E mais uma vez a rotina se repetia: ela ia para o colégio e assim que chegava em casa se trancava em seu quarto e chorava até não aguentar mais, era sempre assim, ela não aguentava mais as “brincadeiras” dos colegas, aquilo tinha um nome, era bullying.

Quando as lágrimas finalmente cessaram ela se levantou de sua cama, foi até sua escrivaninha e pegou seu caderno de músicas, voltando naquela página que não conseguia sair nunca:

“Eu costumava morder a minha língua

E prender a respiração

Tinha medo de virar o barco

E fazer uma bagunça

Então me sentava quieta, concordava educadamente

Acho que me esqueci que tinha uma escolha

Deixei você me empurrar além do limite

Não levantava por nada,

Então eu caía por tudo.”

Ela escrevia no passado porque ainda tinha esperança de que aquilo iria acabar e quando ela fosse uma cantora famosa poderia cantar essa música para inspirar as pessoas que sofressem como ela sofria.

Ouviu o toque discreto de seu celular e correu até sua cama, aquele barulho só significava uma coisa: Clara havia lhe mandado uma mensagem.

Clara era sua amiga virtual, a única amiga que tinha, só ela sabia sobre o bullying e era um dos únicos motivos para a garota se manter viva.

“Oi!” - Era a mensagem de Clara.

“Oi.” - A garota respondeu.

“Como você está hoje?”

“Mal e você?”

“Por que mal? O que eles fizeram?”

“O de sempre.”

“Você não pode deixar Anna.”

“E você acha que eu deixo? Acha que eu digo ‘Isso, me xingue mesmo, me bata mais, eu gosto!’?”

“Eu sei que não, mas também sei que fica quieta e não faz nada.”

“E o que você quer que eu faça?!”

“Que se defenda, que responda, que lute!”

“Eu não consigo, eles me derrubam, é difícil.”

“Se não tentar não consegue mesmo, levante e sacuda a poeira, vai ficar esperando um super-herói aparecer pra te salvar? Seja você mesma a sua heroína!”

“Isso! Me deu uma ideia para a minha música, obrigada Clara, eu te adoro!” - E assim ela bloqueou seu celular e voltou a escrivaninha, pegando o caderno novamente:

“Você me derrubou, mas eu me levantei

Já sacudindo a poeira

Você ouve a minha voz, ouve aquele som

Como um trovão vou tremer o seu chão.”

Agora já conseguia continuar a sua música:

“Eu tenho o olho do tigre,

Uma lutadora

Dançando pelo fogo

Porque sou uma campeã

E você vai me ouvir rugir

Alto, mais alto que um leão

Porque sou uma campeã

E você vai me ouvir rugir.”

Leu e releu o que havia escrito, acabou gostando. Voltou a pensar no que a amiga disse.

“Agora estou flutuando como uma borboleta

Ferroando como uma abelha,

Conquistei minhas listras

Fui de zero a minha própria heroína.”

Anna continuou gostando do que escrevia, então voltou ao que seria o refrão e enceraria a música:

“Você me derrubou, mas eu me levantei

Já sacudindo a poeira

Você ouve minha voz, ouve aquele som

Como um trovão vou tremer o seu chão

Você me derrubou, mas eu me levantei

Se prepare porque já cansei

Eu vejo tudo, eu vejo agora

Eu tenho o olho do tigre,

Uma lutadora

Dançando pelo fogo

Porque sou uma campeã

E você vai me ouvir rugir

Alto, mais alto que um leão

Porque sou uma campeã

E você vai me ouvir rugir.”

Nomeou-a de Roar e agradeceu mais uma vez sua amiga. A partir daquele momento decidiu que mudaria, aquela música seria sua resposta aos bullies e tinha certeza que ajudaria muitas pessoas quando fizesse sucesso, seu novo lema agora seria sempre rugir mais alto que um leão.