Memories escrita por heycarolyna


Capítulo 1
Para trás




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Seus pés tocaram o chão assim que o avião pousou. Foi o primeiro a sair mesmo não estando tão perto das portas da aeronave. Odiava aviões. Odiava mais do que deveria e mais do que qualquer outra coisa. A tontura o pegou de jeito logo quando ele pisou em terra firme, mas andou até o desembarque logo após pegar as suas malas.

O vento soprava muito forte aquele dia. E apesar de estar de dia, teve a certeza que ia se arrepender mais tarde de não colocar mais um casaco sobre o corpo.

Quando as portas se abriram seus olhos logo foram em direção a ele. Seu pai. Estava parado com sua inconfundível muleta e suas calças marrons já gastas pelo tempo. Stiles não entendia como seu pai conseguia ficar sem uma roupa adequada para aquele tempo. Talvez fosse pelos anos, tanto tempo morando naquela cidade o fizeram se acostumar com as coisas mais simples.

Seus braços se abriram logo que viu seu filho se aproximar. Estava com a mesma cara de sempre, ele pensou. Só com um pouco de barba e, odiava admitir, um pouco de maturidade.

– Pensei que perderia meu filho para o Canadá. – disse depois que o abraço se rompeu. Tentou pegar uma das malas, mas ele desviou e as carregou sem nenhuma dificuldade. Estava encorpado agora, não era mais o magrelo e indefeso Stiles. Pensou em como Derek ficaria surpreso em vê-lo daquele jeito.
– Nem pense nisso. – disse por fim e se dirigiram ao carro do pai.

A viagem demorou um pouco. Mas nada que uma boa conversa sobre a faculdade e as novas experiências não preenchessem o tempo. Falou dos professores, do imenso campus, dos jogos do time de basquete que paravam a cidade inteira sempre que aconteciam, de como ele aprendia coisas novas a cada dia morando em outro país, dos amigos que fez, do seu colega de quarto chamado Ribbie, sobre o clima que era tão diferente de Beacon Hills... nada muito novo que não tenham falado por Skype ou por telefone, mas ele gostava de ouvir o filho falar, principalmente porque ele parecia feliz com as novas experiências.

– Cuidado com as pinturas. As paredes ainda não secaram totalmente. – disse quando o rapaz andou em direção a casa.

Como era bom estar em casa, pensou. Nada se comparava aquele lugar, e nada se comparava ao seu quarto. Subiu as escadas puxando as malas atrás de si.

Nada mudou, pensou ao abrir a porta do seu quarto e ver tudo em seu devido lugar, como na última vez que ele estivera ali. A melhor parte de voltar para casa era que tudo sempre iria ser a mesma coisa, por mais que tudo tivesse diferente em sua vida agora. Sua vida no Canadá não se comparava a nada com sua vida em Beacon Hills, era tudo tão novo, mais aprendizados, pessoas novas, um lugar completamente diferente. Mas quando ele pisava na sua cidade natal e entrava no seu quarto era como se tudo fosse igual a antigamente, como se os anos não tivessem se passado.

– Stiles! – não era a voz do seu pai. Mas bem que ele queria que fosse. Era uma voz feminina demais para ser dele, mas era uma voz que ele conhecia mesmo se estivesse misturada com mais dez mil músicas diferentes. Virou-se e a olhou.

Não fazia muito tempo que haviam se visto. Pouco mais de um ano e alguns longos meses. Ela o prometera que o visitaria qualquer dia em Toronto, assim como ele a prometera que iria qualquer dia para Stanford. Mas eram apenas promessas que nunca se concretizaram.

Lembrou da última vez que a viu, usava um vestido azul e bordado como todas as madrinhas. Desejou que não estivesse bêbado naquela vez e tivesse aproveitado mais o seu tempo com ela, mas não foi o que aconteceu. Talvez ela tivesse bebido também se já não estivesse tão cansada de cuidar dele naquela noite.

– Lydia! – ele sorriu. Era bom ver um rosto conhecido depois de tanto tempo, isso fazia com que os amigos que havia conhecido em Toronto não passassem de completos estranhos ao lembrar de tudo que passaram juntos.

Ela estava a mesma Lydia de sempre. A diferença era que agora ela não tinha mais cabelos compridos e a cor da sua pele já não era tão clara. Stiles deduziu que aquilo era efeito do sol de Stanford. Na noite do casamento era a Lydia de sempre, mas depois que passou tanto tempo em Stanford mudou até um pouco o modo de falar. Não que Stiles fosse diferente, tinha mudado tanto que ela nem acreditou quando viu os músculos e a barba bem feita do rapaz.

– Por que não disse que iria passar as férias aqui? – ele perguntou depois que se soltaram de um demorado abraço de saudades.
– A gente não se fala a muito tempo, Stiles. – ela disse colocando as mãos para trás.
– Tem razão. Me desculpe.
– Tudo bem, estou feliz por você. Aliás todos nós estamos. Minha mãe está chegando e disse que ia fazer seu prato preferido hoje no jantar.
– Como é bom estar em casa. – sorriu e levantou as mãos até a cabeça – Hm, você sabe se alguém além de nós está vindo para o jantar? – não queria perguntar. Mas já tinha feito a pergunta quando percebeu. Tinha uma ponta de esperança de que a reposta fosse: “sim, Stiles. Todos eles vêm jantar conosco hoje”, mas a resposta foi tão diferente e foi quase uma faca no estômago quando ela disse.
– Apenas nós. – ela disse e saiu em direção ao seu quarto.

Foi em direção ao banheiro com uma nova muda de roupas. Precisava de água quente nos seus ombros para assimilar as últimas informações.

Quando ligou o chuveiro e sentiu as gotas se espalharem por seu corpo ele se deu conta de como o verão iria ser longo, e de quantas coisas ele teria que aguentar e sentir falta por todo esse tempo. Beacon Hills o fazia lembrar de uma época em que ele podia pegar o seu jeep e andar com ele até a floresta com os seus melhores amigos. E hoje, apesar de ser a mesma e velha Beacon Hills, seu jeep não funcionava mais, e algumas amizades também.

– Pensei que não iria descer nunca. – seu pai disse assim que ele entrou na sala. Estava sentado na sua poltrona com um copo de café em mãos. Parecia uma velha cena de sua infância, e Stiles sorriu com a cena. Sentia mais falta daquilo do que qualquer outra coisa – Tem uma coisa para você lá na garagem.
– Conseguiu arrumar o jeep? – disse quase feliz. Seria uma notícia boa.
– Infelizmente não. – ele negou com a cabeça e tomou um gole do café – Mas você vai gostar muito mais do que ter aquele carro de volta. – ele franziu o cenho e andou até a porta de trás que dava para a garagem.

Empurrou a porta que de tão velha quase caia aos pedaços e estava um pouco dura de abrir. Acendeu a luz e no lugar do velho carro do xerife com uma pintura desgastada estava alguém. Stiles não sabia que conseguia ficar tanto tempo parado. Principalmente com o olhar fixo em um determinado ponto por tanto tempo.

Era ela. Não podia acreditar. De todos os encontros que imaginou com pessoas que ele conhecia na cidade nunca pensou que seu encontro com ela seria assim. Mal sabia o que pensar, quem dirá o que dizer. Ele estava um pouco perplexo, por vê-la parada da mesma forma que ele o olhando com aqueles olhos tão que ele tanto amava.

Ela estava do mesmo jeito desde a última vez que se viram. Com os cabelos castanhos batendo no ombro e as roupas tão iguais às que usava na adolescência, ela segurava algo nas mãos, mas ele não conseguiu identificar de imediato. Mal podia acreditar que fazia dois anos. Ficou com medo de ela estar com raiva por causa disso. Ele queria dizer que sentia a falta dela, que queria a ver todos os dias e que todos os planos que fizeram juntos para a faculdade tivessem dado certo. Não que fosse culpa de algum dos dois, os acasos da vida as vezes separam as pessoas e simplesmente não há muita coisa que se possa fazer. Stiles a ligava todos os dias quando se mudou para Toronto, mas depois de um tempo os dois ficaram tão ocupados que o contato diário virou semanas, depois meses e agora fazia tanto tempo que ele não ouvia a voz dela que percebeu que era o seu maior anseio no momento e ele não conseguia pensar em outra coisa.

– Não sabia o que trazer, então trouxe isso. – era um taco de beisebol. Ele mal podia acreditar o quão incrível ela conseguia ser sem fazer esforço algum. Não conseguiu identificar na sua voz se ela estava com medo, raiva, ansiedade ou felicidade.
– Sabe que eu não sei jogar, não é? – disse indo na direção dela. Ela não se mexeu, o que o deu carta branca para dar passos suficientes para se aproximar mais.
– Você nunca soube jogar nada, Stiles. – ele finalmente chegou tão perto dela que se ele desse mais um passo colava os seus corpos de vez.
– Eu adorei. Faz anos que não tenho um desses. – disse ele pegando o taco. Era de metal e não era tão leve como um taco normal. Encostou o taco na parede e voltou seus olhos para a mesma.
– Seu pai me disse que estava aqui. Podia ter me avisado.
– Queria ter ido na sua casa. Era uma surpresa. – queria não ter mentido, mas o motivo real era que ele não tinha coragem de aparecer depois de tanto tempo. E por mais que não quisesse admitir: estava com medo de ela ter partido para outra enquanto nem ele sabia o que ainda sentia.
– Que bobagem, Stiles.
– Desculpe. – ela negou com a cabeça – O que tem feito? – perguntou depois que viu que ela estava com um tipo de uniforme.
– Trabalhando em uma oficina. – disse passando a mão na roupa que não estava muito limpa – Não é grande coisa, mas vai dar pra pagar a faculdade ano que vem.
– Para onde pretende ir?
– Nova York. Kira mora lá agora e eu sinto muita falta dela. – ficou feliz por elas ainda manterem contato, mas não negava que ficou um pouco de inveja – E você? Parece que não te vejo a séculos.
– Tem razão. – disse passando as mãos nos cabelos, nervoso – Me desculpe por isso, ok?
– Não é como se fosse apenas culpa sua. – ela negou com a cabeça – Eu poderia ter ligado também.
– Então estamos quites? – ele estendeu a mão. A um tempo atrás isso seria um convite tentador, tão igual a aqueles convites que ele fazia para estudarem a tarde no seu quarto, mas talvez as coisas fossem diferentes agora. Nenhum dos dois conseguia dizer o quanto sentiam a falta daquilo.
– Senti sua falta. – ela disse apertando a mão dele. Stiles deixou os olhos caírem naquele gesto tão simples que qualquer pessoa fazia e então percebeu o quão errado aquela conversa havia começado. Riu da cena patética que era Stiles e Malia apertando as mãos como se fossem velhos conhecidos. Então puxou braço dela tão delicadamente que ela apenas se deixou levar e encostou seus corpos a tanto tempo separados.
– Não tanto quanto eu senti a sua. – ela colocou os braços em volta do pescoço dele. Conseguiu sentir o cheiro de sabonete e perfume masculino tão característico dele.
– Pensei que nunca ia fazer isso. – e sua boca foi finalmente de encontro a dela.


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Notas finais do capítulo

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