Marie não correu pra muito longe. Mas acabou ficando molhada de chuva e foi parar numa praça. Sentou num banco, ignorando as lágrimas que caíam de seus olhos. Pensou várias coisas de Lígia, mas também de si mesma, e se sentiu ridícula e vítima ao mesmo tempo.

Jake suava, mas não sentia-se cansado. Estava correndo atrás da loura, e finalmente a achou, num estado um pouco deplorável. Toda molhada debaixo da chuva, chorando, descabelada. Mas talvez Jake também não estivesse aquelas coisas.

- Tá se sentindo tão coitada assim?

- Não tô me sentindo coitada coisa nenhuma!! - Marie explodiu, surpreendendo Jake.

- Então por que tá sentada como uma derrotada? Você deu um tapa na Lígia e fugiu.

- Eu não fugi! - Marie sabia que isso não era verdade, mas ela não se tocava em como estava sendo infantil.

Jake se cansou.

- Tá bom. Você tá negando tudo mesmo, não tenho por que questionar, senhora da razão. - ele se levantou e ia embora, quando Marie o segurou pelo braço.

- Por favor. Me desculpe. Sou muito ridícula. - ela disse, de cabeça baixa.

- Quer ir pra minha casa?

- Posso? Eu não quero te incomodar.

- Não vai ser nenhum incômodo, você vai até me ajudar, me fazendo companhia.

A loura não sabia por que Jake se sentia sozinho, mas disse:

- Tudo bem, então.

- Caramba, onde você aprendeu a fazer isso?

A caneca fumegante fazia o cheiro do chocolate ficar ainda mais inebriante. Depois de se secar e vestir algumas roupas (do Jake), a loura estava sentada no sofá confortável, ao lado de Jake. Aquele garoto era sobrenatural, pensou Marie. Um chocolate quente como nunca havia experimentado antes.

- É uma receita de família. Um ingrediente secreto.

- Hum... - Marie saboreava lentamente.

- Tá mais calma agora? - perguntou Jake.

- Sim, obrigada. Desculpe, eu fiquei irritada porque a Lígia disse aquelas coisas sobre a minha mãe, e acabei descontando em você. - Sentiu as bochechas ficarem vermelhas - Estou morrendo de vergonha.

- Ha ha, não precisa. - e Jake sorriu, iluminando o coração de Marie, que sentiu borboletas no estômago. "Meu Deus, ele é tão lindo..."

- Então, sobre sua mãe... Eu só sei que ela faleceu.

- Bem, a minha mãe... - a loura baixou os olhos, era difícil falar daquilo. - Ela... bem... - "Ah não. Não comece a chorar". Tarde demais. As lágrimas já estavam escapando.

- Calma, calma... - Jake disse, enxugando os olhos de Marie, e aquele momento era tão fofo que nem mesmo a autora aguentou.

- Eu estou bem. Como eu ia dizendo... eu... - ela segurou as lágrimas com toda a força que tinha - a minha mãe morou aqui, depois foi pra cidade onde eu morava, onde conheceu meu pai, acabou casando e me tendo. Ela era ótima, super atenciosa, paciente, nunca sequer levantou a voz comigo. Tipo aquelas mães bonitas de anime, sabe? Mas ela sempre passou a mensagem dela e me ensinou o que eu tinha de aprender.

- Entendo...

- Então, um dia...

A loura respirou fundo.

- Um dia, ela chegou do trabalho super cansada, e eu não sei o que deu em mim, eu... - "Calma, calma" - Comecei a chamar a atenção dela pra mim, porque eu precisava de ajuda nos estudos. Ela disse que estava muito cansada e que não podia naquele momento.

Aí ela não conseguiu mais segurar. Começou a chorar.

- Eu podia ter ligado para a minha amiga cdf e pedido ajuda... mas fiquei com ódio dela naquela hora... eu realmente precisava de ajuda... mas não precisava daquilo... acabei levantando a voz com ela...

Jake apenas ouvia. Sabia que Marie precisava colocar pra fora.

- Então... ela precisou ir no supermercado, porque viu que faltava comida... - e, entre soluços, ela disse: - ela não voltou...

Ela enxugou as lágrimas e colocou o chocolate na mesinha ao lado do sofá.

- Liguei a TV, e tava passando o noticiário. Houve uma confusão na rua em que ela estava... Parece que um caminhão de gás estava desgovernado... Aí, você já deduz o que aconteceu, né?

- Sim, eu entendo.

Jake abraçou Marie, e assim ficaram.

Marie se sentia mais segura e calma nos braços de Jake.