Sophie's P.O.V.

Onze horas da noite. Minha mãe já havia deitado, os remédios que ela toma são tão fortes que com cinco minutos ela desmaia e só acorda no outro dia. E eu aproveito um pouco dessa situação... Ia rolar um racha fodástico e eu, como sempre, era a convidada principal. Vesti uma calça preta bem colada, e coloquei um top cropped cinza. Como eu tenho que dirigir, não posso ir de salto, então vesti um sneaker preto. Não passei muita maquiagem, nunca gostei de exagerar, sempre preferi o mais natural. Como meu cabelo estava muito grande deixei ele solto mesmo, e com um pouco de volume. Me olhei no espelho e gostei do que vi. Antes de sair eu liguei para Alice.

-Já ta pronta? -perguntei assim que ela atendeu.

-E você ainda pergunta?! Sabe que eu não deixo nada para a última hora. Pode vir, que eu tô te esperando em frente a garagem.

-Hoje a gente vai arrasar, Alice Rivers.

-Sim, nós vamos Sophie Sharif.

Desliguei o celular. Antes de ir eu tinha que fazer uma coisa. Desci as escadas e fui até o quarto da minha mãe. Ela estava tão linda dormindo, que nem parecia que havia sofrido tanto na vida. Eu tenho muito medo de perdê-la. Ela sempre esteve comigo, diferente do meu pai que trocou a nossa família por outra. Ela tem sido tão forte, que meu coração dói quando penso em abandoná-la. Já não basta meu pai. Quando eu tinha treze anos ele foi embora, nos trocou. Desde então minha mãe passa muito mal, ficou um tempo em depressão, mas hoje esta um pouco melhor. Admirei mais um pouco seus cabelos loiros e saí.

A casa de Alice é duas ruas depois da minha. Cheguei lá e ela já estava na porta.

-Credo, minha filha você foi sequestrada antes de sair de casa?! To esperando aqui há umas duas horas! -Alice disse, exagerada como sempre.

-Pra sua opinião, eu demorei dez minutos. Cadê o carro? -ela apontou para a garagem. Meu carro era um Porsche 911 Turbo S, eu tinha ganhado ele em uma das minhas primeiras corridas, e eu era apaixonada por ele. Minha mãe não sabia que eu participava de rachas, então eu deixava meu carro na casa de Alice, já que ela morava sozinha. Ela não corria, só ia pra fazer bagunça mesmo, acho que nunca fui em um racha sem ela. Somos amigas desde pequenas, e nunca nos desgrudamos. Entrei no carro, e Alice entrou no lado do passageiro.

-Acelera essa bagaça, Sophie!

-Olha como você fala com o meu bebê, hein. -a repreendi.

O local marcado para a corrida era perto, chegamos em cerca de quinze minutos. Era um terreno abandonado super grande. Já tinha vindo aqui outras vezes, mas nunca o tinha visto desse jeito. O lugar estava lotado! Muitas mulheres já estavam dançando semi-nuas, muitos carros se preparando, essa noite seria inesquecível!

-Anda, Sophie! Vamos dançar! -estacionei o carro na área VIP. Eu corria desde os dezesseis anos, todos me respeitavam ali. Ganhei meu primeiro carro em uma aposta contra um traficante, ele perdeu e eu fiquei com a belezinha da F12 Berlinetta dele. Acabei perdendo ela depois, e tive que ficar com o Porsche. No meu histórico de corridas, eu perdi umas 3 vezes no máximo e foram derrotas de 3 anos atrás, hoje não há quem me vença.

Acompanhei Alice na pista de dança. Subimos em cima de uma caminhonete que estava estacionada ali e começamos a dançar, em poucos segundos já haviam várias pessoas ao nosso redor. Alice sempre foi uma ótima dançarina, eu não sou tão boa, mas dou pro gasto. Começou a cantar Blow da Ke$ha, e nós já sabíamos o que fazer. Olhei para Alice e ela entendeu o meu olhar. Desci da caminhonete e entrei no meu carro, isso já era um ritual. No dia que ganhei esse carro, decidi dançar para comemorar junto com Alice, e assim que subimos para dançar o DJ colocou Blow para tocar e a partir daí virou nossa música lema. Acelerei sem sair do lugar, ameaçando correr a qualquer momento. Alice procurou alguma coisa para dar partida, como não achou, tirou a blusa e balançou. Nós tínhamos chegado ali há uns 10 minutos e ela já estava louca! Acelerei bruscamente e segui reto, comecei a fazer várias manobras na área da corrida.

Todos estavam gritando muito! Eu dirigindo como louca e Alice dançando como nunca, uma dupla perfeita! Parei o carro no mesmo instante que a música parou. As pessoas continuavam gritando. É muito bom sentir-se desejada, ouvir todos gritando por mim. Dirigir é minha vida e eu não vou parar de fazer isso nunca. Saí do carro e abracei Alice.

-Nós arrasamos, baby. -ela disse me fazendo rir.

-Convencidas como sempre. -Daniel apareceu nos abraçando.

-Dan! -eu e Alice gritamos juntas. Daniel é nosso amigo desde sempre! Morávamos todos no mesmo bairro, então crescemos juntos. Há um ano ele tinha ido morar com o pai na Califórnia, depois disso veio nos ver umas duas vezes. Ele não tinha mudado nada! Seu cabelo louro continuava o mesmo, mas ele estava mais musculoso.

-Cara, eu não acredito que você ta aqui! -Exclamei, animada. -Veio fazer o que?!

-Meu pai também não me aguentou. Então, eu aluguei um apartamento na cidade. Fiquei sabendo que vocês estariam aqui e vim.

-Meu, que ótimo! Se preparem vadias, nosso trio voltou! -Alice gritou para todos ouvirem, e nós rimos.

-Mas tipo, você vai morar sozinho? -Perguntei.

-Acho que sim, eu e as coleguinhas que eu vou levar pra lá. -dei um soco no braço dele e começamos a rir que nem uns bobados. Eu estava com saudade de nós três juntos, e ele estava bem. Ver ele bem, me fazia bem.

-Eu tô tentando arrumar um emprego, meu pai me obrigou a começar a faculdade de policial lá, então se eu não quiser ser frentista de posto vou ter que fazer isso. -enquanto ele dizia eu comecei a me assustar, se ele fosse policial nós não poderíamos ser amigos!

-Você tá falando sério?! Cara, eu sou fora do lei, e você teria que me prender. Eu não quero que nossa amizade acabe! Isso não tem só a ver com você, mas comigo também. -Eu praticamente gritei com ele.

-É claro que não, Sophie, eu... -Jaden apareceu e cortou ele.

-Tá na hora, Sophie.

-Estou indo. -disse e fuzilei Daniel com o olhar. Saí e deixei ele com Alice.

Eu estava realmente chateada, minha corrida não seria mais a mesma. Um policial não pode ser amigo de uma pessoa que participa de rachas. Não é só a vida dele, é a minha também. Entrei no carro e comecei a me preparar. Quando eu já estava saindo, um homem bateu na janela do carro. Abri-a e ele começou a falar.

-Bieber quer falar contigo. -eu conhecia ele, era o Ryan. Impossível esquecer aquela coisa de Deus. Eu já tinha encontrado com ele em outros rachas. Mas esse tal de Bieber eu não conhecia pessoalmente, só tinha ouvido falar. Ele é um tipo de chefão em Atlanta, as pessoas tem medo dele, e fazem tudo o que ele quer. Mas eu não.

-Avisa pro seu patrãozinho, que se ele quiser falar comigo, ele que venha aqui. -pisquei pra ele e já estava dando partida quando ele me parou, de novo.

-Espera, ele quer a corrida. -Isso significa que ele queria que eu o deixasse vencer, mas isso nunca ia acontecer.

-Ele tem algum tipo de problema?! É claro que não vou dar a corrida! Avisa pra ele que eu não sou que nem puta e posso ser comprada, se ele quiser ele que lute pela vitória. -Saí cantando pneu.

Fui para a marca e fiquei lá aguardando. Vi Alice e Dan na arquibancada e lembrei da nossa briga. Tentei tirar meu pensamento disso, e uma sede de vitória tomou conta de mim. Eu ia detonar aquele mimadinho. Um Koenigsegg Agera R preto parou ao meu lado, e mesmo com os vidros fechados eu sabia que era ele. Eu não tinha medo de Justin Bieber, ele que devia ter medo de mim depois que eu detonar ele. Uma mulher praticamente pelada foi dar a largada, deveria ser o gostoso do Ryan lá, mas tudo bem. Pisei no acelerador para ameaçá-lo, e o motor do meu carro rangeu. Vai começar!

3...2...1! Afundei o pé no acelerador e ele também. O carro dele era melhor que o meu, mas não adianta carro bom quando o motorista não é. Joguei meu carro pra cima dele numa curva fechada, ouvi meus pneus derrapando e ele ficando pra trás. A mamãe aqui sabe o que faz! Continuei acelerando, a corrida é minha! Faltava uns 500 metros para chegar na linha, quando de repente meu pneu de trás estourou! Levei muito susto, eu não sabia o que tinha acontecido.Tentei continuar, mas um pneu da frente também estourou. Droga! Ele já estava cruzando a linha de chegada. Só havia uma explicação para isso, haviam sabotado o meu carro. Com muita dificuldade, eu cheguei na linha de chegada. O ódio estava percorrendo as minhas veias, eu queria estourar a cabeça daquele desgraçado. Eu fui humilhada em público, eu não merecia isso! Fui até ele, e antes mesmo de ele descer do carro eu já comecei a gritar.

-VOCÊ TÁ FICANDO LOUCO?! VOCÊ SABOTOU O MEU CARRO PARA EU PERDER A CORRIDA! SEU VIADINHO MIMADO! ACEITA A DERROTA! ISSO NÃO VAI FICAR ASSI... -Ele desceu do carro e eu parei de falar no mesmo momento. Puta que pariu. Que homem é aquele?! Ele estava de óculos escuro mesmo estando de noite. Usava uma regata branca e uma calça Jeans escura. Estava de boné, mas dava para perceber que seu cabelo era louro. Fiquei uns cinco segundos parada olhando para ele. Até que ele falou.

-Tava falando o quê mesmo? -Que voz rouca era aquela?!

-É, q-que, o meu carro... -eu nem sabia mais o que tava falando. -M-Meu carro, foi sabotado.

-E o que eu tenho a ver com isso? -ele perguntou cínico, fazendo todo o seu encanto ir por água abaixo.

-Tá se fazendo de otário né? Eu sei que foi você! -voltei a gritar.

-Me mostra as provas. -ele perguntou calmamente tirando os óculos. Foi a primeira vez que eu olhei dentro dos seus olhos e eles me davam medo.

-VOCÊ É UM IDIOTA MESMO! TA ACHANDO QUE É QUEM?! EU NÃO TENHO MEDO DE PLAYBOYZINHO NENHUM, EU NÃO TENHO MEDO DE VOCÊ! -fiquei com tanto ódio dele que quando vi eu já tinha atacado ele. Não se passou nem um segundo e ele revidou tirando uma arma do bolso e apontando pra mim.

-E ai? Ta com medo agora?

Sim, eu estava. Com muito medo.

[...]