso de matar uma mulher grávida é demais pra mim! Eu... eu...

– Demais pra mim é ter que me humilhar pra sobreviver!

– Eu sei, é tudo culpa minha.

– Sim, é culpa sua e daquela miserável que não vai ficar com o meu título, com a minha posição e, principalmente, com a minha fortuna! Então engula o seu remorso e vamos pensar no que fazer pra inverter essa situação a nosso favor.

.........

Jacob dormiu o suficiente e quando se levantou encontrou John fumando um dos seus charutos; os homens se encararam e o caçador ofereceu um charuto ao seu rival que não o recusou.

– Lord Roxton, não sei o quanto você ouviu da conversa, mas eu sei que Marguerite te ama e quer estar com você.

– Eu a amo mais que tudo, Sr. Miller, e ninguém vai tirá-la de mim. Esteja certo disso.

– Acha que eu quero tirá-la de você? Não seja tolo! Eu me preocupo com ela e com o bebê que está a caminho; não sei o que você pretende, afinal, você tem uma noiva. E como fica Marguerite nessa história?

– Ficará do meu lado como minha esposa e vamos criar o nosso filho juntos. Eu sou muito grato por tudo o que fez por ela, mas não fique com segundas intenções ou não respondo por mim.

– Eu só quero ver Marguerite bem; e se você vai honrá-la eu não tenho porque me meter.

– Então estamos entendidos.

Um aperto de mão firme foi mais do que suficiente.

...........

A noite chegou. Verônica e Roxton haviam preparado um belo jantar; Marguerite estava se sentindo enjoada e preferiu continuar no quarto, deitada na cama; o restante do grupo se reuniu a mesa, conversaram sobre suas experiências e combinaram de sair para explorar perto do local onde Diana e Harrison disseram que houve o deslizamento que fechou a passagem para o mundo civilizado.

A herdeira surgiu e todos olharam para ela. Roxton puxou uma cadeira ao seu lado e pegou a mão de sua amada. Challenger, muito empolgado, começou a contar os planos para a morena.

– Marguerite, vamos explorar perto da região das montanhas onde há alguns vulcões. Pode haver uma saída!

Roxton interveio.

– Challenger, Marguerite não vai a essa expedição; não é seguro no seu...

A herdeira apertou a mão do caçador e ele parou de falar; os dois ficaram se olhando tentando ler o pensamento um do outro. Todas na mesa encararam o casal. John já tinha pensado muito naquela tarde e não queria mais saber de segredos sobre sua relação, tampouco iria aceitar esconder o seu filho como se fosse um pecado. E, por ele, contaria tudo naquele exato momento, porém continuou calado, pois não queria magoar Marguerite que, pra surpresa do caçador, tomou a frente da conversa.

– Bem, Challenger, acho que por agora eu vou ficar na casa da árvore um bom tempo só costurando e dormindo...

Verônica abriu um sorriso, afinal, ela já sabia o que a herdeira estava tentando dizer; o cientista continuou a falar sem entender nada. John estava boquiaberto. Já Diana tentava disfarçar a cara de nojo e Harrison se encharcava de vinho, totalmente alheio a situação. Jacob olhou para a herdeira e sorriu timidamente tentando encorajá-la.

– Marguerite, essa é nossa melhor chance de sair do Planalto em muito tempo, você sabe o quanto é necessária na expedição e então me dê um motivo convincente para que você tenha que ficar aqui na casa da árvore!

Subia a tenção no ar e John interveio novamente.

– Marguerite, se você não quiser...

A herdeira segurou firme a mão do caçador, olhou para todos em volta e disse, claramente, com uma pitada de seu sarcasmo habitual.

– Eu estou grávida. Será que é um motivo satisfatório pra você, Challenger?!

O cientista ergueu as sobrancelhas em espanto e ficou corado como um tomate.

– Oh sim, sem dúvidas é um motivo extremamente satisfatório.

Challenger ficou pensativo, preocupado com a situação que viria; a mente brilhante do cientista trabalhou rápido como um raio calculando diversas variáveis da notícia repentina, mas, em um raro momento para ele, o sentimento falou mais alto que a razão e o homem da ciência deixou-se render aos sentimentos de felicidade pelo casal por quem sentia um grande afeto. Havia muito que conversar sobre novas regras que seriam necessárias para segurança de Marguerite e do bebê, mas ele achou melhor falar disso em momento mais propício. E, após o pensamento rápido, ele foi sem mais perda de tempo cumprimentar seus amigos.

– Mas isso é uma excelente notícia! Meus parabéns a vocês dois! – Challenger abraçou a herdeira – Você sempre me surpreende minha cara.

Marguerite sorriu com o comentário do homem que era o mais próximo de um pai que ela já teve na vida. E ao se separar do abraço caloroso da bela morena, o cientista se voltou para Roxton, que estava em plena felicidade por Marguerite finalmente assumir a relação deles sem mais reservas. Challenger apertou a mão de seu amigo fiel.

– Ahhh, meu velho, meus parabéns! Temos muito o que conversar mais tarde.

– Eh... Temos sim!

Verônica e Jacob observavam toda a cena; a loira estava com um sorriso de ponta a ponta e o aventureiro olhou para Marguerite que lhe deu um sorriso grato. Jacob estava feliz por ela e já pensava em partir o mais breve possível, pois temia ser traído pelos seus sentimentos e acabar em conflito com o Lord, que já havia deixado bem claro que não permitiria aproximações com segundas intenções.

Todos se sentaram à mesa novamente e Marguerite olhou para Diana com um olhar desafiador, afinal de contas, duas cobras se reconhecem, o difícil é saber qual delas tem o veneno mais letal.

Diana se afundava nas profundezas do ódio e da inveja, mas se mantinha firme em seu jogo e não estava disposta a perder; então, para surpresa de todos os presentes, a dissimulada se levantou e...

– Minha chegada aqui todos já devem saber por qual motivo foi e, bem, nossas vidas mudaram muito nesses quase quatro anos. Eu espero que um dia possamos voltar para casa e contar nossas grandes aventuras e nos vangloriar diante de todos que duvidaram de nossas convicções. Para mim está sendo uma honra poder fazer parte. John, pela nossa amizade de anos e pelo grande carinho que tenho por sua família, eu te desejo os meus mais sinceros votos de felicidade a você, Marguerite e ao seu primogênito.

Diana pegou uma taça e propôs um brinde. John a olhou com admiração e agradeceu; isso incomodou a herdeira, que respondeu ao discurso da rival apenas com um sorriso no canto da boca. Em seguida, todos brindaram e continuaram a conversar sobre os planos futuros. Para os homens, Diana estava agindo como uma verdadeira Lady e merecia o respeito e a admiração de todos, mas para Marguerite e Verônica, Diana só estava ganhando confiança para aprontar alguma.

......

Em uma manhã, a bela garota preparava o café e separava suprimentos para o aventureiro. Quinze dias haviam se passado, Jacob finalmente estava se preparando para partir; seu retorno a aldeia tardou mais do que o previsto, pois esperou uma boa remessa de remédios que Challenger estava preparando.

Verônica queria ir com ele para conhecer a aldeia e distrair a cabeça que não parava de pensar no paradeiro do jornalista, mas ela preferiu ficar para não deixar Marguerite à mercê da megera – por mais que Roxton não deixasse a herdeira nem pegar um copo d'água sozinha, ele era cego com as artimanhas de Diana, que estava sempre tentando se aproximar dele.

Challenger e o aventureiro seguiam para a cozinha conversando.

– Jacob, não acha melhor reconsiderar nossa oferta e ficar na casa da árvore por mais algum tempo? Para nossa viagem à região de vulcões ainda é preciso esperar um pouco, já que nessa época e quase impossível chegar lá devido às condições climáticas daquela região.

– Professor, eu fico agradecido, mas sinto que já está na hora de voltar para casa e para aqueles que me acolheram. Devem estar precisando de mim e com os novos remédios e descobertas que o senhor gentilmente compartilhou comigo, poderei fazer muito por todos da aldeia.

– Sim, eu entendo.

– Mandarei sinais de espelho e voltarei dentro de um mês para acompanhá-los na expedição.

– Bem, se não posso convencê-lo só o que me resta é lhe desejar boa sorte em seu regresso.

– Obrigado. Oh, bom dia Verônica!

– Bom dia! Eu estava me perguntando quando notariam a minha presença...

– Bom dia, minha cara, como pôde ouvir não consegui convencê-lo a ficar, o que é claro seria o mais sensato a se fazer.

A garota da selva e o aventureiro se entreolharam e se divertiram com fato de Challenger não aceitar uma derrota tão facilmente. Os Connelly surgiram e uma nuvem de tenção pairou no ar; Verônica não os suportava.

– Bom dia, cavalheiros. Srta. Layton, bom dia, quer uma ajuda? Bom, não estou acostumada com tais ingredientes tão exóticos, mas acho que posso preparar um café digno de ser apreciado por todos.

– Não se incomode, já está tudo pronto e garanto que está bem digno de ser apreciado. E, caso não goste, lá fora tem muito o que caçar.

O cientista pigarreou alto e Diana foi se sentar à mesa calada. Challenger achou a resposta da garota da selva um tanto rude e lançou um olhar repreendedor para a loira que deu de ombros. O cientista pediu a todos que se sentassem a mesa para tomar café, mas não havia nenhum sinal do mais novo casal se aproximando.

......

– Você está se sentindo melhor, meu amor? Eu vou achar o Challen...

– Não, John! É só um enjôo matinal, eu já estou me sentido melhor. Vá tomar o seu café e eu vou me vestir.

– Não, eu não vou deixar você aqui sozinha passando mal; é melhor chamar o Challenger....

John foi para o corredor e gritou pelo cientista; Challenger se engasgou com um pedaço de pão e foi correndo para o quarto da herdeira. Verônica o seguiu e Jacob se levantou da mesa muito preocupado. Diana disfarçou um sorriso e bebeu mais um gole de chá – estava torcendo para que se tratasse de um aborto.

......

– O que foi, homem? Marguerite está bem?

– Eu não sei, ela está passando mal....

A herdeira revirou os olhos e se sentou na cama.

– Por Deus, eu já disse que é apenas um enjôo forte! Ah estou é faminta. Agora queiram me dar licença, eu vou me vestir.

– Mas, Marguerite...

– Anda logo, John, me deixa sozinha... Verônica, fica aqui comigo pra ele não ter um treco. – a jovem não pôde segurar a risada e concordou.

Challenger queria ter certeza que estava tudo bem com a gestação da herdeira.

– Marguerite, tem certeza de que está bem? Você está sentindo alguma dor? Deixe examiná-la...

– Não estou com nenhuma dor, foi apenas um enjôo muito forte e tive um pouco de tontura. Isso é perfeitamente normal!

– Bem, de qualquer maneira é melhor você ficar na cama.

– Não! De jeito nenhum! Já disse que eu estou bem. Eu quero me despedir do Jacob.

O caçador ainda estava preocupado.

– É melhor você ficar na cama; eu vou trazer o seu café e peço para o Jacob vir aqui se despedir de você. Fique aqui e não saia!

Os homens saíram do quarto e Marguerite já se levantou e foi trocando de roupa. Verônica tentou impedir, mas...

– Marguerite, fique deitada, é melhor. E Roxton vai se zangar se te ver lá em cima.

– Aaaah você também não, Verônica! Já me basta um neurótico. Eu estou grávida e não doente. Pode deixar que eu me entendo com o John, que aliás está muito mandão para o meu gosto!

– Você que sabe, eu vou deixar você sozinha.

– Obrigada e... não diga para o John que eu já estou subindo.

– Ah está certo.

Verônica subiu as escadas e deu de cara com Diana, que se fez de boazinha.

– Oh, Verônica, a Marguerite está bem? Os primeiros meses são difíceis.

– São sim, mas o que você entende de gravidez?

– Bem, eu sou mulher e, além do mais, acompanhei toda a gestão de uma amiga, a Condessa Katelyn, esposa do nobre Conde Bartholomew.

Roxton preparava uma bandeja farta para tomar café na cama junto com sua amada. Enquanto isso, não desviou atenção da conversa das duas mulheres nem por um instante, ele já havia percebido que Verônica não ia nada com a cara de Diana e ficou atento caso tivesse que apaziguar alguma discussão.

Diana virou sua atenção para o nobre e Verônica revirou os olhos.

– Oh John, você se lembra deles?

– Claro! Conde Bartholomew é um homem honrado, de grande prestígio, e a Condessa organizava as melhores recepções em sua mansão. Você iria gostar de conhecê-la, Verônica, é uma mulher muito agradável.

– Talvez um dia...

– Marguerite sem dúvidas se dará muito bem com ela, o ar refinado não lhe falta.

– Bem, disso eu não tenho dúvidas!

Diana apertou os punhos ao ouvir as palavras do Lord. "Já estou até vendo o famoso senhor das terras de Avebury casado com uma vadia que lhe deu o golpe da barriga. EU NÃO VOU DEIXAR, EU JURO!"

– Bem, John, eu sei alguns truques para amenizar os enjôos e também sei de um chá maravilhoso.

A loira cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha. "Só por cima do meu cadáver que você vai dar alguma coisa pra Marguerite beber".

– Diana, você é muito gentil. Marguerite já está se sentindo melhor e Challenger vai para a aldeia Zanga para aprender um pouco com o xamã; ele precisa estar preparado para qualquer problema com a gravidez. Você pode ir com ele, seria muito bom!

Verônica deu um sorriso e apoiou a ideia, já que ela sabia que isso era tudo o que a noiva desprezada não queria: se afastar do caçador.

– Isso é uma excelente idéia, Roxton, afinal, agora que você e seu irmão vivem aqui, é bom já se acostumar com as tarefas e as expedições em busca de ervas medicinais e caça

– Ah... Bem, é que...

Por uma ironia da vida, Marguerite surgiu e salvou a megera de dar uma resposta imediata.

– Marguerite, o que faz de pé? Você deveria estar deitada. Eu já ia levar o seu café.

– Roxton, onde está o Jacob? Não me diga que ele foi embora sem se despedir de mim!?

John fez uma cara de menino chateado e tardou alguns segundos pra responder.

– Não, ele ainda está aqui, não se preocupe. Está com Challenger no laboratório.

– Ah, menos mal. Bem, eu estou faminta. Querido, o que você preparou pra mim?

Marguerite deu um sorriso apaixonado e Roxton esqueceu o ciúme e ficou muito feliz ao ouvir como ela se referiu a ele.

– Venha, senta aqui e aprecie o magnífico lanche preparado por nossa anfitriã.

– Mas você fez o café, não é? Eu não posso começar o dia sem o meu café!

Verônica deu uma risada e Diana deu uma desculpa qualquer e foi procurar o irmão que ainda estava dormindo.

........

Após o café todos os membros da casa desceram para a base da árvore protegida pela cerca elétrica.

Jacob abraçou a garota da selva e agradeceu por tudo. Challenger ainda estava meio inconformado com a partida do aventureiro; o cientista sabia que Jacob seria de grande valia ao grupo.

– Mande sinais de espelhos e faremos uma visita assim que pudermos. Estou curioso para conhecer essa aldeia, deve ser um lugar incrível.

– Ficarei muito feliz com a visita de todos vocês. É sim um lugar incrível e as pessoas são tão hospitaleiras quanto vocês.

Lord Roxton engoliu o orgulho e estendeu a mão ao homem a quem ele devia a vida de Marguerite e a de seu filho, uma dívida eterna para o nobre. Um aperto de mão firme e uma boa encarada...

– Lord Roxton, você é um homem de sorte, cuide da sua família.

– Eu sou sim e obrigada, eu lhe devo muito. E você tem um lar aqui também, é claro, desde que se comporte.

Os dois homens deram risada, a herdeira ouviu tudo e se aproximou. Ela segurou a mão do caçador e pediu para ficar sozinha com o aventureiro. John não ficou lá muito conformado com o pedido da bela, mas compreendeu que a despedida de ambos merecia certa privacidade.

– Bem, vou ver se Challenger não esqueceu alguma coisa.

– Obrigada, John.

Jacob encarou os belos olhos da morena e naquele momento o aventureiro sentiu um aperto no peito. Ele queria que o amor de Marguerite fosse dele, a conhecia há tão pouco tempo, porém nunca havia sentido tal sentimento que se alastrava por sua alma e tomava conta de todo o seu ser, era algo que ele nunca havia sentido por nenhuma outra mulher e duvidava sentir algo igual por outra.

– Bem, Marguerite...Vou sentir sua falta, mas estou feliz e vou partir tranquilo agora que sei que você ficará bem e protegida ao lado do ciumento Lord Roxton rsrs. Achei que ele fosse atirar em mim a qualquer momento.

– Lord Roxton pode ser um pouco grosseiro às vezes rsrs. Eu também vou sentir a sua falta, gostaria muito que você ficasse aqui conosco.

– Eu não me encaixo aqui, Marguerite; eu devo estar onde eu sinto que tenho lar. E aqui eu sinto apenas o desejo por algo que nunca será meu...

Os olhos verdes da bela herdeira brilharam intensamente e nada ela conseguiu dizer, então, um abraço terno selou a despedida e ambos prometeram que não seria um adeus.

– Vá com cuidado e não se meta em encrencas!

– Eu digo o mesmo pra você. Cuide bem do seu bebê e não seja tão teimosa.

Os Connelly se despediram de maneira cordial. Então, o aventureiro partiu e Challenger foi junto acompanhá-lo por parte do trajeto já que a aldeia Zanga era no mesmo caminho do destino de Jacob.

De volta à casa da árvore, Verônica foi terminar uma de suas pinturas e o casal foi conversar na varanda como de costume.

– Então, eu devo me preocupar com aquele abraço demorado?

– Oh John, não seja tolo.

– Hum...

Marguerite ficou pálida e pôs a mão no estômago.

– Você está se sentindo bem? Está enjoada de novo?

– Só um pouco. Deve ter sido o café, eu tomei mais 3 xícaras. Vou me deitar.

A ingenuidade masculina fez o caçador dizer algo pelo qual iria se arrepender.

– Ah... Marguerite, Diana tem experiência com mulheres grávidas, ela disse que pode te ajudar a se sentir melhor.

A herdeira deu uma encarada fulminante e de pálida ela ficou vermelha como um rubi; se virou bruscamente e correu para o quarto. Roxton foi atrás dela sem entender nada.

Diana estava na sala fingindo ler um livro e morreu de vontade de ficar de tocaia perto do quarto de Marguerite para poder ouvir a conversa.

.......

Marguerite se jogou na cama e agarrou o travesseiro. John chegou logo em seguida, se sentou na cama e foi tirando as botas dela.

– O que foi, meu amor?

– Saia daqui, Roxton, e não me toque!

– Você vai dormir de botas?

– Não te interessa!

– É claro que me interessa, tudo sobre você me interessa. E não entendo por que está tão brava comigo; se é por causa do que eu disse sobre a Diana te ajudar, eu não vejo problema nisso. Estão todos aqui na mesma casa, vocês não podem ser inimigas pra sempre, ela quer fazer as pazes com você, então por que não dá uma chance a ela?

As palavras do caçador só enfureceram a herdeira ainda mais.

– John, você é um ingênuo. Ela não quer me ajudar em nada, ela só quer ficar bem com você. E me deixa em paz, eu não a quero perto de mim e muito menos do meu filho.

– Nosso filho!

Roxton não queria aborrecer ainda a morena e temia fazer mal ao bebê, então...

– Eu vou deixar você descansar. Eu te amo.

Ele se aproximou e beijou a barriga ainda lisa da herdeira, que já havia se acalmado um pouco ao ouvir o "eu te amo" tão sincero do caçador e depois a demonstração de carinho com o filho crescendo em seu ventre. Quando ele se levantou, antes que pudesse dar um passo, Marguerite segurou a mão dele.

– Eu também te amo.

Ele sorriu, caminhou para porta e saiu. Marguerite se ajeitou no travesseiro e tentou dormir um pouco.

Diana viu John voltar e correu para puxar assunto com ele, se fingindo de preocupada com Marguerite, a pessoa com quem ele mais se preocupava no mundo.

– John, como ela está? Eu posso preparar um chá, você vai ver que logo ela se sentirá melhor.

– Isso seria ótimo, Diana! Mas agora ela está descansando e eu não vou incomodá-la; com o mau-humor que ela estar é melhor deixá-la dormir.

– Se os enjôos continuarem eu terei o maior prazer em ajudá-la.

– Você é maravilhosa, obrigada por deixar as diferenças de lado e..

– John, não precisa falar mais nada. Estamos todos juntos e temos que nos ajudar; ainda mais quando se trata de uma criança que nada tem a ver com os nossos problemas!

Roxton se sentiu satisfeito e orgulhoso da amizade da mulher que um dia foi sua noiva.

– Eu fico feliz. É bom ter uma parte do meu mundo aqui perto de mim; eu confesso que sentia falta de poder conversar e lembrar minhas raízes e, claro, poder falar dos altos e baixos de nossas famílias. Eu ainda não acredito em tudo o que me contou... Sabia que os primos aprontariam, mas nunca pensei que tanto assim.

– Nem me diga. Ouvi muitos dos desabafos da sua mãe, ela sempre se queixava sobre sua família te acusar de ser a ovelha negra. Mas, meu querido, seus primos não fazem a menor questão de serem discretos com a rotina festeira em antros de libertinagem nada bem quistos em nossa sociedade.

– Coitada da minha tia... Deve ouvir muitas queixas de minha mãe... Agora que os meus primos são maiores de idade vai ser difícil segurá-los.

– Você conhece sua mãe, o prestígio e o nome da família estão sempre em primeiro lugar.

– Sim, eu sei disso. Meu pai também pensava assim e era bem mais enfático sobre isso, sem dúvidas.

Roxton refletiu sobre o assunto e pensou no quanto seria difícil apresentar Marguerite como sua esposa e ainda com um filho fora do casamento. Se seu pai ainda fosse vivo, ele era um homem extremamente tradicional e certamente seria uma situação muito complicada. E enquanto os dois conversavam alegremente em total sintonia, Marguerite havia se levantado da cama e foi para o andar de cima para conversar com o Lord e se desculpar por ter sido tão rude. A morena parou no meio da escada e ouviu toda a conversa; intrigada, ela continuou ali.

– John, você se lembra de quando ficávamos sozinhos nos fundos do jardim central?

O caçador ficou sem graça e coçou a cabeça para disfarçar o nervosismo.

– Ah... sim, eu... eu me lembro.

– Foram os melhores momentos da minha vida!

Roxton deu alguns passos e ficou ainda mais próximo da escada, mas não viu Marguerite, que estava parada esperando pra ver atitude dele. Com todas as suas forças para não perder o controle, ela se manteve firme e não pulou no pescoço da descarada.

Diana foi se aproximando e ficou muito perto dos lábios dele...

– Vai me dizer que não significou nada pra você? Que não gostava de estar comigo? Você foi o único a quem eu me entreguei.

– Diana, por favor, já conversamos sobre isso, eu não quero te magoar!

– Então, me diga, se não fosse a gravidez dela eu teria uma chance? Você sabe que todos dirão que ela te deu o golpe da barriga e não quero que você e sua família sofram com um escândalo. Pense em como seu filho será taxado de bastardo!

O rosto dele se fechou e sua opinião sobre a mulher já não era a mesma de poucos minutos atrás. Com tom firme e seco ele exigiu que ela abrisse o jogo.

– O que você está tentando dizer, Diana? Seja clara.

– Que o melhor para o seu filho é nos casarmos. Eu criarei o bebê e vou amá-lo como se fosse meu, e você teria uma esposa digna e não uma... Bem, você mesmo disse que ela mudou depois de vir pra cá...

Diana parou de falar. Roxton ficou atônito com tal proposta, a raiva ficou travada em sua garganta e ele não conseguiu falar nada com medo de perder as estribeiras de uma vez por todas. Então, ele apenas ficou olhando a mulher a sua frente com nojo e desprezo. Porém, Marguerite esperava uma reação dele e o silêncio a fez pensar que o caçador estava considerando a proposta como uma boa idéia; ele ficaria com o filho e teria uma esposa de reputação irrefutável! Ela começou a se sentir muito mal e com dificuldade de respirar de tanto ódio e decepção; subiu o restante dos degraus, tremendo e soando frio. E pela primeira vez em anos ela perdeu o controle de suas emoções.

– VOCÊ NÃO VAI TIRAR O MEU FILHO DE MIM! NUNCA! Eu... eu n...

John despertou de sua raiva ao ouvir a voz chorosa e desesperada de Marguerite. Ele olhou para ela e reparou nas lágrimas que caíam pesadamente no rosto branco da herdeira. Apenas a dois metros de distância e como em uma cena em câmera lenta ele a viu perder a consciência no topo da escada. Correu para tentar segurá-la e evitar, mas...

– MAAAAAARGUERITE!!

Ela caiu!


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