Pokémon Nuzlocke: Sky Above Us escrita por Umisachi Misaki


Capítulo 16
Chapter 14: Inner


Notas iniciais do capítulo

...Ops. Eu meio que demorei demais pra postar o capítulo, e... woops.

Desculpinha, gente querida. Eu sou uma pessoa horrível que só sabe enrolar. T^T Foi culpa de alguns probleminhas que tive e uma procrastinação excessiva. Confesso que estava com preguiça de postar o capítulo, além de que, bem, ele foi difícil de escrever. Tem uns acontecimentos aqui, que... WELL.

Vou parar de tagarelar e deixá-los ver, que depois de tanto tempo, vocês merecem um capítulo novo.

Até lá embaixo~



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 Chiyo revirou-se em seu saco de dormir, agora para observar o que sobrara da fogueira. As chamas estavam bem menores agora, e não era mais tão frequente o som da madeira estalando. Na verdade, pela aparência da fogueira, dentro de uma ou duas horas a chama se extinguiria.

Chiyo, no entanto, não se sentia disposta a levantar para alimentar o fogo. Pelo contrário. Seu desejo era adormecer logo, independente dos pensamentos que vagavam por sua mente no momento. Desejava esquecê-los. Ou que pudesse existir algum tipo de interruptor que desligasse a sua capacidade de pensar em um determinado assunto. Já pensara nele o dia todo. Por que, então, isso voltava justamente à noite, enquanto tentava dormir?

A resposta para a pergunta veio muito mais rápido do que esperava. Pelos dois Ralts que Alex trouxera. Pela demora absurda que ele levou somente para buscar a lenha para a fogueira que agora ameaçava morrer. Pelo fato de que ainda lhe era muito surpreendente de que, entre os sons que Izanami e Izanagi faziam, Alex pudesse entendê-los, quando no fim, ele não tinha nenhuma outra habilidade que o permitisse.

Porque, enquanto Alex estava fora, Chiyo continuou temendo que ele pudesse tornar-se hostil.

Por tudo isso, a dúvida simplesmente voltara para sua mente, e agora ali estava Chiyo, revirando-se em seu saco de dormir. Com uma dúvida que, agora mais do que nunca, assombrava-a em seu sono. 

Ela suspirou ao se virar novamente, uma das muitas vezes que o fizera nas últimas horas, desde que todos os Pokémon resolveram que seria melhor deitar-se. Um outro suspiro, agora pelo desejo de simplesmente tirar aquilo de sua mente, pois talvez assim a paz pudesse enchê-la de novo e deixá-la enfim adormecer. Ou alguém para confirmá-lo. A esse ponto, qualquer coisa serviria.

Virou-se mais uma vez, de volta para a fogueira, agora observando o outro lado do acampamento. Alex, ao contrário dela, jazia adormecido, com Margareth em seus braços e Linus descansando ali por perto. Natsuhi estava em algum lugar próximo a ela, e, finalmente, num canto bastante afastado, estava o par de Ralts.

O silêncio pairava sobre o acampamento. Os olhos de Chiyo ainda observavam a direção em que os dois Pokémon estavam, não visíveis pela luz escassa da fogueira. Havia algo de peculiar no par de Pokémon que Alex havia trazido consigo, muito embora ele mesmo parecesse não saber disso. Do tipo psíquico, Ralts era conhecido como o Pokémon percepção, capaz de notar as emoções das pessoas ao redor, como também ser influenciado por elas. Possuíam também a capacidade de ler a mente das pessoas, de modo que quase ninguém seria capaz de esconder suas reais intenções, seja ele humano ou Pokémon.

Em outras palavras, se Alex estivesse de fato escondendo alguma coisa de Chiyo, os Ralts saberiam. E poderia pedir sua ajuda para descobrir.

Chiyo levantou-se de seu saco de dormir, a ideia praticamente enchendo sua mente. Se continuasse ali, provavelmente continuaria a ser torturada por uma dúvida que nunca se cansaria de atormentá-la. E, definitivamente, Chiyo não precisava amanhecer cansada no dia seguinte. Por isso mesmo, levantou-se.

Caminhou a passos rápidos pelo acampamento, facilmente passando por Alex e Natsuhi, ambos imersos demais em seu sono para notarem sua presença. No fundo do acampamento, com um pouco de dificuldade pela pouca iluminação, pôde ver um dos corpos coberto pelo manto branco, assim como um tufo bagunçado de cabelos verdes que os irmãos Ralts possuíam. Pelos sons, ainda deviam estar acordados.

Quando Chiyo se aproximou o suficiente, porém, acabou presenciando uma cena... Inesperada. Tanto que, por mais que Chiyo tivesse uma boa visão noturna, foi difícil para ela assimilar a cena.

Os dois Ralts estavam acordados, sim. Muito acordados, por sinal. E próximos. Certo, com Izanami deitada ao lado de Izanagi um pouco próximo demais, e com as respirações ofegantes de ambos, aquilo era, no mínimo estranho.

Imprevisível demais.

— ...O que vocês estão fazendo? — Foi tudo o que ela conseguiu dizer, o cenho franzido com toda a surpresa misturada a confusão que ela conseguia exibir.

Como resposta, ambos os Pokémon praticamente pularam de susto, afastando-se quase que imediatamente. Izanami rolou para a grama, mas quem de fato a respondeu primeiro foi seu irmão, a voz dele invadindo-lhe a mente:

“Ah, bem... ahn... A gente estava...”  

“Nós estávamos nos pegando, sua maluca.” Nami o cortou. E por céus, ela havia sido muito direta. Tão direta que o fato de ela não precisar mexer a boca para respondê-la foi mais notável do que nunca. “Porque raios você nos interrompeu?”

Ela precisou de alguns momentos para assimilar a informação. O par de Ralts, assim que notaram que Chiyo não era capaz de compreendê-los tão bem e tão rápido quanto Alex, aderiram aos seus poderes psíquicos, retirando praticamente toda a dificuldade que a garota pudesse ter nesse assunto. Era um toque mental sutil, que apenas trocava as palavras para que pudesse compreendê-los, mas ainda assim... Não deixava de causar-lhe certa estranheza.

Ela hesitou em sua resposta, tornando a franzir o cenho.

— Vocês não são irmãos? — perguntou, por fim.

“É...?” respondeu ela, uma expressão também confusa no rosto. Izanagi, por sua vez, continuou em seu lugar, contendo a respiração. “Somos, ué. Mas o que é que você quer?”

— Uh... Certo. — Realmente, era melhor deixar esse assunto para depois. — Queria que um de vocês fizesse um favor para mim.

 “E que favor é esse, tão importante pra você vir nos interromper?”

— Eu quero que vocês vejam se Alex está escondendo alguma coisa de mim. — Ela foi direto ao ponto. — Ou se ele está pensando em fazer algo suspeito.

A Ralts cruzou os braços.

“Por que você quer saber disso?”

— Porque eu não confio nele.

 A Pokémon ergueu o queixo, encarando Chiyo. De todos os modos que ela pudesse descrever sua expressão, todos seriam sinônimos de desconfiança.

Longos momentos de silêncio se passaram. Finalmente, Izanami respondeu:

“...Tá. Mas se você quer saber do cara, então não tem nada pra saber não. Ele é muito idiota. Não esconde praticamente nada suspeito e muito menos tem intenções suspeitas. É só um tapado.”

 Um suspiro de alívio deixou seus lábios. De repente, foi como se um enorme peso tivesse deixado suas costas. Sua mente e suas costas. Com uma confirmação de um Pokémon como Ralts, agora sim Chiyo podia dizer que não havia mais desconfianças quanto a Alex e suas atitudes: ele realmente não sabia de nada. Era só... Um imprevisto peculiar que havia surgido em seu caminho.

— Obrigada — murmurou Chiyo.

 “Tá, tá. Era só isso que você queria?”

— Era, sim.

“Ótimo.” Em seguida, um tom de extrema ironia apossou-se de sua voz: “Você poderia, então, ir pra lá e deixar a gente se pegar em paz?”

— Ahn... Okay. 

Ainda assim, Izanami continuou encarando-a, uma das sobrancelhas erguidas. Chiyo limitou-se a assentir, afastando-se dos dois. Definitivamente, ela não queria pensar naquele assunto no momento. Talvez em momento nenhum. Ao menos ela enfim havia dado resposta as suas perguntas, enfim trouxera paz para os pensamentos congestionados. Com isso, Chiyo poderia dormir em paz. 

Caminhou de volta para o seu lugar no acampamento, fazendo o possível para não concentrar-se em seus pensamentos novamente — se o fizesse, ela tinha a impressão de que o pequeno evento com Izanami e Izanagi seriam seus novos tormentos ao seu sono. Felizmente, Alex continuara dormindo calmamente em seu saco de dormir, praticamente na mesma posição de antes.

O mesmo não podia ser dito de Natsuhi, porém. A irmã estava de pé novamente, sentada próxima à fogueira e a pilha de lenha perto de seu saco de dormir, usando os galhos para alimentar a fogueira novamente. Ainda tinha uma expressão sonolenta no rosto, e no momento, Akatsuki não estava em sua companhia.

— Acordei você? — perguntou Chiyo quando estava próxima o suficiente para sua pergunta sussurrada ser ouvida. Como resposta, Natsuhi meneou a cabeça. — Ouviu a conversa então, ou...?

“Não” murmurou, com a voz arrastada. “O que você foi falar com eles...?”

— Perguntei sobre o Alex. — E antes mesmo que o estado de semi-consciência de Natsuhi pudesse evitar seu entendimento, completou: — Segundo eles, ele definitivamente não é suspeito.

 “Ah... Um problema a menos, então.” Um momento de silêncio se passou entre as duas, em que Chiyo apenas murmurou uma breve confirmação. Estava prestes a anunciar que ambas deveriam voltar a dormir quando Natsuhi continuou, um bocejo cortando parte de suas palavras: “Mas não sei... Se ainda podemos ficar completamente relaxadas, quer dizer.”

Chiyo apenas a encarou de volta, confusa. Dessa vez, foi Natsuhi quem hesitou para responder, e ela não soube se realmente fora pelo segundo bocejou que a impediu de falar.

“Sabe o pressentimento ruim que mencionou antes? Eu meio que... Estou com ele também.”

Certo, aquilo era inesperado. Depois que Alex havia reaparecido no acampamento com o par de Ralts, Chiyo simplesmente... Associara o pressentimento ruim e incômodo aos dois, próximos demais e muito propensos a interferirem em seus sentidos. Especialmente porque, assim que os vira, a sensação deixara de incomodá-la para ser substituída por desconfiança: completa e total desconfiança para com as ações de Alex. Afinal, mesmo que ele parecesse desconhecer a espécie e os poderes que os Pokémon que trouxera consigo, sempre havia a possibilidade de ele na verdade souber, sim, e estar apenas fingindo ter ignorância para não levantar suspeitas.

Contudo, agora o garoto estava literalmente livre disso.

— Como assim?

 “Praticamente a mesma coisa que você disse antes. E não é por culpa de Izanami e Izanagi.”

— ...Não? — Ela arregalou os olhos. — O que é então? — Natsuhi apenas balançou a cabeça negativamente.

Alguns momentos de silêncio se passaram depois disso. Subitamente, o ar entre elas pareceu ficar tenso. Porque nesse caso, se não fosse por culpa de Izanami e Izanagi, então...

Teriam outro problema para lidar.

— Tem alguma ideia do que pode ser? Não sei, outro Pokémon, os dois interferindo, ou até mesmo um espírito passante.

“Não, não...” A Mawile mordeu o lábio. “Quer dizer, um espírito... Não, não me parece... É difícil identificar.”

Mais segundos de silêncio de Natsuhi, ainda remexendo no fogo, os olhos fixos nas labaredas laranja, e da parte de Chiyo, por, novamente, ver-se imersa em pensamentos. Inúmeras possibilidades do que aquilo poderia ser passavam em sua mente, uma mais preocupante do que a outra.

O clima tenso voltou a se instalar entre as duas. A única coisa que de fato podia ser ouvida era o crepitar do fogo, assim como os próprios batimentos cardíacos da jovem. De resto, praticamente todo o acampamento estava silencioso.

Por esse mesmo motivo, Chiyo se viu extremamente surpresa quando esse silêncio foi quebrado.

— Espírito? — Foi o que a voz disse, uma única palavra dita em afobação contida. Uma terceira voz entre as duas que estavam se pronunciando ali, aos sussurros.

Levou alguns momentos para assimilar o fato, mas ainda assim, Chiyo virou-se na direção do som.

Alex. Com o corpo parcialmente levantado, ainda dentro do saco de dormir, e exibindo uma expressão tanto confusa quanto surpresa. Ele não estava dormindo, afinal.

— O que querem dizer com espírito? — perguntou ele, agora se sentando em seu saco de dormir. Os olhos do garoto, mesmo no escuro, pareciam reluzir em curiosidade.

Mais enormes segundos de silêncio se passaram (ou seriam horas?), em que, novamente, o único som que de fato podia ser ouvido era o do crepitar do fogo. Agora, sim, Chiyo podia dizer que as coisas tinham saído completamente de seu controle.

— Nada — disse ela, por fim, lutando para controlar a voz e ela não sair como apenas um fio trêmulo. Oh, agora ela já não podia se dar ao luxo de demonstrar seu nervosismo. — Não sei do que está falando, Alex.

— Ah, sabe sim — ele não hesitou em responder. Levantou-se de seu saco de dormir, e aproximou-se de ambas, continuando a falar no caminho: — Eu ouvi a conversa. Ouvi muito bem que as duas estavam falando de mim. Que você não confia em mim. Que você tem um mau pressentimento. Que não sabem se pode ser um espírito ou não. — Novamente, não houve resposta por parte de Chiyo. No fundo, porém, se martirizava. Como, por todos os céus, ela não percebera que o garoto não estava adormecido? — O que está escondendo de mim, Chiyo? O que, só falta você me dizer que na verdade é uma médium e que estamos mesmo sendo ameaçados por um espírito.

Ela e Natsuhi se entreolharam. Chiyo respirou fundo.

Alex sendo inocente ou não, as coisas já haviam saído do controle. A menos que magicamente descobrisse um meio de contornar aquela situação ou fazer Alex esquecer o que havia escutado, ela tinha que revelar alguma coisa.

Muito bem.

— Estamos, Alex. Quero dizer, não exatamente, mas há... Uma grande possibilidade.

O garoto franziu o cenho, e encarou as duas com a maior expressão de descrença que podia fazer. Quando falou novamente, havia um quê de deboche em suas palavras:

— Ah, é? Está me dizendo que você e a Natsuhi são médiuns?

— Estou.

Ambos se encararam. Alex pareceu simplesmente não ter resposta para aquilo.

— Você tá brincando, né? — Ela fez um sinal negativo com a cabeça, ao mesmo passo em que ele ofegou. Em seguida, sua voz caiu para um murmúrio, quase a ponto de tornar-se um sussurro: — Quer dizer... Tipo aquelas coisas espíritas? De sabe, falar com os espíritos, vê-los... Essas coisas.

— Mais ou menos isso.

— Então você... Você pode realmente falar com os espíritos? Tipo, invocá-los?

— Evocá-los, sim. Mas depende... — Antes que ela pudesse terminar, porém, Alex a interrompeu:          

— Então se eu pedisse pra você evocar, invocar, sei lá, chamar um pra mim, você poderia fazer?

— Não funciona assim, Alex. Essas coisas são complicadas. Eu precisaria de informação, de um local apropriado... — Mordeu o lábio. — Para se... evocar um espírito, é preciso muito estudo e conscientização. Eu não posso encarar algo assim sem estar devidamente preparada para quaisquer perturbações que possam ocorrer de ambos os lados. Mas por que você quer saber disso?

— Ah, bem... É... Por causa de uma pessoa. Não sei se ela está morta, então pensei que, talvez...

— Espera, assim você piora a situação toda. Se você não sabe se a pessoa está morta ou não, eu também não vou saber — explicou ela. — E se eu tentasse mesmo assim, é muito capaz de um espírito ocioso acabar sendo chamado. Ou coisa pior.

— Coisa pior? Espírito ocioso? Vocês estão apenas me confundindo, sabia?

“Pra encurtar a explicação, um espírito ocioso é um espírito que vaga pela terra” esclareceu Natsuhi. “Ele não aceita que o plano dele é outro, e frequentemente atrapalharam nesse tipo de coisa, procurando uma chance para se agarrar às pessoas e fingirem que são pessoas aqui, também.”

— Oh. — Ele meneou a cabeça, desviando o olhar das duas por um momento. — Acho que não entendo sobre isso direito, então.

— Claro que não. A coisa é muito diferente do que dizem.

Como resposta, ele apenas meneou a cabeça novamente, evitando olhar para as duas. Era fácil perceber que ele tinha bastante coisa para pensar agora. Aquilo tudo, no entanto, continuava sendo um pouco novo para Chiyo. De onde, afinal, saíra aquele súbito interesse de Alex por sua crença e seus poderes?          

A dúvida maior, porém, foi externada momentos depois:

— Quem você queria evocar?

— Desde quando você é médium? — ele rebateu, com visível irritação. Chiyo o encarou.

— Desde quando eu nasci. Quem você queria evocar?

— Ninguém importante. O que importa aqui é que você continua escondendo tudo de mim. Eu não sei nada sobre você, caralho!

— Pois eu também não sei. Por que acha que eu não confiava em você?

Alex fechou a boca, sem ter o que responder. Eles haviam chegado a um beco sem saída, afinal.

“Uh...” Natsuhi voltou seu olhar para a irmã mais velha. “Não briguem, vocês dois.”

A treinadora apenas fez um gesto vago com a cabeça. Alex não respondeu.

Chiyo e Natsuhi apenas esperaram que ele dissesse alguma coisa, ou que, talvez, Alex pudesse enfim se decidir sobre o que lhe contaria ou não. Nenhuma dessas opções foi a escolha de Alex, porém; o que ele fez foi apenas bufar, irritado, e resmungar para as duas:

— Ótimo então.

E cruzou os braços, encarando-a. Chiyo lançou um olhar para Natsuhi. Ambas, no entanto, pareceram chegar a mesma conclusão: ele não diria nada enquanto elas não dissessem. Mas Chiyo não estava nem um pouco disposta a revelar-lhe alguma coisa sobre seu passado. Alex podia não estar escondendo nada importante dela, mas isso também não significa que iria falar sobre seu passado assim tão fácil.

Os dois apenas fitaram-se durante um curto período de tempo, ambos esperando que o outro dissesse ou fizesse alguma coisa para mudar aquela situação. A treinadora manteve-se firme. Alex foi o primeiro a perder a paciência. Grunhiu de irritação, e apenas deu as costas para as duas, voltando aos resmungos para o seu próprio saco de dormir.

Chiyo apenas soltou um suspiro de alívio. Céus.

“Não acha que foi longe demais, não?” perguntou Natsuhi.

— Não. — Dessa vez, balançou a cabeça negativamente. — Ia dar no mesmo, de qualquer forma.

“É...” Voltou a ficar em silêncio, remexendo no fogo. “É melhor voltarmos a dormir” comentou Natsuhi, por fim. Chiyo assentiu.

Ela, então, voltou-se para o seu próprio lugar, enquanto Natsuhi terminou de alimentar o fogo, adicionando lenha o suficiente para que as chamas durassem por mais algumas horas, senão a noite toda. Chiyo aconchegou-se em seu saco de dormir, e observou o tronco da árvore que escolhera para descansar.

Não havia como dormir naquela noite.

***

O dia seguinte não foi nem um pouco agradável para os integrantes do grupo, seja ele humano ou Pokémon. A começar pelo fato de que, diferentemente do convencional, Chiyo não havia acordado pela luz do sol irritando-lhe os olhos como se sua única intenção fosse interromper seu descanso, tampouco pelo relógio biológico, acostumado a acordar pouco depois do nascer do sol. Foi, na realidade, por um impacto frio e algo chocando-se contra o seu rosto. Várias e várias vezes, num ritmo incessante.

Despertando contra a sua vontade, a garota abriu os olhos, apenas para arregalá-los logo depois.

Chuva. Eles estavam acordando com chuva.

Quase imediatamente, Chiyo saiu de seu saco de dormir, notando tarde demais que nada podia ser feito sobre o assunto. O saco de dormir, assim como ela própria, estava completamente molhado, tanto que guardá-lo agora não faria muita diferença. A chuva estava conseguindo cair com violência no momento, de modo que nem mesmo a copa das árvores que escolheram para se abrigar poderia livrá-los das gotas d’água.

Olhou para cima. Os poucos segundos que conseguiu manter a cabeça para cima foram o suficiente para Chiyo notar que o céu estava completamente escuro, tomado por nuvens e mais nuvens de chuva, resolvendo que o melhor momento para aparecer seria durante a noite. Além disso, vinha também uma brisa, movendo as nuvens e criando um leve farfalhar de folhas. De qualquer modo que olhasse para aquilo, porém, não parecia ser nem um pouco bom.

— Puta que me pariu! — um berro irritado cortou-lhe os pensamentos. Do outro lado do acampamento, Alex acordava, parecendo ainda mais encharcado que o próprio saco de dormir de Chiyo. Ele olhou para cima por um momento. — Puta que me pariu — repetiu. — Não acredito.

Muito menos eu, adicionou ela, mentalmente. Com essa chuva, todas os planos do grupo começavam a complicar mais ainda. Se fosse apenas a noite anterior...

Procurou não pensar muito no assunto. Ao invés disso, apressou-se em acordar Natsuhi para juntarem suas coisas, para ver se, quem sabe, conseguiam salvar ao menos a comida. Em pouco tempo, o grupo todo, incluindo Pokémon e humano, estavam encolhidos próximos a uma árvore de copa consideravelmente densa, a mesma que Izanami e Izanagi — também junto ao grupo —, escolheram para ficar. Era um abrigo que não os salvava tanto assim dos pingos de chuva, mas no momento, era bem melhor do que enfrentar a fúria com que a água caía.

— Ótimo, agora mais essa pra nos foder — Alex comentou, cruzando os braços.

De resposta, Margareth soltou um miado.

“O que a gente faz agora?”

— Eu não sei a Chiyo ali, mas eu não vou sair daqui até a chuva melhorar. Aliás, você não tem uma cabana não?

Chiyo fez um movimento negativo com a cabeça.

— Você?

— Muito menos. — Suspirou. — Ah, por Arceus, e a gente ainda tem que passar pelas planícies. Se continuar a chover assim...

“Mas não estamos na temporada de chuva?” Dessa vez, foi Izanagi quem lhe perguntou, as palavras também se fazendo ouvir para Chiyo.

— Não sei. Perdi a noção do tempo já.

 “Então você é mais burro do que eu pensava.”

— Vai se fuder. — Bufou o garoto, tornando a cruzar os braços. Depois, suspirou, utilizando ambas as mãos para massagear as têmporas. — Ok, vamos pensar. Eu sugiro que a gente fique aqui até a chuva melhorar e tenha um café da manhã frio mesmo. Depois, sei lá, se as coisas melhorarem, a gente caminha o máximo possível por hoje. Acho que deve ter um Centro Pokémon lá por perto...

Chiyo assentiu. Parecia um plano. Se, é claro, as coisas seguissem como o esperado. Por enquanto, o vento e a chuva não estavam lá muito fortes, muito embora Chiyo não conseguisse evitar a tremedeira que se apoderava dela toda vez que um clarão mais intenso que o normal iluminava as formas densas das nuvens. O pensamento de que talvez as coisas acabassem piorando insistia em atormentá-la, tornando aquilo algo digno de sua preocupação. E o silêncio que tomou conta do grupo a partir daí apenas dificultava as suas tentativas de se distrair.

Calma e em silêncio constante, o grupo — ou melhor, Alex —, decidiu que se a chuva iria impedir de ter um café e viagem apropriadas, então que escolha eles tinham? Comessem no frio, oras. Ali mesmo, no cantinho que escolheram para se abrigar, Alex e Chiyo foram vasculhando as mochilas a procura de algo que não precisasse estar numa panela fumegando para comer. Por conta deste pequeno detalhe, tiveram seu café da manhã composto por pão e alguns biscoitos dum pacote que deveria ser para um lanche; café da manhã parco, verdade, mas...

Já os Pokémon ficaram com algo ainda mais simples, a maioria recebendo a promessa de que mais tarde iriam ser recompensados com um almoço decente. No mais, o acampamento permaneceu em silêncio. Alex não parecia nem um pouco disposto a conversar, e diante desses acontecimentos, ninguém parecia lá tão animado com a ideia de quebrar o clima sombrio que a chuva criara.

Isso é, até que em determinado momento um dos Pokémon resolveu falar:

“Então, nós meio que estamos aqui ainda...” começou Izanagi, sentado próximo à Alex e a irmã.

"Ah não, jura?” admoestou Izanami, rolando os olhos para complementar a ironia. Como já parecia ser um costume, o Ralts a ignorou, não sem, é claro, franzir o cenho.

“E apesar do que aconteceu ontem entre hm, vocês dois...” continuou ele, hesitante. “Nós dois ainda temos que decidir o que fazer a partir de agora.”

Chiyo ergueu uma sobrancelha. Parecia um tanto estranho ouvir disso de dois Pokémon, como se na verdade fossem eles a decidir como viajariam com os trovões rugindo em seus ouvidos a cada um curto intervalo de tempo, e não Alex e Chiyo.

“Eu e Nami estivemos pensando se vocês não se importariam de a gente viajar com vocês.”

— Quê? — Alex foi o primeiro a se pronunciar, uma expressão confusa no rosto. Izanami olhou para ele como se fosse surdo, e antes mesmo que ela pudesse soltar outro comentário maldoso sobre, Alex voltou a falar: — Digo, por quê?

“Ué, você é acha que é fácil viver na floresta quando se tem um irmão avoado que nem esse aí?” Nami cruzou os braços. “Pra mim tá muito mais fácil ir com vocês, que pelo menos não são tão chatos.”

— Acho que entendi — murmurou Alex, recebendo o olhar curioso de Chiyo. — Mas cês querem dizer como? No nosso time e tudo o mais?

“É, ué.”

Houve um momento de silêncio. O grupo todo se encarou.

“Então?” Izanami ergueu a voz mais uma vez, agora sendo ela a erguer uma das sobrancelhas. “Não vão falar nada sobre, se estão ou não de acordo?”

— Ahn... Por mim tudo bem, acho. — Alex encolheu os ombros, jogando mais um dos biscoitos dentro da boca. O castanho de seu olhar se encontrou brevemente com os de Chiyo, sendo desviado pelo próprio Alex assim que teve chance.

Os Ralts, assim como o restante do time, observaram Chiyo. Ela apenas deu de ombros em resposta, acompanhada por Natsuhi. Não tinha nenhum problema quanto a ter outro Pokémon para cuidar; certo, de fato era estranho da parte deles pedir algo assim tão abertamente, considerando ainda que ambos não pareceram interessados em serem capturados na noite anterior. Poderia ser bom a adição de um Pokémon psíquico no time, quem sabe.

“Ótimo.” Izanami pareceu satisfeita. “Então prefiro ficar com a Chiyo porque ela é mais inteligente que o Alex.”

— Ei, eu não sou tão lerdo assim — protestou o menino, com ar ofendido.

“É sim, Alex” Margareth riu, na qual foi recebida por um grunhido.

“Se é assim, melhor eu ficar com o Alex” Izanagi se pronunciou. “Ou então é capaz de eu morrer antes da hora...”

“Vendo pelo lado bom, vocês dois até que combinam” comentou a outra. “Dois burros avoados. Ótima dupla.”

Um grunhido foi sua resposta, a qual Chiyo tinha que concordar que havia um quê de verdade ali. De qualquer maneira, o grupo caiu no silêncio mais uma vez, nenhum deles interessados em formalizar as novas adições aos times; os dois agora teriam a companhia de um par de Ralts, e só. Nada de mais.

Sobrou apenas para Chiyo e o restante do grupo olhar o céu de seus lugares, assistindo os clarões ocasionais e a chuva caindo. Vez ou outra, alguém se arrumava no lugar, produzindo o som de atrito na grama de quem tentava encontrar um lugar melhor para não acabar ainda mais molhado do que já estava. Fora isso e os suspiros, ninguém se atreveu a dizer uma coisa que fosse.

Não que Chiyo não estivesse notando com o canto do olho as tentativas óbvias de Alex de começar uma conversa, se remexendo no lugar mais vezes do que alguém conformado com a situação faria. Às vezes resmungava, outras abria a boca para falar, mas, no fim, sempre acabava vencido pelo silêncio que se estendia entre todos eles, como uma nuvem ainda mais negra e espessa que as nuvens do céu.

— Uhm... — conseguiu ouvi-lo dizer, o tempo todo mirando qualquer coisa que não fosse Chiyo. Margareth, em seu colo, parecia alheia demais as tentativas de Alex de fazer alguma coisa. Finalmente, Alex respirou fundo: — Ei... Chiyo...

— Sim? — Olhou para ele, piscando. Alex continuou hesitando por mais alguns momentos. Finalmente, houve um respirar fundo, e Alex abriu a boca:

— Eu... Eu queria me desculpar sobre ontem, sabe? — Chiyo apenas olhou para a expressão embaraçada dele, fazendo um breve gesto de encorajamento com a cabeça. — Ontem eu acabei sendo meio rude... Sem querer, sabe? Não foi intenção... Acho que deve ter sido o calor do momento, haha...

E fechou a boca mais uma vez, encolhendo os ombros. Chiyo continuou em seu silêncio dissimulado, pois os olhos de Alex tinham um brilho estranho de culpa, de quem queria continuara se explicar, qualquer coisa. Parecia melhor esperar por ele do que forçá-lo. Pelo menos outros dois trovões soaram antes que o garoto enfim pudesse recuperar a capacidade de fala mais uma vez:

— Desculpa, sério. Eu sempre quis tentar encontrar alguém como você, com essas... Essas habilidades com os espíritos, sei lá o que fazem exatamente, só não tinha coragem. Quando eu vi que tu não estava me contando nada, e que alguém que eu poderia simplesmente ter pedido o favor tava viajando comigo, achei... — Mordeu o lábio. Chiyo já tinha uma boa ideia de quais palavras acabaram ficando entaladas na garganta de Alex. Queria pedir para procurar quem quer que fosse a pessoa que desejasse encontrar por ele, por qualquer que fosse os seus motivos. A raiva acabara subindo a cabeça... — Eu queria... queria que você encontrasse o meu pai.

A confissão ficou no ar por alguns momentos, como se o próprio Alex estivesse analisando o peso das palavras, as consequências que sua frase criaria em questão de poucos segundos. Foram reações bastante lentas, porém ali estavam: um franzir de cenho, um contrair de lábios, antecessores da confusão. O pai de Alex? Ele não tinha falado com o pai alguns dias atrás mesmo, como razão pelo atraso para a última refeição no Centro Pokémon?

“O que tem o Frederick, Alex?” Margareth se pronunciou dessa vez, a cabeça da Pokémon subitamente erguendo-se para observar o seu treinador. Alex não olhou de volta para ela, muito embora sua expressão sugerisse que tinha ouvido a dúvida, alta e clara. “Aconteceu alguma coisa com ele que você não me contou...?”

— Não esse. — A voz estava baixa, trêmula. Algumas vezes, Alex se remexia no lugar... Ou seriam espasmos involuntários, de tão súbito que os movimentos eram? — Quis dizer meu pai de verdade.

“Pai de verdade...?”

— Frederick na verdade é o meu tio — ele murmurou, praticamente cortando a gatinha azul. Apesar de trêmulas, as palavras continuavam escapando dos lábios de Alex, numa torrente de nervosismo, tropeçando em si mesma pela afobação de deixar as palavras saírem. — Minha mãe morreu quando eu era pequeno, enquanto o meu pai desapareceu e não foi visto desde então. O parente mais próximo que podia me adotar era o Frederick. Mas até agora não houve qualquer notícia do meu pai de verdade. Nem uma pista de onde ele foi. Nada.

Silêncio mais uma vez. Chiyo só conseguia piscar os olhos, quem sabe para assimilar a figura trêmula de Alex, a cabeça baixa, os espasmos ocasionais e uma respiração claramente descompassada. Isso... Explicava bastante coisa, uma confissão que todas as palavras não ditas de Alex para explicar seu temperamento estranho da noite anterior estavam ali. É claro. Um ente querido perdido, sumido por anos e anos. Um caso comum para as pessoas procurarem médiuns como Chiyo, pedindo para conversar com eles, em busca de conselhos ou o que quer que fosse. Às vezes até haviam certos casos semelhantes, de gente procurando no outro plano alguém desaparecido, sem a certeza exata da morte, trazendo ainda mais complicações para o trabalho de Chiyo.

Ela não soube o que dizer para Alex. Aparentemente ninguém soube, a julgar pelo soar contínuo dos trovões, sem vozes de Pokémon para se sobrassair. Todos os olhares estavam nos dois, a espera de alguma coisa.

Chiyo se encolheu no próprio lugar, baixando os olhos. Podia, de certa forma, imaginar o sofrimento de um pequeno Alex, talvez velho o suficiente para lembrar do pai desaparecido, logo depois da morte da mãe. Teria ele visto a mãe sucumbir à morte, se a causa fosse uma doença? Teria ele visto o pai alguns dias antes de ele desaparecer, sem dizer nada quem sabe, apenas para não voltar nunca mais? Teria ele se sentido triste depois de descobrir que iria ficar com o tio ao invés da família, pois ela não existia mais, não havia mais ninguém para cuidar do pequeno Alex, de um menino que só queria saber para onde o pai fora? Parecia a situação perfeita para fazê-lo levar essa mágoa misturada ao desejo para os dias atuais. Se Alex estava querendo apelar para gente como Chiyo, então...

De repente, Alex pareceu extremamente vulnerável aos olhos de Chiyo. Muito diferente das ideias que estava tendo dele na noite anterior. E, desconfortavelmente compadecida com a sua situação, tentou oferecer um gesto, um sorriso, qualquer coisa para tentar confortá-lo. Chiyo não achava que poderia aguentar encarar aquela expressão sombria no rosto dele. Quando o clima havia se tornando tão negro assim, afinal?

Alex fungou, enfim regulando a respiração para olhar em sua direção novamente — talvez não nos olhos, mas já era alguma coisa. Estava tremendo. Chiyo forçou-se a ignorar esse novo detalhe:

— Entendo como que deve estar se sentindo, Alex. Como disse ontem, as coisas não funcionam desse jeito. — Ela parou por alguns breves segundos, adotando um tom de voz macio. — Seria muito perigoso sem o preparo certo, um lugar apropriado. — Um pouco mais de hesitação. — Mas... Acho que não faz mal tentar.

Os olhos de Alex finalmente se ergueram para encarar os de Chiyo, tão surpresos quanto ela própria estava com sua declaração. Todos os Pokémon também o fizeram, especialmente Natsuhi, incrédulos e confusos.        

— Quando puder, posso tentar falar com seu pai para você — disse Chiyo, por fim.

O garoto pareceu sem ter o que dizer por alguns momentos. Quieto, ele apenas fez um breve menear de cabeça, voltando a desviar os olhos para uma direção qualquer. Havia gratidão em seus olhos.

Chiyo se recostou no tronco úmido de uma das árvores, observando os trovões voltarem a clarear os céus, altos e violentos. Não tinha certeza se o que prometera fora uma atitude sensata. De fato, havia se compadecido talvez um pouco demais com a situação do garoto agora inofensivo, exibindo-se mais frágil do que poderia achar. A tarefa seria perigosa demais para Chiyo. Havia uma variedade de problemas que podia acontecer numa tentativa de invocar um possível — ênfase no possível — espírito que nem ela e nem Alex pareciam conhecer muito bem. Quem sabe o que acabaria chamando no lugar dele, caso na realidade o verdadeiro pai de Alex não estivesse morto? Espíritos de má índole... Quem sabe até algo maior... Um enorme risco, de fato.

Mais um problema digno da preocupação de Chiyo para o restante dos dias. Muitas coisas em sua mente para lidar no momento para o grupo estar tão silencioso assim, por deuses.

A chuva continuou soando nos momentos seguintes, a noção do tempo tendo sido completamente perdida a partir dali. Com apenas a chuva para distrai-los, Chiyo se viu divagando, prestando atenção nos pingos d’água, acompanhando o ritmo rápido com que caíam. Passaram-se alguns bons minutos assim. Somente quando os trovões pararam de soar tão furiosos foi que Alex falou novamente:

— Mas então... E aquele mau pressentimento que tu tinha mencionado ontem?

Ela quase desejou que Alex não o tivesse dito, pois até o presente momento, devido às novas preocupações que surgiram, conseguira até se esquecer do constante incômodo que era o pressentimento mencionado, de que alguma coisa não estava certa e não estaria caso continuassem assim — e, sinceramente, ela preferia que o tivesse esquecido até o momento que ele de fato acontecesse, se é que de fato aconteceria. Como se não lhe bastasse os problemas novos que havia arranjado, ainda havia esses empecilhos... Chiyo não podia aguentar tanto estresse assim, oh, certamente que não.

Ela ouviu certo bater de asas um momento antes, provavelmente Yatagarasu se arrumando no lugar para ouvir a conversa, distraindo-a por alguns segundos antes de enfim dar sua resposta:

— Não sei muito bem o que é — disse Chiyo por fim, fazendo questão de não olhar para qualquer outro lugar que lhe chamasse atenção demais. — É só uma sensação de que algo ruim vai acontecer. Um pressentimento.

“Chiyo e eu achamos que pode ser um Pokémon” disse Natsuhi, sobressaindo-se entre um breve relâmpago que soara bem no momento de sua fala. “Achamos que as fontes tivesse sido Izanami e Izanagi, mas parece que não.”

Alex fez uma careta. Obviamente não parecia acreditar nem um pouco naquilo.

— E é... uhm, muito ruim? — perguntou novamente. Chiyo deu de ombros.

— Como disse, não tenho certeza.

— Hmm... — Ele se calou novamente, agora também olhando para o céu. Mais uns bons minutos se passaram, com a chuva abrandando mais um pouco a cada minuto, quem sabe disposta a mostrar-lhes clima bom o suficiente para continuarem viagem. Decerto que caminhar agora ajudaria Chiyop a aliviar o estresse. — Escuta, eu acho melhor a gente continuar andando de qualquer jeito. Com chuva e tudo, digo.

“Mas tá chovendo” reclamou Nagi, com um gemido frustrado.

— É, mas se a gente não fizer isso, quando é que vamos sair? Quando a chuva acabar, se é que vai acabar? Se pelo o que você me falou da temporada de chuvas tá certo, então vai ser uma bosta ficar aqui por vários e vários dias sem poder fazer nada.

Ele tinha um ponto.

“Mas e quanto a depois? Aonde vamos arranjar abrigo em planícies?” indagou Natsuhi, a expressão tão preocupada quanto os grunhidos de seu companheiro de pelos dava a entender.

— Tem um centro Pokémon nas planícies, só a alguns quilômetros até o túnel que temos de passar para chegar em Azalea. Se apressarmos o passo, acho que dá pra chegar nessa tarde ainda.

Houve uma relutância em conjunto do grupo, incluindo da própria Chiyo. Nem mesmo ela achava muito convidativa a ideia de seguir viagem debaixo de uma chuva que podia muito bem trazer-lhe problemas bem maiores do que somente seus pertences encharcados (mais do que já estavam, isso é). No entanto, reconhecia que Alex tinha um ponto, e se tivesse a dádiva da escolha, então preferia ficar com o menos pior.

No fim, Chiyo deu de ombros, sendo acompanhada por movimentos relutantes dos outros membros do grupo, tanto humano quanto Pokémon. Não tinham muita opção, de qualquer maneira, e a possibilidade de uma cama quente no fim do dia era reconfortante demais, ótima desculpa para motivá-los.

— Bom, se é assim — continuou Alex, já se mexendo no lugar para buscar alguns dos pertences espalhados pelas áreas mais secas do abrigo —, o que acham de ficar na Pokéball enquanto a gente viaja, Linus e Maggs? Assim vocês não se molham.

“Prefiro assim, muito obrigado” Linus declarou com certo escárnio na voz, pronunciando-se pela primeira vez de seu cantinho mais seco que conseguira arranjar. Alex assentiu, já tratando de buscar sua Pokéball.

“Mas eu não quero” foi a vez de Margareth falar, assim que Alex terminava de recolher o Pokémon para o seu confinamento esférico. Ele franziu o cenho para a gata azul.

— Ué, e por que não? Assim tu não se molha, não é mais confortável?

“É, mas eu quero ficar com você.” A Shinx ergueu a cabeça, fazendo uma carranca ameaçadora para o treinador que, sinceramente, não intimidava nem um pouco.

Chiyo permitiu-se um breve sorriso para a cena antes de parar de ouvi-los, optando cuidar de seus próprios pertences. Não tinha Pokéball para os seus Pokémon, a exceção talvez da Cherubi que ganhara de seu tio, que ela ainda não havia liberado. Agora não parecia exatamente uma boa hora para essas coisas, de qualquer maneira. Mochila arrumada e trupe de Pokémon idem, o grupo saiu, com chuva e discretos trovões soando ao longe como companhia.

Como a própria Chiyo presumira, não estava sendo uma experiência agradável sair na chuva, especialmente quando, minutos depois, foram deixando a floresta para trás, abrindo espaço para as planícies revelarem todo o seu esplendor. A cada passo, os pés de Chiyo pareciam pisar em poças d’água, encharcando não só as botas, como também suas meias, tirando dela caretas de desconforto. A temperatura também havia caído bastante, coisa que não recebia nem um pouco de contribuição para melhora pelos pingos de chuva, gelados e insistentes. Nenhum dos dois aguentou o firo por muito tempo. Chiyo tratou de se agasalhar apropriadamente, assim, como Alex, que vestira um sobretudo marrom que o cobria quase que completamente.

O silêncio predominou durante todo o trajeto, a exceção de algumas poucas palavras de Natsuhi trocadas com Akatsuki — talvez para o amigo não abocanhar Yatagarasu, que resolvera invocar com os seus pelos de uma hora para outra. De certa forma, era um silêncio confortável. Que mais haveriam de falar numa situação dessas, em que sempre apressavam o passo para não enfrentarem mais do sacrifício que era ser atingido por pingos d’água? Melhor assim. Distraia mais.

Bem, ao menos Chiyo tinha uma coisa a menos para se preocupar. A noite de ontem havia sido conturbada, de fato, mas ao menos havia servido para tirar suas suspeitas quanto a Alex sobre a possibilidade de ele não ser quem dizia ser, dando-lhe um alívio para o peso que carregara nas costas em todos os dias de viagem ao lado do garoto. E com esse empecilho tendo sido deixado de lado, havia mais liberdade para dar-se conta do quanto a companhia do garoto não era tão ruim assim. No geral, Alex era um bom líder e uma pessoa interessante para se ter ao lado — certo, às vezes ele falava demais e dizia algumas coisas bastante sem sentido, porém isso era um problema que poderia passar por cima com facilidade. Alex talvez fosse até tão inocente nos assuntos todos de Chiyo que nem fazia sentido suspeitar dele por sua habilidade peculiar de compreender a fala dos Pokémon; afinal, ele era só isso: um garoto inocente.

E, olhando para Alex agora, Chiyo enfim podia admitir que sua companhia não era tão mal assim. Gostava dele sendo o líder do grupo para guiá-los no caminho até o centro Pokémon e administrando as contas que o time possuía, o dinheiro que poderiam gastar e o que precisavam levar consigo para ter uma viagem confortável. Não era tão mal.

Tanto que, talvez se Chiyo pudesse ter alívio de um pouco mais de seus problemas, poderia aproveitar sua companhia.


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Notas finais do capítulo

VIRAM SÓ O QUE EU QUIS DIZER? AAAAAAAAAAA QUE CAPÍTULO DIFÍCIL, MEU SENHOR ARCEUS AMADO, ALGUÉM ME SALVA DE TER QUE CORRIGI-LO MELHOR DEPOIS, E

*tossida básica* Cahem...

POIS É, o capítulo foi bem complicado quando o escrevi. Depois da revisão, um pouquinho mais até. A procrastinação para corrigir complicaram um pouco as coisas pra mim, devo dizer. Já faz um tempo que o capítulo estava pronto, então a releitura me deixou com uma vontadezinha de refazê-lo completamente, mas... Não julguei apropriado. O capítulo não está tão do meu agrado quanto gostaria (AINDA É DIFÍCIL ESCREVER COM A CHIYO OK), mas tem seus charmes. Aliás, no próximo, vocês poderão ver o que quis dizer com minha escrita ter melhorado :3

Por enquanto, eu vou deixar o plot que soltei aqui, pra ver o que vocês acham. Contem-me se o capítulo realmente precisa de uma releitura.

Desculpem de novo pela demora ç_ç Sou uma pessoa horrível, horrível, aaaaaa

Com sorte, eu consigo voltar ao ritmo da SAU. Cansei de ser enrolona >:V Veremos se consigo, né.

Como sempre, estou aceitando reviews, críticas e docinhos de braços abertos ♥ Contem-me tmabém se, por unm acaso, eu dei alguma informação errada aqui, como a coisa de invocar/evocar D: Juro que tentei ser o mais fiel possível as informações que tive.

Até a próxima e feliz ano novo adiantado~



















MAS PRIMEIRO

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Agora sim, até a próxima ♥



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