A Jornada do Príncipe escrita por Andy


Capítulo 32
Capítulo 32


Notas iniciais do capítulo

Oi, leitores mais lindos que eu tenho! ♥
Hoje consegui vir postar mais cedo! Eeeh! Mas continuo atolada de trabalho aqui, então vou pedir que continuem sendo pacientes com relação aos comentários. Eu leio todos, mas responder toma muito tempo, e ultimamente, tá complicado.
Este capítulo é o que eu mais queria postar, há meses estou esperando por isso! Sério. Ansiosa pelas reações de vocês!
Obrigada por tudo! ♥

Xoxo



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— Você vem para me fazer uma acusação. Faça-a.

Legolas franziu as sobrancelhas. Ele não havia pensado... Subitamente, porém, sentiu surgindo em seu coração uma revolta crescente, que logo se tornou tão forte quanto a fúria que sentiu ao acusar Eöl. Respirando fundo para tomar coragem, ele se empertigou e olhou diretamente para Mandos:

— Madlyn ainda não foi julgada! — Ele deixou que sua voz ecoasse na grande sala vazia até se dissipar completamente. — Você não tem o direito de empurrá-la para as trevas!

Nenhuma emoção perturbou o rosto impassível de Mandos.

— Eu não o fiz.

Legolas hesitou. O outro não deixou de notar.

— Erin sucumbiu às trevas que ela mesma atraiu sobre si. Eu não influenciei nisso de modo algum. Ela proclamou a própria sentença.

— Como é possível que as trevas a tenham dominado, estando ela aqui, em Valinor? — O elfo se forçou a encarar os olhos dourados do Vala. — Acaso não é esta Aman, a terra “Abençoada, Livre do Mal”(1)?

— Esse é o problema de vocês. Eldar, homens, anões... Até os Maiar. Vocês buscam as trevas no mundo, quando deveriam fechar os olhos e procurá-las dentro de vocês. — Mandos fez uma pausa e desviou o olhar. Legolas seguiu os olhos dele. Ele olhava para uma das figuras representadas no grande painel de madeira: Námo amaldiçoando os noldor(2). — Valinor é tão vulnerável quanto os corações daqueles que aqui habitam.

Legolas se calou. Ele julgou ter ouvido uma leve melancolia na voz do Vala. Por alguns longos minutos, nenhum dos dois falou ou se moveu. Por fim, Legolas rompeu o silêncio. Ao falar, sua voz tinha um tom de desafio:

— Os outros elfos que sucumbiram a Morgoth se tornaram orcs desprezíveis.

Mandos tornou a olhar para ele.

— Mas não há orcs em Valinor. O que aconteceu com Madlyn? Onde ela está?

— Eu não posso vê-la com meus olhos e nem encontro seu espírito em meu pensamento. Isso significa que ela se juntou a seu mestre no Grande Vazio. Lá, as trevas dominam, e meus olhos não enxergam.

Legolas arregalou os olhos levemente.

— Legolas!

O elfo se voltou para olhar bem a tempo de ver Thranduil cair de joelhos, subjugado pela força do Vala.

— Thranduil, filho de Oropher. — Mandos saudou, num tom inexpressivo. — Eu estava me perguntando o que havia acontecido com as minhas guardas.

— Perdão, meu senhor. — Thranduil respondeu, entredentes. Legolas notou que ele resistia ao poder de Mandos, tentando se levantar.

— Espero que tenha sido gentil com elas, pelo menos.

— Tanto quanto possível. Elas despertarão daqui a algumas horas.

— Muito bem. Entenda-se com Celeborn e Galadriel, depois. — Com um gesto de mão, o Vala liberou o elfo. Thranduil se pôs em pé imediatamente, e a forma como seus olhos faiscaram alarmou Legolas. O pai claramente não havia gostado da truculência com que Mandos o havia recebido.

Mas o elfo tinha outras preocupações em mente:

— Leve-me até ela!

— O quê? — O Vala tentou manter o rosto impassível, mas seus olhos o traíram, revelando sua perplexidade.

— Leve-me até Madlyn. Eu vou trazê-la de volta.

Mandos apenas o encarou. Legolas sustentou o olhar.

— Você pode fazê-lo, não é, ó Námo, senhor do destino dos eldar? — A ironia na voz dele era quase palpável. — Se Madlyn fosse condenada, você a empurraria para as trevas de Além do Mundo. Você fez isso com Morgoth antes. Isso quer dizer que pode fazer o mesmo comigo.

Thranduil se aproximou de Legolas, olhando dele para Mandos. Ele compreendeu rapidamente o que o filho queria fazer e o que devia ter sido dito antes de ele chegar à sala.

— Posso. — Mandos respondeu, por fim. — Mas ninguém jamais retornou do Eterno Vazio.

— Nós retornaremos. Eu vou buscar Madlyn e retornaremos juntos.

— Legolas... — Thranduil chamou.

— Minha decisão está tomada.

Os lábios de Thranduil se contorceram suavemente num sorriso torto.

— Eu sei. Você é meu filho.

Legolas sorriu para o pai e tornou a olhar para Mandos. O Vala estreitou os olhos.

— Você está disposto a encarar as trevas do Grande Vazio para buscar pelo espírito dessa elfa?

— Pelo coração dela, meu senhor, eu enfrentaria sozinho a ira do próprio Melkor(3).

Mandos assentiu e fechou os olhos, como que para meditar. Ele ficou muito imóvel e por um momento, foi como se o tempo parasse dentro da sala de julgamentos. Legolas podia sentir uma energia poderosa tomando conta do ambiente enquanto o Vala se concentrava. Thranduil mantinha a guarda alta, sentindo a tensão que fluía em ondas pela sala. A mão dele não deixou o cabo da espada por um segundo sequer.

— Legolas. — Mandos reabriu os olhos.

O elfo olhou para ele.

— Você tem mais um pedido a me fazer.

Legolas o encarou, pensativo. Mandos esperou pacientemente. Por fim, o elfo se empertigou:

— Tenho. Eu quero a sua palavra, senhor, de que Madlyn terá um julgamento justo quando retornar.

Legolas viu nitidamente quando a sombra de um sorriso perpassou os olhos do Vala.

— Se o senhor for capaz de trazer Erin de volta, Legolas Verdefolha, então tem minha palavra de que todos os crimes dela contra os Valar estarão perdoados.

Tanto Legolas quanto Thranduil reagiram com incredulidade a essas palavras.

— O senhor pode tomar essa decisão sem consultar Manwë e os demais? — Thranduil questionou, desconfiado.

— Meus julgamentos são a vontade de Ilúvatar. — Mandos respondeu, aumentando levemente o tom de voz. — Se Erin retornar da escuridão, significará que o coração dela foi purificado, e ela se tornará novamente digna da graça de Eru.

Legolas se adiantou em direção a Mandos.

— Tenho sua palavra?

O Vala o encarou:

— Sim.

Legolas se ajoelhou diante dele:

— Obrigado. — Ele fez uma pausa. — Estou pronto.

— Não tão depressa.

Legolas se reergueu, impaciente. Mandos se adiantou em direção a ele, parando a alguns passos de distância.

— Primeiramente, eu devo reafirmar que não tenho poder sobre seu espírito a partir do momento em que ele for lançado no Eterno Vazio. Eu não posso trazê-lo de volta. Você precisará encontrar seu próprio caminho, se houver algum.

— Se não houver um caminho, eu criarei um.

O Vala apenas ergueu uma sobrancelha. Thranduil lançou um olhar orgulhoso para o filho, mas seu coração começou a se inquietar, apreensivo. Algo ruim estava se aproximando, ele podia sentir. Ele tornou a olhar para o Vala. Mandos estava de novo muito sério.

— Nesse caso, seu destino pertence apenas a você.

— Madlyn fez a escolha dela. A minha também está feita.

Mandos assentiu.

— Há mais um porém.

— Qual? — Os olhos do elfo queimavam com o desafio.

— Seu espírito não está ainda em minhas mãos. Como você nunca deixou seu corpo original, eu não tenho controle sobre ele. Não posso enviá-lo para o Vazio, a menos que você se desprenda desse corpo.

Legolas arregalou os olhos. Thranduil deu um passo adiante, colocando-se ligeiramente à frente dele, num gesto instintivo. Um frio terrível tomou conta do estômago dele, enquanto seu coração começava a bater mais forte. Ele tinha levado o filho até ali, tinha se proposto a ficar ao lado dele e a desafiar os Valar, mas aquilo era demais. Ele confiava no sucesso de Legolas. Tinha certeza de que ele conseguiria resgatar Madlyn e regressar são e salvo. Mas só naquele momento ele compreendia o que a jornada do filho através do Vazio significaria.

Legolas começou involuntariamente a respirar mais rápido, como se o controle do oxigênio tivesse deixado de ser automático. Sua mente estava disparada, e a adrenalina corria em suas veias, enquanto ele compreendia pouco a pouco o que o Vala queria dizer.

Mandos manteve os olhos fixos em Legolas, o rosto ainda imperturbável. Ele não fez qualquer comentário.

Nem Thranduil nem Legolas se moveram durante algum tempo, e tudo o que se ouvia era o som das respirações deles. Até que Legolas se virou bruscamente para o pai, puxando uma de suas velhas facas brancas. Ele a estendeu para Thranduil:

Ada! Você tem que fazer isso.

Thranduil deu um grande passo para trás, afastando-se dele e arregalando os olhos.

— Por favor! — As sobrancelhas de Legolas se uniram, suplicantes.

— Eu... Não posso. — A voz do rei era pouco mais que um sussurro.

— Você pode! — Legolas deu um passo em direção a Thranduil. O pai recuou automaticamente. — Eu não conheço ninguém com mais habilidade com lâminas do que você. Você pode fazer isso ser... Rápido. Indolor. — Legolas engoliu em seco. Ele sentia algo estranho, como se sua vida já estivesse se esvaindo. — Por favor.

Thranduil olhava com verdadeiro horror para a faca. Ele ergueu lentamente a cabeça para Legolas, e o filho percebeu claramente que ele não estava disposto àquilo.

— Pai, por favor. Eu preciso da sua ajuda. Mais do que jamais precisei antes.

O rei negou com a cabeça. O rosto dele transparecia a luta em seu interior.

Legolas olhou em volta, desesperado, procurando por uma saída. Seu estômago se contorceu numa mistura de medo e frustração. Enquanto seu cérebro trabalhava mais rápido que nunca, algo lhe ocorreu. Era uma ideia covarde. Mas ele não tinha alternativa.

— Se você não fizer... — Ele olhou para Thranduil com uma expressão de desafio, reunindo toda a coragem que conseguiu. —... eu vou dar um jeito. Vou sair correndo daqui e me atirar ao Mar e me afogar, ou vou subir até a Taniquetil e me atirar lá do alto, ou... — Thranduil viu claramente quando o rosto dele se iluminou com uma idea.

 Num gesto rápido, Legolas puxou sua outra faca branca e a alinhou ao próprio pescoço, enquanto mantinha a outra arma estendida para o pai. Thranduil arregalou os olhos e deu um passo em direção a ele, estendendo a mão como que para impedi-lo, mas parou no meio do caminho.

— Ou vou fazer isso eu mesmo. — Legolas encostou a lâmina afiada à garganta. — Aqui e agora.

— Legolas, por favor... — A voz de Thranduil saiu abafada, e por um momento Legolas começou a abaixar a faca, desarmado, mas ele logo recobrou o controle e ergueu a arma de novo.

— Seja como for, eu vou sofrer mais. — Ele fez uma pausa. — Por favor, ada.

Thranduil ficou olhando para ele com uma expressão desamparada. Legolas sentiu uma dor crescendo no peito. Odiava o que estava fazendo. Ele sabia que estava torturando Thranduil. Podia adivinhar seus pensamentos, muito mais claramente do que jamais havia sido capaz de fazer antes. Ele achou que jamais havia compreendido o próprio pai tão bem quanto naquele momento. Infelizmente, porém, não havia mais tempo.

Legolas olhou fundo nos olhos do pai e respirou fundo, se preparando. Então, fechou os olhos com força e começou a mover a mão que segurava a faca.

Legolas, não!

Legolas reabriu os olhos de uma vez. O grito de Thranduil ainda ecoava pela sala. O filho começou a respirar descontroladamente de novo, enquanto o coração corria no peito. Thranduil respirou fundo e estendeu a mão lentamente em direção à faca que Legolas estendia para ele. A mão dele tremia quando seus dedos se fecharam em torno do cabo da arma. Legolas não deixou de notar isso. Ele sentiu lágrimas fechando sua garganta ao erguer os olhos para o rosto do pai. Ele nunca havia visto Thranduil fraquejar em nada na vida. Nem uma vez. Legolas deixou a faca que estava segurando no pescoço cair no chão, produzindo um ruído metálico alto.

Apenas quando o eco havia se dissipado completamente Thranduil ergueu os olhos para olhar para o filho. Legolas sentiu como se o pai tivesse lhe dado um tapa na cara, ao ver a dor no fundo dos olhos dele.

— Aqui. — Mandos, que tinha estado apenas observando, chamou. Legolas não se moveu. Thranduil olhou sobre o ombro dele para ver o que o Vala queria dizer. Mandos apenas fez um gesto com a mão em direção à grande mesa de madeira no fundo da sala.

Com a cabeça, Thranduil indicou que Legolas fosse até lá. O filho hesitou, mas se virou lentamente para olhar para a mesa. Thranduil se aproximou e pousou a mão no ombro dele, apertando levemente. Legolas teve vontade de abraçar o pai, mas se conteve e começou a andar lentamente em direção ao móvel. Mandos deu dois passos largos para o lado para dar passagem.

Legolas sentia como se seu corpo tivesse subitamente ficado muito pesado. Cada passo que dava era como se estivesse se arrastando. Ele estava subitamente muito consciente de tudo a seu redor e, principalmente, do próprio corpo. Era como se pela primeira vez notasse que estava ali. Que tinha mãos e pés, cabelo e orelhas. E então eles finalmente pararam em frente à mesa.

Por alguns momentos, ele e Thranduil apenas encararam o tampo de madeira, como se tivessem se transformado em estátuas. Thranduil apertava a faca com tanta força que os nós de seus dedos estavam brancos e a palma de sua mão estava começando a pulsar dolorosamente. Apesar disso, ela ainda tremia.

Até que Legolas percebeu que devia ser dele o primeiro movimento. Bem devagar, ele se livrou da mão do pai e se sentou na mesa. Thranduil ergueu a cabeça para olhar fundo em seus olhos. Legolas sustentou o olhar.

Naquele momento, Legolas sentiu que finalmente era capaz de conversar sem palavras com Thranduil, como tinha visto a mãe fazer milhares de vezes. Finalmente, eles compreendiam um ao outro. Legolas estava vendo a alma de seu pai pela primeira vez.

Mandos não os interrompeu. Minutos se passaram até que Thranduil se adiantasse e pousasse pesadamente a mão no ombro do filho. Ele havia finalmente parado de tremer. Ele fixou os olhos nos de Legolas:

— Legolas… — Ele fez uma pausa. Sua voz agora não tinha mais vestígios de lágrimas. Ao contrário, era firme e grave, cheia de severidade. — Há muito tempo, em Angmar, antes de partir, Syndel me fez um pedido. Ela me pediu para tomar conta de você. Mas também me pediu para não o prender demais. Para deixá-lo ser livre.(4)

Legolas arregalou os olhos levemente. Um sorriso perpassou apenas brevemente os olhos de Thranduil, antes de ele tornar a ficar completamente sério.

— E a única razão pela qual eu fui capaz de fazer isso... A única razão pela qual eu fui capaz, todos esses anos, de deixar que você partisse em missões pela Terra Média... Foi que todas as vezes, você sempre retornou para mim. — Ele deixou que a seriedade deixasse seu rosto, para dar lugar ao sentimento. — Prometa que desta vez também será assim.

Legolas sentia uma tremenda vontade de chorar, mesmo sabendo que não seria capaz de verter aquelas lágrimas ali, em Valinor. Ele precisou tentar três vezes antes de conseguir encontrar sua voz. Thranduil esperou pacientemente.

— Eu prometo. — Ele disse, por fim. — Eu prometo, ada.

Thranduil assentiu.

— Deite-se. — Ele apontou para a mesa.

Legolas obedeceu, embora com certa dificuldade, porque o mundo parecia girar e ele sentia como se seus membros tivessem subitamente amolecido. A adrenalina estava voltando a suas veias e, misturada àquele turbilhão de emoções, o estava deixando tonto. Ele tentou recobrar o controle da respiração, sem sucesso. Seu coração martelava nos ouvidos.

Thranduil se aproximou lentamente, os olhos fixos na garganta de Legolas, enquanto ele se concentrava. Não ia permitir que o filho sentisse qualquer dor. Precisava ser mais preciso que jamais havia sido antes.

Alguns minutos se passaram, enquanto Legolas tentava afastar o medo. Nem enfrentar os orcs em Helm’s Deep, e nem mesmo adentrar a montanha dos mortos atrás de Aragorn, nada o havia preparado para aquele momento. Pela primeira vez, a morte parecia algo real para ele. Próximo, palpável. Ele podia ouvi-la sussurrando em seu ouvido.

Quando Thranduil finalmente ergueu a mão que segurava a faca, não havia nem sombra de insegurança em seus olhos. Seus dedos estavam firmes e seus ombros, relaxados. Ele olhou direto nos olhos de Legolas:

— Pronto?

Legolas se forçou a sustentar o olhar, torcendo para que o pai não visse o medo em seus olhos:

— Pronto.

Thranduil virou a lâmina, sustentando-a numa posição diagonal.

— Legolas.

Legolas olhou para ele.

— Eu amo você.

Legolas sentiu novamente uma pontada aguda no coração. Ele não se lembrava de ter ouvido aquilo do pai. Nunca, em todos aqueles anos. E nem de haver dito aquilo para ele. Para a mãe, ele dizia o tempo todo. Mas para Thranduil...

— Eu também te amo, ada.

Thranduil não pôde impedir que a emoção transparecesse em seu rosto.

— Feche os olhos. — Ele sussurrou, concentrando-se, forçando-se a ser forte.

Legolas obedeceu.

Thranduil não se permitiu hesitar. Sua mão disparou, rápida como um raio, cortando a garganta de Legolas com um único golpe, em um ponto preciso. Legolas teve tempo apenas de ouvir o zunido da lâmina cortando o ar, mas não sentiu absolutamente nada no momento em que ela o atingiu.

Thranduil deixou a lâmina ensanguentada cair no chão, enquanto todo seu corpo tremia. Ele queria desviar o olhar, mas não conseguia, contemplando com olhos arregalados o fio de sangue que escorria do pescoço do filho. Do ferimento que ele havia lhe infligido. Ele ofegava, tentando respirar, mas era como se o ar não viesse. A dor que ele sentia era insuportável, ameaçando destruí-lo de dentro para fora. Era pior que qualquer coisa já havia sentido. Nem mesmo a dor da morte de Syndel se comparava àquilo.

Os joelhos dele falharam, e ele se deixou cair no chão de mármore da casa de Mandos. Com as mãos espalmadas no piso sustentando o tronco, ele tentava desesperadamente chorar, mesmo sabendo que era impossível. Por fim, incapaz de suportar a dor, soltou um grito de agonia que reverberou nas paredes e pareceu fazer o próprio palácio tremer.

O Vala lhe deu apenas um último olhar antes de se virar e se afastar em direção ao interior do palácio, a passos calmos.


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Notas finais do capítulo

(1) “Aman” significa literalmente “Abençoada, livre do mal”.

(2) Námo é o verdadeiro nome de Mandos. “Mandos” é, na verdade, o nome do palácio em que ele recebe os espíritos dos elfos, quando eles sofrem mortes aparentes na Terra Média. Os noldor são uma linhagem de elfos. Feänor, o criador das Silmarils, era um noldor, e em determinado momento, ele rompeu relações com os Valar. Nessa ocasião, Mandos lançou uma maldição sobre ele e seus descendentes.

(3) Melkor é o nome original de Morgoth, o mais poderoso dos Valar, o grande mestre de Sauron.

(4) Eventos narrados em “A Razão do Rei”, capítulo 18.