Um grito abafado escrita por Margo Roth Spiegelman


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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Um grito abafado, um grito por socorro.

Apenas quatro anos de idade, e eu já percebia: seu olhar distante, suas palavras frias à espera de compaixão.Mas eu ainda te amava e não te deixaria sozinho.

Ele,meu irmão. Era apenas mais um garoto de sua idade, com uma tremenda solidão e uma tristeza que invadia teu peito. Distante, acabando-se por dentro. Eu poderia imaginar que o final não seria dos melhores.

“Entre o relógio ,a máquina e o silêncio. Havia uma orelha á escuta, grande, cor-de-rosa. E morta.’’

Encostada do outro lado da porta, escutando os gritos e o choro abafado. Um choro cansado, frustrado. Perdido.
Palavras duras, uma infância jogada fora. Jogada fora apenas por meus pais serem cobertos de orgulho e indignação. Cobertos de dor. O coração é duro e pesado como pedra. Como pedra que não se quebra, não tem jeito, não tem jeito. Você não tem jeito.

O que? Isso são risos?Sai correndo para ver o que era.Momentos raros em minha casa, minha mãe brincando com meu irmão. Ou será que era o modo como todo mundo vivia?

– Laura!

– Papai ?

–Vá para o quarto, princesa.

Meu pai. Ele era extremamente amoroso comigo. Estando bêbado, ou não. Eu o amava, mas mesmo assim, o culpado era ele. Minha família poderia ser perfeita sem ele. Mas eu continuaria o amando.
Mais uma vez, com as orelhas encostadas na porta, eu fechei meus olhos assustados e desejei paz.

‘’ Oh, tinha algumas coisas inteiramente impossíveis! Mas por incrível que pareça, ela acreditava."

A porta se abriu rapidamente, o susto me fez cair para trás. Ele me segurou e me colocou em teu colo.

‘’ Você tem um coração oco.

Mas é pesado em seu peito.’’

Ele sentiu minhas lágrimas quentes em seus ombros. Me colocou na cama e saiu em silêncio. Uma expressão de culpa. Culpa, mas não arrependimento.


Quatro anos de idade
Com minhas costas na porta
Tudo o que eu conseguia ouvir
Era a família que usava
Suas mãos egoístas
Sempre esperando mais
Sou sua filha
Ou apenas um prêmio de caridade?


Depois de muito tempo eu me acostumei a ficar calada. Uma ida ao hospital, duas, três.
Olhos vermelhos, inchados. Coração quebrado.
Pensamentos perdidos ao vento, palavras acusadoras, perguntas sem respostas.
Tão jovem quando a dor começou
Agora para sempre com medo de ficar sozinha.

...

No dia seguinte, até um certo momento tudo estava em paz. Se passava das duas da manhã. Meu pai não havia chegado, minha mãe se trancara no quarto e meu irmão havia fugido para se encontrar com amigos.
Eu escutei a porta bater, era meu pai. Eu sabia que tudo estava prestes a começar novamente. Ouve um momento de silêncio. Eu podia escutar o barulho do meu lápis de cor azul pintando o céu perfeitamente... até escutar um grito apavorado. Mas dessa vez o grito vinha de outro alguém, era o grito do meu pai. Corri para a porta, mas não abri. Escutei outro grito de dor, agora sem força e depois um gemido.

‘’ Houve um momento grande, parado. Sem nada dentro, dilatou os olhos, esperou. Nada veio, branco. Mas de repente num estremecimento, deram
corda no dia e tudo recomeçou a funcionar.’’

Logo depois escutei algo, como se fosse uma lâmina entrando em uma almofada e saindo lentamente.
– Não, não, não... não.
Abri a porta...

Primeiro eu olhei para minha mãe. E depois para a faca na mão dela pingando sangue. Fechei a porta rapidamente . Fechei os olhos e desejei paz. Escutei sirenes e alguém abriu a porta e me ofereceu a tua mão.
Eu a agarrei firme . Uma lona preta tapando o chão. Minha mãe gritando loucamente com as mãos para trás presas à uma algema. Um policial novo vomitando as tripas.

Calmamente, perguntei :
–É meu pai?
–Eu sinto muito – obtive como resposta.

Senti um cheiro de ferro no ar. Meu irmão do lado de fora, chorava. Eu era incapaz de expressar algum sentimento naquela hora. Pessoas curiosas com uma expressão de culpa.
Eu me tornei a filha de um pai esfaqueado até a morte, pela minha própria mãe. Mas eu sabia, ele iria mais uma vez para o hospital, mas com certeza, não voltaria.

"Eu sinto muito.’’
Palavras que digo sempre. Mas que doem. Doem como um grito abafado.

"Os gritos, as brigas , as idas ao hospital, eu achava que era o modo como todo mundo vivia. Mas quando minha mãe matou o meu pai, eu descobri que não era."

The end.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler ^^



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