O Negrume escrita por Aryalie


Capítulo 19
Fragmentos


Notas iniciais do capítulo

Oláa! Estou de volta!!
Gostaria de dedicar esse capítulo à Rai Hikonan pela linda recomendação, e por estar sempre presente nos comentários. Você faz toda a diferença, e fico muito feliz ao ler o que você me escreve. Espero que goste desse capítulo também!



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O céu é lentamente tingido de violeta. Não é o tom de violeta que se vê em flores delicadas, e sim em hematomas resultados de golpes violentos. Minha cabeça dói um pouco, e eu percebo vozes, apesar de não parecerem próximas. Não, estão na realidade bem distantes.

        Estou deitada no meio da grama, que faz cócegas em minhas mãos e rosto. Mas eu não me incomodo. Sempre gostei de estar próxima a natureza, e me sinto bem ali. Não penso em mais nada além de como o sol nascendo é bonito, em como o silêncio é profundo, em como aquele besouro passeia delicado sobre aquela folha larga coberta de orvalho.

        Então ouço um latido, e desta vez bem alto. Bem próximo. É um som agressivo a meus ouvidos depois de tantas horas de tranquilidade, e me perturba profundamente. Eu queria tanto poder permanecer ali... Para sempre.

       Ouço passos rápidos em minha direção. São homens, vários. Com o canto do olho vejo luzes fortes azuis e vermelhas, e sirenes. As sirenes. Como eu não conseguira ouvi-las antes? Pareciam ensurdecedoras agora.

       Os cães latem e rosnam, tentando fugir de suas coleiras apertadas. Eles são mais fortes, e por um momento tenho certeza de que se soltarão. Mas preciso deixar esse medo de lado e descobrir o que está de fato acontecendo.

      Por um segunto parece que me colocarão dentro de uma ambulância, mas eu recupero meus sentidos e consigo me firmar sobre meus próprios pés. Posso então reparar nos policiais e paramédicos que estão ali.

      –Eu estou bem. Estou ótima, juro. Onde está meu pai? Preciso ver meu pai!– eu grito, e sei que meu desespero é eminente.

      Mãos me empurram e seguram meus braços, mas eu me desvencilho. Olho ao redor procurando um rosto familiar, mas não conheço ninguém ali. Percebo então que estou na estrada em frente a lanchonete de Tia Lia. Eu estava esse tempo todo tão perto? Parecia que eu estava a centenas de quilômetros de casa...

     –Annika precisa de ajuda! Vocês precisam procurar minha irmã! – eu digo então para uma mulher morena que está a minha frente, com um uniforme de policial. –Acredite em mim, eu sei do que estou falando!

      Ela me lança um olhar cético e faz um gesto para outro policial, um homem alto com barba de lenhador, que segura meu braço com certa brutalidade, me guiando ao interior da casa de Tia Lia, que estava com a porta escancarada e vazia, por algum motivo.    

      Eu estou confusa, não tenho certeza do que aconteceu. Do que é real e do que é sonho. Sou envolvida em um cobertor e uma caneca de chá quente surge em minhas mãos, mas não tenho certeza de onde veio. Não reparo em Tia Lia usando o telefone, mas ouço as sirenes e vejo viaturas indo para os fundos da casa.

     Sim, em algum momento Tia Lia voltou, mas eu devo ter cochilado e não a vi entrar. Parece muito preocupada. Sinto que algo importante aconteceu, algo que mudará tudo daqui para frente.

           Meu pai está chorando, eu posso ver pela janela. Ele entra por uma porta e sai pela outra, sem me notar. Passam-se minutos ou horas, e eu continuo fitando o fogo que arde na lareira de frente para o sofá. Apesar de estar bem quentinha, continuo tremendo. E demora para passar. Não tenho certeza do que aconteceu, mas ouço fragmentos de conversas, que me dizem mais do que eu gostaria de saber:

         –...As análises das manchas de sangue indicam golpe frontal de lâmina pequena, pouco mais de dez centímetros. A morte não foi instantânea...

         –...está abalada,

           Não entendo o que está acontecendo, mas em algum momento devo ter adormecido mais profundamente. Estou confusa, tudo é muito confuso. Tudo escurece ao meu redor.

            Acordo deitada em uma cama macia. Estou coberta, mas meus pés estão gelados e não me lembro de como cheguei ali. Sei que não estou em casa. Ergo minha cabeça do travesseiro, e me vejo em um quarto pequeno, mas arrumado. É manhã, talvez o sol nem mesmo tenha nascido completamente. Me levanto com cuidado para não fazer muito barulho, e logo reconheço o interior da casa de Tia Lia. A encontro na cozinha, fervendo água.

       –Que bom que acordou cedo. Quero te contar uma história. – ela diz, surpreendentemente calma.

       Eu me sento a sua frente. Sinto cheiro de bolo, e percebo que o forno está ligado. Sinto muita fome, e não consigo me lembrar da última refeição que fiz.

      –Me desculpe, mas não estou no clima de histórias.– admito.

      –Tenho certeza que vai querer ouvir quando souber do que se trata.

      –Duvido. – sussurro, e sei que ela ouviu, mas ignora.

      Para minha surpresa, Tia Lia coloca sobre a mesa os velhos diários que eu achara em meu sótão. As capas puídas e empoeiradas, mas que ainda assim não deixam de ser bonitas. Cada uma de uma cor diferente, hoje desbotadas, mas que provavelmente já foram brilhantes. Fico ainda mais confusa, mas sei que hoje terei respostas. Então Tia Lia fala.

      –Meu nome é Lílian.


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Notas finais do capítulo

Sei que foi meio curtinho, mas eu não quis "encher linguiça" e colocar muitas descrições detalhadas, porque acho que tiraria o tom que eu queria no capítulo. Admito, também quis criar um suspense para o próximo capítulo... Hehehe

Não se esqueçam de comentar, favoritar, recomendar... Até mais!



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