Eu não trocaria escrita por Anny Andrade


Capítulo 1
Único




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Dizem que família é algo que não escolhemos, mas será que se pudéssemos escolher trocaríamos?

Estou sentada na poltrona mais velha e desgastada da casa. Minha avó sempre diz que precisam jogá-la fora, mas meu avô com seu complexo de acumulador não deixa a velha mobília sair do lugar. Normalmente quem fica sentado nela é meu primo, ele que gosta de observar todos os outros da família, às vezes sinto que ele está me observando o tempo todo. Não tenho medo disso, normalmente tento parecer o melhor possível em todas essas ocasiões em que sou observada.

Minha família é enorme. Meu pai parece sempre muito contente quando resolvemos passar uns dias na casa dos meus avós maternos, ele parece mais criança do que Alvo e James, e meus irmão são extremamente infantis. Gostam de fazer guerra de travesseiro, e implicam um com outro, ao ponto de usar os presentes que o tio George nos dá um contra o outro. É muito engraçado quando Alvo leva a melhor. Normalmente James sai pisando duro e se tranca no primeiro quarto vazio que encontra pela frente.

Aqui não é fácil encontrar quartos vazios. Ainda mais quando estamos todos juntos. Muitos primos e primas, muitos colegas mais próximos. Somos uma família grande composta por membros do mesmo tipo sanguíneo e também por membros escolhidos a dedo.

— Lily, porque está no meu lugar? – Meu primo Hugo sempre aparece do nada e quase me mata do coração.

— Não encontrei seu nome... – Digo o mais grossa possível, mas não consigo ser assim não com as pessoas que gosto, e eu gosto muito do ruivo mal humorado que chamo de primo.

Ele me empurra para o lado e levanta a ponta do cobertor colorido que vovó gosta de jogar por cima da poltrona tentando esconder os rasgos enormes.

— Aqui. – Ele aponta.

— Hugo Weasley o dono da poltrona. – Leio em voz alta e ergo uma sobrancelha para ele. – Sério? Você realmente escreveu isso?

— Lily é uma questão de ser mais rápido. É muito difícil tomar posse de objetos aqui na casa dos nossos avós. Somos os mais novos, somos os que não conseguem chegar antes. – Hugo suspiro e me empurra para o “braço” da poltrona. – Essa coisa de os mais novos serem mimados não funciona na realidade. É só teoria.

— Você é muito espaçoso, ainda bem que temos a mesma idade ou acho que teria me expulsado da sala e não da poltrona. – Digo cruzando os braços.

— Da minha poltrona. – Hugo aponta para seu nome. E nós dois caímos na gargalhada.

Ser os mais novos em uma família tão grande e com tantas personalidades diferentes fez com que nos juntássemos. Nos tornamos melhores amigos, além de primos, e de...

— O que estava fazendo? – Hugo me questiona.

— Observando nossa família. – Digo suspirando. – Me questionando se caso fosse possível escolher em qual família nascer se não acabaria escolhendo exatamente essa.

— Uau... Estamos com a Lily filósofa hoje. – Meu primo dá um sorriso leve. – Acho que escolheria uma família trouxa.

— Sério? Eu jamais escolheria uma família trouxa. – Sinceramente não sou o tipo que odeia os trouxas, mas o que eu faria para conseguir arrumar o quarto sem a ajuda da minha mãe e sua varinha bem treinada? — Gosto das vantagens bruxas.

— Eu gosto das vantagens trouxas também.

— Hugo, é mais fácil fazer uso das vantagens trouxas sendo bruxo do que ao contrario. Pelo menos eu acho.

— É verdade. – ele para por um segundo e observa seu pai na cozinha com nossa avó. – não conseguiria viver com um pai que não fosse Ronald Weasley e a mania dele de cozinhar nas horas vagas.

— Está vendo. É disso que estou falando. – Começo falando exasperada. Quando fico muito empolgada tenho a tendência de falar muito rápido. Quando fico feliz, triste, ou ansiosa também. Eu falo rápido e continuamente na maioria do tempo.

— Se fosse de outra família do que sentiria mais falta?

— Não sei. Dessa poltrona. – Digo fazendo uma careta.

— Minha poltrona. Lily, minha poltrona.

— Não sentiria falta da sua poltrona Hugo. – Respiro fundo tentando não rir. – Sentiria falta desse cheiro de torta de abobora no forno. Sentiria falta dessa bagunça que vem de todos os quartos da casa. Sentiria falta do tio Rony na cozinha reclamando que as panelas da vovó não gostam dele e fogem sempre que ele tenta colocar farinha dentro delas. Sentiria falta de você também.

— Do seu primo mal humorado?

— Do meu primo, do meu melhor amigo e da pessoa que escuta a Lily até o fim.

Na verdade eu acho que sentiria falta de tudo da nossa família. Não daria para contar cada detalhe, que não seria o mesmo caso estivesse em outra casa e com outras pessoas. São muitos detalhes que fazem com que nossa família seja tão especial.

— Também sentiria falta de você priminha... – Hugo diz se levantando. – Te empresto a poltrona mais um pouco. Vou tentar ajudar meu pai a terminar a torta de abobora.

— Você é péssimo na cozinha.

— Mas sou ótimo goleiro de panelas. – E com um piscar de olhos ele me deixa com a poltrona e com as lembranças.

Já escutei milhares de pessoas dizendo o quanto sua família é ruim. Tenho vontade de dizer para elas que a minha também não é perfeita. Também fomos devastados com os tempos passados. Também sofremos perdas que ainda hoje faz com que alguns dias sejam piores que outros. Algumas vezes a vovó Molly não sai do quarto, e é possível escutar ela chorando abafado. Já reparei que o Tio George evita constantemente os espelhos, ele não se olha nem nos talheres. Meu pai em vários momentos fica parado olhando para eu e meus irmãos e vejo lagrimas escorrerem lentamente.

Penso que não foi fácil para eles passarem por uma guerra, e mesmo que em casa evitem falar sobre as partes mais dolorosas quando se vai para a escola tudo explode. Explodiu em minha cabeça no quarto mês do primeiro ano. Na de minha prima Rose explodiu um pouco antes porque ela sempre procurou noticias sobre nossa família. Faço o possível para não pensar naqueles momentos. Normalmente quero aproveitar as coisas boas.

Nossa família é composta de altos e baixos, de dias claros e ensolarados e também de dias escuros e nublados. É composta por pessoas diferentes, alguns ruivos demais e outros com cabelos castanhos, ainda temos os agregados de cabelos loiros ou azuis. Somos formados por irritadinhos, sabichões, esportistas, corajosos, intimidadores, graciosos, tímidos. É tanta coisa misturada que é difícil imaginar como temos todos o mesmo sangue nas veias.

Será que alguém poderia escolher mudar de família se tivesse nascido na minha?

Eu não mudaria.

Não quando só o pensamento já me trás saudades.

Sentiria falta dos tricôs com as nossas iniciais no natal. Sentiria falta das guerras de neve do lado de fora da Toca. Sentiria falta dos meus insuportáveis irmãos, das minhas primas completamente malucas, dos meus tios e tias e sentiria falta de ser a filha mais querida e mimada, sentiria falta das vozes altas, e das conversas paralelas que me deixam maluca.

— Lily!

Sentiria falta de Hugo me gritando.

— Precisamos de uma menina aqui... – E do quanto ele não é nada fofo ou romântico.

Sentiria falta dessas loucuras.

Chego à cozinha apenas para encarar tio Rony agachado atrás de uma mesa junto com Hugo enquanto duas panelas batem em suas cabeças. A cena é tão engraçada que começo a rir e esqueço que provavelmente estava ali para ajuda-los e não para incentivar as panelas a continuarem aprontando.

— O que estão fazendo com minha cozinha! – Vovó Molly não parece se divertir tanto quanto eu e assim que termina a frase as panelas caem delicadamente sobre a pia e meu tio e primo se levantam cobertos de farinha.

— Mãe... Suas panelas me odeiam...

— Ronald Weasley! Eu já avisei que precisa ser educado com elas e ofendê-las as deixam muito nervosas. – Vovó suspira profundamente.

— São panelas! Não deveriam ter sentimentos.

Nesse momento ele volta a receber paneladas na cabeça e vovó fingi por um segundo que aquele homem ruivo, alto, maduro e com dois filhos não faz parte da família dela.

— Crianças podem sair que eu cuido disso.

Hugo e eu voltamos para sala. Eu obviamente continuo rindo.

— Você não era o super goleiro?

— Lily, não comece...

— Ou você vai pedir para sua amiga panela me atacar? – Ainda estou rindo. – Espera, ela não é sua amiga.

Por fim ele também cai na gargalhada.

Mais um item para a lista do que sentiria falta da minha família: Atralhadas.

Quando finalmente estamos sem ar, deitados no tapete e com os olhos focados no teto, percebo que sentiria falta de tudo na minha família. Das pessoas, dos lugares, dos momentos. De exatamente o que somos. Imperfeitos. Unidos. Briguentos. Diferentes.

— Hugo, eu acho que nunca trocaria de família.

Digo e fecho meus olhos. Respiro lentamente absorvendo todo o perfume da casa, enchendo meus pulmões de uma sensação boa, de algo especial. Me enchendo com a vibração da minha família, das pessoas que não escolhi, mas que agora escolho para sempre.

— She's electric... She's in a family full of eccentrics… - Hugo canta para mim.

— Ela é eletrizante... Ela tem uma família cheia de excêntricos... – Eu digo em voz alta.

É exatamente assim.

— Eu também não trocaria nossa família por nenhuma outra. – Ele suspira.

Somos uma família cheia de excêntricos.

Será que alguém nos trocaria? Eu duvido.


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Notas finais do capítulo

Eu adoro Lily e Hugo, e achei que seria legal eles conversando sobre a famlia. Foi uma fanfiction bem simples, sem muitos detalhes e contexto intrigante, foi apenas uma tarde deitada no tapete escrevendo sobre sentimentos bons...

Relevem os erros gramaticais, tentei pelo menos reler duas vezes...

Beijos e Boa Leitura!



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