O Preditor escrita por Jean Monte


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Tentei retratar a esperteza e a malandragem do brasileiro neste conto, tendo o escrito com base na frase de Paulo Freire; "Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor."



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Antônio, quando jovem, resolveu largar a escola no intuito de se tornar um grande músico. Junto a sua viola, saiu para as ruas com a esperança de que algum caçador de talentos o encontrasse. Sua espera durou alguns anos, tantos que não se podem contar nos dedos, mas sim pela quantidade de cabelos brancos em sua cabeça. Dias e dias juntando a esmola daqueles que iam trabalhar por ali, até que um dia deparou-se com D. Maria das Graças. Algumas flores, algumas serenatas e alguns fortes tapas até que então Antônio casou-se com ela. Ambos foram morar com pai de D. Maria, o Sr. Abravanel. O pai, que não aprovara nem um pouco o casamento, logo achou importuna a presença do violeiro em sua casa, talvez porque ele deixava as meias pelo chão, comesse de todo o pão no café da manhã antes mesmo do Sr. Abravanel acordar e esquecesse de apagar o feijão quando D. Maria saía para comprar o tempero na feira. O violeiro, que por sua vez não deixou de mendigar após o casamento, só fazia tocar sua viola na praça o dia inteiro e chegar de tarde para jantar, dormir e roncar, assim deixando D. Maria e seu pai acordados até altas horas da madrugada.

O violeiro, que sempre lia seus jornais de manhã, viu que o prefeito da cidade foi afastado do cargo por ter bebido demais e, assim, falado demais - se é que me entende. Antônio viu nisso uma oportunidade de melhorar a vida de sua família e candidatou-se. Com discursos sobre sua humildade e sua origem pobre e com promessas absurdas que o violeiro dizia que iria cumprir se tomasse o cargo, não foi difícil consegui-lo. A vida nunca foi tão boa para Antônio e sua família, que compraram uma casa na praia com o bom salário de prefeito - e também com a ajuda de algumas verbas públicas. D. Maria embelezou-se toda com a maquiagem importada e com vestidos de cetim nas mais finas estampas possíveis, e o Sr. Abravanel começou a sair para festas da alta sociedade, com ternos brancos e o cabelo bem penteado, para esbanjar com vinho e camarões, aumentar seu ego e conseguir encontros com as mulheres mais novas, geralmente filhas dos que eram empregados de seu filho, o prefeito. Tudo parecia bem, até que algo imprevisível chegou de surpresa, para o espanto de Antônio: o povo saiu nas ruas para cobrar as promessas que o prefeito fizera antes de tomar o cargo. Cartazes com os bordões "Antônio, o prefeito imperfeito" e "Quem prediz demais, nada faz" eram carregados por mulheres e os homens batiam panela, enquanto todos cantavam versos que diziam o prefeito ser um malfeitor, um atraso para a cidade e para o povo.

O prefeito, assustado, disse para a imprensa que tudo o que ele prometeu se cumpriria lentamente, com o esforço dele e do povo trabalhando juntos por uma cidade melhor. A população não acreditou em nenhuma palavra furada que ele disse.

Dois, três dias e todo o povo se reuniu na frente da prefeitura para manifestar, jurando apedrejar o prefeito se tivessem a chance. Antônio, que se sentiu ameaçado, renunciou ao cargo, com a ideia na cabeça de que sua vida já melhorara ao máximo - ele tinha dinheiro no banco e uma casa de praia. Mal ele sabia que várias investigações feitas no intuito de descobrir para onde eram desviadas as verbas públicas viriam para infernizá-lo. Foi descoberto que Antônio as desviava para sua conta no banco, e lhe foi tirada toda a quantia que era armazenada em seu cofre pessoal no banco da cidade, além de sua casa na praia. D. Maria das Graças e seu pai voltaram para a velha casa em que viviam, tendo a moça pedido divórcio do ex-prefeito, que fora preso por dez, quinze anos, mas foi solto antes por boa conduta.

Antônio voltou a tocar sua viola na praça e todos os dias era ignorado pela população. Viveu na miséria pelos últimos anos de sua vida.


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Notas finais do capítulo

É isso, espero que gostem ;3



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