A Resposta vem dos Céus escrita por JustMe


Capítulo 5
Quatro




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Pelo que disseram, Caleb renascera.

Contavam que ele foi forte e persistente, agarrado à vida de uma maneira inacreditável. Pelo que soubera, Roger conseguiu chegar ao riacho a tempo de salvá-lo. Ele havia notado a ausência dos dois meninos e sabia onde encontrá-los.

Depois disso, tentou ele mesmo reanimá-lo, mas não conseguiu. Desesperado, e com Prince chorando em seus calcanhares, Roger voltou para a casa, para poder pegar o carro e levá-lo até um hospital. Mas, não ia dar tempo, já que Caleb estava a mais de cinco minutos inconsciente e à beira da morte.

Então, Clarissa, que em meio ao momento de desespero, manteve a calma, conseguiu trazê-lo de volta à consciência graças ao seu curso de enfermagem que fizera anos atrás. Disseram que ele cuspiu muita água, e que estava tão pálido que era quase possível ver todas as veias de seu corpo, inclusive as mais delgadas.

Caleb soubera que Prince havia levado toda a culpa. Roger brigara com ele, dizendo que se tivessem obedecido à sua ordem nada daquilo havia acontecido. Prince, como sempre, manteve a cabeça baixa, os olhos fixos nos próprios pés – mas sem contar a verdade. Sem entregar o amigo. Sem dizer que não fora ideia dele irem para o riacho. Que Caleb havia tido aquele ideia. Tinha tido, inclusive, a ideia desastrosa daquela competição fútil...

Prince preferiu preservar o amigo dos sermões e acumular toda a culpa para si. Caleb agradecera a ele mais tarde, mas sem antes imaginar porque Prince era daquele jeito...

De qualquer forma, enquanto todos tentavam mantê-lo vivo, Caleb acordava em um lugar desconhecido, estranho, mas curiosamente agradável.

À primeira vista, parecia que ele estava sozinho em uma imensidão de claridade ofuscante. Tudo a sua volta era uma extensão branca que se alongava em todas as direções, parecendo interminável. parecendo intermins as direçbranco que parecia interminnho, mas curiosamente agradcompetiç pegar o carro e levMas, aos poucos, isso foi se desfazendo, como uma névoa que se dissipava de maneira lenta e preguiçosa.

Foi só então que ele deu-se conta de que estava sentado. E, no mesmo instante em que percebeu isso, percebeu ainda que estava sentado à beira do riacho da fazenda de seus pais. Mas, ali, a água estava tão clara e transparente que era possível ver peixes nadando por ela. E, enquanto a névoa se dissipava, ele viu que a grama verde que ficava às margens do riacho brilhava em um verde esmeralda, cheio de partes cintilantes, que lançavam luz em todas as direções.

Caleb sabia que não estava acordado. Sabia que aquele não era, definitivamente, o riacho da fazenda de seus pais... Talvez estivesse sonhando.

Enquanto ele esquadrinhava a paisagem, à procura de alguma evidência que provava que ele estava sonhando, Caleb viu a silhueta de um homem se aproximar, acenando para ele.

Logo, o menino conseguiu ver seu rosto. Era um senhor de cabelos grisalhos e barba por fazer. Ele usava uma roupa de pescador, e vinha com uma vara nas mãos.

Caleb nunca o tinha visto em sua vida. Não sabia quem ele podia ser, mas não sentiu medo. Havia alguma coisa naquele homem que lhe passava uma tranqüilidade intensa. Talvez fosse aquele sorriso amigável, ou os profundos olhos castanho-escuros que brilhavam à luz do sol.

Caleb deduziu que ele era uma boa pessoa.

O homem sentou-se ao seu lado, à beira do riacho, e deixou ali perto uma caixa de isopor e uma lata de alumínio que tinha um conteúdo de cheiro gostoso.

– Olá, rapazinho – cumprimentou o homem, radiante.

– Oi.

O homem sorriu, deslizando a mão pelo cabelo do menino.

– Ora, mas o que você está fazendo aqui?

Caleb sentiu-se surpreso pela pergunta. Olhou para os lados, buscando alguma resposta coerente, mas não encontrou nenhuma.

– Eu não sei... Isso é um sonho?

O homem riu, e virou-se para pegar o conteúdo que estava na lata de alumínio. Caleb inclinou-se para ver o que era que cheirava tão bem. Então, viu quando aquele estranho tirou uma minhoca rosada da lata gentilmente.

Caleb sentiu-se enojado. Era aquilo que estava cheirando tão gostoso? Minhocas não eram tão cheirosas assim! Eram nojentas e fediam muito...! Ou pelo menos pensava que fedessem. Ergueu os olhos para o pescador.

– Você irá descobrir em breve, meu rapaz – respondeu ele, enquanto colocava a minhoca no anzol. – Shhh... calma, amiguinha... – sussurrava. – Calma...

Caleb achou aquela cena bizarra.

– Você está conversando com a minhoca? – quis saber ele.

O homem olhou-o com curiosidade. Depois, lançou a linha com o anzol e a minhoca na água do riacho.

– Sabe, Caleb – ele sabia seu nome! – A minhoca, como qualquer outra isca, é uma das partes fundamentais da pescaria. Sem ela, como você poderia atrair um peixe? Ele não abocanharia um anzol sem uma coisa que lhe chamasse a atenção, não acha?

Caleb refletiu um pouco sobre aquilo, enquanto olhava a linha submersa na água do riacho.

– É verdade.

– Então, não vejo mal algum em tratar uma minhoca bem... Mesmo que ela não me entenda, ou não me escute... Ela vai me ajudar a fisgar o que quero... E, além disso, ela é um animal como qualquer outra criatura de Deus. Merece ser bem tratada. É uma pena que ela deva morrer para que eu consiga meu peixe. Mas, como você vê, sempre perdemos uma coisa, pra conseguir outra bem melhor e maior... Temos que sacrificar algo, para conseguirmos o que queremos. Aqui, no caso, eu estou sacrificando uma minhoca, para conseguir o peixe que minha esposa servirá hoje no jantar. Certo?

Caleb franziu o cenho, achando aquelas palavras muito complexas. Ao mesmo tempo em que parecia entender o que o homem dizia, não entendia porque ele estava falando aquilo.

O pescador, percebendo seu silêncio, recomeçou com um sorriso divertido:

– Ora, Caleb, o que é melhor: uma minhoca ou um peixe?

Caleb deu de ombros.

– Um peixe, é claro.

O homem assentiu.

– Muito bem... Então, se tivéssemos apenas uma minhoca, uma vara de pescar, e estivéssemos no deserto... e ainda com muita fome. Nós seríamos tentados a comê-la, para nos saciar, pelo menos um pouquinho... Mas, se encontrássemos um lago com alguns peixes, não a comeríamos, não é? Usaríamos como isca para pegar algum peixe, que nos saciaria bem mais do que a pequena minhoca. Entendeu o que eu quero dizer?

Caleb franziu o cenho, olhando para o riacho.

– Sim... É melhor usar a minhoca para fisgar um peixe, quando tiver a oportunidade, do que comê-la e continuar com fome...

O homem exclamou alto, rindo estrondosamente. Ele bagunçou mais uma vez os cabelos de Caleb, e assentiu.

– É isso mesmo, rapazinho! Isso mesmo... Era aí que eu queria chegar... E, do mesmo modo que acontece com a minhoca e o peixe, acontece em nossas vidas... Muitas vezes, coisas devem ser sacrificadas para um bem maior... Por que, se continuássemos apenas com essas coisas pequenas, nossas necessidades não seriam supridas, e padeceríamos.

Caleb assentiu, enquanto seu cérebro trabalhava num turbilhão.

– Certo, mas... – ele olhou para o pescador de testa franzida. – Às vezes, se consegue pegar algum peixe sem uma isca... Só usando as mãos. Eu já vi isso na TV.

O homem assentiu, correndo os olhos pelo horizonte verde-esmeralda que continuava a cintilar e se mover com graça, à medida que o vento soprava.

– Muito bem lembrado, Caleb – disse ele. – Muito bem lembrado... Mas, você deve saber que isso nem sempre acontece. Principalmente se for um peixe grande. Você não conseguiria pegá-lo com as mãos nuas... E é bem melhor ter um peixe grande que você conseguiu pescar com uma isca do que um peixinho bem pequeno que você conseguiu pegar com as mãos.

Caleb sentiu um arrepio estranho ao ouvir aquilo. Parecia ter algum significado tão importante! Mas ele não conseguia entender o que era... Só sabia que aquele estranho tinha toda razão.

O homem olhou para ele e sorriu. No mesmo instante, a sua vara de pescar começou a se curvar em direção ao lago.

– Opa! Peguei um grande peixe!

Caleb sorriu, e inclinou-se à beira do lago para poder ver. Ali de cima, através das águas transparentes e cristalinas, conseguiu ver uma grande carpa tentar se desvencilhar do anzol. Mas o pescador foi mais forte. Levantou-se, e começou a puxar a linha de volta. Aos poucos, o peixe foi emergindo da água, debatendo-se todo.

– Uau! – exclamou Caleb, impressionado.

O pescador estava rindo, todo alegre, e puxava o peixe para si. Caleb ficou ali, observando enquanto ele tirava o anzol da boca do peixe, e o colocava numa caixa de isopor, ainda vivo.

Então, por fim, o homem ergueu os olhos para Caleb, com os olhos brilhando de felicidade. Sentou-se mais uma vez ao lado do menino, e disse, em voz branda:

– Não valeu à pena eu ter de sacrificar a minhoca para conseguir esse peixe?

Caleb assentiu veementemente.

– Nunca se esqueça disso, rapazinho... É melhor deixar as coisas pequenas irem embora, para que as grandes possam vir...

E foi nesse momento que Caleb acordara, ainda ouvindo a voz amigável e branda do pescador em seus ouvidos. Acordara sentindo os pulmões pesados, e uma forte dor de cabeça.

Ao seu redor, conseguiu ver vultos se movendo. Mas não conseguiu ver o que era de verdade por vários segundos... E, durante esse tempo, estava se perguntando o que havia acontecido. Onde estaria aquele pescador de conselhos estranhos, mas sensatos? Teria sonhado com ele?

É melhor deixar as coisas pequenas irem embora, para que as grandes possam vir”...

Caleb não entendia aquilo com tanta precisão... Só foi entender o que aquilo significava muitos anos depois, e de uma maneira bem difícil.


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