Algumas semanas haviam se passado. E há poucos dias Sigyn e Loki haviam retornado de sua lua de mel. Inicialmente encantada pelo marido, a jovem de bochechas sardentas começou a sentir um pequeno estranhamento. Ele era cortês, delicado e amável quando estavam juntos, caminhando, conversando ou compartilhando a cama à noite. Mas, em meio a tudo isso, ela sentia uma certa frieza vindo dele. Sigyn não sabia dizer, talvez fosse coisa de sua própria cabeça.

Não podia se esperar muita coisa, ela pensava, já que se agora os dois poderiam se conhecer de uma forma melhor. Na volta para Asgard a jovem esposa do príncipe caçula se via muitas vezes solitária. Loki estava sempre ocupado, trabalhando e ajudando o rei. Sempre se viam à noite, quando ele solicitava sua companhia junto a cama. E sempre que possível, ela tentava conversar com ele, adorava suas conversas, no entanto, não era sempre que seu esposo estava solícito.

Loki percebeu inicialmente que sua esposa era uma pessoa carente – o que o irritava um pouco, mas sabia como ocultar -, não podia culpa-la, então a ouvia com paciência. Ela tinha uma bela voz, e isso compensava. Notou também que após algumas semanas juntos ela havia ficado mais apegada a ele, literalmente. Após a cópula ela sempre dava um jeitinho de ficar junta a ele, aninhando-se em seu tronco. Certa vez ele perguntou curioso:

– Por que gosta tanto de me abraçar?

Ela o fitou com aqueles olhos azuis.

– Porque você é quentinho. Mal consigo vê-lo durante o dia, fico quase sempre sozinha. Então quando ficamos juntos assim – ela sorriu tímida – bem, eu tento aproveitar. Me faz sentir protegida.

Ele fez uma caricia em suas costas, os dedos deslizavam para cima e para baixo.

– Porque não fala com as esposas de meus irmãos?

Sigyn fez uma careta.

– Não gosto muito delas.

Loki riu. Sigyn achou engraçado sentir a vibração que vinha do abdômen dele, e então riu também.

– Eu também não gosto delas – ele respirou fundo – são barulhentas e tagarelas.

– E fúteis. E parecem não gostar muito de mim – ela ficou séria de novo, mas então suavizou o rosto e o fitou – mas seus irmãos são muito engraçados.

Sigyn deu um bocejo, e se aninhou ainda mais nele.

– Loki... por que você trabalha tanto se é o filho caçula?

– Está dizendo que o caçula não deveria trabalhar?

Ela subiu um pouco o rosto, cara que fez foi engraçada.

– Você entendeu – ela retrucou.

O príncipe a encarou curioso, deu riso fraco e disse.

– É o que acontece quando se tem um bando de inúteis como irmãos. Eles não entendem nada de governança, administração, e como meu pai fica em apuros de vez em quando, resta a mim ajuda-lo.

– Eu acho que você seria um ótimo rei – ela disse espontaneamente.

– Acha mesmo? – ele a encarou.

– Claro! Uma vez vi meu pai comentando com minha mãe.

Loki arqueou a sobrancelha.

– É mesmo?

– É.

– E você? Também acha isso.

Sigyn o olhou nos olhos, achou divertido ver que ele havia ficado um pouco bobo devido à afirmação feita por ela.

– Não só acho como tenho certeza.

Em outras noites ela puxava sempre algum assunto, desde políticas e diplomacia a alguma coisa sobre culinária. Sigyn gostava muito de fazer comidas, doces e biscoitos, que ela mesma enviava para o gabinete de trabalho do marido. Loki não tinha nenhuma objeção já que os quitutes eram divinos e pareciam ser feitos com muito sentimento, logo ele que tinha um paladar difícil. Ficou um tanto surpreso com a facilidade com que ela tratava sobre os assuntos do reino. Sigyn era esperta e de vez em quando pedia recomendações de leitura para o marido, a respeito dos assuntos, com o pretexto de um dia poder ajuda-lo, caso ele precisasse. Sigyn também era preocupada com causas sociais, e como ficava entediada no castelo, certo dia consultou o marido para falar com o rei, pois ela queria fazer algumas atividades comunitárias na parte mais pobre de Asgard.

Odin adorou o gesto de sua nora, e Loki é claro viu aquilo com uma espécie de bônus para ele. Então Sigyn passou a distribuir comida e ensinar crianças e jovens analfabetos a ler e escrever. Em poucos meses, a princesa até então desconhecida passou a ter uma grande popularidade entre os asgardianos. A descreviam como uma jovem doce e espirituosa, com um coração muito generoso. A jovem não gostava muito dos holofotes em cima dela, era sempre discreta e evitava qualquer comentário.

Naturalmente, e sem perceber, Sigyn foi se transformando na nora favorita do casal real. E, obviamente, algumas pessoas não gostaram muito disso. Uma dessas pessoas era Sif, a mulher de Thor. Sempre metida, a bela mulher de cabelos de ouro tinha segurança de ser a mulher do sucessor do rei. Mas as coisas não estavam lá as mil maravilhas, Thor seu marido, não passava de um homem de intelecto inferior ao mediano, não tinha ambição em ser rei. Para ele bastava ser um guerreiro, a diplomacia e o governo deveriam ficar com aqueles que usam a cabeça. Além disso, o casamento dos dois estava morto, há algum tempo que Thor andava tendo alguma aventura fora de casa. Os dois haviam brigado outra vez por causa de filhos, Thor queria e Sif não. Como Sif dizia, ela não estava disposta a estragar seu lindo corpo e muito menos a amamentar uma criança, já que era fútil e vaidosa.

Sif achou que Sigyn era uma tonta quando casou com Loki, mas logo percebeu que a menina apesar de ingênua não era burra. E o fato de Sigyn não ter muito contato com ela a aborrecia. E a aborrecia mais ainda o fato de Odin gostar mais de Sigyn do que dela, que já era sua nora há alguns anos. Algum defeito ela tinha, pensava Sif, e caso não tivesse, no que dependesse da esposa de Thor, Sigyn passaria a ter um, logo, logo.