A Jornada do Príncipe escrita por Andy


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Se for para o bem e a felicidade geral da nação, diga ao povo que eu escrevi uma fanfic do Legolas! Hahaha! Pois é, galera, eu não resisti aos pedidos de vocês para que escrevesse uma fanfic com o Legolas, depois de terminar de contar as aventuras de Thranduil em "A Razão do Rei"! Mais uma vez, muito obrigada pelo carinho!Para os leitores novos, que não conhecem minha fanfic anterior... Olá! Muito prazer! Meu nome é SakuraHime, e recentemente eu me tornei uma grande fã de Tolkien e de seu universo fantástico. Ano passado, decidi brincar com ele. E como parece que as pessoas gostaram do resultado dessa brincadeira... Cá estou eu de novo! X3Bom, não vou enrolar mais aqui. Aos novos leitores, sejam muito bem-vindos! Espero que gostem da fanfic! Aos meus conhecidos (e amados) leitores de "A Razão do Rei"... Obrigada por estarem aqui! É uma honra poder escrever para vocês novamente! ♥OBS.: Caso vejam um número entre parênteses em algum lugar, isso significa que há uma nota sobre esse trecho ou essa palavra nas notas finais do capítulo! ;)



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Foi em um dia ensolarado, porém frio, que eles se despediram do rei.

O povo já havia se dispersado havia algumas horas, mas para aqueles quatro era difícil demais dizer adeus.

Gimli olhava desconsoladamente para a sepultura de mármore branco, tentando brigar contra as lágrimas, mas claramente perdendo a luta. Legolas, alguns passos atrás, contemplava as nuvens no horizonte, enquanto envolvia Lady Arwen em seus braços. Ela, ainda linda e aparentemente tão jovem quanto na época da Guerra do Anel, exceto pela mecha grisalha que começara a aparecer com o avanço da velhice de Aragorn, chorava silenciosa e copiosamente em seu ombro.

Mais distante do grupo, de costas para eles e para o túmulo do pai, Eldarion mantinha os olhos fechados, mas isso não impedia que as lágrimas fluíssem continuamente por seu rosto. Ele se lembrou do que Aragorn costumava lhe dizer quando ele se feria ou quando tinha pesadelos à noite: “Não vou pedir que não chore, pois nem todas as lágrimas são um mal”. Ele dizia que essa era uma frase de um velho amigo, Gandalf, que Eldarion nunca conheceu.

~~ ♣ ~~

— Então vocês estão mesmo partindo.

Legolas se voltou para olhá-lo. O príncipe que ele vira nascer e crescer, agora já um homem feito. A coroa lhe caía tão bem quanto ao pai. Na verdade, os dois eram muito parecidos. Exceto pelos olhos. Eldarion tinha os olhos de Arwen.

— Sim, Majestade. Ainda há muito que precisamos fazer. — O elfo sorriu suavemente.

O rei trocou o peso do corpo para a outra perna, inquieto. Para ele, a coroa parecia pesar uma tonelada. Ele fora preparado para assumi-la durante a vida inteira, mas só agora percebia que pensara que esse dia nunca chegaria de verdade. Ele desejara que nunca chegasse. Porque isso significava...

— Não precisa me chamar assim, Legolas. Somos amigos, você sabe.

— Como quiser.

Legolas se adiantou para pegar o arco pendurado na parede e o alisou suavemente com as pontas dos dedos. Já fazia algum tempo que ele não o usava. Tentou retesar a corda, e a arma, familiar a seus dedos, obedeceu prontamente. Ele retirou uma flecha da aljava que tinha acabado de colocar nas costas e atirou na porta. Atingiu o meio exato. Preciso como sempre.

— Vocês não precisam ir.

O elfo olhou com carinho para Eldarion. Aquele homem era como um filho para ele, de certo modo. Para Legolas, ele sempre seria uma criança, mesmo porque ele é infinitamente mais jovem que ele próprio. E seu menino estava com medo. Legolas sorriu ao se lembrar de como fora ele que ensinara Eldarion a não ter medo do escuro, quando o menino tinha vergonha de pedir ajuda ao pai. Era esse mesmo tipo de medo que o elfo via agora nos olhos dele. Talvez mais intenso, já que ele simplesmente não podia pedir o auxílio do pai.

Legolas se aproximou e pôs o braço sobre os ombros do rei e lhe falou baixinho, em tom de confidência:

— Não comente com ninguém, mas Gimli está ficando velho, sabe? Ele não vai aguentar, se demorarmos muito a partir. — Ele sorriu. — E nós temos uma promessa a cumprir, eu e aquele rabugento. Eu não vou deixar que ele parta sem cumprir sua parte.

E eu não suportaria ficar aqui e assistir a você envelhecendo e morrendo também, o elfo acrescentou em pensamento, sentindo o coração pesando no peito. A imortalidade pode ser uma maldição. Pelo menos Gimli ele precisava salvar.

Legolas esperou, mas Eldarion não disse nada, silenciado pela lógica daquele argumento. Então, o elfo se afastou e voltou a reunir suas coisas. Não era muito, na verdade. Acostumara-se a viver com pouco e a viajar com menos ainda. Queria leveza.

— Minha mãe também está partindo.

O elfo parou, a mão direita ainda erguida a meio caminho da prateleira superior, onde repousavam suas velhas facas de batalha.

— O quê?

— Por que vocês estão me deixando sozinho? — Eldarion virou o rosto, mas não conseguiu esconder aquela lágrima dos olhos perspicazes de Legolas.

O loiro se aproximou, pousando as duas mãos nos ombros do rei:

— Eldarion.

O outro não voltou o rosto, mas falhou em conter um soluço. Parecia tão jovem, embora já passasse dos 40 anos...

— Eldarion! Olhe para mim!

Relutantemente, ele voltou os olhos verdes e profundos para Legolas. A acusação silenciosa neles partiu o coração do elfo, provocando-lhe uma dor física.

— Preste atenção. Você é filho de Aragorn: filho de Arathorn, herdeiro de Isildur e herói da Guerra do Anel. Não existe ninguém neste mundo mais capaz de governar este reino. Ninguém, está me ouvindo? Está no seu sangue. — Ele fez uma pausa. — E você não está sozinho. Você tem seu povo. Suas irmãs. Sua linda esposa... — Ele sorriu. — E Gildarion.

Eldarion não pôde evitar sorrir à menção do nome do filho que estava a caminho.

— Vocês não vão ficar para conhecê-lo?

Legolas não pôde evitar que uma careta de dor perpassasse seu rosto ao ouvir aquela pergunta. E Eldarion não deixou de notar.

— Eu tenho certeza de que o pai dele vai lhe contar tudo sobre nós. Vai ser como se ele nos conhecesse.

— O pai dele promete que sim. Mas tenho certeza de que ele preferiria conhecê-los pessoalmente.

Legolas suspirou.

— Nada me daria maior honra. Mas o velho Gimli... Será difícil para nós. A jornada será longa, e eu ainda não estou certo de como chegaremos ao Oeste, ou se os Valar(1) nos permitirão entrar em Valinor(2). Nós dois, quero dizer.

— Você é um elfo. Os elfos sempre conseguem achar seu caminho para a Terra Imortal. E é claro que os Valar vão aceitar vocês! Gimli é um herói e você é um príncipe élfico. Os Valar não abandonaram vocês como abandonaram os homens.

O elfo franziu a testa.

— Os Valar não abandonaram os homens. Eru quis que vocês governassem o mundo, como seus filhos.

— E vocês são os Primogênitos, por isso têm o paraíso.

— Vocês têm a morte, que é o maior presente de Eru.

— Grande presente! — O rei se afastou do outro, livrando-se de suas mãos e lhe deu as costas.

— Eldarion...!

O homem se voltou para olhar para o elfo e se encolheu sob seu olhar de reprovação.

— Desculpe. Eu só... É que... Eu já sinto a falta...

— Eu sei. — Legolas deu um passo na direção dele, mas seus músculos paralisaram-se diante da onda de lembranças dolorosas que o atingiu. Ele sabia como era a sensação de perder alguém para a morte. Alguém que era seu norte no mundo. Como um pai. Ou, no caso dele, uma mãe.

Eldarion se aproximou e abraçou o elfo, que retribuiu o abraço. Ficaram assim durante longos minutos, sem dizer uma palavra. Já não havia mais o que dizer.

— Infelizmente, Sr. Verdefolha(3), eu não posso autorizar sua partida.

— O quê?

— Não até o amanhecer. Esta noite, teremos um banquete em sua homenagem e na do Sr. Gimli, e a casa de Telcontar(4) jamais os perdoará se partirem. Então, vocês devem ficar até amanhã. E isso é uma ordem!

Legolas sorriu e fez uma pequena reverência.

— Sim, Majestade.

— E se me chamar assim de novo, eu te atiro à masmorra, está ouvindo?

O elfo apenas riu e assentiu, fingindo sentir medo demais para falar.

~~ ♣ ~~

— Eldarion me contou que pretendes partir, minha senhora.

Os dois elfos observavam os fogos de artifício que coloriam o céu. Esta noite estava sensivelmente mais quente, como se o inverno tivesse estado apenas esperando para partir junto com Aragorn. Os narizes mais sensíveis já podiam distinguir o aroma da folhagem fresca brotando. Logo os jardins da velha Gondor estariam repletos de flores.

— Meu coração me diz para tornar a Lórien, onde tudo começou.

— Por quê?

— Eu estou morrendo, meu querido Legolas.

O loiro se voltou para ela, arregalando os olhos. Ela lhe sorriu docemente.

— Minha vida estava ligada à de Aragorn, você sabe.

— Sim, mas... Eu pensei... Lúthien(5)...

Arwen não respondeu, e voltou o rosto novamente para as luzes no alto. Só então Legolas percebeu que ela girava entre os dedos o pingente do colar que dera para Aragorn, anos antes.

— Eu não quero atrapalhar a alegria do nascimento de Gildarion, e é por isso que vou partir logo depois de vocês. Tenho um pressentimento de que ele chegará logo. — Ela sorriu, e Legolas não pôde evitar acompanhá-la.

— Ouvi dizer que seus pressentimentos sobre essas coisas nunca falham.

Arwen tornou a olhar para ele:

— Eu estava pensando nos seus pais.

Legolas se mexeu inquieto. Havia muitos anos que ele não pensava neles, ou pelo menos tentava não pensar. As suposições sobre como eles estariam agora em Valinor, especialmente sua mãe, o deixavam louco. Ele sentia um misto de ansiedade e pavor ao imaginar revê-los, e agora que a hora finalmente se aproximava, essa sensação só piorava.

— Eu me preocupo com você, Legolas.

— Obrigado, minha senhora. Mas não há motivos para desassossego. Eu estou bem. E vou garantir que Gimli esteja bem também.

— Não é disso que estou falando, Legolas.

O elfo inclinou a cabeça para o lado, uma interrogação flutuando em seus olhos azuis. Arwen sempre via os olhos de Thranduil naqueles olhos, não importava quantas vezes olhasse para eles.

— O velho Gimli... — Ela olhou para trás, buscando o anão com os olhos, e Legolas o acompanhou. Eles o encontraram à mesa, bebendo como nunca na vida e rindo alto das piadas de Eldarion, que àquela altura também estava um tanto ébrio. Havia comida presa na barba castanha de Gimli, que começava a demonstrar sutis sinais de que logo se tornaria grisalha. Ambos os elfos sorriram. — Bem, ele é um anão. Contanto que tenha sempre boa comida e alguma coisa em que enfiar seu machado, ele estará bem.

— Provavelmente vai ficar meio entediado em Valinor. — Legolas abriu um sorriso torto que Arwen jamais deixaria de associar ao pai dele. Ela se lembrava de como Syndel(6) costumava se irritar com ele.

— Mas você, Legolas... — Ela continuou. — Você é um elfo. Você precisa de outras coisas. Você precisa das estrelas, da natureza, da música, da poesia... — Ela se movia, gesticulando suavemente ao falar. Quase parecia estar dançando. Ela deu um pequeno giro e se voltou para Legolas. — ... e do amor.

Legolas não pôde evitar uma careta, como um menino de oito anos de idade a quem se dissesse que um dia ele iria se apaixonar por uma garota.

— Ah, Lady Arwen...

— Não me olhe assim. Legolas, você está sozinho há muito tempo. Não há mais elfas na Terra-Média, é verdade, mas você também não esteve com nenhuma moça, não durante todos esses anos.

— Minha senhora, por favor...

— Eu entendo seus motivos. É doloroso. Vê-los partir. Mas... Quando eu me lembro dos seus pais... A forma como eles se amavam, eu... Eu tenho certeza, Legolas. Você foi feito para viver exatamente o mesmo tipo de amor.

Legolas sentiu o rosto queimando e se virou para a noite novamente, dando alguns passos em direção à saída do pátio onde eles estavam. O amor de seus pais. Um sentimento tão intenso que levou Thranduil a enfrentar a ira de Oropher para se casar com sua mãe.

— Eu tenho medo de que você se torne amargo, Legolas, se não conhecer esse sentimento. — Arwen se aproximou e tocou o ombro dele com carinho. — Você sabe que Thranduil esteve muito perto disso.

— Eu não sou o meu pai.

Arwen sorriu, pedindo-lhe desculpas.

— É claro que não. Eu vejo muito de Syndel em você também.

Legolas meneou a cabeça, desconfortável, tentando afastar a imagem da mãe de seus pensamentos.

— Não se preocupe comigo, minha senhora. Eu vou ficar bem. Eu vivi todos esses anos... — Ele se interrompeu, quando um flash de uma memória perpassou sua mente. Cabelos ruivos flutuando ao vento. A lembrança causou uma pontada de dor em seu coração, e ele trincou os dentes. — Eu vou ficar bem.

Arwen apenas assentiu e suspirou, sentindo-se subitamente cansada demais para continuar aquela discussão. Desde o minuto em que Aragorn partiu, ela sentia suas forças diminuindo cada vez mais rapidamente. Legolas fez uma reverência, pedindo licença, e se afastou rapidamente, ansioso para escapar daquela conversa embaraçosa.

A elfa(7) permaneceu quieta, sozinha, observando as estrelas através da fumaça dos fogos de artifício, que ainda poluía os céus. A lua, que estava completamente cheia, porém meio distante, parecia um borrão. Arwen deixou os pensamentos vagarem, sem se concentrar em nada especial. De repente, sem que houvesse ninguém ali para notar, ela teve um breve sobressalto, arfando. E então ela sorriu, não um daqueles sorrisos pálidos dos últimos dias, mas um sorriso verdadeiro, como os que fizeram Aragorn se apaixonar tão perdidamente.

— Ah, sim, meu querido Legolas... — Ela ergueu a cabeça para as estrelas, lançando-lhes um olhar cúmplice. — ... você vai.


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Notas finais do capítulo

(1) Os Valar são como se fossem deuses da Terra-Média. No começo dos tempos, Eru, o Pai de Todos, incumbiu os Ainur de cantarem de acordo com os pensamentos dele. A partir dessa canção, Eru criou a Terra-Média. Aqueles Ainur que vieram para Eä (o mundo) e ficaram com a missão de proteger Arda (o mundo) são os chamados Valar.

(2) Valinor é uma cidade dedicada a ser a morada eterna dos Primogênitos de Eru, os elfos. Ela fica localizada na Terra Imortal, à qual também se costuma referir como Oeste.

(3) O nome no original em inglês é Greenleaf. Algumas traduções para português trazem Verdefolha, outras, Folhaverde. Eu escolhi a primeira, porque para mim ela soa um pouco menos ruim. Apesar de eu não gostar de nenhuma das duas, para ser sincera.

(4) A casa de Telcontar é a casa de Aragorn, sua linhagem. Quando Aragorn foi coroado rei de Gondor e Arnor, ele recebeu o nome de Elessar Telcontar.

(5) Lúthien é uma das mais importantes personagens da mitologia élfica. Sua história está narrada nO Silmarillion. Lúthien foi a única elfa, antes de Arwen, a abrir mão de sua imortalidade, também por amor. De seu casamento com Beren, surgiu toda a raça dos meio-elfos da Terra-Média, da qual faz parte, por exemplo, Elrond, pai de Arwen e senhor de Valfenda.

(6) Syndel é o nome dado por mim à mãe de Legolas, na minha fanfic A Razão do Rei. Não existe no cânon da obra de Tolkien nenhuma referência explícita à mãe de Legolas, então não temos informação nenhuma a seu respeito. Todas as referências à mãe de Legolas e/ou à história de amor dos pais dele que aparecerem nesta fanfic têm como referência a história que eu construí em A Razão do Rei. Por isso, é recomendável fazer a leitura dela antes de prosseguir com a leitura desta fanfic, embora essas referências não interfiram muito na compreensão desta fanfic aqui, que é independente de A Razão do Rei.

(7) Tecnicamente, aqui eu devia escrever elfo fêmea, já que a palavra elfa não existe em português (não com esse significado). Mas eu não gosto de usar esses termos, parece que eu estou falando de animais, ou sei lá. Então, preferi utilizar elfa, mesmo sabendo que é errado.

Link para "A Razão do Rei": https://fanfiction.com.br/historia/500297/A_Razao_do_Rei/