Herdeiros escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 1
Prólogo




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27 de outubro de 1976

A mulher de meia idade caminhava pelo antigo prédio, observando o sonho de sua vida. O calor carioca incomodava com as vestes pretas, típicas do luto. O restante dos amigos havia acabado de chegar, e trabalhavam em encaixotar tudo. Pior que a morte de alguém que se ama, é a morte de um sonho. E como classificar quando um é decorrente do outro?

Ainda lembrava do telefone tocando as 4h e acordando a casa inteira. Havia dirigido até o hospital municipal do Rio de Janeiro, onde encontrou a afilhada sentada junto de uma médica, o pequeno rostinho cheio de hematomas.

“Dandara, querida...” Chamou a menina com alívio, vendo-a ergueu os olhinhos em sua direção, cheios de lágrimas. No alto de seus três anos, ainda nem sabia falar direito, apenas se levantou e correu até os braços que a protegeriam daquele dia em diante, agora que seus pais não estavam mais ali.

“Susana... Acho que já embalamos tudo.” Um homem apareceu, trajado em vestes escuras também. “O advogado já está aí nos esperando.”

E enquanto caminhava até o antigo escritório, se lembrava do caminho que haviam percorrido até ali.

Tudo havia começado dez anos antes, quando trocara São Paulo pelo Rio de Janeiro, em busca de melhores condições de vida e para realizar o sonho de se mudar para o México. Descendente de espanhóis, já havia sofrido muita discriminação por sua origem, e imaginava que o país latino lhe daria muitas mais oportunidades para ser uma grande atriz.

Morando de favor na casa de um conhecido de seu tio, que insistia em chamá-la de Sonsoles (seu nome de batismo), logo se tornou amiga de Emília, sua filha mais velha. Começou a trabalhar na mesma lanchonete que ela, ambas nutrindo o sonho que subir pela América.

Algumas semanas depois, Emília levou-a ao Carnaval de rua, onde se encontraram com Samuel, um conhecido do trabalho. Ele lhes apresentou a alguns amigos da época do colégio. Foram precisos apenas quatro dias para a gangue estar formada.

Eram pessoas diferentes, de origens diferentes, mas unidas por um mesmo ideal: sonhos. De ser professor, ator, cantor, lutador, pintor, dançarino. Cada um daqueles doze jovens imaginava algo para o futuro, e se sustentava nisso. Beiravam os trinta e eram solteiros, algo bastante incomum para a época.

Após todas as noitadas, caminhavam por quase uma hora até um galpão conhecido por um dos rapazes, onde dormiam, bebiam, se divertiam e, às vezes, usavam substâncias não tão corretas.

E hoje, aquele galpão se transformara em uma Fábrica de Sonhos. Descobriram que ele pertencia ao rapaz, Marcos, uma herança vinda de seu avô. Ele estava pensando em vendê-lo, até que viu uma luz naquela amizade. Não haviam conseguido realizar seus sonhos, mas isso não queria dizer que não pudessem ajudar os outros nisso.

Contavam com alguns milhares de cruzeiros, economizados com muito suor. Trabalhavam durante o dia e viravam a noite reformando e organizando o espaço, simples e modesto. Tomavam bastante cuidado com suas ações, já que as coisas andavam bastante tensas após o golpe militar alguns anos antes e não queriam levantar suspeitas infundadas.

Os primeiros alunos foram jovens dos bairros onde moravam, sem condições financeiras, mas com muitos sonhos na bagagem. Nenhum deles era especialista nos assuntos que ensinavam, mas eram grande admiradores e observadores, e se esforçavam muito.

Com o tempo, ganharam nome e fama. E apesar de alguns infortúnios, como maior visibilidade pelos órgãos fiscais, atraíram professores e sonhadores, e logo a Fábrica brilhava com vida e vigor.

E um a um, aqueles doze sonhadores foram partindo em busca de novos sonhos: ter uma família. Susana se casou no início de 1972 com um professor de música chamado Rogério. Em 1974, deu à luz sua filha, Delma, quase ao mesmo tempo em que Emília teve Dandara. Se tornaram comadres e melhores amigas, e o sonho do México se tornou uma mera lembrança. A vida era boa, afinal.

Porém, a ditadura seguia. Pessoas sumiam, artistas eram exilados, todo cuidado era pouco. Emília havia se casado com um professor de matemática de segunda série, mas com sérias inclinações à política. E o resto não é preciso dizer. Assim todo Zuzu Angel em abril daquele ano, e tantas outras pessoas, um acidente de carro bastante suspeito havia levado Emília e Daniel na madrugada anterior. A sobrevivência de Dandara era graças a mãe, que a abraçara com força e a protegera com seu corpo.

“Vocês têm mesmo certeza do que querem fazer?” Perguntou o advogado, novamente.

“Sr. Silveira, esse não é nem de longe o melhor momento para o proposito dessa Fábrica. Cada vez mais seremos vigiados, interrogados... A Dandara teve muita sorte, mas acho que ninguém aqui quer tentar ver se os filhos têm a mesma. Eu pelo menos não quero arriscar o Gael.” Marcos, o dono original do prédio, disse.

“Mas esperar que o último de vocês morra? Vocês nunca mais verão a vida nesse lugar.”

“A vida desse local se foi assim que a Emília morreu, Carlos. Nosso sonho terminou ali. O que nos resta agora é fé! Fé de que, um dia, quando não estivermos mais aqui, nossos sonhos ainda vivam através daqueles que vierem depois de nós.” Concluiu Susana, recebendo vários acenos afirmativos. Ela pegou a caneta e suspirou, assinando o local demarcado.

Susana Garcia

Susana Garcia em nome de Emília Silva

Marcos Duarte

Luisa Oliveira

Henrique Noronha

Miguel Gardel

Alessandra Cobreloa

Henriqueta Sousa

João Paulo dos Prazeres

Sara Nobrega

André Menezes

Paulo Ferreira


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Notas finais do capítulo

Heeeello
Brotei aqui com mais uma fic, me deixem. TEM BRUTINHA AQUI PORQUE EU AMO ELES, E NINGUÉM PODE ME JULGAR POR QUERER VER ELES COM MEUS PUTINHOS
Comentem o que acharam da ideia, se gostaram, se não gostaram... Deixem-me saber
See you soon
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